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Dedicamos este post desta séria série a dois personagens de fatos recentes.
Um é de ficção: Crô, personagem de Marcelo Serrado na telenovela Fina estampa, cujo final chocho foi ao ar esta semana (e, sejamos sinceros: ultimamente os finais de novelas estão ficando chochos demais da conta - não sabemos se devido ao cansaço dos autores ao final da longa jornada de escrevê-las ou se ao cansaço mais do que evidente do gênero.)
O outro, infelizmente, é real: Carlos Besteiraro, vereador no Rio de Janeiro e filho de vocês-sabem-quem, que recentemente conseguiu que a Gaiola de Ouro... digo, a Câmara Municipal aprovasse um projeto seu, o projeto de lei 1082/11, que veda a distribuição, exposição e divulgação de material didático contendo orientações sobre a diversidade sexual nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de Educação Infantil da Rede Pública Municipal de Ensino. Semelhante, aliás, a um projeto de lei aprovado em São José dos Campos, já comentado em post anterior.
Tudo bem, não surpreende que uma cidade como São José dos Campos, que mobilizou a polícia militar para expulsar perigosíssimos moradores de um terreno pertencente a um sujeito tão pio, puro e honesto chamado Naji Nahas aprove uma lei assim. (É, caro leitor, só para lembrar: o Pinheirinho, onde ocorreu um vergonhoso massacre, fica em São José dos Campos.)
Mas logo no Rio de Janeiro, onde se tem uma longa tradição de aceitação da homossexualidade, vai se aprovar uma lei de... com perdão da palavra... de m... assim?
É... a falta do que fazer - ou segundo o vereador Reimont, do PT carioca, que votou contra esta excrescência, o "samba de uma nota só" (já que tal vereador acusou Carlos Besteiraro de "vereador de uma nota só") - da família Besteiraro já está ficando chato...
E por falar na família Besteiraro, vamos à dedicatória anunciada hoje:
Em tempo: vai aí a lista dos votantes desta lei (Taí uma informação para as próximas eleições municipais... e para as próximas eleições para presidente do Flamengo... Aliás, como flamenguista, breve comentário: QUE DECEPÇÃO, PATRÍCIA AMORIM!):
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Prestada a nossa homenagem à família Besteiraro, vamos à nossa indicação de hoje em nossa séria série: The politics of fur (2002), de Laura Nix, exibido no 10º Mix Brasil (2002) com o título de O poder da sedução.
A história é assim: Una (Katy Selverstone), executiva da indústria da música, que vive de maneira, digamos, excêntrica: mora num apartamento com um empregado gay, Dick (T. Jerram Young) e com Baby, seu tigre de estimação (?). Um dia, conhece B. (Brynn Horrocks), - definida na sinopse como "uma versão feminina de Sid Vicious", que seduz Una e vai morar em sua casa. Por amor a B. - melhor dizendo, estando completamente devotad e submissa a ela - Una faz dela uma grande estrela do rock. Mas B. se rebela e acaba com a frágil ordem da vida de Una.
Peraí... eu conheço esta história de outro lugar...
Conhece, sim, caro leitor - pelo menos, se você é afeito ao teatro. The politics of fur inspira-se em As lágrimas amargas de Petra von Kant - ou, se quiserem, é uma versão "sexo, drogas & rock 'n roll" da célebre peça (e, mais tarde, filme) de Rainer Werner Fassbinder. Peça para que The politics of fur seja exibido aqui em Terra Papagalli; depois, assista ao filme de Fassbinder (1972) e tire suas conclusões.
O IMDb nos informa um pouco de sua ficha técnica. E temos aqui uma cena do filme.
Ah, para comparar: assista um trecho de As lágrimas amargas de Petra von Kant (o filme, de 1972).
Atriz
A morte emendou a gramática.
Morreram Cacilda Becker.
Não era uma só. Era tantas.
Professorinha pobre de Piraçununga
Cleópatra e Antígona
Maria Stuart
Mary Tyrone
Marta de Albee
Margarida Gauthier e Alma Winemiller
Hannah Jelkes a solteirona
a velha senhora Clara Zahanassian
adorável Júlia
outras muitas, modernas e futuras
irreveladas.
Era também um garoto descarinhado e astuto: Pinga-Fogo
e um mendigo esperando infinitamente Godot.
Era principalmente a voz de martelo sensível
martelando e doendo e descascando
a casca podre da vida
para mostrar o miolo de sombra
a verdade de cada um dos mitos cênicos.
Era uma pessoa e era um teatro.
Morrem mil Cacildas em Cacilda.
Carlos Drummond de Andrade escreveu este poema quase de um jato, quando Cacilda Becker (1921-1969) morreu de um inesperado derrame cerebral.
