21 janeiro, 2016

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XLIII)

Uma das principais características dos novos arautos da extrema direita é que quase todos sofrem da chamada Síndrome da Melancia no Pescoço (mais conhecida como "Transtorno Obsessivo Compulsivo do Falem-Mal-Mas-Falem-de-Mim"...)
O diagnóstico desta síndrome ainda é complicado, mas os sintomas são bem evidentes: quem é acometido dela faz de tudo para chamar a atenção e aparecer ante o público – especialmente declarações bombásticas e mentiras até cretinas. Seu compromisso é um só: aparecer. A verdade, para eles, é um detalhe de somenos importância.
Principais vítimas desta síndrome: deputados da Frente Parlamentar dos Fiscais de Fiofó Alheio, aka Frente Parlamentar Evangelicuzinha, e parlamentares aliados – inclusive o muso desta séria série, Jair Besteiraro.
Informa-nos o site da revista Forum:
No último dia 10 de janeiro o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) publicou em seu Facebook um vídeo em que se propõe falar sobre o tema ‘educação’. Sua fala, no entanto, foi toda direcionada à críticas ao caderno do Governo Federal “Escola sem homofobia”, material didático para escolas públicas sobre questões de gênero e sexualidade que, por pressão de frentes conservadoras, está engavetado desde 2011.
Bolsonaro, entre outras inverdades que diz ao longo de todo o vídeo, mostra livros que sequer são distribuídos nas escolas e ainda confunde a revista ‘Nova Escola’ também com um livro, afirmando que ela é distribuída para crianças em escolas públicas.
A publicação, então – que é especializada em educação -, resolveu produzir um outro vídeo em que desmente cada informação improcedente dita por Bolsonaro.

