Antes de entrar no assunto em pauta desta séria série, permitam-me
transmitir um breve recado à reitoria, pró-reitorias e, principalmente,
coordenadores de seus cursos de ciências jurídicas (Direito, para ser mais
claro) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ):
Se
não for muito difícil, gostaria que reforçassem, em seus cursos de direito, o
ensino das leis de combate ao racismo e suas consequências, tanto penais – Artigo
140, parágrafo 3º do Código Penal, que trata de injúria racial, punida com
reclusão de um a três anos e multa, além da pena correspondente à violência,
para quem cometê-la, e a Lei n. 7.716/1989 quanto sociais.De preferência, gostaria que tais aulas fossem reforçadas para valer para o grupo de estudantes de Direito da PUC-RJ que foram torcer nos Jogos Jurídicos Estudantis, em Petrópolis (RJ), que terminaram no último dia 3 de junho. E que terminaram com demonstrações explícitas de racismo dos estudantes de Vossa PUC-RJ contra alunos de direito da UERJ, Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Católica de Petrópolis (UCP – ou seja, nenhuma sororidade entre as universidades católicas...): os moços jogaram bananas na quadra e imitaram macacos – cretinice que chegou ao clímax (é força de expressão, porque racismo é brochante...), principalmente durante a final do handebol feminino entre PUC-RJ e UFF chamaram as atletas da UFF afrodescendentes de"macacas". (Se essa ideia de jerico – no mínimo – foi para atrapalhar o jogo, não adiantou nada: o time da UFF ganhou.)
Isso, meus senhores, é muito importante para eles próprios, os
estudantes da PUC-RJ: evita, no mínimo, que em um futuro, eles deixem de passar
vergonha tanto no débito como no crédito, como agora.
No
débito porque as outras universidades estão deitando e rolando em cima dos
senhores, entre gozações do tipo Já dizia o ditado dos old times do direito uff:"Na PUC só tem cuzão" kkkk e protestos contundentes,
como mostram os vídeos abaixo:Fora o dano para a própria imagem da PUC-RJ, já muito arranhada por casos de racismo dentro dela – apesar de seu pioneirismo referente à inclusão social, como os senhores mesmos relembram em sua nota oficial a respeito:
Permanecemos fieis ao pioneirismo na
promoção da diversidade e da igualdade racial, pois foi a PUC-Rio o berço dos
pré-vestibulares comunitários para negros e carentes, a primeira instituição
particular brasileira a instituir política de acesso e permanência de alunos
negros e carentes, mediante concessão de bolsas de estudo, auxílio financeiro
para custeio de despesas de alunos bolsistas, por meio do programa FESP (Fundo
Emergencial de Solidariedade da PUC-Rio) e a primeira instituição a oferecer
disciplina na graduação sobre ações afirmativas.
Não só o racismo arranha a imagem dos cursos da PUC-RJ: o seu curso de
economia já teve sua imagem bem arranhada pelo febeapá cometido pela ekipekonomica (copyright Elio Gaspari) de FHC (leia-se: populismo
cambial), nos anos 1990 – que incluía quadros deste nobre curso, como Gustavo
Franco e Pedro Malan. Os senhores não vão querer que seu curso de direito sofra
o mesmo desprestígio, não é mesmo?
Sem mais para o momento,
Obrigado de nada.
************
Pois é. Isso ainda merecerá um novo post desta
séria série. Por enquanto, ficamos com o fato: como os JUCS parecem diferentes
em sua mentalidade, em comparação com os Jogos Jurídicos, né não?
************
Dados os breves recados, voltemos à vaca fria.
************
Moça, você é machista.
Não, não estou falando da gentil e combativa leitora que por acaso deve
estar lendo estas mal traçadas linhas.
É
que me lembrei de uma página no Facebook com este nome ao ler esta notinha publicada na coluna do Ancelmo Gois n' O Globo (aconselho, aliás, à gentil e combativa leitora que coloque um copo
d'água e sal de frutas à sua disposição, após acabar de ler):
ELEITORA
DO BOLSONARO
Desembargadora
que insultou Marielle agora dispara contra as feministas
POR ANCELMO GOIS
04/06/2018 06:15
Reprodução da publicação da
magistrada | Reprodução
A desembargadora do Rio Marília Castro
Neves, que divulgou calúnia contra Marielle, voltou a disparar farpa no
Facebook. Num post, ela, que se declara eleitora de Bolsonaro, pede que, caso
venha a morrer, ninguém permita que sua morte seja usada pelas Feminazis (uma
mistura de feminista com nazista) “como bandeira para sua causa perdida”.
