Que
conste dos autos: são opiniões de uma pessoa que respeito muitíssimo. Aliás,
qualquer pessoa de bom senso na área de cinema respeita – menos, claro, os
grandes jornais e seus
segundos-cadernos-culturais-e-seu-jornalismo-de-press-release.
A pessoa é Maria do Rosário
Caetano, que atualmente escreve na Revista
de Cinema e em seu próprio blog, o Almanakito.
O assunto é o Grande Prêmio de Cinema Brasileiro. É,
aquele prêmio da Academia Brasileira de Cinema, sobre o qual escrevi um post
há alguns meses atrás sobre as indicações e as apostas deste escriba.
Aliás, que tal vermos se este escriba acertou alguma coisa?
MELHOR
LONGA-METRAGEM DE FICÇÃO
O Palhaço, de Selton Mello (Produção:
Vania Catani, por Bananeira Filmes).
Lembrando meu voto: ficou dividido entre Broder,
de Jefferson De, e O Palhaço, de Selton Mello. (Aliás, pobre
Jeferson De, que saiu de mãos abanando...)
MELHOR
FILME DE FICÇÃO - VOTO POPULAR
O Palhaço
(Sábio público...)
MELHOR
LONGA-METRAGEM DOCUMENTÁRIO
Lixo
Extraordinário
(Produção: Hank Levine por O2 Filmes e Angus Aynsley por Almega Projects), de João Jardim,
Karen Harley e Lucy Walker.
MELHOR
DOCUMENTÁRIO - VOTO POPULAR
Quebrando o
Tabu (Produção: Fernando Menocci, Silvana Tinelli e Luciano Huck
por Spray Filmes), de Fernando Grostein Andrade.
Meu voto também ficou dividido – desta vez
entre À Margem do Lixo, e Evaldo Mocarzel, e As canções,
de Eduardo Coutinho. Não deu nenhum dos dois. Uma pena.
MELHOR
LONGA-INFANTIL
Uma
Professora Muito Maluquinha (Produção: Diler Trindade por Diler &
Associados), de André Alves Pinto e Cesar Rodrigues.
Lembrando meu voto: Palavra cantada 3D.
O júri preferiu homenagear Ziraldo por seus 80 anos...
MELHOR
DIREÇÃO
Selton Mello, por O Palhaço.
Lembrando que a dúvida cruel de melhor longa se
repetiu aqui: dividi meu voto entre Jeferson De e Selton Mello.
MELHOR
ATRIZ
DEBORAH SECCO como Bruna
Surfistinha, por Bruna Surfistinha
Injustiça com Simone Spoladore – meu voto: sua
Elvis, em Elvis e Madona foi
fantástica.
MELHOR
ATOR
SELTON MELLO (Benjamim/Palhaço Pangaré), por O Palhaço.
(Mais um acerto.)
MELHOR
ATRIZ COADJUVANTE
DRICA MORAES (Larissa)
por Bruna Surfistinha.
(Mais uma injustiça – desta vez, com Cassia Kiss e
Fabiana Karla. Mas justo com Drica Moraes e seu trabalho afinado.)
MELHOR
ATOR COADJUVANTE
PAULO JOSÉ (Valdemar/Palhaço
Puro Sangue), por O Palhaço
(Bingo... Mais um acerto.)
MELHOR
DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA
ADRIAN
TEIJIDO, ABC, por O Palhaço.
(Bingo...)
MELHOR
DIREÇÃO DE ARTE
CLAUDIO
AMARAL PEIXOTO, por O Palhaço.
(Bingo...)
MELHOR
FIGURINO
KIKA LOPES,
por O Palhaço.
(Bingo...)
MELHOR
MAQUIAGEM
MARLENE MOURA
e RUBENS LIBÓRIO, por O Palhaço.
(Meio injustiça com Marina Beltrão, por Elvis e
Madona. Podia dar empate aí.)
MELHOR
EFEITO VISUAL
CLÁUDIO
PERALTA, por O Homem Do Futuro.
(Meu voto, só para lembrar: André Kapel, por Broder.