Passados 43 anos, o jornal O Dia aproveita com muita propriedade o poema de Drummond para homenagear Chico Anysio. Ainda que (e espero que todos os fãs de Chico Anysio não se zanguem por comentar o óbvio) a morte deste humorista, ator e escritor já fosse uma morte anunciada, pelas internações frequentes (ah, maldito cigarro!) e pela fragilidade física mostrada em suas últimas aparições no programa Zorra Total: o homem de mil faces e vozes já não conseguia mais dar as diferentes vozes a seus personagens - haja visto a Salomé: não era mais a voz característica da ex-professora gaúcha que tentava aconselhar o general João Batista Figueiredo, último presidente do regime militar (e agora tentava puxar a orelha da teimosa presidente Dilma Rousseff), mas uma voz cansada, roufenha, irreconhecível.
(Fica a dúvida: por que, com este estado de saúde frágil, Chico Anysio ainda aparecia na TV? Exploração da Globo? Ou teimosia do próprio Chico Anysio? Nunca saberemos.)
Ainda assim, sejamos sinceros: mesmo anunciada, a morte de Chico Anysio é uma morte traumática para gerações e gerações de espectadores - na TV e no cinema. No fundo, sempre pensamos que ele e seus personagens seriam imortais.
Bem, no final, descobrimos que Chico Anysio é mortal como todos nós
Já seus personagens serão imortais - se quisermos.
Sobre Chico Anysio, aliás, transcrevo artigo publicado em Carta Capital:
O Brasil sem Chico é mais sem graça
Por Aurélio Munhoz*
As longas reportagens laudatórias veiculadas na imprensa sobre Chico Anysio não fizeram jus à sua biografia. Pelo menos não do jeito que deveriam ter feito. A costumeira pressa – e sobretudo a ausência de coragem de contrariar os interesses dos barões da mídia – impediram a quase totalidade dos veículos jornalísticos de explicar ao Brasil as verdadeiras razões pelas quais o homem foi um dos maiores humoristas brasileiros.
Chico foi um dos ícones do gênero porque foi o principal responsável pela criação e desenvolvimento de um modelo de humor feito com genuína inteligência, sensibilidade e criatividade. Humor de personagens (mais de 200, no seu caso) identificados com a sociedade brasileira, feito por um profissional do riso verdadeiramente talentoso. Humor de um artista de verdade, forjado na lida do rádio e do teatro, que não raro escrevia seus próprios textos e se preocupava em transmitir conceitos e valores com sua arte. Humor não é só riso e dinheiro, enfim.
Não falamos aqui do talento de Chico Anysio como escritor, dublador e até pintor respeitado, mas da sua extraordinária capacidade de usar a graça, a inteligência e o senso crítico para encarnar tipos atemporais que retratam as mais variadas facetas da alma brasileira, boa parte dela figurinha carimbada da grande mídia – a boa e a ruim, a honesta e a corrupta, a culta e a ignorante, a humilde e a prepotente.
Personagens, desde agora, imortais. Como Alberto Roberto, o ator cheio de estrelismo e vazio de talento. Canavieira e Justo Veríssimo, os políticos ricos, corruptos e populistas. Coalhada, o perna-de-pau ignorante que vivia se defendendo das críticas dos torcedores de futebol. Primo Rico, o homem cheio de soberba que nunca tinha tempo de ajudar seu parente pobre – nem ninguém. Tim Tones, o pastor-picareta que enriqueceu às custas da fé alheia.
E, claro, o Professor Raimundo, o maior e mais copiado de todos os seus personagens, símbolo dos corajosos e mal pagos professores que dão duro nas salas de aula brasileiras, muitas vezes diante de uma legião de idiotas. Chico Anysio certamente tinha seus defeitos, mas eles foram incomparavelmente menores que suas virtudes.
Sua obra se destaca – e, agora, se eterniza – por mostrar ao Brasil boa parte do que verdadeiramente somos, sem retoques. Destaca-se, porém, além de tudo, por conta da mediocridade que impera no humor da tevê brasileira, pelo menos a aberta. Não que não tenhamos humoristas talentosos na tevê, nos teatros ou mesmo nas ruas e praças das nossas cidades. Ocorre que profissionais com este perfil são minoria no rol de humoristas que pulula pelos canais de televisão nativos.
É que, baseada na falsa ideia de que o povo gosta apenas de piadas politicamente incorretas, de cenas de pastelão e de sexo, a tevê brasileira prefere colocar em primeiro plano uma trupe de humoristas grosseiros, arrogantes, bobos e – suprema contradição – sem nenhuma graça, negando espaço a gente dotada de verdadeiro talento. Humoristas escoltados por uma safra de roteiristas-criadores de arquétipos e esquetes pobres e sem sentido. Profissionais do riso que, tristemente, não sabem fazer rir. Mas que, pior, ganham rios de dinheiro com isso, mostrando o grau de inteligência raso de muitos brasileiros, bem como dos que patrocinam este gênero de humor.
Chico Anysio vai fazer muita falta. Se é pieguice e anacronismo sentir saudades de quem nos fez rir durante praticamente toda nossa vida, pago o preço de tecer loas ao passado. Melhor ser piegas acreditando que a inteligência deve predominar sobre a burrice do que me render ao péssimo gosto do humor que predomina na tevê brasileira. “E que pode piorar…”, como diria Urubulino, outro personagem do velho mestre.