Isso me leva um pedido ainda mais importante: alguém que possa me ajudar
a responder três perguntas básicas.
Primeira pergunta: o que levam
várias mulheres (a "gentil" – assim mesmo, entre aspas, obrigado –
desembargadora é apenas uma delas) a ser ainda mais machistas,
porco-chauvinistas e antifeminismo do que os homens?
Pessoalmente, tenho várias teorias. Talvez seja uma síndrome de
Estocolmo piorada – cortesia (talvez) de uma didática secular (ou milenar) que
parece ensinar o oprimido a amar tanto a ideologia do opressor que passa a
defende-la com unhas e dentes e com mais ênfase do que o próprio opressor). Ou
então a "gentil" desembargadora tenha maratonado The Handmaid's Tale (sim, porque ler o livro acho meio impensável
em se tratando de pessoas deste quilate-mas-não-morde...) e concluiu que este
seria o mundo ideal para que mulheres como ela devam viver...
Porque eu não entendo como podem ter mulheres que são contra o feminismo
– que, se não me engano (gostaria que as gentis e combativas leitoras me
esclarecessem, para que eu não pague um king kong neste texto), é a luta de
mulheres por direitos iguais na sociedade – a ponto de incorporar conceitos (eu
disse "conceitos"? Mil desculpas. É que eu estava indeciso entre
"Preconceitos" e "ideias de jerico", o que para
mim são a mesma coisa...) inventados principalmente por machistas,
porco-chauvinistas e evangelicuzinhos fundamentalistas e aplaudidos por
bolsonaretes para desqualificar a luta das mulheres e, quem sabe, tirar os
direitos que conseguiram até agora.
"Feminazi", por exemplo: o "nazi" implica em afirmar
que as reivindicações feministas por igualdade estão sendo impostas
ditatorialmente – e não é, nem nunca foi o caso. (Fora outros
"febeapás" que acompanham este termo cretino: desde quando, para ser
feminista e lutar pelos direitos das mulheres, é preciso não cuidar de sua
aparência? Feministas também se depilam, se maquiam, e, querendo, tingem o
cabelo de louro e fazem plástica. Ainda mais quando o objetivo de uma mulher é manter
sua autoestima, não para "conquistar um marido" – assim mesmo, sr.
revisor, entre aspas, obrigado. E, da mesma forma, tem mulher que mantém sua
autoestima sem se pintar, maquiar etc. – afinal, quanto menos for obrigatório
para uma mulher, melhor. Será que machistas, porco-chauvinistas,
evangelicuzinhos fundamentalistas e bolsonaretes já ouviram falar de livre
escolha?)
O problema é que – pelo menos nos últimos 500 anos de civilização humana
– o que mais foi imposto na marra foi, justamente, uma noção de
"superioridade" do homem, o que, "justificava" (assim
mesmo, sr. revisor, entre aspas, obrigado) mil e uma limitações e proibições à
mulher, para que ela se limitasse a "cumprir seu único papel na sociedade
(assim mesmo, sr. revisor, entre aspas de novo, obrigado): casar, cuidar da
casa, transar com o marido sempre que ELE quisesse e parir filhos. E o problema 2, a missão (e parece que a "gentil"
desembargadora se esquece disso), é que, se tais proibições vigorassem até hoje,
ela nem sequer teria direito a dar opinião – como aliás, Carol Patrocínio informa a "moças de família" (SIC) como a "gentil" desembargadora, em um texto muito instrutivo,
"9 Coisas Que As
Vadias/Barangas Feministas Conquistaram Para Você, Inclusive Pras
Anti-Feministas"
(Calma: esse é o título do texto, em chave de IRONIA):
É
fácil dizer que você é feminina e não feminista – porque você nem nota o quão
sem sentido é dizer isso –, que feministas são mulher mal comidas que não
melhoraram em nada a sua vida ou que as lutas do movimento feminista são
inúteis. Difícil, amigas, é abrir mão das coisas que o movimento feminista te
deu de presente.
1
– A possibilidade de ter opinião
Sabe quem lutou e mudou as coisas para que você possa ser anti-feminista? As feministas! O mundo é realmente engraçado, né?
Sabe quem lutou e mudou as coisas para que você possa ser anti-feminista? As feministas! O mundo é realmente engraçado, né?
2
– Poder vestir calças compridas
Olhe para suas perninhas: tem uma bela calça quentinha aí? Pois é, foram as feministas que permitiram que você pudesse escolher não usar saia – e usar a saia no comprimento que bem entender.