Outra injustiça.)
MELHOR
ROTEIRO ORIGINAL
MARCELO VINDICATTO e SELTON MELLO, por O Palhaço.
(Bingo...)
MELHOR
ROTEIRO ADAPTADO
Adaptado da obra “O Doce Veneno do Escorpião” de
Bruna Surfistinha. ANTONIA PELLEGRINO, HOMERO OLIVETTO e JOSÉ CARVALHO,
por Bruna
Surfistinha.
(Lembrando meu voto: Domingos Oliveira, por Todo
Mundo Tem Problemas Sexuais. Injustiça com mestre Domingos...)
MELHOR
MONTAGEM FICÇÃO
MARILIA
MORAES e SELTON MELLO, por O Palhaço.
(Bingo...)
MELHOR
MONTAGEM DOCUMENTÁRIO
PEDRO KOS,
por Lixo Extraordinário
(Lembrando meu voto: Ava Gaitan Rocha, por Estrada
Real da Cachaça.)
MELHOR
SOM
JORGE SALDANHA, MIRIAM BIDERMAN, RICARDO REIS e
RODRIGO NORONHA, por O Homem Do Futuro.
(Única injustiça com O Palhaço, que foi meu voto.)
MELHOR
TRILHA SONORA
VLADIMIR
CARVALHO, por Rock Brasília.
(Lembrando meu voto, para os injustiçados Edu Lobo,
por Não se Preocupe, Nada Vai Dar Certo, e Jeferson De e João Marcelo
Boscoli, por Bróder.)
MELHOR
TRILHA SONORA ORIGINAL
PLÍNIO
PROFETA, por O Palhaço.
(Bingo...)
MELHOR
CURTA-METRAGEM FICÇÃO
Juliana
Rojas, por Pra Eu Dormir Tranquilo.
(Bingo...)
MELHOR
CURTA-METRAGEM DOCUMENTÁRIO
Alessandra
Colassanti e Samir Abujamra, por A Verdadeira História da Bailarina de
Vermelho.
(Bingo...)
MELHOR
CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Leonardo Cata Preta, por O Céu no Andar de Baixo.
Ficou em branco, pois os cinco são ótimos. Palmas
para Leonardo Cata Preta.
MELHOR
LONGA-METRAGEM ESTRANGEIRO
Woody Allen, por Meia Noite em Paris. Distribuição: Paris Filmes.
MELHOR
FILME ESTRANGEIRO - VOTO POPULAR
Rio.
Por increça que parível, a decisão
do júri, por Meia Noite em Paris, foi
mais sábia do que a do voto popular (e não, não estou tucanando...) que
preferiu os bons e velhos estereótipos que americano tem sobre o Brasil e
qualquer outro país da América Latina - só faltando o
mexicano-que-dorme-de-sombrero - de Rio, de Carlos Saldanha. Triste.)
***************
Findo
o balanço dos premiados ao Grande Prêmio de Cinema Brasileiro, voltemos às
opiniões de Maria do Rosário Caetano, que podem ser encontradas em post de seu Almanakito.
Nossa
amiga cita alguns problemas deste prêmio da
Academia Brasileira de Cinema que quer ser o Oscar do cinema brasileiro, mas
não consegue. Listando:
1- O ALCANCE DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CINEMA – A Academia
Brasileira de Cinema tem cerca de 200 associados. A maioria é radicada no Rio
de Janeiro e atuante no cinema carioca. Ninguém do cinema de outros estados.
Ora, pinhões, Rô chama a atenção para uma coisa importante a
respeito de um Grande
Prêmio de Cinema Brasileiro: “Um prêmio que se propõe a ser BRASILEIRO precisa mobilizar os VARIOS
BRASIS.”
– isto é, precisa incorporar e mobilizar também os cinemas e cineastas de
outros estados. Ficar centrado no chamado “eixo Rio-são Paulo do cinema
industrial”, levando-se em conta que o Brasil não tem uma indústria de cinema
propriamente dita, não dará nunca credibilidade ao Grande Prêmio de Cinema
Brasileiro.
