25 novembro, 2015

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XLII)

Hoje, nesta séria série, iríamos falar de assunto mais ameno e científico.
Mas o desastre ambiental em Mariana (MG), os novos atentados em Paris, uma performance polêmica e a sucessão municipal no Rio de Janeiro tomaram o lugar dele.
Então vamos lá.
(Aviso: como é muito assunto - e como muitas das coisas que vou falar serão espontâneas - este texto periga de ser longo. Tenham paciência.)

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Nem sempre podemos acompanhar todas as questões ambientais no Brasil. Mas agora deu para perceber que o rompimento da barragem de rejeitos de minério no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) - que acabaram caindo no rio Doce e seguiram o seu curso até chegar ao oceano - era uma tragédia quase anunciada, pela fiscalização ineficiente e pela cabeça-de-planilha dos ilustres executivos da Vale-BHP-Samarco, com suas "brilhantes" soluções para cortar custos e sobrar dinheiro para pagar mais dividendos aos acionistas - como a igualmente "brilhante" ideia de ignorar uma pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que transforma os rejeitos de minério em materiais de construção, o que esvaziaria, e muito, as barragens. (Sobre isso, há uma matéria no jornal O Tempo, de Bel'Zonte, e outra no Portal da EBC.)
Mas não vou me estender sobre isso. Prefiro recomendar a vocês um vídeo sobre o assunto, bem estruturado e bem pesquisado, de "um tal de Pirula" - é assim que Olavo DOI-Codi de Carvalho, o "filósofo" (SIC) defensor de torturadores, chama o Pirula desde que foi esculhambado por ele a respeito de um boato de que "a Pepsi usava células de fetos abortados como adoçante nos refrigerantes" - aliás, esta "polêmica" é comentada aqui pelo Maestro Bogs, com o merecido deboche, em um vídeo.




Como sempre acontece, sempre tem l'esprits de cochon (só estou treinando meu francês de escola; quem não entendeu, quer dizer, simplesmente: espíritos de porco) na internet (e principalmente no Facebook) querendo aparecer. Desta vez é um grupo chamado Socialista de iPhone - que se diz centro-direita, mas na verdade é coxinha mesmo.



Notícias dão conta de que a Socialista Morena doou um exemplar do livro dela lá pro pessoal
Todos os demais, nem sinal...
Tico Santa Cruz
Pitty
Emicida
Gregorio Duvivier

Fofos, não?
Bem como diria Jack, o Estripador, vamos por partes:

1- Para quem voltou de Marte ontem: Pitty, Emicida e Tico Santa Cruz são músicos. Gregório Duvivier é humorista integrante do grupo Porta dos Fundos. E a Socialista Morena ao qual se referem é a jornalista e blogueira Cynara Menezes, que tem um blog com este nomeTico Santa Cruz, Pitty, Emicida e Gregório Duvivier nunca se declararam socialistas ou coisa parecida. Simplesmente são contra todo e qualquer tipo de golpe contra as instituições ou contra a Constituição para derrubar o atual governo - seja "golpe paraguaio" (sob a forma de impeachment) ou militar (sob a forma de "intervenção militar constitucional" sem que nenhum dos três poderes da República peça isso) - sonho dourado de todos os coxinhas.
2- Aliás, é louvável que o Pearl Jam doe o cachê de seu show. Mas será que eles realmente precisavam fazer isso? Como, aliás, explicou o próprio Tico Santa Cruz em resposta a este post:




3- Por que Tico Santa Cruz, Pitty, Emicida e Gregório Duvivier devem fazer alguma doação, SE É DA VALE-BHP-SAMARCO A RESPONSABILIDADE DE ARCAR COM TODOS OS CUSTOS DA, se me desculpar o termo, DA M... QUE ELES FIZERAM (por desleixo e "economia de custos para remunerar melhor os seus acionistas") EM MARIANA?
4- Sabe o que isso me lembra? Lembra o dia em que postaram na internet este meme, quando a Suprema Corte dos EUA aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o seu território.




O que eles queriam dizer, de modo bem escroto: não temos nada contra o "homossexualismo" ("homossexualismo" de subilatório é rola!), mas que coisa mais insensível, essa de preocupar-se com direitos LGBT como o casamento, quando há milhões de pessoas no mundo passando fome...
Primeiro: haviam milhões de pessoas passando fome aqui mesmo no Brasil, em extrema miséria, e para o bem ou para o mal deixaram de passar fome graças a políticas afirmativas dos últimos 12 anos, como o Bolsa Família. ONDE É QUE ESTES MENINOS QUE CRIARAM ESTE MEME ESTAVAM NESTA ÉPOCA?
Segundo e mais importante: uma coisa - o problema da fome no mundo - não exclui outra - os direitos LGBT, incluindo o casamento. (Aliás, uma pergunta que não canso de fazer a quem é contra o casamento LGBT: O QUE CARGAS D'ÁGUA ELE ATRAPALHA O CASAMENTO TRADICIONAL ENTRE HOMENS E MULHERES? Ou você é contra só por uma necessidade de fiscalizar o fiofó dos outros?)
Quando este meme apareceu, o Izzy Nobre, em seu canal no YouTube, comentou tal escrotidão e fez um desafio aos homofóbicos que postaram tal meme:



O desafio: não só doou dinheiro, através do site da organização Save The Children, como também juntou um monte de gente - principalmente do povo LGBT - para doar mais dinheiro para a mesma organização.
E, last but not least, desafiou os homofóbicos que postaram este meme safado a coçar o bolso e fazer o mesmo.
Até a data de postagem do vídeo, para sua (e nossa) NENHUMA surpresa, NENHUM dos homofóbicos que compartilhou ou espalhou este meme coçou o bolso para doar dinheiro para a causa da fome.
Inspirado pelo exemplo de Izzy Nobre - e pelo desafio de Tico Santa Cruz - faço um desafio: ao invés de cobrar desta ou daquela personalidade, POR QUE VOCÊS NÃO COÇAM O BOLSO E DOAM ALGUM DINHEIRO OU ALGUMA COISA PARA OS DESABRIGADOS DE MARIANA?
Aposto que os "Socialistas de iPhone" vão responder: "E daí? O que importa é que eles não doaram, pô!"
Aí, eu é que digo: e daí? Melhor do que cobrar dos outros é DAR O EXEMPLO, certo?
Eu mesmo, assim que tiver algum dinheiro no bolso, pretendo doar algum. Por enquanto, estou procurando alguma roupa ou alimento não perecível para doar.
Logo, façam o mesmo: parem de fiscalizar os outros com sua hipocrisia, tirem o escorpião do bolso e DOEM ALGO OU ALGUMA COISA.
Caso contrário (num oferecimento do Maestro Bogs), fica uma singela palavrinha de consolo para vocês:



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Como viram, demos mais importância à tragédia em Mariana (claro, afinal aconteceu aqui no Brasil, com compatriotas nossos, pô!), do que aos atentados dos fanáticos peidados da ideia do chamado Estado Islâmico. Isso não quer dizer que estamos indiferentes à dor dos franceses pelos mortos e feridos por mais este ataque - o segundo em um ano. (O primeiro, para quem não se lembra, foi na redação do semanário de humor Charlie Hebdo.)
Aliás, tem mais um vídeo sobre este mesmo assunto "desse tal de Pirula" - é assim que Olavo DOI-Codi de Carvalho etc., etc.




(Aliás, quem quiser entender esta "polêmica" entre Olavo DOI-Codi de Carvalho e o Pirula sobre a Pepsi, pode assistir os vídeos pela ordem: 
- a "denúncia" do "filósofo" - favor tomar um engov e sal de fruta após assistir;
- a resposta bem pesquisada e cientificamente embasada de "um tal de Pirula";
- a réplica raivosa do "filósofo" ; 
e
- a tréplica bem humorada do mesmo Pirula. Enjoy, pero no mucho, pelo bem de sua saúde.)
Só que, infelizmente, enquanto os franceses choram seus mortos e vão buscar as vísceras do fanáticos do Estado Islâmico, aqui em Terra Papagalli tem gente que prefere demonstrar seu próprio fanatismo raivoso.
Já adivinharam? Sim, eles mesmos: os evangélicos mais fundamentalistas, a quem tenho a honra de chamar de evangelicuzinhos.
Ah, vai dizer que Silas Mala-sem-Alça-Faia falou mais alguma merda?
Não, não desta vez. Foi o pastor, depufede (junção das palavras "deputado" e "federal" para economizar espaço e fazer pensar isso mesmo que você está pensando... - copyright Stanislaw Ponte Preta, in Febeapá - Festival de besteiras que assolam o país) e pré-candidato à prefeitura de São Paulo Marco Feliciano.
Quem chama a atenção para mais esta demonstração de insensibilidade do depufede é Carlos Fernandes, via Diário do Centro do Mundo:

O pastor Marcos Feliciano, internacionalmente conhecido pelo seu enorme repertório de insanidades, conseguiu aumentar ainda mais a sua já infame lista de contribuições à desinformação, ao racismo, ao preconceito e à intolerância religiosa.
Circula na internet um vídeo em que o “líder” religioso explana o que para ele seriam as razões pelas quais a França foi alvo dos recentes atentados terroristas que vitimaram pelo menos 129 pessoas.
Na encenação teatral que já virou lugar comum no “modus operandi” que farsantes travestidos de pastores utilizam para manipular os fiéis, Feliciano não economizou na performance e aos berros rezou o seu terço de ignorância e ódio para uma platéia de braços erguidos e olhos em lágrimas, como se o próprio apocalipse estivesse à sua frente.
Culpou o fato da França ser um dos países mais liberais do mundo, de ser um dos primeiros a lutar pela legalização do aborto, por defender a liberdade sexual e principalmente pelo fato dos franceses não terem filhos, permitindo assim que os imigrantes da religião islâmica tornassem a França num país muçulmano em 10 anos, profetizou.
Sobrou até para os animais. Segundo o cidadão, se você possui um gato ou um cachorro de estimação em sua casa e não filhos, você está atraindo a “islamização” e o terrorismo para o seu país. Santa demência.