Olhe para suas perninhas: tem uma bela calça quentinha aí? Pois é, foram as feministas que permitiram que você pudesse escolher não usar saia – e usar a saia no comprimento que bem entender.
3
– A chance de trabalhar
Onde você está agora? No trabalho. É… foram elas, as feministas do passado, que deram um jeito de você poder trabalhar no que gosta. É claro que trabalhar, por si só, foi uma necessidade do mercado, mas poder escolher? Ah, isso foram elas. E no fim é o mais importante, né?
Onde você está agora? No trabalho. É… foram elas, as feministas do passado, que deram um jeito de você poder trabalhar no que gosta. É claro que trabalhar, por si só, foi uma necessidade do mercado, mas poder escolher? Ah, isso foram elas. E no fim é o mais importante, né?
4
– A possibilidade de escolher com quem quer se casar
Antes você seria vendida pela sua família. Tudo se basearia em interesses e negócios. Puro business. Você seria só mais um produto que poderia garantir mais dinheiro para a família, sem sentimentos, sem desejos, sem ação ou agência. Não é uma delícia poder escolher por si mesma?
Antes você seria vendida pela sua família. Tudo se basearia em interesses e negócios. Puro business. Você seria só mais um produto que poderia garantir mais dinheiro para a família, sem sentimentos, sem desejos, sem ação ou agência. Não é uma delícia poder escolher por si mesma?
5
– O direito de amar quem quiser
Essa coisa de amor é demais, né? Deixa o coração quentinho ter ao lado alguém que se importa com a gente, nos respeita e olha para nós como os seres humanos incríveis que somos. Coisa de feminista, preciso dizer.
Essa coisa de amor é demais, né? Deixa o coração quentinho ter ao lado alguém que se importa com a gente, nos respeita e olha para nós como os seres humanos incríveis que somos. Coisa de feminista, preciso dizer.
6
– Uma lei que te defende de agressores
Maria da Penha é uma lei que inspira políticos do mundo todo, sabia? Ela diz que nenhum cara pode encher a mulher de porrada e sair ileso. É um avanço incrível para uma sociedade que até outro dia achava que mulher era posse. Os esforços foram feministas.
Maria da Penha é uma lei que inspira políticos do mundo todo, sabia? Ela diz que nenhum cara pode encher a mulher de porrada e sair ileso. É um avanço incrível para uma sociedade que até outro dia achava que mulher era posse. Os esforços foram feministas.
7
– Poder gostar de sexo
Imagina só, antes do movimento feminista, dizer que você gosta de sexo? Seria um escândalo e talvez você fosse apedrejada em praça pública. Mas hoje… Hoje você pode gostar de sexo, se divertir com isso e ainda pode escolher com quem vai transar. Mágico, né?
Imagina só, antes do movimento feminista, dizer que você gosta de sexo? Seria um escândalo e talvez você fosse apedrejada em praça pública. Mas hoje… Hoje você pode gostar de sexo, se divertir com isso e ainda pode escolher com quem vai transar. Mágico, né?
8
– A possibilidade de não engravidar mesmo fazendo sexo
Incrível, né? Revolucionária essa coisa da pílula anticoncepcional e a possibilidade de transar apenas por prazer. Feministas tiveram um dedo aí, tá?
Incrível, né? Revolucionária essa coisa da pílula anticoncepcional e a possibilidade de transar apenas por prazer. Feministas tiveram um dedo aí, tá?
9
– Direito ao voto
Coisa da Bertha Lutz, uma feminista. Antes os homens votavam por nós porque representavam os nossos interesses. Ahan.
Coisa da Bertha Lutz, uma feminista. Antes os homens votavam por nós porque representavam os nossos interesses. Ahan.
Tudo
isso é apenas uma parte do que o movimento feminista lutou para que todas as
mulheres tivessem acesso, algumas das coisas que mais nos tornam livres hoje em
dia foram resultado direto ou indireto dessas movimentações.
Ou seja: mantidas tais proibições, a "gentil" desembargadora,
por exemplo, nunca poderia cursar Direito, nunca poderia entrar para a
magistratura, e nunca chegaria a ser desembargadora e ganhar a posição que lhe
dá destaque aos seus despautérios. Teria ela pensado nisso?
Segunda pergunta: o que levam
algumas pessoas a ter essa incontinência verbal que as leva a falar antes de pensar?