Esse cariococentrismo (e não, caro leitor, não estou xingando
ninguém, esse não é um palavrão... É um neologismo...) se refletiu na indicação
dos finalistas: três filmes produzidos no Rio de Janeiro e dois filmes de São
Paulo (que, aliás, ficaram de mãos abanando...). Nenhum filme pernambucano foi
indicado – o que é uma injustiça para o cinema pernambucano e sua criatividade
intensa.
2- A DATA DE PREMIAÇÃO – Como é publico e notório, a Academia
Brasileira de Cinema baseia-se no modelo da Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas dos EUA. É, ela mesma, a Academia de Hollywood, que concede o
popularíssimo Oscar – que um amigo irreverente chamou certa vez de “bonequinho
viado”... (Inveja? Pode até ser...)
Só que, para quem conhece os hábitos da Academia de
Hollywood, sabe que ela aponta os finalistas ao Oscar do ano anterior no mês de
janeiro do ano seguinte, e entrega os “bonequinhos viados”... digo, os Oscars
em fevereiro ou, no mais tardar, no comecinho de março.
Já a data de entrega do Grande Prêmio de Cinema Brasileiro consegue
ser a mais tardia possível. Este ano, conseguiu a façanha de entregar os
prêmios do ano de 2011 em OUTUBRO de 2012 – isto é, com o ano de 2012 quase no
fim. Pior: QUATRO DIAS DEPOIS DA ENTREGA DO PRÊMIO REDENTOR, do Festival do
Rio.
Não
sei se o Grande Prêmio de Cinema Brasileiro é só o troféu ou tem uma premiação
em dinheiro que o acompanha. Se tem grana, por que não abre mais a rodinha para
o resto do país? Se é só o troféu, o que o respeitável público de cinema pode
dizer se resume a isso: “Ah, o filme ganhou o Grande Prêmio de Cinema
Brasileiro? Legal, mas... e o Quico?”
(Pra quem nunca viu o Pânico
na TV em seus bons tempos (isto é, quando fazia humor...): havia uma
paródia do apresentador José Luiz Datena e de seu programa Brasil Urgente – e o Datena paródico conseguia ser mais
hilariantemente histérico que o original. A certa altura, ele exclamava para o
“diretor” do programa: “Agora... e o Quico? (Nesse momento, aparecem imagens congeladas do
personagem Quico, do seriado mexicano “Chaves”.) E... o... Quico? O QUICO EU TENHO A VER COM ISSO?” E antes que
o caro leitor diga que é podre, respondo-lhe: sim, é podre, mas é eficiente. Ou
vai me dizer que não riu? Mas voltando à vaca fria...)
O que nos leva ao...
3- O NOME DO PRÊMIO – Rô
começa seu texto no seu Almanakito citando o nobre colega Inácio Araújo, eficientemente irreverente em texto na Folha de S. Paulo.
Com sua permissão, mestre Inácio: Quem inventou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro merecia
uma medalha: não é todo dia que alguém dá a um prêmio de cinema o nome de
corrida de cavalo.
E
não é?
E, como eu disse antes, este prêmio da Academia Brasileira de
Cinema quer ser o Oscar do cinema brasileiro, mas não consegue adotar um nome
forte – ou, como a própria Rô pergunta: “Por que não arrumar um nome
SINTÉTICO, PARÓDICO (e não paródico ao mesmo tempo!!!!!!) E GENIAL
(...)???”
O cinema mundial tem prêmios com nomes marcantes: Cesar – o
equivalente ao Oscar na França; Goya – o equivalente ao Oscar na Espanha; Davi
di Donatello – o equivalente ao Oscar na Itália; e, claro, o Oscar.
E
olhe que o cinema brasileiro já teve prêmios com nomes marcantes: o Medalhão de
Bronze, concedido pela revista Cinearte
(apenas uma vez, em 1927, para Tesouro Perdido, de Humberto Mauro); o Saci,
concedido pelo jornal O Estado de S.