Duvida? Então olha a prova do crime. É muito pior do que se pensava. (Recomenda-se tomar muito sal de frutas, engov e remédio contra náuseas ao terminar de assistir.)




(E não, você NÃO está vendo arquivos dobrados. Simplesmente nos prevenimos contra a hipótese de, por covardia, o pastor-depufede resolver apagar o vídeo do YouTube para apagar seu rastro de ódio - nada a ver com John Wayne: baixamos o vídeo para que fique como prova do crime.)



Mal comparando: assim como um destes policiais broncos e despreparados, que fala para uma mulher vítima de estupro que "ela é que tem culpa por ter sido estuprada" (quem foi vítima de estupro ou conhece alguma vítima, sabe do que estou falando), o pastor-depufede culpa as próprias vítimas dos tiros ou bombas do Estado Islâmico por levarem os tiros ou bombas. É como se ele dissesse aos franceses: bem feito.
Continuando o texto de Carlos Fernandes:


Marcos Feliciano nunca foi bom em história e geopolítica . Na verdade, Feliciano nunca foi bom em nada decente, talvez por isso não tenha feito qualquer menção aos massacres efetuados pela França nas suas colônias ou sua atual política internacional. Preferiu justificar essa tragédia com base nas suas próprias convicções, que convenhamos, são contemporâneas à Idade média e à Inquisição religiosa.
Primeiro que querer atribuir os atos de fanáticos religiosos ao fato do país ter avançado em temas como a legalização do aborto e a liberdade sexual, é na melhor das hipóteses, uma deficiência intelectual de proporções continentais. Nem mesmo o argumento da França possuir um baixo índice de natalidade permitindo um aumento proporcional de cidadãos de religião muçulmana, se ampara na realidade.
De acordo com o relatório do Eurostat, o Departamento de Estatística da União Européia, a França segue na contra-mão da maioria dos países da Europa no que se refere à taxa de natalidade. Ainda segundo o relatório, o país fechou o ano de 2013 com uma média de 1,99 filho por mulher, perdendo apenas para a Turquia que apresentou um índice de 2,08.
Essa é uma posição muito mais confortável no chamado “nível de substituição” (que estabelece a possibilidade da geração dos filhos substituírem os pais), do que os verificados na Alemanha (1,40), Itália (1,39), Espanha (1,27) e Portugal (1,21) no mesmo período.

Não é a primeira vez que este calhorda se esconde atrás da Bíblia (ou do que ele entende da Bíblia) para destilar seu ódio pelos outros seres humanos.
Lembram-se de sua opinião "espiritual" que ele tuitou a respeito dos africanos, que já comentei nesta séria série?




Pois é.
Lembram-se da sua pífia e covarde defesa, de que "nunca quis ofender os africanos, até porque eu sou afrodescendente", e que "tudo o que falei sobre isso foi sobre uma questão espiritual"?
("Espiritual"? Só se for "espiritual" de porco...)
Pois é.
E não é a primeira vez que Marco Feliciânus faz a figura de Deus à sua imagem e semelhança - isto é, de alguém que não tem nenhuma empatia com o ser humano ao seu lado, que efetivamente TEM NOJO do próximo, ODEIA o próximo. Não gosta do próximo e acontece algo de ruim com ele? A culpa é de Deus, foi Ele quem castigou.
O assassinato de John Lennon, em 1980? Foi "vingança divina". Deus mandou o mentalmente perturbado Mark Chapman para "cumprir a vontade de Deus" e matar Lennon. Diz o traste: "Eu queria estar lá no dia em que descobriram o corpo dele. Ia tirar o pano de cima e dizer: 'me perdoe John, mas esse primeiro tiro é em nome do Pai, esse é em nome do Filho e esse é em nome do Espírito Santo'."
A morte dos Mamonas Assassinas em desastre aéreo, em 1996? Foi obra de Deus. Diz Feliciânus: "O avião estava no céu, região do ministro do juízo de Deus, lá na serra da Cantareira. Ao invés de virar para um lado, o manche tocou para o outro. O anjo pôs o dedo no manche, e Deus fulminou aqueles que tentaram colocar palavras torpes na boca das nossas crianças." O motivo, segundo Feliciânus? Dinho, o vocalista da banda, se "vendeu ao Diabo" por dinheiro. Bem, se se vender por dinheiro é grave ofensa a Deus, porque é que Ele não mandou pras Profundas estes pastores caça-dízimos, que arrancam o pouco dinheiro dos fiéis "em nome de Jesus" para financiar sua própria boa vida - tipo assim, o próprio Feliciânus? (#ficadica, Deus...) E se Deus queria castigar os Mamonas Assassinas, por que o piloto do avião também pagou o pato - justo ele, que não tinha nada a ver com a história? "Neste momento, eu consigo sentir dó, pena de um comentário que chegou a me perturbar, como perturbou às minhas filhas. Mas a gente tem de ser superior nessa hora. [...] Se Deus, o Deus do Marco, queria tirar esse grupo que cantava músicas ‘inconsequentes’ - sei lá como ele chamou -, o que o meu marido tinha a ver com isso? Ele não cantava, era o piloto, estava trabalhando, com uma filha de 1 ano e uma de 3 anos em casa. A gente tem de acreditar que o mesmo Deus dele não é meu Deus". (Cristiane Parreira Martins, viúva do piloto do avião.)
A morte de Nelson Mandela, em 2013? Castigo de Deus, porque durante seu governo (e dos governos seguintes do Conselho Nacional Africano, o partido de Mandela), leis de direito ao aborto na África do Sul foram aprovadas. Logo, mais um "bem feito, já vai tarde" de Marco Feliciânus: "Quem mata uma criança, para mim, não é meu amigo. Então Mandela implantou a cultura que chamamos de cultura da morte dentro da África do Sul".
E esta de que "o Estado Islâmico persegue evangélicos"? 
Primeiro: o Estado Islâmico realmente executa cristãos que não queiram se converter na marra ao Islã. Mas são cristãos de igrejas orientais - especialmente da Igreja Assíria do Oriente e da Igreja Ortodoxa Síria, as mais antigas confissões cristãs do mundo. E, que eu saiba, não há Assembleia de Deus (a igreja evangélica de Marco Feliciânus) nem na Síria nem no Iraque, onde ficam os territórios ocupados pelo Estado Islâmico. A não ser que seja uma burrice seletiva - tipo assim, vincular os cristãos do Oriente Médio aos evangelicuzinhos de sua igreja, achando que seus fiéis são uns otários... 
Segundo: qual a lógica de Deus - o Deus cristão - em usar como instrumento de seu "castigo" contra "estes franceses depravados" fanáticos terroristas que matam cristãos "em nome do Islã"? 
(Assim mesmo, sr. revisor, "em nome do Islã" entre aspas, porque a grande maioria dos muçulmanos não é fanática, intolerante e assassina do jeito que outros fanáticos intolerantes - os evangelicuzinhos fundamentalistas - tentem nos fazer crer - obrigado.) 
Isso ele não explica. 
Talvez porque, para Marco Feliciânus - que, repetindo, NÃO TEM NENHUMA EMPATIA COM NENHUM SER HUMANO (a não ser, é claro, que tal ser tenha um cartão de débito para dar a ele, com senha e tudo...) - a lógica seja uma questão de detalhe... 
(Tipo assim, a "filosofia" de Jean Marie Le Pen, que acha que o extermínio de 14 milhões de seres humanos em campos de extermínio - dos quais 6 milhões de judeus - é "uma questão de detalhe da II Guerra Mundial...)
Ou seja, assim como Le Pen, Marco Feliciânus ME DÁ NOJO.
Vale a pena relembrar um pouco da história. em 9 de junho de 1954, o advogado Joseph Welch, conselheiro do Exército dos Estados Unidos, confrontou o famigerado senador Joseph McCarthy, o demagogo que presidia a Comissão de Atividades Antiamericanas do Senado, fazendo-lhe a pergunta que ficaria famosa na história política do país:

Já basta. Chega! O senhor não tem nenhum senso de decência? Será que não lhe sobra mesmo nenhum senso de decência, senador?

Será que precisa aparecer algum Joseph Welch para confrontar o depufede Marco Feliciânus e perguntar-lhe se não lhes sobrou nenhum senso de decência?
Pensando bem, podia ter apenas posto aqui o texto de Carlos Fernandes no Diário do Centro do Mundo ao invés de desabafar tanto. Vamos ao restante do texto:

Do início ao fim, Marcos Feliciano demonstrou o quanto é despreparado, e pior, mal-intencionado quando o assunto é a compreensão das diferentes formas de pensar e a convivência harmoniosa e cooperativa entre os diversos povos, religiões e culturas.
Acusa descaradamente o povo islâmico de perseguir evangélicos, o que não passa da mais ignóbil mentira, além de servir apenas como mais um alicerce para a construção de estereótipos que não param de alimentar o preconceito e a violência.
Da mesma forma que os evangélicos do mundo inteiro não podem ser responsabilizados pelas atitudes vergonhosas de indivíduos como Marcos Feliciano, a comunidade muçulmana também não pode sofrer em função do extremismo religioso de grupos que nada refletem o que prega o Alcorão.

O Brasil já passa por uma radicalização política demasiada o suficiente para que um membro de um outro tipo de Estado Islâmico venha incitar o ódio e a vingança para todos nós.

Sério, quem faria o grande favor de mandar este vídeo nojento de Marco Feliciânus para a embaixada ou o consulado da França mais próximo. Afinal, se o objetivo da França é combater o terrorismo fanático, melhor começar também a cortar pela raiz a fonte de um possível terrorismo fundamentalista - desta vez, se dizendo cristão - antes que tais evangelicuzinhos peguem em armas. Se com pedras eles já fazem estragos - como no caso Kailane, que também já comentei aqui em um post desta séria série - imagine com fuzis Ar-15 ou Kalashnikov

De resto, fica mais uma singela palavrinha de consolo para o senhor:



Ponto.