Sim, porque isso já me parece um caso psicológico (pra não dizer
psiquiátrico). Salvo engano, todos os seres da espécie Homo sapiens costumam pensar antes de fazer qualquer coisa –
inclusive falar. Neste último caso, também costumam observar as coisas em sua
volta antes de pensar e proferir uma opinião.
Pois parece que isso está mudando com a internet (e as redes sociais, em
particular). Nelas, parece que a necessidade de digitar alguma coisa
rapidamente está suplantando a capacidade de raciocinar antes. É isso mesmo,
produção?
Ou será que meu amigo Gustavo Gindre tem razão ao achar que estamos construindo
personalidades cindidas, como se fossem dois mundos diferentes, e que a
facilidade que as pessoas têm para ofender e agredir nas redes sociais não é
transposta para a vida lá fora? Tipo assim, dupla personalidade à lá Bezerra da
Silva: nas redes sociais "é um bicho feroz": fora delas, "anda
rebolando e até muda de voz" (no sentido figurado... calma aí...)?
Se for assim, não se Freud ou Jung explicariam isso.
O que nos leva a terceira pergunta: por
que é que o poder judiciário brasileiro, além de exigir dos candidatos a
magistrados o de sempre – notório saber jurídico e reputação ilibada – não exige
também exames psicológicos (tanto na época da nomeação, quanto periódicos, de
quatro em quatro anos), para auferir se o candidato a magistrado tem equilíbrio
mental e emocional para aplicar a lei?
Se ainda não sabem, dir-lhes-ei (copyright Jânio Quadros): sou contra a
adoção legal da pena de morte no Brasil. (E também sou contra a pena de morte
ilegal que traficantes e milicianos aplicam ao arrepio da lei.) Mas sabem como
é, sempre tem outros imbecis defendendo a adoção da pena capital, dizendo que
lá na Indonésia e nos EUA isso resolve a criminalidade, sem sequer observar que:
2- Desde os tempos do ditador Suharto que a Indonésia não é nenhum modelo de combate à corrupção. Ou seja, se qualquer otário que chega ao país com maconha ou cocaína malocado na bagagem é passado nas armas (tradução: fuzilado), quem me garante que grandes chefes de carteis de drogas (logo, donos de recursos financeiros enormes à disposição do "faz-me rir" habitual das "otoridades" indonésias) que atuam por lá são sequer incomodados?
Pois então, já que supunhetamos
no assunto (copyright Aldir Blanc), vai que um dia um Congresso Nacional ainda
mais conservador do que o atual aprove a pena de morte. Para julgar uma pena
assim definitiva (porque futuras anistias e revisões de pena para quem for
condenado à morte injustamente – sim, gentis leitoras e leitores, a justiça
erra – só poderão ser póstumas, já que a vida do condenado não poderá ser
devolvida) é preciso que um juiz observe minuciosamente os autos do processo e,
sobretudo, tenha equilíbrio.
Então,
imagine um processo de pena de morte examinado e julgado por juízes como a
"gentil" desembargadora. Que, aliás, não é única representante dos
porraloucas no poder judiciário. Ou por aquele "meretríssimo" juiz que se julgava Deus – é, aquele mesmo que processou uma agente de trânsito que teve a "ousadia" de multa-lo, só porque estava dirigindo um carro sem placas e sem a carteira de motorista, que havia sido apreendida faz tempo. (E, pior, que ganhou o processo
em duas instâncias – cortesia do esprit
de corps, d'aprés esprit de cochon,
do judiciário fluminense?).Ou por este juiz que mandou bala (mesmo: tiros e mais tiros, já que juízes tem o privilégio de portar armas) em seu vizinho de condomínio:
O osteopata Pedro Augusto Guerra
fica ofegante ao se lembrar de um tiro que, por pouco, não o atingiu na cabeça.
E se mostra indignado ao contar que, segundo ele, o disparo foi feito pelo juiz
Jorge Jansen Counago Novelle, da 15ª Vara Cível do Rio, dentro de um condomínio
de frente para o mar na Avenida Atlântica, em Copacabana. O ataque, ocorrido
por volta das 4h do feriado de 1º de maio, foi registrado com a câmera de um
celular. A motivação ainda é desconhecida.
O vídeo mostra o instante em que o
tiro é disparado, após uma discussão entre o osteopata e o juiz. O caso só não
terminou em tragédia porque a bala desviou na grade de uma janela, abrindo, em
seguida, um buraco na parede do edifício.
