DA SÉRIA SÉRIE "PENSE DUAS VEZES ANTES DE CHAMAR PORTUGUÊS DE BURRO"...
Entre os temas mais populares das piadas que a gente não cansa de contar nos botequins da vida, o português (não a última flor do Lácio inculta e bela, mas o cidadão com passaporte da República Portuguesa), que nestas piadas supostamente é burro, só perde para piadas de gay e de políticos.
No entanto, nunca ninguém se perguntou o seguinte: se Portugal só pode ter gente burra, como explicar a existência de Fernando Pessoa, Eça de Queirós, José Saramago e outros grandes escritores?
Mais ainda: por que não fazemos como o macaco do dito popular e olhamos para nosso próprio rabo, antes de medir o QI do vizinho?
Haja visto os fatos narrados pelos signatários do e-mail abaixo, soltando fogo pelas ventas com toda a razão (o grifo é meu):
From: "Preservadores de Filmes" preservadores@gmail.com
To: "Silvia Franchini"
Sent: Saturday, August 05, 2006 11:26 PM
Subject: O Cinema está fora do Arquivo Nacional
CARTA ABERTA COMUNICANDO A SAÍDA DOS PRESERVADORES DE FILMES DO ARQUIVO NACIONAL DO BRASIL
No último dia 31 de julho, a equipe técnica de preservação de filmes do"Setor Filmográfico" do Arquivo Nacional do Brasil encerrou forçosamente suas atividades após quatro anos de trabalho. As conquistas realizadas pelo grupo e a apreensão diante do futuro deste trabalho impõem anecessidade de um relato público aos profissionais da área, à comunidadecinematográfica e à sociedade em geral sobre a formação e consolidaçãodo setor na referida instituição.
Com o desmantelamento do acervo da Cinemateca do MAM em 2002, o Arquivo Nacional veio a público demonstrar que seria uma opção viável para aguarda dos filmes, embora com condições técnicas insatisfatórias àquela altura. A experiência adquirida como estagiários do projeto Censo Cinematográfico Brasileiro, uma parceria desenvolvida anteriormente entre a Cinemateca do MAM e a Cinemateca Brasileira, além do conhecimento obtido na disciplina "Preservação e Restauração de Filmes", oferecida pelo curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense, levou o grupo a ser indicado para trabalhar por dois meses durante a chegada do acervo do MAM ao Arquivo Nacional. Tal indicação foi feita pela Comissão de Transição do Acervo de Filmes do MAM – formada na época pelo presidente da Riofilmes, Arnaldo Carrilho, pelo Secretário Estadual do Audiovisual, Orlando Senna e por representantes da sociedade civil, como a cineasta Tetê Moraes, o professor João Luiz Viera e a produtora Claudia Schuch, entre outros. A tarefa solicitada consistia em realizaruma triagem dos materiais em bom estado dos que estavam em avançado grau de deterioração, identificando devidamente o conteúdo das latas a fim de manter o controle sobre o conjunto do material. O período de dois mesesse estendeu devido à chegada constante de uma grande quantidade de filmes e a equipe, inicialmente temporária, se tornou permanente.
Passados os conturbados meses iniciais, ficou claro que determinados procedimentos técnicos precisavam ser adotados e adequados à realidadeda instituição que, naquele momento, só possuía um ambiente climatizado para a guarda dos filmes. A dinâmica de trabalho e a metodologia utilizada impuseram mudanças urgentes e necessárias ao setor. A nova equipe implementou uma nova feição ao acervo, que de cerca de 5000 rolos passou a contabilizar mais de 45.000. A partir daí pode-se destacar as seguintes ações: avaliação do estado de conservação dos filmes, com atribuição de grau técnico de deterioração; criação de novos depósitos para a separação dos filmes de acordo com o grau de deterioração atribuído; criação de área de trabalho adequada para manuseio e revisãodos filmes; instituição de ficha padrão para inventário e avaliação do acervo; esboço de base de dados informatizada; sistematização de revisões para guarda e projeção; estabelecimento de período de aclimatação preventiva para os pedidos de saída de qualquer material;indicação de um limite para o depósito de materiais não prioritáriospara a preservação, como cópias de exibição e sobras de montagem;implementação de um sistema de monitoramento e controle dos níveis detemperatura e umidade de cada depósito, além da concepção de ferramentasde análise para o transporte interno e externo do acervo, entre outras.
Ao longo deste período, os procedimentos técnicos propostos por estaequipe se consolidaram como metodologia padrão. Conscientes das transformações operadas na instituição, o corpo técnico prosseguiu pesquisando e aprofundando seus conhecimentos, visando sempre uma melhor atuação profissional no acervo sob sua responsabilidade. Entre cursos,seminários e outras modalidades de formação e aperfeiçoamento podem-sedestacar os seguintes: "Workshop sobre Restauração de Filmes e Técnicas Laboratoriais" com o restaurador holandês Johan Prijs; "I Estágio em Restauração Digital" – inserido no projeto de restauração de toda a obra de Joaquim Pedro de Andrade; "Estágio de Acompanhamento dos Processos de Incorporação e Armazenamento de Materiais Fílmicos e Documentação", realizado na Filmoteca Espanhola, e o "62o Congresso da Federação Internacional de Arquivos Fílmicos" (FIAF).
Entretanto, o Arquivo Nacional, que se apresentou publicamente à sociedade como um espaço adequado para a preservação cinematográfica na cidade do Rio de Janeiro, interrompeu o trabalho desenvolvido em quatro anos, perdendo com isso a rara oportunidade de consolidar, seja por concurso público ou por meio da realização de projetos paralelos, um corpo técnico qualificado para desenvolver as atividades específicas e complexas de um arquivo de filmes. Devido ao plano de carreira da instituição, o recente concurso realizado no mês de abril não incluiu a formação em cinema como habilitação apta, impossibilitando a inscrição dos membros de sua equipe de preservadores para as provas e, porconseguinte, a admissão para o quadro permanente de funcionários. Dessa maneira, a instituição compromete sua atuação na área da preservação fílmica e, em vez de dar um passo a frente no desenvolvimento do seu setor de guarda de filmes, efetiva um lamentável retrocesso diante de desafios, demandas e obstáculos a serem enfrentados por esta ou qualquer instituição que se dedica ao difícil trabalho de preservar e difundir o patrimônio audiovisual brasileiro.
Com isso, o Arquivo Nacional confirma um grave problema que marca a maioria das instituições desta natureza ao redor do mundo: a incapacidade de dotar-se de meios legais para incorporar um corpo técnico experiente, que cumpra com a devida eficácia e competência, as inúmeras tarefas que um setor como o de preservação de filmes exige. Esta carta espera tornar público o compromisso assumido, as açõesempreendidas e a tentativa de elevar os padrões de preservação ao longodos quatro anos de trabalho no setor de filmes do Arquivo Nacional do Brasil.
Rio de Janeiro, 05 de agosto de 2006.
Assinam esta carta os preservadores de filmes:
Débora Butruce
Fabiana Diaz
Fabricio Felice
Roberto Cersosimo
Silvia Franchini
Tatiana Carvalho
Com a palavra, para esclarecer este "raro esquecimento", as autoridades competentes (SIC).
Mas atenção: só não vale contar piada de português. Ela acaba de ser contada. E não tem nenhuma graça.
09 agosto, 2006
Assinar:
Postagens (Atom)