Paulo até 1968 (que, a rigor, era um prêmio multiartístico, concedido ao
cinema e ao teatro); a Coruja de Ouro, do antigo INC; e mesmo (já que a própria
Rô fala de Gramado) o Kikito – o deus do bom humor.
Aliás, o Kikito, por longo tempo, foi
o Oscar brasileiro – não apenas porque a forma da estatueta é ligeiramente
parecida com a do “bonequinho viado”... quer dizer, do Oscar americano, mas
porque o Festival de Gramado era o mais importante (ou um dos mais importantes,
rivalizando com o de Brasília).
Talvez
porque o nome do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro
mude não por causa de falhas de comunicabilidade e empatia, mas ao sabor dos
patrocinadores.
É só lembrar a história.
Quando começou, em 2002, tinha o singelo nome de Grande Prêmio BR do Cinema Brasileiro,
porque era patrocinado (adivinhem?) pela Petrobras.
Em 2003, a Petrobras saiu de cena, e a edição do prêmio, que
(claro) se chamou Grande Prêmio do Cinema Brasileiro foi feita com uma vaquinha
entre exibidores e distribuidores.
A partir de 2004, passou a se chamar Grande Prêmio TAM do Cinema
Brasileiro, quando a empresa aérea passou a patrocinar a láurea por quatro anos.
Hoje, o Ministério da Cultura, a Globo e a prefeitura do Rio de
Janeiro patrocinam o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, e graças a Deus nenhum
deles teve a brilhante ideia de exigir que o seu nome esteja no nome do prêmio (já
pensou: “Grande Prêmio Globo do Cinema Brasileiro”, ou “Grande Prêmio Prefeitura
do Rio do Cinema Brasileiro”? Ia ser um troço composto por cinco letras que cheiram
tão mal...)
Agora, tem coisa pior do que o nome mutante (e, atualmente,
hípico) do prêmio, a data tardia de sua entrega ou o cariococentrismo da
Academia Brasileira de Cinema – e isso, a minha amiga Rô, com certeza, se
esqueceu de falar por falta de espaço em seu Almanakito. É a ambição (até agora
fracassada) de ser o prêmio maior da indústria cinematográfica brasileira. E,
por conta disso, insistir em voltar o seu olhar somente para os ditos “filmes
de mercado”, que como todos nós sabemos, fazem parte de um “cinema de
patrocinador”, já que vão para as salas de cinema totalmente pagos pelos
patrocínios das leis de incentivo – e que para isso, infelizmente, renunciam a
uma busca corajosa por novas temáticas e novas formas de cinema. Talvez essa
seja a explicação para a ausência dos filmes pernambucanos – que, sem nenhum favor,
são o mais forte sopro de criatividade dentro do atual cinema brasileiro.
(Certo, eu gosto de O
Palhaço. Mas não é por isso que deixarei de dizer o óbvio: ele é, ao mesmo
tempo, a exceção e a regra.)
E, por favor, não insultem a nossa inteligência dizendo outro
óbvio ululante: que o Oscar, da Academia de Hollywood, é um prêmio da indústria
cinematográfica americana. Sim, é certo. Mas lembrem-se do nome da academia que
entrega os Oscars: Academia de ARTES e CIÊNCIAS Cinematográficas. E, sim, ela é um prêmio da
indústria. Mas também é um prêmio que quer ser artístico. E, nos últimos anos,
se ser filme apenas comercial resultasse em Oscar, Os Mercenários, do tio
Stallone, seria indicado e levaria todos os “bonequinhos
viados”... ops, os Oscars do ano.
E
enquanto o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro insistir
em premiar a indústria cinematográfica comercial e ignorar a arte, a
criatividade cinematográfica, não vai chegar até onde quer chegar.
*****************
A
seguir, gravações de outras coberturas independentes do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
Uma cobertura foi
realizada pelo ilustre crítico de cinema luso-brasileiro Zé Fidélis.A outra, mais profissional, foi realizada pela mais ilustre emissora de rádio brasileira de todos os tempos – a PRK-30.
Divirtam-se.