Os dois eram vizinhos. O juiz ainda
mora no condomínio; já o osteopata saiu do prédio. Pedro alugava um imóvel de
cerca de 400 metros quadrados, um andar abaixo da casa de Novelle. Pelo vão
interno de circulação de ar do edifício, um podia ver parte do apartamento do
outro. E foi nesse espaço que ocorreu o incidente, filmado pelo osteopata. Na
gravação, enquanto Pedro apoia o celular no parapeito de uma janela, escuta-se
um grito que seria do juiz: “Bandido!”. Depois, o magistrado aparece na imagem,
na área de serviço de seu apartamento, e faz acusações contra o osteopata. “Tu
é safado. Pedro safado!”, diz ele.
Logo em seguida, Novelle sai, e
ressurge 12 segundos depois. “Tu vai me filmar? Tá me ameaçando?”, questiona o
juiz, que aponta uma arma para a janela de Pedro. “Então, tome bala”, avisa ele
ao atirar. O osteopata afirma que estava com a cabeça para fora da janela
enquanto filmava. Após o disparo, o celular continuou apoiado no parapeito, mas
Pedro caiu no chão.
(…)
Novelle, por sua vez, não quis se
manifestar. Na última sexta-feira pela manhã, uma equipe do GLOBO o procurou em
seu apartamento. Pelo telefone da portaria do prédio, ele disse que só se
pronunciaria em juízo.
Já imaginou?
Pois é.
Imagine um juiz com o equilíbrio emocional dos acima citados decidir se
um réu vive ou morre.
Já
é ruim quando decidem sentenças sob a legislação atual com suas neuras,
idiossincrasias e crenças escondidas atrás da letra fria da lei – tipo assim, aquele juiz de Goiás que mandou a resolução do CNJ às favas e proibiu os cartórios do estado de realizarem casamentos entre pessoas do mesmo sexo... – juiz que, por
curiosa coincidência, também era pastor da Assembleia de Deus. Dir-se-ia, até, que usam a jurisprudência do juiz
norteamericano Webster Thayer, que julgou os imigrantes italianos Sacco e Vanzetti de modo imparcial... (só que não) para tomar suas decisões.
Imagine um
caso de pena capital, caso venha a ser adotada aqui em Terra Papagalli...
Estas são as três perguntas. Se alguém puder me responder, me escreva.
Quanto à "gentil" (e sem noção) desembargadora, um fato é
claro: será que foi realmente necessário a "gentil" (e idiota) desembargadora
cometer essa nova tuitada ofensiva e sem noção (imagine, votar em um candidato
misógino, que odeia as mulheres – se não for por ser narniano roxo...)? Será que
alguém, realmente, lamentará a morte dela? (De velha, por causas naturais,
claro. Primeiro, porque somos contra a violência; segundo, porque não somos tão
escrotos a ponto de desejar a ela o mesmo que deseja a outras mulheres.)
Quanto
à causa que a "gentil" (e não solidária) desembargadora acha que é
perdida – o feminismo – dois lembretes. Um de Oswald de Andrade (que eu
costumo apelidar de "o homem que amava as mulheres independentes" –
tanto que, em sua vida, se uniu a três ou quatro que não eram nem um pouco
submissas): Seja como for. Voltar para trás é que é impossível. O meu relógio anda sempre para a frente. A História também.
O segundo, de Mlle. Simone de Beauvoir: Que
nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade
seja nossa própria substância, já que viver é ser livre. Porque alguém disse e
eu concordo que o tempo cura, que a mágoa passa, que decepção não mata. E que a
vida sempre, sempre continua.
**********
**********
Para quem é versado em literatura e em história da literatura, o filme é
baseado em fatos da vida de Sidonie-Gabrielle Colette (1873-1954), uma das
maiores escritoras francesas.
Por que tal indicação talvez a agrade a "gentil" (e
idiotíssima) desembargadora?
