28 março, 2019

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (CXVII)

Diário do Bolso
(José Roberto Torero)
Hospital Alberto Ainstein, 17h29 do dia 27 de março de 2019.

Diário, o hospital é o meu lugar. Só aqui eu tenho sossego. Lá fora está uma bagunça, mas aqui é tudo branquinho, cheirosinho, tranquilinho... Tomara que achem alguma coisa para eu ficar mais uns dias internado. Os melhores dias do meu governo foram aqui.
Olha só como estão as coisas: o dólar aumentou 3%; o Ibovespa caiu 4,6%, e no Mackenzie, que tem fama de direita, estavam preparando uma manifestação contra mim. Tive que me encontrar com os pesquisadores no Comando Militar do Sudeste. Desse jeito só vou poder visitar quartel.
E a coisa não para por aí. O Olavo xinga o Maia, o Carluxo xinga o Maia, e até o Moro, em vez de me ajudar, xinga o Maia (aliás, por que o Moro quer diminuir imposto de cigarro? O que ele ganha com isso? Essa história não cheira bem. Onde tem fumaça, tem fogo).
Olha, eu nem posso ir ao cinema sossegado. Ontem, enquanto eu estava vendo um filminho, meu governo levou uma tungada. O Maia colocou em votação uma lei que engessa ainda mais o orçamento do executivo. Levamos uma goleada de uns 450 a 3. Pior que o 7 a 1 contra a Alemanha. Se isso não for barrado no Senado, só vou poder mexer em 3% do dinheiro.
Por causa disso, o Paulo Guedes teve um chilique. Ontem nem foi no CCJ falar da Reforma da Previdência. Poxa, o Posto Ipiranga não pode se negar a dar informação. Mas o cara está tão fulo da vida que disse que pode até sair do governo.
É que nem a Joice Hasselmann disse: querem afundar o avião!
O mais grave é que na semana que vem pode ter outra pauta-bomba. Querem que o governo federal reconheça uma dívida bilionária com os estados. Pô, bomba pra cima de mim? Eles pensam que eu sou a Dilma de calças?
Tá difícil, viu? Dizem que a política é um jogo de xadrez, mas eu só sei jogar truco, pô!


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PS: Diarinho, minha única alegria é que a campanha para publicar você (https://www.kickante.com.br/campanhas/diario-do-bolso-100-dias) vai muito bem. Pensei que iam ser só 100 livrinhos, mas já são 226. Tomara que chegue aos 300. Se não der certo esse negócio de ser presidente, acho que posso virar escritor.

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Ah, sim: antes de comemorarem junto com o Coiso o aniversário do golpe militar de 1964 ("revolução" é a PQP!!!!), sugiro duas leituras básicas.
A primeira leitura é um artigo de Eliane Brum para a edição brasileira d'El País (sim, ele mesmo, aquele grande jornal liberal conservador espanhol, que os bolsonaretes acusam de ser... comunista...). Ainda que fique longo, vão aí alguns trechos em que você, caro leitor, precisa MUITO prestar atenção:

Uma pesquisa do Ibope mostrou que Bolsonaro já é o presidente mais impopular em início de primeiro mandato desde 1995. Os 89 milhões de brasileiros que não votaram em Bolsonaro, seja porque votaram no candidato de oposição, seja porque se abstiveram de votar ou votaram branco ou nulo, somados ao expressivo contingente que já se arrependeu do voto no capitão reformado, terá que compreender que a luta pela democracia é difícil – e não pode ser terceirizada. É isso. Ou aceitar que a exceção, que já se infiltrou no cotidiano e avança rapidamente, siga tomando conta da vida até o ponto em que já se tenha perdido inclusive o direito aos fatos, como Bolsonaro e os militares pretendem neste 31 de Março.
Não queiram viver num país em que a autoverdade, aquela que dá a cada um a prerrogativa de inventar seus próprios fatos, impere. Bolsonaro e suas milícias digitais criaram a autoverdade, mas ela só será imposta a um país inteiro se a população brasileira se submeter a ela. Afirmar que o golpe de 1964 não foi um golpe é mentira de quem ainda teme responder pelos crimes que cometeu, como seus colegas responderam em países que construíram democracias mais fortes e onde a população conhece a sua história. Não há terror maior do que ser submetido a uma realidade sem lastro nos fatos, uma narrativa construída por perversos. O corpo de cada um passa a pertencer inteiramente aos carcereiros.
Bolsonaro precisa manter o país queimando em ódio. Essa foi sua estratégia para ser eleito, essa segue sendo a sua estratégia para se manter no poder. Ele não tem outra. Se deixar de ser o incendiário que é e virar presidente, ele se arrisca a perder sua popularidade. Sua estratégia é governar apenas para as suas milícias, capazes de manter o terror, parte delas somente por diversão.
Depois de ser o candidato “antissistema”, Bolsonaro é agora o antipresidente. Esta novidade, a do antipresidente, é inédita no Brasil. O antipresidente Bolsonaro é aquele que boicota seu próprio programa e enfraquece seu próprio ministério, mantendo, também dentro do Governo, como definiu o jornalista Afonso Benites, a guerra do todos contra todos.
Bolsonaro só pode existir num país mergulhado numa guerra interna. Então, trata de alimentar essa guerra. A determinação oficial de comemorar o golpe de 1964 é parte dessa estratégia. Vamos ver o quanto os generais estrelados do seu governo são capazes de enxergar a casca de banana. Ou se, ao contrário, escolherão deslizar por ela apenas como desagravo aos anos em que ficaram acuados, temendo que o Brasil finalmente fizesse justiça, julgando os crimes da ditadura como fizeram os países vizinhos.
(...)
Com instituições fracas e uma oposição sem projeto, diante de um governo em que o mais moderado é um general que já defendeu um autogolpe com o apoio das Forças Armadas, a barbárie dos dias se acentua. Tudo indica que vai piorar. Porque está piorando. A incompetência explícita do bolsonarismo faz com que a necessidade de ampliar a violência “contra todos os que não são iguais a mim”, com o objetivo de ampliar a sensação de guerra interna, também aumente. Sem projeto consistente, o governo que aí está só pode apostar no ódio para se manter. E vai seguir apostando. O ódio não é o oposto do amor, mas sim da justiça. É justiça que Bolsonaro não quer.
Os brasileiros vão precisar compreender que a democracia terá que ser defendida por cada um, se colocando junto com o outro. Às vezes só dá mesmo para gritar. Mas é preciso fazer um esforço maior para responder com projetos, com propostas, com ação que não seja apenas uma reação, mas uma alternativa que permita a vida e promova vida no espaço público. Será assim, ou não será. Não é que tenha outro. Só tem você mesmo. Com o outro.
(...)
Brasileiros de todas as idades precisam aprender, pra ontem, com as gerações mais novas. É isso ou seguir condenado a assistir à queda de braço entre Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia. Sério que é este o ponto alto do debate nacional, antes de vir outro do mesmo nível ou pior? É este mesmo o nosso destino? Sério mesmo que o maior crítico da militarização do governo é Olavo de Carvalho, por motivos bem outros em sua calculada disputa de poder? E é ele o maior crítico porque parte dos que poderiam criticar a militarização do governo por motivos legítimos e urgentes começam a achar que Hamilton Mourão, o vice general, é uma graça? É assim mesmo que vamos viver, esperando o que virá depois, caso exista um depois?

A segunda leitura é pouquinha coisa mais leve (leve?): um texto no BuzzFedd chamado 52 coisas que você não sabia sobre a ditadura militar brasileira – ou seja: 52 coisas que o Coiso não sabe (e acho que nem quer saber) sobre a ditadura que ele quer comemorar.

Boas leituras.

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E agora, a nossa indicação para esta séria série: And Then There Was Eve (EUA, 2017), de Savannah Block. Outras informações podem ser encontradas no site do filme (http://www.evethemovie.com/). Mas as que encontrei são interessantes.
Alyssa (Tania Nolan), uma fotógrafa de sucesso, acorda uma manhã para encontrar seu apartamento saqueado e seu marido, Kevin (Jonathan Flanagan) misteriosamente desaparecido. Deixada sem sequer uma fotografia para oferecer a polícia, ela se vira para sua colega Eve (Rachel Crowl, atriz, musicista, fotógrafa e designer trans), uma talentosa pianista de jazz com um charme de flerte e graça desarmante. Eva a ajuda a confrontar a luta de longa data do marido com a depressão e, com o tempo, aceitar sua ausência. Ao conhecer essa mulher através de circunstâncias tão incomuns, Alyssa fica surpresa ao se ver apaixonada novamente.
Leiam o artigo de Danielle Solzman para o blog Solzy at the movies (em inglês – sorry, ou ponha o Google Tradutor para trabalhar...), que fala sobre o filme, vejam o trailer, e até a próxima.



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