“Quando o assunto é educação, pergunte a quem conhece”, escreveu a revista no final do vídeo que batizou de “Checagem de informações”.
Pra quem voltou de Marte ontem etc., etc.: a revista Nova Escola é uma publicação da Fundação Victor Civita, uma respeitada entidade voltada para as questões da educação no Brasil. Quer dizer... só não é cem por cento respeitada porque é ligada ao grupo Abril – ou seja, ao grupo que edita a "educativa" (atenção: isto é uma IRONIA) revista (In)Veja. Mas fazer o quê? Nada nem ninguém é perfeito...
De qualquer forma, a revista prestou um grande serviço ao lançar um vídeo descascando todas as besteiras de Besteiraro. O vídeo pode ser encontrado na fanpage da revista Nova Escola no Facebook ou, last but not least, no YouTubeAo mesmo tempo, claro, o nosso aliado favorito contra tretas deste tipo, o Boatos.org, já havia desfeito a mer...cadoria.
Mas fiquemos com o vídeo da Nova Escola. Caso você prefira entender qual é essa nova treta de Jair Besteiraro por escrito, então lá vai, item por item:
1- Besteiraro: "Eu venho falando desde 2010, quando descobri o famigerado 'kit gay' na escola."
Revista Nova Escola: O kit gay - nome dado pelos críticos – é, na verdade, o caderno "Escola sem homofobia". Especialistas elogiam o caderno. 'Ter esse material nas escolas seria um avanço muito grande', diz o pedagogo Ricardo Desiderio, da Unesp. Mas ele foi engavetado pelo Governo Federal em 2011, após pressões de parlamentares como Bolsonaro. (...)
Aliás, que conste dos autos: o caderno "Escola sem Homofobia" era destinado aos professores, mas que foi engavetado pelo Governo Federal em 2011 num dos maiores atos de covardia da presidente Dilma Rousseff diante da bancada evangelicuzinha e seus aliados. Covardia, aliás, canalhamente mal orientada pelos deputados evangelicuzinhos e seus aliados – inclusive o próprio Jair Besteiraro, que na época, apresentou como sendo o "kit gay" o que era, na verdade, uma cartilha do Ministério da Saúde, destinada a gays, lésbicas e travestis adultos em situação de risco.
(Se você quer conhecer o verdadeiro caderno, ele se encontra aqui
Dê uma olhada e veja se ele vale o ataque de pelanca de Jair Besteiraro et caterva.)
Aliás, fica a pergunta; se o "kit gay" foi engavetado, e engavetado continua, por que é que Besteiraro volta a "denunciá-lo"? Esquecimento dele – por possível caduquice – ou de sua aceçoria – por incompetência?
2- Besteiraro: (Mostrando um exemplar de Aparelho sexual & Cia.) "Olhe só um dos livros que estão chegando nas bibliotecas das escolas públicas... pra você que é pobre... escolas públicas, repito... Esse livro aqui... Aparelho sexual e cia (SIC)"
Revista Nova Escola: O livro Aparelho sexual & Cia. nunca "chegou às escolas públicas". De acordo com o que próprio MEC nos informa, a obra não está em nenhum programa de distribuição de material didático.
(Fonte: Portal Brasil, reportagem "MEC não distribuiu nas escolas livro de educação sexual citado em vídeo na internet.")
Mas para estes arautos da extrema direita mais cretina, toda e qualquer informação oficial, mesmo que seja séria e verdadeira, não tem valor – afinal, vem deste governo "petralha", não é mesmo?
3- Besteiraro: (mostrando páginas do livro) "Entre outras coisas... Por exemplo... 'um menino pode gostar de outro menino?' E 'uma menina pode gostar de outra menina?' Tá na cara que para o historiador... quer dizer... pra quem fez este livro... isso é uma coisa normal."
Revista Nova Escola: "Hoje, há amplo consenso entre os especialistas de que 'isso' é normal. A Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista mundial de doenças em 1990."
Claro, só quem continua achando que homossexualidade é doença são justamente a extrema direita e os evangelicuzinhos. Para eles (você que tem o número certo de neurônios no cérebro, não vale rir...), isso se deve a "uma conspiração gayzista internacional, que ameaçaram as entidades médicas de todo o mundo a retirar a homossexualidade da lista de doenças – depois, claro, de 'infiltrar' gays, lésbicas e simpatizantes nelas (SIC)".
(O que, por sua vez, levou a um comentário bastante ácido daquele meu amigo que é a franqueza em pessoa: "Claaaaro... Só imagino a cena na plenária da OMS: um bando de lésbicas ameaçando cobrir os médicos de porrada e um bando de gays dizendo que vão dar uma sandaliada na cara deles se não fizessem o que 'estão mandando'...")
4- Besteiraro: "Continua esse livro aqui... Todo ele é uma coletânea de absurdos que estimual precocemente as crianças a se interessarem por sexo, e no meu entender, isso é uma porta aberta para a pedofilia também... Olha aqui, ó... 'transar, como funciona' (mostrando uma ilustração de um buraco) enfia o dedo aqui... enfia... pro teu filho de seis anos de idade, ou pra tua filha de seis anos de idade, manda enfiar o dedo aqui "
Revista Nova Escola: "O livro não é 'para crianças de 6 anos'. Em nota a editora Companhia das Letras diz que o livro se destina a maiores de 11 anos. (Fonte: Todos pela Educação, reportagem 'Ação para proibir livro paradidático'.)"
Resumindo: o Livro Aparelho Sexual e Cia. - Um guia inusitado para crianças descoladas (Título original: Le guide du zizi sexuel), de Zep (com ilustrações de Hélène Bruller, traduzido para o português por Eduardo Brandão) é um livro PARADIDÁTICO – ou seja, salvo engano, as escolas NÃO SÃO OBRIGADAS A ADOTÁ-LO COMO CONTEÚDO DIDÁTICO OBRIGATÓRIO. A escola que quiser ADOTA O LIVRO PARA MENINOS E MENINAS A PARTIR DOS 11 ANOS. A escola que não quiser NÃO ADOTA o livro. Ponto.
Ah, sim: o site daCompanhia das Letras informa aos potenciais compradores que o livro está "indisponível" – no jargão popular, não está à venda, nem mesmo no próprio site. (De duas uma: ou a editora recolheu os exemplares do livro, assustada com a presepada do ilustre (SIC) deputado; ou o escarcéu de Besteiraro atiçou tanto as vendas do livro, que se esgotou logo.)
Aliás, aposto que as únicas escolas que não adotariam este livro são as escolas religiosas, católicas ou evangélicas. O motivo? Tais escolas acham que seus inocentes alunos não devem ser educados sobre o sexo, porque senão eles podem ser vítimas dele, inclusive de pedofilia – a mesma razão cretina apresentada por Besteiraro em seu vídeo. Como se crianças e adolescentes estivessem cem por cento protegidas de informações sobre o sexo – muitas delas, errôneas – fora da escola: é menina que conversa com a amiguinha mais velha e mais experiente, é menino que ouve os conselhos do irmão ou amigo mais velho e mais "vivido", que sabe mais das "coisas da vida" – só que, na maioria dos conselhos, sai tudo errado. Será que ninguém entende que, quando crianças e adolescentes tem informações corretas sobre sexo na escola, eles estão bem mais protegidos de coisas como pedofilia (ou mesmo gravidez na adolescência, doenças venéreas ainda jovens etc.) – justamente porque, uma vez que estão corretamente bem informados, não caem em esparrelas como estas?
Claro, há também a "teoria" debochada daquele meu amigo que é a franqueza em pessoa – de novo: "Vai que padres e pastores não querem aulas de educação sexual porque querem eles mesmos dar estas aulas... de preferência, na prática..."
Neste ponto, esse meu amigo está sendo injusto, porque nem todos os padres são pedófilos, nem todos os pastores evangélicos são uns tarados sexuais. Estes são uma minoria. Mas a partir do momento em que a igreja católica e as seitas evangélicas acobertam estes trastes (pelo famoso esprit de corps – que, neste caso, está mais para esprit de cochon), a má lenda persiste. (Sobre isso, tem um vlogueiro no YouTube que afirma em alto e bom som: todo novo padre saído do seminário deveria tatuar a testa com a frase "Eu tenho vergonha da Inquisição" e a genitália com a frase: "Proibido para menores de 18 anos"...) Tanto que o papa Francisco resolveu botar o cajado de pastor de almas na mesa (no sentido figurado, seu maldoso...) e condenou a pedofilia na igrejaao mesmo tempo em que passou a tomar as primeiras providências para combate-la.
Enquanto isso, as igrejas evangélicas não se mexem contra pastores que denigrem sua imagem com sua satiríase. Ao contrário: a não ser em casos em que a polícia e a justiça entrem em cena – e, neste caso, abandonam o pastor tarado á própria sorte – é comum ver líderes evangelicuzinhos varrerem casos de estupros para baixo do tapete. Isso quando não usam e abusam do vitimismo em favor do pilantra. Não custa nada lembrar o caso do pastor Marcos Pereira, condenado a 15 anos de prisão por dois estupros, veementemente defendido como um mártir cristão (SIC) por pastores do quilate de Marco Feliciânus (sim, ele mesmo, o psicopata que não se comoveu com mais de cem mortos no atentado do Estado Islâmico, em Paris, e culpou os próprios franceses, como já comentei em post anteriore Silas Mala-Sem-Alça-Faia, e tanto mexeram que conseguiram um habeas-corpusdo STF para seu "irmão em Cristo". 5- Besteiraro: "E pra onde é que vai isso aqui? Como disse aqui, no Plano Nacional da Cidadania LGBT, onde o público LGBT... para difundir nas escolas questões que os pais não querem para os filhos... olha aqui, gente... no item 1.4.1: 'Distribuição de livros para bibliotecas com a temática diversidade sexual para o público infanto juvenil'... (pega um tablet, onde aparece a capa de um número da revista Nova Escola) entre outros livros este daqui, ó... 'Vamos falar sobre ele'... Isso aqui é um menino... isso aqui fica dentro das bibliotecas... Ou seja, que que o governo Dilma Rousseff do PT faz? Compra centenas de milhares destes livros e distribui para as escolas, dá uma grana pros 'companheiros' e fica aqui pervertendo o seu filho na sala de aula."
Revista Nova Escola: "Isso não é um livro. É a revista Nova Escola. Nova Escola não é para alunos. É a maior publicação para PROFESSORES do Brasil. (A caixa alta é minha, para ver se Besteiraro – que, no vídeo, está lendo de óculos – leia direito e entenda certo – se é que já não entendeu.) Nova Escola não tem nenhum exemplar comprado pelo Governo Federal. Nova Escola não é dos 'companheiros'. É da Fundação Victor Civita, ligada ao grupo Abril. A capa citada foi eleita a melhor de 2015 pela Associação Nacional dos Editores de Revistas. O menino que a ilustra está vestido de princesa. Mas segue sendo um menino. (...)   Aproveitando o ensejo, vai aí um trecho do texto:

Vale desfazer a confusão entre esses conceitos. O sexo é definido biologicamente. Nascemos machos ou fêmeas, de acordo com a informação genética levada pelo espermatozoide ao óvulo. Já a sexualidade está relacionada às pessoas por quem nos sentimos atraídos. E o gênero está ligado a características atribuídas socialmente a cada sexo.
O que se sabe hoje em dia é que o dualismo heterossexual/homossexual não é capaz de abarcar as formas de desejo humanas. Os estudos sobre o tema dizem que a orientação sexual se distribui num amplo espectro entre esses dois polos. É provável que a definição sexual se dê pela interação entre fatores biológicos (predisposição genética, níveis hormonais) e ambientais (experiências ao longo da vida). Mas não há certezas. O guia Sexual Orientation, Homossexuality and Bissexuality, da Associação Americana de Psicologia, resume: "Não foram feitas, por enquanto, descobertas conclusivas sobre a determinação da sexualidade por qualquer fator em particular. O tempo de emergência, reconhecimento e expressão da orientação sexual varia entre os indivíduos". 

É surpreendente notar como determinados comportamentos são mais aceitos em uma fase da história e reprimidos na seguinte. Os moradores da Grécia Antiga, por exemplo, se relacionavam com pessoas de ambos os sexos. Já na Idade Média, comportamentos que se desviassem da norma socialmente definida eram punidos com a fogueira. Hoje, não há mais chamas, mas o sofrimento assume a forma de piadas, humilhações, agressões físicas e psicológicas, exclusão. Por que ainda agimos assim? Como se construiu uma sociedade que se choca e entra em pânico ao ver um menino se vestindo de menina?
A resposta está no conceito de gênero. Ele diz respeito ao que se atribui como características típicas dos sexos masculino e feminino. Meninas precisam sentar-se de pernas fechadas, meninos podem abri-las. Meninos não podem chorar, meninas são mais sensíveis. Meninos gostam de azul, meninas preferem o rosa. Enfim, uma série de aspectos que, com o tempo, ganham força e se convertem em regras. Por quê?


Repetindo bem explicado:
- SEXO (masculino e feminino) = biológico;
- ORIENTAÇÃO SEXUAL = para onde se direciona o seu desejo sexual, ou tesão (heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade);
- GÊNERO = papel social (ex.: menino joga bola, e menina brinca de boneca) – aliás, é sobre este último aspecto que Simone de Beauvoir falava quando disse "Ninguém nasce mulher, torna-se mulher", não de sexo biológico nem de sexualidade. Entenderam, bolsonaretes, ou querem que eu desenhe?