Talvez
porque Colette nunca foi, de facto
(copyright português da República Portuguesa...) uma militante feminista – ou melhor dizendo, sufragista: a principal luta das mulheres em fins dos século XIX e início do século XX (entre outras tantas, sejamos sinceros...) era pelo direito de votar e serem votadas em eleições.Breve aula: não que as francesas não tenham tentado. Em plena Revolução Francesa, uma dama chamada Olympe de Gouges (1748-1793) escreveu diversos textos em defesa de direitos políticos para as mulheres, inclusive a sua Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã (1791), Mas sabem com eram os liberais da época revolucionária – e mesmo de hoje, principalmente aqui em Terra Papagalli: liberdade ma non tropo: "os deveres de mãe e esposa são incompatíveis com o exercício dos direitos políticos", "As mulheres são muito influenciadas pela Igreja, e isso contraria o ideal de Estado laico" (como se não existissem mulheres em todas as épocas que mandavam dogmas e proibições religiosas pras cinco letras que fedem...), blá, blá, blá, blá, blá, blá... Conclusão: ao invés de dar às mulheres o direito de subir à tribuna, preferiram levar Mme. de Gouges à guilhotina, em 1793. Conclusão: enquanto outros países atendiam à pressão de suas mulheres e lhes concediam direitos políticos (mais ou menos nesta ordem: a Nova Zelândia – o primeiro, em 1893, fruto de movimento liderado por Kate Sheppard; a Austrália, em 1902; a Finlândia, ainda domínio do czar da Rússia, mas já botando as manguinhas de fora em busca de sua independência, em 1906; a Dinamarca e na Islândia (território dinamarquês) , em 1915; a Alemanha, em 1918 (após a queda do kaiser e a instauração da República de Weimar); o Reino Unido, em 1918, ampliado em 1928; os EUA, em 1919; a Suécia – 1921; o Equador, em 1929; e a Espanha, em 1931, com a Segunda República), a França só veio dar voto às mulheres em 1945, depois da Segunda Guerra Mundial. Até o Brasil passou à frente da França ("A Europa curvou-se ante o Brasil!") estabelecendo o voto feminino em 1932.
Pior. Na época em que madame Colette viveu, as mulheres eram submetidas aos ditames do Código Napoleônico, promulgado (como o nome diz) durante o reinado de Napoleão Bonaparte (1804 a 1814). Um artigo do historiador Augusto Buonicore, chamado O antifeminismo na história nos informa o que este Código oferecia às mulheres:
A consolidação da derrota das mulheres se deu com a
aprovação dos Códigos Civil e Penal, aprovados respectivamente em 1804 e 1808,
já sob o governo de Napoleão Bonaparte. Neles se restabelecia o princípio de
que “a mulher deve obediência ao homem”. O marido passava a ter legalmente, entre
outras coisas, o direito de exigir que os Correios entregassem a ele todas as
cartas endereçadas a esposa, de dispor livremente do seu salário – muitos
receberiam os salários pelas esposas. Para tudo a mulher necessitava da
autorização do pai ou do marido.
Segundo o “código napoleônico” a mulher adultera poderia ser
condenada de três meses até dois anos de prisão. O adultero, pelo contrário,
deveria pagar apenas uma pequena multa. Um dos seus redatores justificou tal
disparidade: “A infidelidade da mulher supõe mais corrupção e tem o efeito mais
perigoso que aquela do marido” e Engels, por sua vez, ridicularizou o artigo do
código que decretava solenemente que “a criança concebida durante o casamento
terá por pai sempre o marido” e concluiu irônico: “Eis aí o último resultado de
três mil anos de monogamia.”
Honte à
vous, citoyens français! (Tradução: "Que vergonha, cidadãos franceses!").
Fim da aula.
Pois, mesmo não sendo feminista, Colette fez, pessoalmente, o que muitas
feministas defendiam e as mulheres buscavam: ser livres para ser o que são e
fazer o que querem.
É bem verdade que o roteiro de Wash Westmoreland, Richard Glatzer e
Rebecca Lenkiewicz fixa-se mais nos anos iniciais da longa vida (81 anos) de Colette (a bela Keira Knightley): a
adolescência no interior, a
extrema cumplicidade com a mãe, Sido (Fiona Shaw), o
casamento com Henry
Gauthier-Villars,
ou Willy (Dominic West), a ida para Paris, a vida de
casada (difícil, porque Willy não era lá muito fiel...), o início da carreira
literária com os romances da série "Claudine" (escritos por Colette e
assinados por Willy), o meio artístico de Paris no início do século XX e... as
primeiras relações de Colette com as mulheres – especialmente o caso amoroso com
Mathilde de Morny, marquesa de Balbeuf (1863 - 1944),
ou, simplesmente, "Missy"( Denise
Gough).
Hummmm... pensando bem, a gentil (e sem noção) desembargadora
não vai gostar não.
Bom, ela que se dane: nós adoraríamos muito que Colette
estreasse logo no Brasil.
Por enquanto, fiquem com o trailer e fotos de still do filme.
Colette (Keira Knightley)
Colette (Keira Knightley) ao lado de Missy (Denise Gough, à esquerda)