29 abril, 2015

ANTÔNIO ABUJAMRA (1932-2015)


DE UMA HIPOTÉTICA ENTREVISTA DE ANTÔNIO ABUJAMRA COM ANTONIO ABUJAMRA EM PROVOCAÇÕES

O senhor prefere a ordem ou o caos?

Bom, o caos é maravilhoso, mas é sempre ordenado... E a ordem é sempre caótica...

E o que o senhor acha das utopias?

"E para que serve a utopia? Eu dou um passo, o teatro dá dois passos. Eu dou dois passos, o teatro dá quatro passos. A utopia serve para isso: continuar caminhando."
(Discurso de agradecimento no Festival Hispânico de Madri, 1996)

Como está o seu país?

"O governo nunca valorizou a inteligência no nosso país. O estado do Brasil é resultado da estupidez dos governantes, dos arquitetos, dos intelectuais, dos jornalistas... de todo mundo. É a nossa estupidez."
(Portal UOL, 2010)

E da América Latina?

"Não tenho mais esperança em nada. Odeio a esperança. A esperança já f... a América Latina."
(O Estado de S. Paulo, 2012)

O senhor prefere o sinal verde ou o risco?

A vida sem o risco não vale a pena... Eu quero o arame esticado, bem alto, e nenhuma rede de proteção. O resto é burocracia barata.

"Tive mais de cem fracassos. E, para mim, não tem a mínima importância. Para um artista, o fracasso e o sucesso são iguais. Os dois são impostores."
(O Estado de S. Paulo, 2012)

"Esteticamente, o fracasso é mais interessante que o sucesso. Sou um homem de fracassos."
([In]Veja, 1989)

O que é que não fez e gostaria de ter feito?

Escrever Dom Quixote.
(Nota deste escriba, para os que nunca passaram perto de uma livraria ou biblioteca: obra prima do escritor espanhol Miguel de Cervantes.)

E o que é que o senhor fez e gostaria de não ter feito?

Ter lido coisas que absolutamente não me interessavam, e que eu lia porque eu queria saber o que era a vida.

O senhor costuma se arrepender?

Não. Como cantava Edith Piaf: "Non, non, je ne regrette rien" [Não, não, eu não me arrependo de nada.

"Quem não pensa que é sério quando jovem? Quando jovem eu pensava dirigir uma peça para mudar o mundo. Tinha uma fúria dedicada. A maioria que quis continuar sério provocou o que está acontecendo no País."
(IstoÉ/Senhor , 1988)

O senhor já fez alguma coisa que jamais revelaria a alguém? Já cometeu alguma transgressão? Se não falar nós pensaremos o pior...

Bom, as minhas indiscrições... eu fui muito indiscreto, viu?

Diz a verdade: o senhor cometeu grandes gafes na vida?

Eu vivi... Já é uma gafe suficiente, não é?

O senhor chora? Chora diante da beleza?

"Só choro quando as pessoas choram. Se você chorar agora, eu choro (risos)".
(O Estado de S. Paulo, 2012)

Como você gostaria de morrer?

Como Georges Bernanos, olhando a morte de frente e desafiando-a com a famosa frase balzaquiana: "Á nós dois, agora!"

Pra onde você pensa que vai depois da morte?

Jean-Paul Sartre diz que morte transforma a vida em destino. Meu ponto final: crematório.

Por favor, eu sei que o senhor deve estar me achando medíocre, que as pessoas que falam comigo devem ser medíocres... Por gentileza, defina o que é a mediocridade.

Como a arte de não ter inimigos.

O senhor esteve muito presente na televisão, como diretor, como ator... O que acha da televisão?

"Acho muito difícil fazer uma coisa boa em televisão. Os donos das emissoras não querem que o povo realmente saiba das coisas. Eles querem é Ibope, querem faturar e faturam muito bem."
(Portal Terra, 2004)

Que pergunta você gostaria que eu tivesse feito e não fiz?