6- Besteiraro: "Não é a toa, pra encerrar, que estou com a camisa do Japão... Lá crianças dessa faixa etária faz operações matemáticas que o nosso universitário não faz aqui..."
Revista Nova Escola: "O currículo japonês para a 1ª série (6-7 anos) prevê desafios adequados à faixa etária. Para o conteúdo 'cálculos', os objetivos de aprendizagem são: Entender o significado da adição e da subtração. Investigar formas de somar e subtrair números de 1 algarismo. Investigar formas de somar e subtrair números simples de 2 algarismos. (Fonte: documento English Translation of the Japanese Curricula in the Course of the Study , 2008.) (Que, alias, Besteiraro, você pode encontrar aqui e ler – ou, dada a sua "intelijumência", pedir a algum de seus aceçores para traduzir. Isto é, se é que algum deles lê e fala inglês...)"

7- Besteiraro: "... que aqui é muito mais importante... botar na cabeça do menino que ele não é menino, e na menina que não é menina, como foi aplicado na prova do ENEM, do que ensinar algo que possa libertá-lo do Bolsa Família, da pobreza e da miséria no futuro"
Revista Nova Escola: "O Japão também tem Educação Sexual nas escolas. Começa aos 12 anos. (Fonte: estudo Sexual Health Education for School Children in Japan: the Timing and Contents disponível aqui para que Besteiraro leia etc., etc.) Em países como Inglaterra e Canadá, ela começa aos 5 anos. (Fonte: estudo Sexual Health Education for School Children in Japan: the Timing and Contents e reportagem Como a escola deve falar de sexo? , do site Educar para Crescer)."

COMEÇA AOS CINCO ANOS DE IDADE?
Cacilda! Só imagino o ataque de pelanca de evangelicuzinhos e bolsonaretes...

"Para resumir: quando o assunto é Educação, pergunte a quem conhece."

(Menos, Fundação Victor Civita e grupo Abril. Obrigado pelo serviço que prestaram à sociedade, ao desmentir os delírios de Jair Besteiraro. Mas vocês não são esse guaraná todo...)
Não é a toa que Besteiraro está no fim desta tabela abaixo: a "Tabela da Direita Oprimida" (SIC) – uma tabela de inversões argumentativas desonestas. No caso de Besteiraro, a tabela é assim:

VOCÊ É:
QUEM TE OPRIME:
COMO:
Fã do Bolsonaro
Filosofia, Ciência, História e outras invenções do Méqui
(SIC – é o MEC)
Te fazem pensar
 
 
Só que Jair Besteiraro não é idiota. (Pelo menos, não TÃO idiota assim...) Ele sabe muito bem que todas estas coisas (e muitas outras) que fala não são verdade. Mas ele precisa, e muito, utilizar a profunda desinformação do seu público cativo, através de falsas polêmicas para manter-se sempre em evidência... e, claro, satisfazer a sua Síndrome da Melancia no Pescoço e seu egocentrismo. Se isso trará tristes consequências no futuro, isso é um detalhe para ele.
(E, desde já, mil desculpas, Eliane Brum, mas eu não vou chamar tais figuras de burros: prefiro chama-los de desinformados fanatizados. Quanto ao resto de seu artigo em El Pais, você está mais do que certa. Você e nosso amigo Inácio Araújose defender o direito da mulher de andar sem ser perturbada, agredida, chutada e, principalmente, estuprada é "tema de esquerda", é sinal de que a direita no Brasil vai muito mal. Especialmente a direita intelectual, lida e culta (e não vem não, ô extrema esquerda, que, por increça que parível, ela existe), que deixa a extrema direita mais raivosa sair no pau contra a esquerda, para depois assumir o controle da situação e o poder.
Especialmente porque parece que esqueceram da história que estudaram no colégio.
Não custa nada lembrar que, há muitos e muitos anos, num país bem longe daqui, a direita inteligente (ou que se achava assim) deu corda a um líder da extrema direita (que, por curiosa coincidência, também era um ex-militar), apoiando-o para fazer frente a uma grave crise e à esquerda, a partir da premissa de que podia controla-lo
Bem, a época (muitos e muitos anos atrás) era a década de 1930. O país chamava-se Alemanha. E o ex-militar era um ex-cabo do exército chamado Adolf Hitler. Quem não esqueceu a História que estudou sabe a m... que deu.
Se satisfazer a Síndrome da Melancia no Pescoço de Jair Besteiraro e seu egocentrismo trará tristes consequências ao futuro do Brasil, isso é um detalhe de somenos importância para ele.