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E agora, vamos à tal performance. Chama-se MacaquinhosVale a pena dar uma olhadinha no texto do professor Paulo Ghiraldelli, que explica bem sobre a motivação desta performance.
Macaquinhos foi apresentada pela primeira vez em São Paulo, no Festival Mix Brasil de 2014. (E para quem voltou de Marte ontem: desde 2012, o Mix Brasil ampliou seu escopo, deixando de ser apenas um festival de cinema LGBT para se tornar um festival múltiplo de cultura, com cinema, teatro shows musicais... e performances, como a Macaquinhos.)
Isso me lembra, e muito, a polêmica sobre outra performance, a Xereka Satanikdo Coletivo de Arte Autonomista COYOTE, que aconteceu no final do II Seminário de Investigação e Criação do Grupo de Pesquisas UFF/CNPq: Cultura e Cidade Contemporânea: arte, política cultural e resistências, sob o título CORPO E RESISTÊNCIAS, no PURO-UFF, em maio de 2014, que eu também já comentei nesta séria série. Lembram? Pois é.
A diferença é que o SESC-CE botou o pau na mesa, feito cabra macho, e bancou o ato, ao se explicar em nota de esclarecimento no site da Mostra SESC Cariri de Culturas:

O Sesc, entidade de direito privado mantida pelos empresários do comércio, vem a público esclarecer que realizou a 17ª edição da Mostra Sesc Cariri de Culturas em 28 municípios caririenses promovendo o acesso à cultura de forma gratuita em suas mais diferentes expressões. Neste ano mais de 200 mil pessoas tiveram acesso a 127 espetáculos que são selecionados atendendo a critérios definidos em edital por um grupo de curadores, com total e plena autonomia, não cabendo ao Sesc nenhum tipo de censura, conforme prevê a constituição brasileira.
Em relação à apresentação Macaquinhos (SP), baseado no livro ‘O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro, o Sesc esclarece que atuou de forma a assegurar que apenas o público interessado tivesse acesso ao referido espetáculo. Assim, todas as informações foram oferecidas, sendo estabelecida classificação de 18 anos e horário de apresentação às 23 horas, com exibição obrigatória da Carteira da Identidade.
O Sesc tomou cuidado ainda em não divulgar qualquer imagem do espetáculo, por entender que pessoas fora da faixa etária indicada não devem ter acesso a tais conteúdos e não apoia a sua divulgação e portanto repudia a postagem de cenas do referido espetáculo nas redes sociais.
O Sesc, dessa forma, cumpre o seu dever de incentivar o fazer artístico respeitando a pluralidade e a formação crítica e autônoma do ser.

COORDENAÇÃO DA MOSTRA SESC CARIRI DE CULTURAS

Bem diferente da atitude da Reitoria da UFF ante a performance Xereka Satanik: ante a enxurrada de críticas fecais de sites de extrema direita, o reitor em exercício (que é o atual reitor) instalou uma comissão de sindicância... que já tinha suas conclusões antes mesmo de começar seus trabalhos... (Conclusões, aliás, bem parecidas com as dos sites de extrema direita... Coincidência?)
Aliás, já veio gente criticar de modo fecal o SESC-CE, dizendo que, pelo fato de "o evento é patrocinado pelo sistema S, que recebe milhões do Governo Federal, ou seja, vc bancou esta baixaria em forma de arte".
Primeiro: o sistema S se compõe das entidades de formação educacional profissionalizante (Senai, Senac etc.) e de entidades de lazer e cultura para os trabalhadores (Sesi, Sesc etc.). O governo federal banca com verbas somente uma parte das entidades de formação profissional (Senai, Senac etc.). O restante das mesmas e as entidades de lazer e cultura (Sesi, Sesc etc.) são bancadas pelos empresários das respectivas áreas em seus estados: Sesi é bancado pela industria, Sesc é bancado pelo comércio e serviços etc. Portanto, estude direito antes de meter o pau neles.
Segundo: performances corporais seguem uma tradição da arte contemporânea, que vem dos happenings dos anos 1970 aos mais recentes trabalhos da sérvia Marina Abramovic, passando pelos trabalhos do Living Theatre, de Julian Beck e Judith Malina. Claro, ninguém é obrigado a saber disso, mas bastaria uma breve pesquisa no bom e velho Google (digitar performance, ou performance corporal artística, ou happening, ou Marina Abramovic) poderia esclarecer isto, e informar a quem não sabe disso que performances corporais são destinadas, sim, a chocar, mas que, a partir do choque, façam pensar sobre o tema da mesma. Xereka Satanik, poe exemplo, se baseia num triste fato que ocorre lá em Rio das Ostras: o alto número de estupros de estudantes do PURO-UFF. O tema de Macaquinhos é um pouco mais complexo, por isso leia o prof. Paulo Ghiraldelli ou dê uma olhada no Tumblr da performance. Vários textos podem esclarecer sua visão. Leia-os antes de condenar ou aplaudir.
Ou então você pode ficar com a versão do site de humor Sensacionalista sobre a performance MacaquinhosNa minha modesta opinião, além de bem divertida, pode até ser crível...


Em meio a polêmica sobre Macaquinhos Performance, uma peça teatral na qual os atores, em círculo, introduzem os dedos nos ânus uns dos outros, o grupo finalmente resolveu se explicar. O coletivo deu um sentido à encenação, já que ninguém estava entendendo do que se tratava.
“Quisemos replicar o trabalho de Cunha, Malafaia e Bolsonaro. Então estamos encenando, na verdade, os fiscais de c*”.
Desde que a peça entrou em cartaz no Sesc o grupo vem sendo atacado. O espetáculo também não está ganhando aplausos, já que parte da plateia resolve imitar o que está acontecendo no palco e fica com a mão ocupada.

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Por fim, en passant, o caso Pedro Paulo, no Rio de Janeiro. Para quem voltou de Marte ontem etc., etc.: Pedro Paulo Carvalho é secretário municipal de Coordenação de Governo da cidade do Rio de Janeiro e velho amigo do atual prefeito Eduardo Paes (vulgo Eduardo PaesPalho, segundo fontes não oficiais...) - que, aliás, não só o indicou para ser o seu candidato a prefeito, em sua sucessão no cargo em 2016, como passou a pavimentar o seu caminho, através de negociações e outras manobras para tirar outros possíveis candidatos do páreo e garantir a predominância de seu "herdeiro". (Ou seja, quem acredita que aquela denúncia caluniosa e falsa da (In)Veja contra um possível candidato, o senador Romário, do PSB-RJ, foi apenas "mera coincidência", é bem possível que acredite também no mito da cegonha...)
Estava tudo às mil maravilhas para Eduardo Paes e para Pedro Paulo. Até que alguns jornalistas resolveram escarafunchar alguns esqueletos no armário do doutor Pedro Paulo. (Jornalistas..."ô raça" - copyright Tutty Vasques) E acharam um esqueleto muito, mas muito feio: dois BO registrados em delegacias de polícia do Rio de Janeiro contra o doutor pela sua então esposa, Alexandra. Crime: violência doméstica. Por duas vezes (2008 e 2010), o doutor Pedro Paulo infringiu a lei Maria da Penha, agredindo Alexandra verbal e fisicamente - numa das agressões, quebrou-lhe um dente.

Como qualquer espectador de “The good wife” sabe, todo político tem um passado. O que ele precisa saber é como se comportar em relação a esse passado. Dependendo do passado, o melhor é revelá-lo antes que seja descoberto. Se tentar escondê-lo, o político deve se preparar para reagir à revelação quando ela for feita. Mas, se o passado for realmente tenebroso, o melhor é pedir desculpas e retirar sua candidatura.

É o mais lógico a fazer em qualquer país democrático do mundo. E houve um tempo em que era assim aqui em Terra Papagalli. 
Agora, pelo visto, não mais.
Isso porque o doutor Pedro Paulo, apesar de sua vida política pregressa, que inclui o fato de ser "grande amigo das mulheres" (assim mesmo, sr. revisor, entre aspas porque é uma IRONIA! - obrigado) manteve sua candidatura a prefeito do Rio de Janeiro.

Mais do que isso: na última segunda feira, 23 de novembro,de 2015, a cúpula do PMDB fluminense - o governador do estado Luiz Fernando Pezão; o Führer Serge von Cabral, ex-governador; e o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani; e, last but not least, o prefeito Eduardo PaesPalho - não só insistem nesta candidatura, como transformaram o evento num ato de desagravo ao  do doutor Pedro Paulo, conforme nos informa uma matéria do Extra:


Rio — A convenção estadual do PMDB se transformou num ato de apoio à candidatura do secretário municipal de Coordenação de Governo, Pedro Paulo Carvalho, à prefeitura do Rio. Os líderes do partido unificaram o discurso em público, fizeram uma série de elogios ao secretário e, sem referências diretas aos casos de agressão, trataram o assunto como "fofoca" e se recusaram a responder perguntas relacionadas aos episódios.
A intenção de mostrar a unidade do PMDB foi percebida logo no início do encontro: o governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito Eduardo Paes, o presidente da Alerj, Jorge Picciani, o ex-governador Sérgio Cabral e Pedro Paulo chegaram juntos à sede do partido. Pezão foi incisivo na defesa do nome do secretário para a sucessão de Paes.
— Pedro, você pode ter certeza, essas fofocas cada vez vêm de um jeito. Agora nossos adversários estão colocando a cara para fora mais cedo. Não temos medo de picareta, de pastor de R$ 1,99 de rede de televisão. Se tiver que ir para o pau, a gente vai para o pau — afirmou.
(...)