Como você veio parar nas artes.

Então responda: como você veio parar nas artes?

Aonde?

Nas artes.

Porque tentei britar pedras e não aguentei, era muito difícil. Aí, passei para as artes, para o teatro.
(Caros Amigos nº 54 - Setembro de 2001)

Que pergunta você gostaria que eu não tivesse feito?

Não é uma pergunta boa! É uma pergunta medíocre e eu detesto perguntas medíocres. "Por que você não gosta de dar o rabo? Por que você não gosta de dar isso? Por que não gosta de dar aquilo?" Não é uma boa pergunta. Dar entrevistas? Não sou bom para dar entrevistas. Não sou uma Marilena Chauí, que sabe responder bem. Não sei fazer entrevistas boas, sei fazer entrevistas pensadas, organizadas, principalmente porque durante 51 anos dando entrevistas só me foderam nas entrevistas. Eu falo uma coisa, sai outra. Depois: "Ah, não, conosco não, conosco não". É tudo mentira, é tudo igual. Os gutemberguianos... Eu odeio esses gutemberguianos. Veio a eletrônica e acabou Gutemberg, acabou... Vocês não existem mais. Dar entrevista? Eu não quero saber de dar entrevista. Vou responder aqui de má vontade, irritado. Odeio dar entrevistas, principalmente para a Caros Amigos.
(Caros Amigos nº 54 - Setembro de 2001)

Qual é o grande equívoco que as pessoas cometem ao falar do senhor?

Achar que eu sou o Antônio Abujamra.

Para terminar: o que é a vida?

É preciso ter a dor de sentir que a vida não tem roteiro... E na vida não existe nada seguro. Quem gosta de abismos tem que ter asas. Cuidado, minha gente.

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(Em tempo: as citações que não foram indicadas foram extraídas de dois vídeos disponíveis no YouTube, com entrevistas que Antônio Abujamra fez para seu programa Provocações... com ele próprio. Divirtam-se. E, se quiserem realmente homenagear Abu, façam o seguinte: de vez em quando, façam o que desejam; "enforquem-se na corda da Liberdade".)




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Antônio Abujamra no cinema
1989 - Festa - direção: Ugo Giorgetti - Velho
1989 - Lua Cheia - direção: Alain Fresnot - Veríssimo
1990 - Os Sermões - A História de Antônio Vieira - direção: Júlio Bressane
1991 - Olímpicos - direção: Flávia Moraes (curtametragem)
1992 - Atrás das Grades – direção: Paolo Gregori
1992 - Perigo Negro (episódio de Oswaldianas) - direção: Rogério Sganzerla - presidente do Estrela Futebol Clube
1993 - Oceano Atlantis – direção: Francisco de Paula
1995 - Carlota Joaquina, princesa do Brazil - direção: Carla Camurati - Conde de Mata-Porcos (um dos brasileiros que ganhou título de nobreza do rei D. João VI, por ter posto dinheiro no 1º Banco do Brasil...)
1996 - Quem matou Pixote? - direção: José Joffily - Advogado
1996 - Olhos de Vampa - direção - Walter Rogério (curtametragem)
1998 - Caminho dos Sonhos - direção: Lucas Amberg - padre Otero
2000 - Villa-Lobos - Uma Vida de Paixão - direção: Zelito Viana - diretor do Teatro Municipal
2005 - Concerto Campestre, com direção de Henrique de Freitas Lima - major Eleutério Fontes
2005 - Quanto vale ou é por quilo? - direção: Sérgio Bianchi
2008 - É Proibido Fumar - direção: Anna Muylaert
2010 - Syndrome - direção: Roberto Bomtempo
2011 - Assalto ao Banco Central - direção: Marcos Paulo - Moacir Gama
2013 - Babu - A Reencarnação do Mal - direção: Cesar Nero
2012 - Brichos - A Floresta é Nossa - desenho animado (voz)
2015 - Que Horas ela Volta? - direção: Anna Muylaert

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