*Aurélio Munhoz é jornalista, sociólogo, consultor em Comunicação e presidente da ONG Pense Bicho. Pós-graduado em Sociologia Política e em Gestão da Comunicação, foi repórter, editor e colunista na imprensa do Paraná.
Facebook – https://www.facebook.com/aureliomunhoz
Adeus, Chico Anysio.
CHICO ANYSIO NO CINEMA BRASILEIRO
COMO ATOR
1955 - O Primo do Cangaceiro - direção: Mário Brasini.
1959 - Eu Sou o Tal - direção: Eurípedes Ramos e Hélio Barroso.
1959 - Entrei de Gaiato – direção: J.B.Tanko – Um amigo de Januário (nos créditos como Francisco Anísio)
1959 - Mulheres à Vista - direção: J.B. Tanko
1960 - Cacareco Vem Aí - direção: Carlos Manga
1960 - Pequeno por Fora - direção: Aloísio T. de Carvalho
1960 - O Palhaço O Que É? – direção: Carlos Manga
1971 - O Doce Esporte do Sexo (episódios: "O Torneio", "A Boca", "O Filminho", "A Suspeita" e "O Apartamento") - direção: Zelito Viana
1987 - Tanga (Deu no New York Times?) – direção: Henfil.
1996 - Tieta do Agreste - direção: Carlos Diegues - Zé Esteves (pai de Tieta)
2009 - Se Eu Fosse Você 2 - direção: Daniel Filho - Olavo
2011 - Uma Professora Muito Maluquinha - direção: André Alves Filho e Cesar Rodrigues - Monsenhor Aristides
2012 - Por um fio - direção João Batista de Andrade (inédito).
COMO ARGUMENTISTA / ROTEIRISTA / DIALOGUISTA
1955 - O Primo Cangaceiro - direção: Mário Brasini - argumento: Plínio Campos - roteiro: Chico Anysio, Plínio Campos e Ruy Costa.
1957 - Pé na Tábua - direção: Victor Lima - argumento: Chico Anysio - roteiro: Chico Anysio e Victor Lima.
1957 - A Baronesa Transviada - direção: - argumento: Chico Anysio (aparece nos créditos como Francisco Anísio) e Watson Macedo – roteiro: Watson Macedo e Ismar Porto.
1958 - Minha Sogra É da Polícia - direção: Aloísio T. de Carvalho - roteiro: Chico Anysio e Aloísio T. de Carvalho, a partir da peça homônima de Gastão Tojeiro.
1958 - Hoje o Galo Sou Eu - direção: Aloísio T. de Carvalho – roteiro: Chico Anysio e Ronaldo Lupo, a partir da peça Compra-se um marido, de José Wanderley.
(Detalhe: a mesma peça foi adaptada 20 anos antes para outro filme: Maridinho de luxo, produção Cinédia, 1938 – direção Luiz de Barros)
1958 - Alegria de Viver - direção: Watson Macedo - roteiro: Watson Macedo e Ismar Porto - diálogos: Chico Anysio (aparece nos créditos como Francisco Anizio).
1958 - O Camelô da Rua Larga - direção: Eurípedes Ramos e Hélio Barroso – roteiro: Chico Anysio, Victor Lima e Zé Trindade.
1959 - Mulheres à Vista - direção: J.B. Tanko – argumento: Chico Anysio e Zé Trindade – roteiro: J.B. Tanko e Victor Lima.
1959 - Garota Enxuta - direção: J.B. Tanko – argumento: Herbert Richers – roteiro: Chico Anysio e J.B.Tanko.
1959 - Entrei de Gaiato - direção: J.B.Tanko – roteiro: Chico Anysio (como Francisco Anísio) e J.B.Tanko.
1960 - Só Naquela Base - direção: Ronaldo Lupo – argumento: Saint Clair Sena – diálogos: Chico Anysio.
1960 - Pequeno por Fora - direção: Aloísio T. de Carvalho – roteiro: Chico Anysio.
1960 - Cacareco Vem Aí - direção: Carlos Manga – argumento: Chico Anysio – roteiro: Sanin Cherques e Carlos Manga.
1971 - O Doce Esporte do Sexo - direção: Zelito Viana
Argumento: Ep.1, O Torneio - Oduvaldo Vianna Filho; Ep.2, A Boca - Zelito Vianna; Ep.3, O Filminho - Arnaud Rodrigues e Chico Anysio; Ep.4, A Suspeita - Chico Anysio e Zelito Vianna; Ep.5, O Apartamento - Armando Costa
roteiro: Armando Costa e Zelito Viana.1983 - O Cangaceiro Trapalhão - direção: Daniel Filho – roteiro: Aguinaldo Silva, Daniel Filho, Doc Comparato, João Paulo Carvalho e Renato Aragão – diálogos: Chico Anysio.
(fontes: IMDb; Site Meu Cinema Brasileiro - dados sobre O Doce Esporte do Sexo - e João Batista de Andrade)