Fica a pergunta, governador (SIC) Pezão: esse "ir pro pau" é metafórico ou pra valer? E desde quando BO em delegacia de polícia (da polícia do estado que o senhor governa) é "fofoca"? 
O senhor realmente pensou antes de falar isso? Ou o senhor faz parte deste numeroso Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País - copyright Stanislaw Ponte Preta) 2.0, que "atira primeiro e pergunta depois" - isto é, fala antes de pensar?
E tu, ó PMDB? Sim, sabemos que hoje você não é o grande partido democrático que resistiu à ditadura. Mas precisa fazer Ulysses Guimarães dar cambalhotas de raiva e vergonha no misterioso ponto da costa brasileira onde está sepultado? 
Por mais do que isso - o escrotíssimo projeto de lei 5.069, do depufede Eduardo Vai-Tomar-no-Cunha (aliás, seu colega de partido - olha a vergonha alheia...) que, "em nome da vida", pretende dificultar ainda mais o direito da mulher de realizar um aborto seguro em caso de gravidez resultante de aborto (aquilo que falei antes: o pensamento torto de que "a culpa do estupro é da vítima") - movimentos de mulheres saíram às ruas, querendo respeito e (com justa razão) as vísceras do ilustre depufede
Será que, para ser tão racionais, preocupando-se mais com cálculos políticos de curto prazo, com vistas a manter-se no poder na cidade do Rio de Janeiro, ou questiúnculas do tipo "o quanto o caso Pedro paulo poderia afetar a candidatura de Paes ao governo do RJ - enfim, para ser tão racionais assim, os senhores precisam ser canalhas a este extremo?
Voltando ao advogado Joseph Welch e sua famosa pergunta a Joseph McCarthy:

Já basta. Chega! O senhor não tem nenhum senso de decência? Será que não lhe sobra mesmo nenhum senso de decência, senador?

Será que precisa aparecer algum Joseph Welch para confrontar o PMDB fluminense e carioca e perguntar-lhes, sobre o caso do doutor Pedro Paulo, se não lhes sobrou nenhum senso de decência?
Porque só resta um caminho para o doutor Pedro Paulo, CQD Artur Xexéo:


Só há um caminho para a trajetória de Pedro Paulo na sua ambição de ser o próximo prefeito do Rio. É o que chamam, no mundo das esposas compreensivas, de caminho do capitão Nascimento. Pede pra sair, secretário. 

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Já que começamos com uma breve citação ao casamento LGBT, a indicação de filme para esta série não poderia ser sobre outro tema: o documentário Vestidas de noiva, das diretoras (e noivas) Gabi Torrezani e Fábia Fuzeti.
(Nada a ver com a obra-prima de Nelson Rodrigues Vestido de noiva, tá distraídos?)
Com licença do site do filme, transcrevo aqui a sua sinopse:

Vestidas de Noiva é um documentário que traça o histórico do casamento homoafetivo no Brasil enquanto acompanha o processo de casamento de Fabia e Gabi . Entre beijos, flores e cetim, as duas apresentam outras histórias de amor homoafetivas, ativistas LGBT e figuras políticas. Vestidas de Noiva celebra as conquistas já alcançadas e aponta o que ainda precisa ser feito para garantir direitos iguais às famílias homoafetivas.

O documentário - lançado no último dia 13 de novembro, no Itaú Cultural (São Paulo) - é simples e bonito, e merece uma carreira nas salas de cinema ou na TV. 
(Ó, #ficadica, Canal Brasil, TV Cultura, TV Brasil etc. E se algum evangelicuzinho tipo Marco Feliciânus der piti, fica outra dica: dê a eles o mesmo conselho que um ilustre jornalista deu a um sábio, puro e tolerante líder religioso evangelicuzinho, que já comentei aqui nesta séria série: VAI PROCURAR UMA ROLA, VAI!
Por ora, ficam aqui dois teasers de Vestidas de noiva.





Ah, sim: os votos de casamento das noivas Fábia e Gabi. Muito fofo, não?



03 novembro, 2015

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XLI)

Hoje o texto desta séria série é bem didático. Bem, pelo menos, assim espero.
Nosso ponto de partida é uma pesquisa encomendada pela empresa Design de Causas, de São Paulo, especializada em estratégias de comunicação, ao Estúdio Alecrim. Tema da pesquisa:
Você tem medo do quê? Um estudo inédito entre jovens brasileiros sobre o medo entre homossexuais e heterossexuais. A metodologia: 35 jovens de 18 a 30 anos, das classes sociais A, B e C (critério Brasil) – heteros e do povo LGBT (gays, lésbicas, simpatizantes) – e doze especialistas no assunto (advogados, jornalistas, políticos, militantes e psicólogos) passaram por entrevistas individuais e dinâmicas de conflito (debates, para ser mais claro) entre os participantes hetero e LGBT.
As conclusões desta pesquisa são simples: são os medos e temores que os grupos de jovens de ambas as partes (heteros e LGBT) demonstram.
Do lado do povo LGBT, os medos que eles revelam são:

- O medo da rejeição da família, amigos e colegas.
- O medo da agressão física.
- O medo de ser morto.


e, last but not least,

- O medo da homofobia "enrustida", aquela que aparece em momentos de comoção – tipo assim, como aconteceu nas últimas eleições presidenciais, através de um candidato que, até aquele instante, era meramente folclórico – candidato, aliás, devidamente condenado pela justiça e esculhambado por todas as pessoas de bom senso. E por nós também, em um post desta séria série. (Aliás, se eu soubesse que o Canal das Bee também tinha esculhambado tal candidato – e bem melhor do que nós – em um dos seus vídeos, eu me absteria de esculhambá-lo nesta séria série.)

Faz todo o sentido. Um dia, faremos um post mais didático como este ao povo LGBT. Ou então, posso indicar outros vídeos do Canal das Bee muito úteis procês. Um deles fala das vezes em que você, gay ou lésbica, tem de se assumir na vida; outro ensina como reagir a ofensas homofóbicas de vários tipos. São ótimos.
Mas voltando à vaca fria. Hoje, este post vai dialogar com os heteros e os medos e temores demonstrados nesta pesquisa, e vai tentar explicar a eles que os diabos não são feios como pintaram.
Um resumos dos resultados desta pesquisa saiu em uma matéria no BrasilPost, e trechos dela vão nos ajudar.

1) Ruptura do modelo familiar entre homem e mulher
Como revela a jornalista Brenda Fucuta no texto da pesquisa, a tradicional "família margarina" (mãe, pai e filhos) já não é mais o arranjo majoritário no país: "...casais sem filhos, casais mosaicos (com filhos de casamentos anteriores) , mulheres com filhos, homens com filhos e, sim, casais gays. São, pelo cálculo do IBGE, 60 mil casais gays que registraram sua união de forma jurídica".

Se o seu medo é uma ruptura deste modelo familiar, não precisa se preocupar, porque casais homem-mulher continuam e continuarão existindo – isto é, continuarão a se unir com ou sem papel passado em cartório. Mas temos novidades: HÁ MUITO TEMPO QUE A CHAMADA "FAMÍLIA MARGARINA" (pai + mãe+ filhos) NÃO É MAIS O MODELO PREDOMINANTE DE FAMÍLIA NO BRASIL. Atualmente, cerca de 17,4% das famílias são formadas por mães solteiras – e elas vão muito bem, obrigado. Assim como os pais solteiros, avôs criando os netos e outras formas novas de família.
Ora, se a "família margarina" não é mais o modelo de família predominante, casais gays ou lésbicos NÃO DESTROEM A FAMÍLIA. Simples assim.
Aliás, fica uma pequena perguntinha a quem é contra e luta contra isso: em que o casamento LGBT atrapalha o casamento hetero tradicional?
E, por favor, não me venham com ditames da Bíblia (tipo "Deus criou o homem e mulher, e criou o casamento para uni-los") nem perorações do tipo "ah, se sair o casamento gay, os padres vão ser obrigados a casar dois homens ou duas mulheres, né?" Além de insultar a inteligência alheia (inclusive quem só tem o Tico e o Teco funcionando...), foge, e muito, do assunto que surgiu neste item. Se um padre, pastor, rabino, aiatolá, pai-de-santo (ou mãe-de-santo) não quiser casar dois homens ou duas mulheres, está no seu direito. Até porque não é o direito ao casamento religioso que o povo LGBT quer, mas o direito ao casamento CIVIL, registrado em cartório oficial da República Federativa do Brasil, que, até prova em contrário, AINDA É UM ESTADO LAICO – que aceita e garante a prática de todas as religiões, mas por isso mesmo, NÃO TEM RELIGIÃO OFICIAL.
Logo, repetindo a pergunta: em que o casamento LGBT atrapalha, EM TERMOS PRÁTICOS, o casamento hetero tradicional?
Até o fim deste texto, esperarei uma resposta convincente. Repetindo: não valem dogmas religiosos, nem ad hominens, OK?

2) Corrupção das crianças
A pesquisa revela que o medo de ameaça à tradicional família brasileira só é menor, entre os heterossexuais, do que o receio de homossexuais influenciarem negativamente as crianças. Para a maioria dos jovens consultados, é extremamente delicado aproximar questões relacionadas ao universo LGBT dos indivíduos em formação...

Sabe aquele personagem da novela Babilônia (2015), de Gilberto Braga – o filho do casal lésbico, que se apaixona por uma menina de família evangelicuzinha (assim mesmo, porque a hipocrisia daquele prefeito, o Aderbal Pimenta, e da mãe dele era dose pra aturar...) e acaba se casando com ela? Pois é: NÃO É PERSONAGEM DE FICÇÃO.
E temos de falar assim, porque este item nos leva a dois assuntos que sempre vem à baila: a adoção de crianças por casais de gays ou lésbicas; e a discussão das questões de gênero e sexualidade nas escolas.
Sobre a primeira questão, é preciso lembrar que a formação da personalidade de uma pessoa, desde a mais tenra idade, se assenta no seguinte tripé:

- interação com sua família;
- interação com a sociedade (a partir da escola); e
- ele próprio – ou seja (sem querer ser lombrosiano, e não sendo mesmo), suas próprias características pessoais.

Em português claro: embora a família seja um dos fatores, ela não é tão fundamental assim para influenciar ou determinar a orientação sexual de uma criança. Se fosse assim, filhos gays ou filhas lésbicas não surgiriam em famílias heterossexuais tradicionais, não é?
Se não quiser me levar a sério, pode ouvir Charlotte Patterson, professora de psiquiatria da Universidade da Virginia, pesquisa sobre o tema de filhos criados por casais LGBT há mais de 20 anos, quee nos informa:
"As pesquisas mostram que a orientação sexual dos pais parece ter muito pouco a ver com o desenvolvimento da criança ou com as habilidades de ser pai. Filhos de mães lésbicas ou pais gays se desenvolvem da mesma maneira que crianças de pais heterossexuais".