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E por increça que parível, Jair Besteiraro consegue o que a esquerda não consegue fazer com essa extrema direita: desuni-la.
Seria trágico (para a extrema direita, claro), se, ao mesmo tempo, não fosse cômico.
A treta está registrada em matérias do Diário do Centro do Mundo e, mais uma vez, no site da revista Forum.  
A coisa foi assim:
1- Kim Kataguiri criticou o que ele acha que é uma visão intervencionista e nacionalista de Jair Besteiraro.
2- Pronto: por toda a internet – especialmente nas áreas preferidas de "combate" (leia-se ofensas), o Twitter e o Facebook – as besteiretes... digo, bolsonaretes caíram de pau no Kim Kataguiri.
3- Em seu blog no site da (In)Veja, Reinaldo Azedo... digo, Azevedo escreveu um artigo, defendendo Kataguiri e metendo o pau em Besteiraro e suas "boçalidades" (não estou afirmando isso por conta própria: está lá no artigo).
4- Neste momento, via Twitter, eis que se levanta (com guindaste e bastante viagra, segundo os mais debochados...), em defesa de Besteiraro, a voz do maior de todos os gurus desta extrema direita: Olavo DOI- Codi de Carvalho, o defensor de torturadores. Pobre do Reinaldo Azedo, vitimado pela gentil argumentação do "filósofo"...


5- Discípulo e colega dos acima citados, Rodrigo Bostantino... ops, Constantino (desculpem-me o ato falho...) escreve um artigo em seu novo blog,tentando acalmar os ânimos "em nome da causa comum", anti-PT.
6- Não adiantou muito: como a vaidade do velho Olavo é maior, ele se volta contra Rodrigo Bostantino, com sua gentileza de sempre:


7- E todo este quebra pau acabou sendo resumido de forma brilhante por um dos órgãos informativos mais confiáveis do país (atenção, turma que só tem o Tico e o Teco: isso é uma I-R-O-N-I-A, catzo!): o Sensacionalista, que falou a respeito do "alto nível" do debate. Vale a pena transcrever:

Vigilância Sanitária pode interditar Twitter após treta entre colunistas


O mestre Olavo de Carvalho, eleito presidente moral dos Estados Unidos e farol da direita internacional, entrou em atrito com alguns de seus colegas na noite de ontem, pelo Twitter.
A coisa toda lembra um pouco o poema “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade, só trocando os “amava” por “odeia”.
Kim Kataguiri criticou o deputado Jair Bolsonaro. Olavo de Carvalho não gostou. Reinaldo Azevedo atacou Olavo. Olavo devolveu e sobrou até para o Rodrigo Constantino.
Depois do ocorrido, o governo petista da presidente Dilma disse que trabalha para que a Vigilância Sanitária interdite o Twitter para tentar limpar o site.
Apenas o mestre Olavo deixou os tweets no ar para que a gente pudesse curtir

Há alguns dias, a tempestade se anunciava com o gentil tratamento dispensado por ele ao Kim Kataguiri



Aí, ontem, a coisa começou a espirrar para colegas de imprensa

(Aquela tuitada em que Olavo diz Reinaldo que "deboche é argumento de puta"; não precisamos repeti-la, certo?

“Trouble in paradise”

Só pode ser um espião

Bolsonaro curtiu isso

Não se sabe mais como e por quê, mas sobrou para o pobre do Rodrigo Constantino

(Aquela tuitada da "seita fechada". Também não precisamos repetir.)

Olavo não tem medo

(Aquela tuitada do "só não digo que seita fechada é o...". Também não precisamos repetir.)

O Sensacionalista portanto conclama as partes envolvidas a realizar o exame de corpo de delito para descobrir qual é, afinal, a condição das pregas gerais.


Antes, fiquem com estes bônus do mestre:


E viva o papel de protagonismo dele na política brasileira. Sim, ele mesmo: o cu!

(Edição: M Zorzanelli)

Então, gentis leitores, já rimos a pregas desbandeiradas (© Aldir Blanc)?
Então, pano rápido...

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Não sei se Kim Kataguiri ficou muito machucado com o quebra pau, mas pelo menos ele conseguiu uma forma de revidar a "gentileza" de Olavo DOI-Codi de Carvalho.
Informa-nos, mais uma vez, o site da revista Forum:

Folha de S. Paulo anunciou, nesta segunda-feira (18), que terá Kim Kataguiri como novo colunista do site do jornal. O líder do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos organizadores das manifestações pró-golpe, também comentou a contratação. Segundo ele, o veículo mostrou, com o convite, uma "excelente tentativa de parecer mais idôneo".
Kim entra para o time de antipetistas da Folha, que já tem em seu quadro nomes como Josias de Souza e Leandro Mazzini. Na matéria em que apresentou o jovem de 19 anos para os leitores, a publicação manteve um tom elogioso e afirmou que ele deseja espalhar seus ideais de garantir “mais poder na mão do indivíduo e menos poder na mão do Estado”.
Resta saber se o jornal será responsabilizado pelo que for escrito no espaço, uma vez que Kim é conhecido pelo discurso inflamado contra seus desafetos.

Ai, que preguiça macunaímica de comentar sobre isso...
Vou deixar a honra para Paulo Nogueira, em sua coluna no Diário do Centro do Mundo – porque, como diria o doutor Brizola: francamente... francamente...

