08 novembro, 2009

Oh, céus, o que a Riofilme fez de errado neste mundo para apanhar tanto? (II)

De e-mail de Arnaldo Carrilho (ex-presidente da Riofilme, afastado por conta de um enfarte, causado pelos desmando de Cesar Mala) para a mesma lista, em 8 de novembro:

"Walter Benjamin escreveu que o cinema é uma forma de arte que enfrenta o perigo, ameaçado por salteadores à beira da estrada, sua vida sempre por um fio. No caso presente, o inimigo não mais se esconde; é máscara que se descola sem que a toquemos. Aparece-nos logo a face cruel, crudelíssima, a da assimilação pelo Poder Público do que não é de maneira alguma público e comum: as práticas vorazes do neocapitalismo.

A Riofilme foi sendo aos poucos destruída pela "classe", i.e., os que detinham força política para não aceitar qualquer forma de regulação. As folgas desta não eram defeitos da legislação, mas oportunidades que a maioria não quis compreender, pois a distribuidora podia adaptar-se,
caso-por-caso, a cada caso.

Para início de conversa, a "classe" ia ao gabinete do Secretário da(s) Cultura(s), senão ao do Prefeito, para sabotar a magna tarefa da empresa municipal: a distribuição, ou seja, os atos de comércio atacadista do setor audiovisual. Ato de burrice extrema, de vez que, assim sendo, se beneficiava uns poucos, poria por terra qualquer tentativa de programadas co-produções, finalizações, comercializações e lançamentos.

Apesar de sua Lei, simples e direta, contemplando os espectros municipal, estadual, nacional e internacional, havia algo que incomodava as "lideranças", que preferiam acacianamente os "fomentos" às "distribuições". Em outras palavras: as DOAÇÕES de gaita do Erário Municipal, de mão-beijada, como se a Teta das rubricas orçamentárias fossem sugadas na base do ninguém-tasca. A cobiça e a avidez eram tão visíveis, que achei melhor pedir minha demissão (junho de 2003) e partir para bem longe do Rio e do País, o que representou um tremendo alívio para as ratazanas do Cinema Brasileiro.

Para mim, então, representou uma profunda catarse, porque, faz 48 anos, sou homem do CB que o trata com o carinho e a delicadeza que merece, como uma flor em broto. Ou seja, como arte, num País como o nosso obrigatoriamente indutora de conscientização, nunca de alienação.

A tal corretora é o Dragão da Maldade destes tempos de mutação antropológica homologada: os filmes inspirados, de maior ou menor grandeza, serão os Santos Guerreiros que lancetarão o monstro. É obra de paciência, de ver para crer!

Abraços compungidos e solidários à Classe do abaixo-firmado

Arnaldo C. -, juntando-me às condolências de todos pelo desaparecimento do Anselmo."


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