Aliás, já que supunhetamos no assunto (© Aldir Blanc), vamos falar de quatro mitos a respeito de filhos criados por pais ou mães LGBT - especialmente os que os evangelicuzinhos mais usam para denegrir tais famílias.

Mito 1 - "Os filhos serão gays!" - Certo, famílias LGBT vivem num ambiente mais aberto à diversidade – e, por consequência, muito mais tolerante caso algum filho queira sair do armário ou ter experiências homossexuais. Mas, se tal acontecer, não será por influência direta dos dois pais ou das duas mães que a criança tiver, e sim se ELE NASCER ASSIM. (Releia os itens do tripé de formação de uma personalidade, que citei acima.) Um estudo da Universidade Cambridge comparou filhos de mães lésbicas com filhos de mães héteros e não encontrou nenhuma diferença significativa entre os dois grupos quanto à identificação como gays. Uma outra pesquisa, a National Longitudinal Lesbian Family Study (ligado ao The Williams Institute, da Faculdade de Direito da UCLA, Califórnia, EUA), analisou 84 famílias com duas mães e as comparou a um grupo semelhante de héteros. Cerca de 15,4% das meninas de famílias gays já experimentaram sexo com outras garotas, contra 5% de meninas das famílias hetero. (Só não diz quantas destas meninas que experimentaram se descobriram lésbicas...) Já entre meninos, 5,6% adolescentes criados por mães lésbicas tiveram experiências sexuais com parceiros do mesmo sexo – mas 6,6% de meninos que cresceram em famílias hetero também tiveram tais experiências. Ou seja, não dá para afirmar que a orientação sexual dos pais tenha o poder de definir a dos filhos.

Mito 2 - "Eles precisam da figura de um pai e de uma mãe" - Filhos de gays não são os únicos que crescem sem um dos pais. Já vimos antes, no primeiro item da pesquisa, que aqui, em Terra Papagalli, 17,4% das famílias são formadas por mulheres solteiras com filhos. Só faltou dizer uma coisinha: os papéis masculino e feminino continuam presentes como referência mesmo que não seja nos pais. Pode ser um tio ou tia, um irmão ou irmã que morem perto e frequentem a casa do casal LGBT, um amigo ou amiga hetero, e por aí vai. A psicóloga Mariana Farias, psicóloga e autora do livro Adoção por Homossexuais - A Família Homoparental Sob o Olhar da Psicologia Jurídica, informa: "É importante que a criança tenha contato com os dois sexos. Mas pode ser alguém significativo à criança, como uma avó. Ela vai escolher essa referência, mesmo que inconscientemente".

Mito 3 - "As crianças terão problemas psicológicos por causa do preconceito!" - Sim, elas vão sofrer preconceito. Mas negros também sofrem preconceito por serem negros. E gordos também. (Sei por experiência própria: ainda sou gordinho, mas na adolescência cheguei a pesar 110 quilos. A galera, claro, não perdoava: sempre vinha um piadista apalpando minha barriga e perguntando: "E aí, quando é que vai nascer?" Minha reação a isso dependia do meu humor no dia: se estivesse mal humorado, encestava o sacana; se estivesse de bom humor, levava a mão à minha braguilha e respondia: "Na verdade, o bracinho está quase saindo, quer ver?" Tanto num caso, como no outro, me deixavam em paz – por algum tempo.)
Ou seja, crianças de pais gays ou mães lésbicas não serão as únicas a sofrer bullying. No ambiente infantil, qualquer diferença – peso, altura, cor da pele – pode virar alvo de piadas. Não é certo, mas é comum. Uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas com quase 19 mil pessoas mostrou que 99,3% dos estudantes brasileiros têm algum tipo de preconceito. Entre as ações de bullying, a maioria atinge alunos negros e pobres. Em seguida vêm os preconceitos contra homossexuais. Felizmente, isso não é sentença para uma vida infeliz. Pesquisas que comparam filhos de gays com filhos de héteros mostram que os dois grupos registram níveis semelhantes de autoestima, de relações com a vida e com as perspectivas para o futuro. Da mesma forma, os índices de depressão entre pessoas criadas por gays e por héteros não é diferente.

Mito 4. "Essas crianças correm risco de sofrer abusos sexuais!" - Mais uma vez, temos novidades sobre isso. Até hoje, as pesquisas ainda não encontraram nenhuma relação entre homossexualidade e abusos sexuais. Sabe aquela pesquisa do National Longitudinal Lesbian Family Study? Pois é. Nenhum dos adolescentes reportou abuso sexual ou físico. Outra pesquisa, realizada por três pediatras americanas, avaliou o caso de 269 crianças abusadas sexualmente. Apenas dois agressores eram homossexuais. A Associação de Psiquiatria Americana ainda esclarece: "Homens homossexuais não tendem a abusar mais sexualmente de crianças do que homens heterossexuais".
Não custa lembrar: só em 1973 que a Associação de Psiquiatria Americana retirou a homossexualidade da lista de doenças mentais. Mesmo assim, este resquício da época em que a homossexualidade era considerada doença (do século 19 até o início da década de 1970) tornou-se filho putativo da "inteligente argumentação" dos Marcos Feliciânus, dos Silas Mala-Sem-Alça-Faias, dos Jair Besteiraros e dos Levy (In)Fidelix da vida – que, por barulhenta, consegue convencer muita gente. O problema desta associação canalha entre gays e pedófilos é que ela só leva em conta casos de abusos de meninos por adultos – que não se declaram gays – e se esquecem (lá vai o berro internético, pra ver se entendem) que MENINAS TAMBÉM SÃO VÍTIMAS DE DOS ATAQUES DE ADULTOS PEDÓFILOS. Será que por isso vamos associar heterossexualidade a pedofilia nestes casos? Ou será que os Marcos Feliciânus, os Silas Mala-Sem-Alça-Faias, os Jair Besteiraros e os Levy (In)Fidelix da vida encaram este casos como "prova equivocada de virilidade"? (Neste último caso, como diria um ilustre jornalista, "vão procurar uma rola, vão!")

O que nos leva a outro tema que, por enquanto, é espinhoso: o debate sobre gênero e sexualidade no ensino fundamental e médio. Tem gente – especialmente da bancada evangelicuzinha – que quer impedir este debate, afirmando que isso é "uma ideologia de gênero torta – afinal, homem nasce homem e mulher nasce mulher e pronto". São os mesmos que torcem o nariz para Simone de Beauvoir, que virou questão na segunda prova do ENEM deste ano de 2015. Pior: torcem o nariz sem ter lido e entendido O segundo sexo, nem o que está contido em frase dita neste livro por Mlle. de Beauvoir: "Ninguém nasce mulher, torna-se mulher".

Pois lá vem sete razões para que gênero e sexualidade sejam discutidos nas escolas:

I) GÊNERO, SEXUALIDADE E IDENTIDADE DE GÊNERO NÃO SÃO CRIAÇÕES IDEOLÓGICAS. ELES EXISTEM - A seguir, trechos do Manifesto pela igualdade de gênero na educação: por uma escola democrática, inclusiva e sem censuras, liderado pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA) (disponível aqui), explicam muito bem o que se quer. Os grifos são meus:

Ao contrário de “ideologias” ou “doutrinas” sustentadas pela fundamentação de crenças ou fé, o conceito de gênero está baseado em parâmetros científicos de produção de saberes sobre o mundo. Gênero, enquanto um conceito, identifica processos históricos e culturais que classificam e posicionam as pessoas a partir de uma relação sobre o que é entendido como feminino e masculino. É um operador que cria sentido para as diferenças percebidas em nossos corpos e articula pessoas, emoções, práticas e coisas dentro de uma estrutura de poder. E é, nesse sentido, que o conceito de gênero tem sido historicamente útil para que muitas pesquisas consigam identificar mecanismos de reprodução de desigualdades no contexto escolar (…)
Quando se reivindica, então, a noção de "igualdade de gênero" na educação, a demanda é por um sistema escolar inclusivo, que crie ações específicas de combate às discriminações e que não contribua para a reprodução das desigualdades que persistem em nossa sociedade. Falar em uma educação que promova a igualdade de gênero, entretanto, não significa anular as diferenças percebidas entre as pessoas (o que tem sido amplamente distorcido no debate público), mas garantir um espaço democrático onde tais diferenças não se desdobrem em desigualdades. Exigimos que o direito à educação seja garantido a qualquer cidadã ou cidadão brasileira/o e, para isso, políticas de combate às desigualdades de gênero precisam ser implementadas. (…).

Ou seja: quando Mlle. de Beauvoir fala "Ninguém nasce mulher, torna-se mulher", ela não fala no sentido biológico, mas nos processos de formação cultural sobre eles  todos os conceitos transmitidos aos meninos sobre a melhor forma de serem homens (como dominadores e provedores), e todos os conceitos transmitidos às meninas sobre a melhor forma de serem mulheres (como pessoas submissas, encarregadas da casa). (Aliás, por curiosa coincidência, conceitos do século retrasado muito apreciados e defendidos por uma parcela dos evangelicuzinhos... Por que será?)

II) VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ESTÁ GENERALIZADA NA SOCIEDADE. E NA ESCOLA TAMBÉM - Em maio deste ano, uma menina de 12 anos foi estuprada dentro de uma escola na capital paulista por outro menino, de 14 anos, com auxílio de dois outros meninos. Nas periferias dessa mesma capital, vídeos do Youtube e correntes de Whatsapp propagam as "Top 10" um ranking no qual meninas são listadas e insultadas como “vadias, piranhas” e dezenas de outros adjetivos perversos. As afetadas por essa prática tentam muitas vezes ou suicídio ou abandonam suas rotinas escolares. Fora da escola, 48% das mulheres agredidas foram violentadas em suas residências, segundo dadosdo PNAD/IBGE de 2009, 3 em cada 5 mulheres relatam ter sofrido violência dentro de relacionamentos e 56% dos homens se reconhece como agressor em algum momento da vida. Em 2014, o Brasil recebeu 52.957 denúncias de violência contra a mulher. Na última década, cerca de 44 mil mulheres foram assassinadas no país. O Mapa da Violência 2013:Homicídios e Juventude no Brasil mostra que os homicídios de mulheres aumentou 17,2% entre 2001 e 2011, ano em que 4,5 mil mulheres foram assassinadas no Brasil. Diante desta situação, você ainda não quer que a escola discuta sobre gênero e sexualidade? Você acha que a escola, como espaço também de sociabilidade e onde, infelizmente, sua construção cultural contribui para o crescimento dessa violência, deve ficar longe do debate de gênero? Se a resposta a estas perguntas for sim, parabéns: moço e moça, vocês são machistas e porco chauvinistas pracarái, véio...