E então a Folha anuncia a contratação de Kim Kataguiri como colunista semanal de seu site.
Como se o site do grupo – UOL mais Folha — estivesse desguarnecido de antipetistas. Você tem Josias de Souza, por exemplo. Ou Leandro Mazzini, que noticiou há mais de um ano um novo câncer em Lula que, se fosse verdadeiro, já o teria matado faz tempo. (Era no pâncreas, o mais rapidamente letal dos cânceres. Previsivelmente, nada aconteceu com Mazzini em relação a seu emprego no UOL, e ele sequer se desculpou pela espetacular barrigada.)
Bem, Kataguiri vem se juntar à Folha. Ele é tão sem noção que afirmou que sua contratação é um esforço da Folha para parecer “mais idônea”.
É uma oportunidade para refletir sobre o nível da direita no Brasil.
Kataguiri está escrevendo também para o site HuffPost Brasil, do qual a Abril é um dos sócios.
Li o artigo de estreia dele no HP. Ali ele diz bobagens e mentiras que são a marca da direita brasileira, cujos propagandistas no passado eram gente da estatura intelectual de Roberto Campos e Mario Henrique Simonsen.
Kataguiri diz que o pai de Lênin era um “poderoso funcionário” do czar.
Ora, ora, ora.
De onde ele tirou essa estupidez? O pai de Lênin era um simples diretor de universidade, e não mais que isso. Tivesse algum poder e ele não teria enfrentado a tragédia de ver o filho Alexandre, irmão mais velho de Lênin, ser executado pelo governo czarista. (Foi um episódio vital na trajetória de Lênin.)
Kataguiri e outros do gênero repetem constantemente outra falácia sobre Lênin, uma segundo a qual ele teria instruído seus seguidores a fazerem aquilo que acusam os inimigos de fazer.
Você pode achar Lênin um monstro moral, mas ele era um intelectual brilhante e jamais diria uma coisa tão rasa e idiota como aquela.
Este tipo de coisa é frequente entre os conservadores brasileiros: a falta de compromisso com os fatos, algo decorrente da pouca leitura que os marca.
No obituário que escreveu sobre Margaret Thatcher, Reinaldo Azevedo afirmou que ela morreu “pobre”.
Não sei qual é o conceito de pobreza de Azevedo, mas Thatcher tinha ao morrer, entre outros bens, uma casa na região mais cara de Londres, Mayfair, avaliada em 40 milhões de reais.
A imprensa brasileira vem abrigando direitistas desse quilate em seus quadros. Não surpreende que a mídia venha perdendo eleições há tanto tempo.
Como influenciar as pessoas com um nível tão baixo de propagandistas?
Kim Kataguiri na Folha é mais numa longa lista de nulidades.

Pensando bem (depois da necessária pausa para tomar o sal de frutas regulamentar), vou para um breve comentário.
Levando-se em conta que, por causa desta novidade, vários conhecidos meus cancelaram a assinatura da Folha de S. Paulo – e muitos tinham a assinatura desde os anos 1980 (isto é, desde a época em que o jornal começou a nos enganar direitinho, fazendo-se passar por um jornal sério a partir de sua cobertura das Diretas Já) – transcrevo outro breve comentário de um amigo de meu Facebook (só vou comentar o milagre, mas não nome do santo, tá bom?). Disse ele: "Se a Folha quer se transformar em um jornal de 'Kimta Katiguria', o problema e dele..."

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Mais sal de fruta, que hoje está "flórida"...
Você já assistiu Hoje eu quero voltar sozinho (2014),de Daniel Ribeiro?
Eu já. Assim como vi o curta-metragem que lhe deu origem, Eu não quero voltar sozinho (2010).
É simplesmente um dos filmes mais sensíveis que cinema brasileiro já realizou. Se o Oscar não quis indica-lo para melhor filme estrangeiro em 2015, minha palavra de consolo para aquele "bonequinho viado" (e desde já, mil desculpas pela recaída ligeiramente homofóbica):


Neste sábado, 23 de janeiro, a fanpage de Hoje eu quero voltar sozinho avisou – especialmente aos espectadores da TV aberta (que há muito são tratados pelas emissoras abaixo dos cachorros) – que eles teriam uma boa chance de se encontrar com o filme. O filme seria exibido na sessão Supercine, da Rede Globo, logo após o programa de Serginho Groisman, Altas horas(Teve neguinho que reclamou do horário - 01h20. Mas antes tarde do que nunca.)
Seria.
24 horas depois, a má notícia foi comunicada na mesma fanpage e no site Blasting News:
 
20 janeiro 2016
- Especialista em TV & Famosos

GLOBO TROCA ROMANCE GAY POR FILME HOMOFÓBICO E GERA REVOLTA
Grupos de homossexuais estão criticando emissora na internet por troca.