III) O MESMO SE DÁ COM A VIOLÊNCIA HOMO/LESBO/TRANSFÓBICA - Como vimos antes, qualquer comportamento que fuja do que é considerado "normal" é tratado com desprezo, nojo, violência física e psicológica. Lembram do menino Alex, 8 anos, morto em 2014 pelo próprio pai por gostar de lavar a louça e de dança do ventre? Aos 8 anos, não dava para ver se Alex seria homossexual (e nenhuma criança desta idade tem sua sexualidade acordada nesta época), mas familiares e vizinhos sabiam que seu pai era seguidor dos mandamentos do "grande pedagogo" (atenção: isto é uma IRONIA) Jair Besteiraro  especialmente de um deles: "O filho começa a ficar, assim, meio gayzinho, leva um couro e muda o comportamento dele". Daí, surrava constantemente o menino para ele "andar que nem homem". Após um dos "corretivos", o fígado de Alex se rompeu, ocasionando sua morte. 
E em Ferraz de Vasconcelos, Grande São Paulo, em março do mesmo ano, Peterson Ricardo de Oliveira, 14 anos, morreu após ser espancado em uma escola pública da Grande São Paulo. Motivo? Seus pais eram gays.
Precisam de mais para que gênero e sexualidade sejam discutidos nas escolas? Então tá. O relatório de 2013-2014 do Grupo Gay da Bahia (GGB) informa: um gay é morto a cada 28 horas no país – foram 312 assassinatos de pessoas sexualmente diversas em 2013. As armas foram as mais diversas. O combustível, apenas um só: o aprendizado da homofobia exacerbada, que descamba em ódio – um aprendizado torto que a escola precisa cortar.

IV) VIOLÊNCIA DE GÊNERO E PRECONCEITO CAUSAM EVASÃO ESCOLAR - é necessário termos Planos Municipais de Educação que enfrentem a discriminação e a evasão escolar de LGBTs. Entre populações trans, as taxas de evasão são ainda maiores, o que limita as opções de vida destes indivíduos, apartados dos estudos e do mercado de trabalho pelo preconceito. Os alunos e alunas que se reconhecem como trans são invisíveis nas escolas. Não são chamados pelo nome social e são forçados a deixar a escola. Por que as pessoas cisgêneras têm garantido direito à vida (e ao estudo) e eles e elas não? Por que essa diferença? Isso precisa ser discutido para que possamos mudar essa realidade

V) NÃO DISCUTIR GÊNERO VAI CONTRA DIVERSOS TRATADOS INTERNACIONAIS ASSINADOS PELO BRASIL - Atenção para lista, que é grande:
- A Carta das Nações Unidas;
- A Declaração Universal dos Direitos Humanos;
- Convenção Interamericana sobre a Concessão dos Direitos Civis às Mulheres, que outorgou  às mulheres os mesmos direitos civis que gozam os homens;
- A Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher, de 1953, a
- A Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1951, que dispõe sobre igualdade de remuneração entre gêneros;
- A Convenção da OIT de 1952 que versa sobre o amparo materno;
- A Convenção da OIT de 1958, quedispõe sobre a discriminação em matéria de emprego;
- A Resolução 156 da OIT de 1981, que estende aos homens a responsabilidade sobre a família;
- A Convenção Americana de Direitos Humanos de São José;
- A Convenção Mundial de Mulheres da Cidade do México, que reconheceu o direito da mulher à integridade física, inclusive, à autonomia de decisão sobre o seu corpo e o direito à maternidade opcional, a
- A Convenção para Eliminar Todas as Formas de Discriminação sobre a Mulher (1979);
- A Conferência Mundial Sobre a Mulher de Copenhague (1980);
- A Conferência Mundial Sobre a Mulher de Nairóbi (1985); e
- A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar aViolência Contra a Mulher (Belém do Pará, 1994).

E se alguém vier com a pataquada de que todas estas convenções "atropelam a soberania nacional", mande-o procurar uma rola: essa é a principal potoca que os herdeiros da casa-grande usa para, se me desculparem os termos, botar trolha no forévis de nós, herdeiros da senzala. (História: durante muito tempo, a elite do Império impediu que fosse abolida a escravidão usando, entre outros argumentos, de que os ingleses, que exigiam o fim do tráfico escravo, estavam "invadindo a soberania do Império" (SIC). você sabia?)

VI) O MACHISMO IMPACTA O APRENDIZADO E A AUTO-PERCEPÇÃO DE MENINOS E MENINAS – Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv fizeram uma experiência a partir de com três grupos de alunos, da 6ª série até o final da escolaridade. Mas o alvo eram os professores. Cada aluno fez duas provas idênticas sobre uma série de matérias, e as provas foram corrigidas por dois grupos de professores: um que sabia os nomes dos alunos (e, portanto, era capaz de deduzir o sexo deles) e um que corrigiu provas anônimas. As respostas dos alunos eram idênticas, mas as correções foram desiguais. O grupo de professores que sabia os nomes deu notas maiores aos meninos. Já o grupo que fez a correção anônima, ao contrário, deu notas maiores para as meninas... nas provas de Matemática e Ciências. Conclusão: os professores superestimaram as capacidades dos meninos e subestimaram as das meninas em Matemática e Ciências. E isso produziu um efeito duradouro: poucas meninas foram para áreas de Ciências Exatas. (A pesquisa pode ser encontrada em uma matéria do The New York Times. Your don't speak english? No problemtem uma matéria sobre o assunto no site Toda Criança Pode Aprender.)
Ou seja: a forma como os alunos são avaliados e percebidos pelos adultos impactam fortemente a percepção que têm de si. Diversos papéis de gênero são passados de geração em geração de maneira explícita, mas existem preconceitos invisíveis, currículos ocultos da educação. Um deles: meninos são mais talentosos para Exatas e serão melhores cientistas, engenheiros e técnicos de informática do que as meninas. Machismo científico, não?
Eis um motivo. Lá vem outro: a desigualdade de gênero também impacta os meninos, no pior sentido. Estudos mostram que o fracasso escolar e a evasão de jovens estão ligados a referenciais de masculinidades difundidos socialmente – quase todos baseados na agressividade e na indisciplina, reproduzindo uma cultura da violência, tem cada vez mais afastado os meninos dos bancos escolares (37,9% deles, segundo dados do IBGE em 2011). Em português claro: no fim das contas, tais conceitos agressivos de masculinidade se baseiam na premissa errônea de que "quem é macho não precisa estudar muito". Simples assim.
e
VII) PRECONCEITO NÃO TEM NADA A VER COM RELIGIÃO. VOCÊ É QUE ESTÁ SENDO INTOLERANTE - "É preciso discutir gênero na educação principalmente pelo preconceito que as crianças sofrem em relação à sexualidade e ao machismo. As crianças que demonstram em sua identidade características não convencionais sofrem desde muito cedo, e os meninos também acabam por desenvolver ideias machistas desde cedo. Essa questão deve estar acima de qualquer doutrina para que possamos garantir uma educação laica". Ora, quem foi o petralha que disse isso? Nenhum: foi um ministro religioso, o pastor José Barbosa Júnior. Para ele, "discutir gênero é uma luta pela dignidade humana e a entendemos como uma luta cristã".
(Claro que isso fará com que Silas Mala-Sem-Alça-Faia arranque as calças pela cabeça, depois de acusar este e outros religiosos de "esquerdopatas"... Problema dele.)

Resumo da ópera, nobres toupeiras (e lá vai grifo para ver se entendem): gênero não é o mesmo que sexo: o sexo é biológico, todos nós já nascemos com o sexo; já o gênero é uma construção social. Ou seja, Mlle. de Beauvoir não fala do "ser mulher" como uma figura fisiológica ou biológica, mas como produto cultural, uma figura socialmente construída - especialmente a partir de construções sociais do século retrasado: os homens como dominadores e provedores, e mulheres como pessoas submissas, encarregadas da casa. (Aliás, por curiosa coincidência, conceitos muito apreciados e defendidos por uma parcela dos evangelicuzinhos... Por que será?).

Discutir gênero e sexualidade nas escolas NÃO VAI ENSINAR ÀS MENINAS A SEREM "SUPERIORES" AOS HOMENS (embora muitos destes, os homens, são treinados desde pequenos para achar que são "superiores" às mulheres...). E NEM VAI ENSINAR CRIANÇAS A SER GAYS OU LÉSBICAS: ou você nasce com tendência a ser hetero, ou com tendência à homossexualidade – e nenhuma influência externa mudará isso radicalmente. Pode ensinar as crianças (assim espero...) a entender melhor o povo LGBT, fazendo-as descobrir que eles não nenhum bicho de sete cabeças, e a aceita-los como são. Pode criar um ambiente escolar capaz de olhar para os desafios de nosso tempo e propor outra sociabilidade, pautada pela solidariedade e pela empatia. Pode desconstruir padrões que geram violência e exclusão. Simples assim.
O que colabora, e muito, para o entendimento do próximo item.

3) Liberação de comportamentos promíscuos
Frase de um dos entrevistados: "Eu acho que o maior medo que a sociedade tem é que esse espaço que a gente tem e que julga normal, e que muitas pessoas julgam que ser homossexual não é normal, e isso virar normal... Acabou, agora todo mundo beija quem quiser, eu acho que é isso que é o maior medo da sociedade em si".

Você está de brinks, não é? Não mesmo? Então lá vai.
O que você chama de "comportamento promíscuo" é simplesmente um comportamento mais liberal em matéria de sexo, que a sociedade tem desde os anos 1960, maneirou um pouco com o aparecimento da AIDS (e com a proteção, com camisinha, SEMPRE), mas que (pelo menos, até que se proclame a República Evangélico-Teocrática-Tartufista Brasileira) continua.
Nessas condições normais de temperatura e pressão, a oposição entre heterossexualidade e homossexualidade não é mais entre o "normal" (heterossexualidade) e o "anormal" (homossexualidade), mas entre sentir-se bem numa ou noutra forma de sexualidade. Se você é hetero e se sente bem assim, OK. Se você é gay ou lésbica e se sente bem assim, OK também. Ponto. Só a bancada política evangelicuzinha, que só existe na desinformação mais ampla, é que ainda quer ignorar a psicanálise e fixar limites hipócritas entre o "normal" e o "anormal". Da Praça Araribóia à Praça de São Domingos é "normal". Da Praça de São Domingos em diante é "anormal". Engraçadíssimo (se não fosse trágico...). Tudo isso "política" e "fé" (que quando é demais, não cheira bem...)
(Não surpreende o fato de que, quando governantes – a nível federal, estadual e municipal – cortam recursos da educação, são os "depufedes" – © Stanislaw Ponte Preta – da bancada evangelicuzinha que sempre votam a favor...)
De qualquer forma, pense duas vezes antes de seguir o pensamento "moderno" (do século XIII...) dos evangelicuzinhos e associar a "promiscuidade" à homossexualidade. Se existem gays e lésbicas que ficam com parceiros com uma noite ou no máximo duas, também existem homens heteros que ficam com esta ou aquela moça por uma noite. Se existem relações heterossexuais mais estáveis (namoros que duram por algum tempo, uniões não passadas em cartório, casamentos), também existem relações gays ou lésbicas mais estáveis – com a desonrosa exceção do casamento civil: por enquanto, uma decisão do STF garante este direito ao povo LGBT... por enquanto. Por que você acha que o povo LGBT luta por uma lei definitiva que lhes garanta este direito?
Ah, sim: o mesmo vale para as mulheres – principalmente às jovens mulheres solteiras e mais, digamos, liberadas. Por que o homem que pega uma gata por noite é considerado garanhão e vira herói, enquanto a mulher que pega um gato por noite é "puta" (SIC)?
Isso entre heteros. Quando a coisa é com o povo LGBT, a coisa é outra.
Tentarei transcrever aqui – de outro vídeo do Canal das Bee uma das dez situações que toda lésbica passa:

Outra coisa que sempre vão achar é quando um cara chega em você novamente e fala assim:

ELE - E aí? Posso ficar com você?
ELA - Não... 'tou com minha namorada.
ELE (espantado) – Vocês são lésbicas?
ELA – Somos.
ELE – Ah, então prova!...
ELA – Tem que provar o que pra você meu amigo?
ELE – Não, 'cês só tão falando isso porque você não quer me pegar... "Cê não quer me pegar e fica com...

Toda lésbica vai ter sua sexualidade questionada algum dia... Toda.

Isso entre os assumidos... imagine com os narnianos ou com as narnianas.
(Leia ou assista os filmes sobre as Crônicas de Nárnia... lembrando, principalmente, qual o acesso dos personagens para Nárnia... e vai entender de que tipo de gay ou lésbica estou falando.)

Ainda a respeito disso, um homem que compreende toda esta hipocrisia machista e, incrível, discorda dela, publicou um post no Facebook muito interessante. Transcrevo-o aqui (e se ele me autorizar, divulgarei o nome dele em um próximo texto desta séria série):

Somos homens. E eu vou usar linguagem "de homem", p'ra tentar ficar mais claro.
Ninguém nos apalpa no caminho do banheiro, na balada, puxa nosso cabelo ou nosso braço, ou sussurra "vagabundo" no pé do nosso ouvido apenas porque queremos mijar.
Ninguém nos encoxa no metrô ou no ônibus, goza na nossa calça ou no nosso ombro, filma escondido a gola da camisa e publica em site pornô.
Ninguém fotografa nossa bunda e envia por Whatsapp. Ninguém coloca câmera escondida p'ra filmar por baixo de nossas bermudas na rua.
Ninguém pega foto do nosso pau ou vídeo gravado transando p'ra tirar onda com as amiguinhas de como nós somos gostosos e que vagabundos nós somos.
Ninguém se vinga de fim de relacionamento expondo nossa intimidade na Internet, p'ra familiares, amigos, chefes.
Nenhum taxista, por mais bêbado que estivesse, me levou p'ra um matagal em vez do destino que pedi.
Nunca fui seguido na rua, voltando do trabalho, e temi coisa alguma senão perder o celular ou a carteira.
Nenhuma mulher nojenta ficou se lambendo ou esfregando a mão enquanto eu atravesso a rua.
Nenhum assaltante jamais enfiou a mão na minha calça ou tentou me beijar à força.
Ninguém nunca me ameaçou a vida depois de uma bota.
Ninguém nunca ameaçou meu emprego a troco de sexo.
Nunca tive medo de circular de noite ou de dia e ser vítima de um estupro.
Meu salário é oferecido de acordo à minha qualificação e estado do mercado. Só.
Minha liberdade sexual é garantida pelos bagos que carrego, e, inclusive, quanto mais mulheres eu colecionar, mais foda eu sou.
Ninguém espera que eu largue o trabalho e dedique minha vida a filhos, quando eles nascerem.
Ninguém vai me chamar de puto se desejar tomar uma cerveja no fim do expediente.
Ninguém vai criar qualquer conceito sobre mim senão baseado nas minhas reais atitudes.
Então, fera, veja em quantos pontos supracitados você se enquadra e me conta como é bacana a vida sem essa violência indireta ou direta, como é simples viver assim.
Lembra desse papo quando nomear "vitimismo", "mimimi", "falta de rola", "louça p'ra lavar", enfim, os clichês que a gente conhece bem.
Não precisa pensar na desconhecida não: pensa na sua mãe, sua irmã, sua companheira, sua filha... Faz o mais forte exercício de empatia do mundo, que é se colocar no lugar delas, volta aqui e me chama de "feministo". Aguardo ansiosamente.

4) Assédio por pessoas do mesmo sexo
Frase de um dos entrevistados: "Eu tenho uma amiga que ela é hétero, mas ela frequenta boates gays, e pra ela é uma coisa normal. [...] E ela fala, eu sou bi, pra mim é normal..."

Agora sim, você REALMENTE está de brinks, né?
Já ouviu falar daquele velho ditado "Quando um não quer, dois não brigam"?
Pois é.
Se você, gentil leitora, tem amigas que frequentam boates LGBT normalmente, pode ser que ela frequente porque gosta de dois detalhes muito importantes nestes estabelecimentos: o ambiente é mais colorido e alegre do que em boates straight, e a música idem – não necessariamente por ser lésbica ou bissexual. Logo, ela não vai dar em cima de você. Aliás, não vai dar em cima de você nem se fosse lésbica ou bissexual.
Contam-se nos dedos de uma só mão (um ou dois...) os gays e lésbicas que assediam meninos ou meninas hetero. E ainda assim por falta de calibragem em seu gaydar.
Pra quem voltou de Marte ontem, depois de meio século morando lá: gaydar é o instinto que todo gay ou lésbica experiente tem para detectar se ele ou ela é gay/lésbica ou é hetero. E por "calibragem" em seu gaydar, leia-se: experiência.
Repetindo: gays ou lésbicas não vão assediar meninos e meninas hetero... a não ser que estes lhes dêem abertura para isso.
"Putz, porque um hetero vai dar mole para um gay ou lésbica?", perguntará você. E eu lhe respondo: curiosidade. Isso acontece: o (a) hetero quer ter alguma experiência sexual com alguém do mesmo sexo, porque está curioso(a) em saber como é.
Desse tipo de experiência, três coisas, a princípio, podem acontecer com est(a) hetero:

1- Pode se descobrir gay ou lésbica e iniciar um processo para se assumir como tal: começa narniano(a) e vai se assumindo aos poucos;
2- Pode se descobrir bissexual e iniciar um processo etc.; ou
3- Pode descobrir que até pode ser bom, mas não é contigo e continuar hetero.

O ponto positivo desta última opção é que, continuando hetero e seguro de sua heterossexualidade, torna-se simpatizante da causa LGBT, pois não declara guerra nem nojo a gays ou lésbicas. A não ser, é claro, que você seja um Jair Besteiraro ou um Nego Valdir da vida.
(Nego Valdir, lá de Manaus – alma gêmea de Jair Besteiraro – é um personagem de artigo do professor José Ribamar Bessa Freire para o Blog da Amazônia sobre a "gentileza" jair-besteirariana com mulheres, índios e, claro, com o povo LGBT.)

5) Invasão de intimidade
Frase de um dos entrevistados: "A sexualidade expõe muito de nós né? [...] Eu acho que é uma dificuldade falar sobre nós seres humanos. [...] falar sobre o que constitui a gente. E falar sobre o que a gente pensa, sobre o que a gente sente, sobre a possibilidade do ser humano... Eu acho que é um medo muito grande, falar de possibilidades. A partir do momento que você abre possibilidades, você questiona muita coisa."

Sim, é verdade: a partir do momento que você abre possibilidades, você questiona muita coisa. E isso é ótimo, porque a vida não é estática, é dinâmica, e tudo nela também.
(Claro que com limites. Nem eu nem você vamos defender a "legalização da pedofilia", como alguns líderes religiosos evangelicuzinhos – os suspeitos de sempre: Mala-Sem-Alça-Faia, Feliciânus et caterva. E nem vamos levar a sério a patranha recém-lançada pelaextrema-direita-da-linha-dos-comedores-de-capim contra Simone de Beauvoir, de que ela defendia a liberação da pedofilia. Isso insulta a inteligência até de quem só usa o Tico e o Teco...)
O que nos leva à dificuldade de falar sobre nós, seres humanos.
Sobre sexualidade: é uma coisa que eu e você podemos expor ou não sempre que quisermos; não somos obrigados a expô-la o tempo todo ou a escondê-la o tempo todo. Ponto.
Sobre "falar sobre o que constitui a gente. E falar sobre o que a gente pensa, sobre o que a gente sente, sobre a possibilidade do ser humano...". É a mesma coisa: não somos obrigados a falar ou nos calarmos o tempo todo. Mas é muito bom falar, estabelecer diálogo com os outros – especialmente de você, hetero, com o povo LGBT. Isso enriquece, e muito, a sua vida.