A semana começou com a página oficial do filme 'Hoje Eu Quero Voltar Sozinho' fazendo uma publicação na internet em que comemorava o fato de passar pela primeira vez na TV aberta. A película que recebeu diversos prêmios em todo o mundo seria exibida em um horário "escondido" da Rede Globo de Televisão, na madrugada de sábado, no 'SuperCine', que vai ao ar após o 'Altas Horas', apresentado por Serginho Groisman. No entanto, de última hora, toda a comemoração caiu por água abaixo e a Globo decidiu simplesmente tirar o filme de sua grade, o que gerou grande revolta das redes sociais, principalmente em páginas voltadas ao público gay.
O curioso é que o filme não tem nada de tão chocante assim. Durante toda a película, apenas um simples beijo é dado. 'Hoje Eu Quero Voltar Sozinho' surgiu como um curta publicado no Youtube. O sucesso ajudou a produção a se tornar um longa e a ganhar 94 festivais internacionais. Na obra, Guilherme Lobo interpreta Leonardo, um jovem cego que busca a independência, mas que tem uma mãe bem protetora. Com a chegada de Gabriel (Fabio Audi) à cidade, ele começa a experimentar novos sentimentos. É aí que o adolescente passa a saber mais sobre ele mesmo e também sobre sua sexualidade. 
A felicidade dos amantes do filme não durou muito. No site da Globo, o 'SuperCine' já anuncia 'Casa da Mãe Joana 2', película que teve o apoio da 'Globo Filmes'. A história é considerada homofóbica. Um dos personagens principais é um fantasma gay. Basta ele aparecer, para que os demais personagens façam piadas homofóbicas com ele. Dentre os xingamentos nada agradáveis, estão "bibinha", "bicha" e "viado", além de outras situações que destilam puro preconceito. 
Os internautas questionam a Globo se é mais interessante mostrar sempre homossexuais em situações cômicas, do que exibir histórias mais próximas do real, como o romance mostrado no primeiro filme. O jeito é esperar, vai que o canal decide passar o filme na 'Tela Quente', em um horário bem mais chamativo. A emissora não se pronunciou sobre o caso. 

Pois eu e o Blog do Don, que comentou o caso, temos sérias dúvidas se isso vai acontecer:
Na minha opinião, para a emissora há o interesse maior em retratar o gay de forma humorada se sujeitando a homofobia, do que a história de amor entre dois jovens gays que superam o preconceito. Se confirma ainda mais, através desta atitude da Globo, a intenção de manipular o senso comum em desfavor da população LGBT, fortalecendo uma cultura de preconceitos e discriminações.
Por ser uma concessão pública, devemos cobrar respeito da emissora em retratar as nossas vivências e realidades de forma séria, sem discriminações e promoções de estereótipos. Não podemos tolerar ofensas homofóbicas ou LGBTfóbicas sendo exibidas deliberadamente em uma televisão!
Confira a crítica sobre o filme "Casa da Mãe Joana 2" escrito por Natália Bridi, do site Omelete, especializado em filmes:

"(...)Tentar explicar Casa da Mãe Joana 2, porém, é um exercício de falácia. Há tantos elementos bizarros e desconexos - de maratonas de maconha à aparições da nobreza francesa - que a única reação possível ao final da sessão é o silêncio: “O que foi isso que eu acabei de ver?” O mote continua a ser o hedonismo, mas o desgaste dos anos transforma o filme em um corpo estranho, onde referências sofisticadas a Sam Peckinpah (Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia, 1974), Louis Malle (Zazie no Metrô, 1960) e Federico Fellini (E la Nave Va, 1983) se misturam a piadas banais sobre gays, gordas e pirocas."

Falando sério: Pode até ser que a Globo tenha se orientado pelas reclamações de fãs do filme por causa do horário tardio. Ou pode ser que a mesma Globo use esta desculpa (as reclamações) para não exibir o filme nem no dia 31 de fevereiro.
Aliás, já que falamos da programação da Globo aos sábados: eu me surpreendi muito quando outro programa dos sábados, o Zorra total, se transformou. De um exemplo de humor esclerosado de anos anteriores, passou a ser um programa de humor moderno.
Porque a estrutura da Globo – aliás, como de outras redes de TV aberta – não abre espaço para grande inovações.
Em um artigo para a saudosa revista Sinopse (Cinusp), transcrito para a revista SOMBRAS ELÉTRICASNewton Cannito explica por quê:

A estrutura pré-capitalista, monopolista e familiar das empresas de televisão brasileiras faz com que elas se organizem num modelo gerencial ultrapassado e burocrático, sem incentivo ao empreendedorismo, a inovação e ao risco. No monopólio não é preciso estar sempre se aperfeiçoando já que a concorrência não existe. Para os executivos e artistas que controlam a empresa hegemônica é mais seguro repetir indefinidamente os mesmos programas do que inovar, correr o risco de errar e colocar a cabeça a prêmio. Quando a inovação surge ela é freada, mesmo que dê certo comercialmente. Vamp foi uma novela que inovou o gênero e fez audiência, mas a experiência não foi repetida. Porque será? Com certeza é devido ao jogo interno de poder na organização. Qualquer inovação abre brechas que podem desestabilizar equipes já assentadas e baseadas em outro tipo de produto. Vamp, por exemplo, atingiu um público de jovens (não tão tradicional nas telenovelas) mas afastou o público cativo de senhoras donas de casa. Em índices absolutos o público de Vamp era maior que o tradicional do horário das sete. Vamp provou que um novo estilo de novelas podia dar ainda mais lucros à emissora. No entanto essa mudança não interessava a todos pois obrigava uma reestruturação do Departamento Comercial. Com a mudança de público os antigos anunciantes ficam descontentes. É necessário arrumar novos patrocínios mais adequados ao novo público. Com isso executivos de marketing que já controlavam as contas das empresas tradicionais vêem-se de uma hora para outra obrigados a procurar novos patrocinadores e a competir com novos executivos. Contam também com a influência externa das agências de publicidade, extremamente conservadoras na elaboração de seus planos de mídia. E por fim, os próprios autores de novelas tradicionais (que só sabem escrever desse jeito e mantém sua hegemonia na organização com o discurso de "minha novela é ruim mas dá audiência") tem sua legitimidade de público contestada e não tem interesses na mudança. Na verdade, a Globo repete suas fórmulas até a exaustão não porque o "público" quer vê-las, mas por interesse dos velhos profissionais da emissora que querem manter seu poder dentro da empresa e continuar fazendo a mesma programação que já estão acostumados há dezenas de anos.
A programação da Globo está também sujeita a pressão de grupos externos. Para evitar a real representação dos problemas da nação (que podem ofender grupos da elite brasileira) a dramaturgia global se repete e evita abordar a constante mudança da realidade. No artigo "Vendo a televisão a partir do Cinema" (em A TV aos 50), Roberto Moreira fez uma análise de um capítulo de Mulher:
"A Globo insiste em ignorar nosso conflitos cotidianos. A imagem que constrói é a de um país institucional, oficial e desinteressante. Por exemplo, em um dos capítulos do seriado Mulher, uma jovem grávida faz um aborto, ato corriqueiro em todas as classes sociais, mas na ficção, diante da força da Igreja católica, a personagem acaba culpabilizada e castigada. Ora, com quem deve ser o compromisso da emissora? Com um grupo de pressão ou com seu público? Enquanto a Globo não perder seu tom oficial e chapa-branca, sua audiência vai continuar a se erodir, simplesmente porque não existe narrativa – seja jornalística, seja de ficção – sem conflito."
Já é momento da Globo perceber que é hora de mudar. A empresa deve desbancar o esquema conservador de poder interno e abrir mais espaço para a inovação. Deve também se preocupar mais com a conquista de audiência e menos com os grupos de pressão externos a ela. Ou a Globo faz isso logo ou perderá gradativamente a audiência e não conseguirá competir no mercado que se tornará cada vez mais competitivo – especialmente com a abertura para a entrada de capital estrangeiro em redes de televisão. E é claro que o que dissemos para a Globo serve de forma amplificada para todas as outras emissoras

Some-se ao conservadorismo de uma boa parcela do público – possíveis eleitores de parlamentares da Frente Parlamentar Evangelicuzinha e mesmo de Jair Besteiraro – e explica-se por que o povo LGBT ainda é retratado de modo preconceituoso na TV aberta.
Ou seja: quem quiser ver filmes como Hoje eu quero voltar sozinho vai ter de apelar para a internet. Ou, como este escriba nesta séria série, encher o saco de emissoras e distribuidores.

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O que nos leva, finalmente (já que tivemos assombrações demais neste texto...), à minha indicação de filme para esta séria série: Ghosted (2009), de Monika Treut.
Nós conhecemos frau Monika como diretora de um dos episódios de Erotique (1994)intitulado Taboo Parlor. (As outras diretoras são a chinesa de Hong Kong Clara Law, com Wonton Soup; a americana Lizzie Borden, com Let's Talk About Love; e nossa compatriota Ana Maria Magalhães, com Chamada final.) Ah, sim, frau Monika é assumidamente lésbica, e seus filmes – altamente feministas – mostram sobretudo papéis alternativos de gênero. Isso claro, sem deixar de transitar pelos gêneros do cinema clássico narrativo.
É o caso deste Ghosted – um misto de história de amor e thriller policial que se passa entre Hamburgo e Taipei.
Tudo começa com o misterioso assassinato de Ai-Ling (Huan-Ru Ke), namorada taiwanesa da artista plástica alemã Sophie Schmitt (Inga Busch). Completamente desolada, Sophie faz uma videoinstalação dedicada a Ai-Ling. Durante a inauguração desta videoinstalação em Taipei – Sophie é abordada por uma jovem, Mei-Li (Ting-Ting Hu), que se apresenta como jornalista. A princípio, Sophie não se interessa em conceder nenhuma entrevista, mas acaba instigada pela persistência de Mei-Li. Este contato a faz relembrar seus momentos com Ai-Ling, que acompanhamos nos flashbacks. Aos poucos, Sophie começa a suspeitar que Ai-Ling tinha um segredo. Aí...
Bem, aí você encha o saco de seu distribuidor favorito para que Ghosted seja lançado no Brasil, porque eu não sou desmancha-prazeres nem fã de spoilers. Por enquanto, contente-se com os trailers do filme.