Isso vale para a exposição do povo LGBT. Eles não estão se expondo só para épater les bourgeois (escandalizar os burgueses, para quem não estudou francês), e nem seu objetivo é expor somente sua sexualidade (embora o assunto LGBT sempre comece por aí): eles querem se expor como cidadãos – assim como eu e você. Assim: "Amiguinhos, não somos apenas homens que transam com homens ou mulheres que transam com mulheres. Somos PESSOAS, CIDADÃOS e QUEREMOS ACEITAÇÃO e RESPEITO". Simples assim.

6) Fim da liberdade de expressão
Frase de um dos entrevistados: "As pessoas hoje em dia não têm coragem de falar o que pensam. Ela fala o que o grupo dela pensa [...] Eu acho que é o medo, porque se você for dar sua opinião, isso de homofobia, esse tipo de coisa, então acho que muitos ainda ficam retraídos com medo, sei lá, de ser punido, de ser julgado..."

Nesse ponto, preciso transcrever um trecho de um artigo do Diário do Centro do Mundo:

Um juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos foi quem definiu com mais clareza os limites da liberdade de expressão.
Cerca de meio século atrás, ele disse que, num teatro lotado, se alguém gritar fogo, não poderá depois invocar a liberdade de expressão. Sua fala poderá provocar uma tragédia.
É uma definição clássica, citada com frequência em casos em que se debate a liberdade de expressão.

E se não te ensinaram isso no colégio ou em casa, permita-me que eu lhe diga, com grifos e tudo: o seu direito (qualquer direito) termina onde começa o direito do outro. Simples assim.
Liberdade de expressão é uma coisa. Liberdade de propagar mentiras – especialmente mentiras que ofendem o outros é outra coisa, e liberdade de odiar e de propagar este ódio é uma terceira coisa completamente diferente.
E se não te ensinaram isso no colégio ou em casa, permita-me que eu lhe diga, com grifos e tudo: o seu direito (qualquer direito) termina onde começa o direito do outro. Simples assim.
Liberdade de expressão é uma coisa. Liberdade de propagar mentiras – especialmente mentiras que ofendem o outros – é outra coisa, e liberdade de odiar e de propagar este ódio é uma terceira coisa completamente diferente.
Lembremos o episódio Levy (In)Fidelix nas eleições de 2014.
Quando ele diz: Tenho 62 anos, pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho, e digo mais, mas aparelho excretor não reproduz, ele está expressando a sua opinião. Claro que um tanto quanto errônea na parte do "aparelho excretor" – já que o pênis, quando não libera sêmen no momento do ato sexual (ou da punheta...), libera a urina; (logo, também é aparelho excretor...) – mas é a sua opinião.
Mas quando ele diz: Eu vi agora o Papa expurgar o padre pedófilo. – ou seja, comparando homossexualidade à pedofilia – está usando de desonestidade intelectual contra o povo LGBT, para rebaixá-lo abaixo dos cachorros (e PELO AMOR DO QUE VOCÊ CULTUA, NÃO ME FAÇA VOLTAR a falar que MENINAS TAMBÉM SÃO VÍTIMAS DE DOS ATAQUES DE ADULTOS PEDÓFILOS HOMENS, porque isso já encheu e já tratei disso no item 2, tá?)
E quando ele diz: "Então, gente, vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los. Não tenha medo de dizer que sou pai, uma mãe, vovô, e o mais importante, é que esses que têm esses problemas realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo, mas bem longe da gente, bem longe mesmo porque aqui não dá", ele não só usa mais uma vez de desonestidade intelectual (quando fala para que gays, esses que têm esses problemas realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo , compara a homossexualidade a uma doença – coisa que todas as entidades médicas já descobriram que não é, mas os evangelicuzinhos insistem em propagar por aí), mas também incita o ódio: dependendo de quem ouve, a frase vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los é um chamado à violênciacontra o povo LGBT. A frase absolve os intolerantes mais violentos de agredir ou gays, lésbicas, transexuais só porque são o que são. E para gente violenta, não existe "sentido figurado". Como bem lembraram certa vez (os grifos são meus): Pessoas como ele dizem que não incitam a violência. Não é a mão delas que segura a faca ou o revólver, mas é a sobreposicão de seus discursos ao longo do tempo que distorce o mundo e torna o ato de esfaquear, atirar e atacar banais. Ou, melhor dizendo, 'necessários', quase um pedido do céu. São pessoas como ele que alimentam lentamente a intolerância, que depois será consumida pelos malucos que fazem o serviço sujo.

Repetindo para que fique claro:
Liberdade de expressão é uma coisa. Liberdade de propagar mentiras – especialmente mentiras que ofendem o outros – é outra coisa, e liberdade de odiar e de propagar este ódio é uma terceira coisa completamente diferente.
E o seu direito (qualquer direito) termina onde começa o direito do outro.
Simples assim.

E, na dúvida, faça um exercício muito raro nos dias de hoje: SE INFORME DOS DOIS LADOS DE UMA QUESTÃO E PENSE ANTES DE FALAR. Ponto.

7) Direitos excessivos da comunidade LGBT 
Frase de um dos entrevistados: "O que me incomoda é os homossexuais quererem fazer tudo ao redor deles, por exemplo olimpíada gay, parada gay..."

Ah, meu filho, você não quer que eu lhe mande ir procurar uma rola mais uma vez, não é?
O negócio é assim:




Até porque gostaria que você me respondesse uma coisa: que "privilégios" e "direitos excessivos" o povo LGBT tem?
Por um acaso eles estão isentos de pagar impostos, como as igrejas? Não. (Aliás, nem você é isento, hetero.)
O direito de se casar? Por enquanto, temos uma decisão do STF e do CNJ (o que chamam de "gambiarra jurídica"); lei regulamentando isso não tem – e não vai ter por algum tempo, enquanto a Frente Parlamentar dos Fiscais de Fiofó Alheio... digo, Frente Parlamentar Evangelicuzinha trabalhar no Congresso Nacional para impedir.
O direito de adotar filhos? Mesma coisa: decisão do STF e do CNJ, que o Estatuto da Família, da mesma Frente Parlamentar dos Fiscais de Fiofó Alheio, pode retirar.
Olimpíada e Parada LGBT? Mais uma vez: eles estão se expondo na sociedade para que os aceitem e respeitem como cidadãos – assim como eu e você. Assim: "Amiguinhos, não somos apenas homens que transam com homens ou mulheres que transam com mulheres. Somos PESSOAS, CIDADÃOS e QUEREMOS ACEITAÇÃO e RESPEITO". Ponto.
O que é que isso te incomoda TANTO?
Mais uma coisa: as Paradas LGBT e outros eventos idem não foram inventadas para épater les bourgeois, mas para que gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros digam ao mundo: NÓS EXISTIMOS E QUEREMOS O MESMO RESPEITO QUE VOCÊS, HETEROS, TEM.
(Aliás, no final de mais um vídeo do Canal das Bee, sobre as 27 vezes em que um gay ou lésbica terá de se assumir na vida, tem um item no final sobre as vcezes em que você, hetero, terá de se assumir como hetero. É muito interessante.
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Em suma: noves fora a nossa linguagem meio desabrida, espero que isto possa esclarecer os heteros que o "diabo" LGBT (assim mesmo, sr. revisor - obrigado) não é tão feio quanto os Fiscais de Fiofó Alheio pintam. E com tais informações, espero que, um dia, a convivência e aceitação mútua entre heteros e LGBT seja muito proveitosa.

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O bom desta nova "era de ouro" das séries de televisão norte americanas é que, além de abordar temas tão ou mais interessantes quanto o cinema, ela dá uma boa visibilidade a atores e atrizes, que podem encarar uma carreira na tela grande. É o caso de Katherine Heigl (a Izzy, de Gray's anatomy) e Alexis Bledel (Rory, da saudosa Gilmore girls), que estão em nossa indicação desta séria série: Jenny's wedding, de Mary Agnes Donoghue (EUA, 2015).
Talvez a história esteja um pouquinho ultrapassada, depois que a Suprema Corte dos EUA finalmente liberou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas considerando-se que ainda há famílias que ainda acham que casamento entre mulheres vai gerar uns filhotes de jacaré (de acordo com o preconceituoso dito popular...), vale a pena indica-lo.
Jenny Farrell (Katherine Heigl) levou uma vida abertamente gay - exceto com sua família convencional. Quando ela finalmente decide começar uma família e se casar com a mulher que pensava que era apenas sua companheira de quarto, Kitty (Alexis Bledel), o pequeno mundo aparentemente seguro em que os Farrells viviam muda para sempre. Eles ficam com uma escolha simples e difícil - ou mudar com ela ou se afogar.
Serão os Farrells capazes de mudar e aceitar? Ou não?
Bem, só vão saber se algum distribuidor trazer o filme para os cinemas (ou DVDs) do Brasil.
Enquanto isso, vejam o trailer do filme (que pode ser encontrado no YouTube) e tirem suas conclusões.



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Ah, sim: se quiserem um curta-metragem como complemento, podem assistir um dos curtas do programa Não amarás, do 26º Curta Kinoforum - Festival Internacional de Curtas de São Paulo. É só escolher entre: Copyleft (Brasil / MG - 2015), de Rodrigo Carneiro; Libre Maintenant (Agora Livre - Bélgica - 2014), de Pierre Liebaert; Office du Tourisme (Posto de Turismo - França - 2014), de Benjamin Biolay; ou San Cristóbal (Chile - 2015), de Omar Zúñiga Hidalgo.

E boa sessão.