DE
UMA HIPOTÉTICA ENTREVISTA DE ANTÔNIO ABUJAMRA COM ANTONIO ABUJAMRA EM PROVOCAÇÕES
O senhor prefere a
ordem ou o caos?
Bom,
o caos é maravilhoso, mas é sempre ordenado... E a ordem é sempre caótica...
E o que o senhor
acha das utopias?
"E
para que serve a utopia? Eu dou um passo, o teatro dá dois passos. Eu dou dois
passos, o teatro dá quatro passos. A utopia serve para isso: continuar
caminhando."
(Discurso de agradecimento no
Festival Hispânico de Madri, 1996)
Como está o seu
país?
"O
governo nunca valorizou a inteligência no nosso país. O estado do Brasil é
resultado da estupidez dos governantes, dos arquitetos, dos intelectuais, dos
jornalistas... de todo mundo. É a nossa estupidez."
(Portal
UOL, 2010)
E da América
Latina?
"Não
tenho mais esperança em nada. Odeio a esperança. A esperança já f... a América
Latina."
(O Estado de S. Paulo, 2012)
O senhor prefere o
sinal verde ou o risco?
A
vida sem o risco não vale a pena... Eu quero o arame esticado, bem alto, e
nenhuma rede de proteção. O resto é burocracia barata.
"Tive
mais de cem fracassos. E, para mim, não tem a mínima importância. Para um
artista, o fracasso e o sucesso são iguais. Os dois são impostores."
(O Estado de S. Paulo, 2012)
"Esteticamente,
o fracasso é mais interessante que o sucesso. Sou um homem de fracassos."
([In]Veja, 1989)
O que é que não fez
e gostaria de ter feito?
Escrever
Dom Quixote.
(Nota deste
escriba, para os que nunca passaram perto de uma livraria ou biblioteca: obra
prima do escritor espanhol Miguel de Cervantes.)
E o que é que o
senhor fez e gostaria de não ter feito?
Ter
lido coisas que absolutamente não me interessavam, e que eu lia porque eu
queria saber o que era a vida.
O senhor costuma se
arrepender?
Não.
Como cantava Edith Piaf: "Non, non, je ne regrette rien" [Não, não,
eu não me arrependo de nada.
"Quem
não pensa que é sério quando jovem? Quando jovem eu pensava dirigir uma peça
para mudar o mundo. Tinha uma fúria dedicada. A maioria que quis continuar
sério provocou o que está acontecendo no País."
(IstoÉ/Senhor , 1988)
O senhor já fez
alguma coisa que jamais revelaria a alguém? Já cometeu alguma transgressão? Se
não falar nós pensaremos o pior...
Bom,
as minhas indiscrições... eu fui muito indiscreto, viu?
Diz a verdade: o
senhor cometeu grandes gafes na vida?
Eu
vivi... Já é uma gafe suficiente, não é?
O senhor chora? Chora
diante da beleza?
"Só
choro quando as pessoas choram. Se você chorar agora, eu choro (risos)".
(O Estado de S. Paulo, 2012)
Como você gostaria
de morrer?
Como
Georges Bernanos, olhando a morte de frente e desafiando-a com a famosa frase balzaquiana:
"Á nós dois, agora!"
Pra onde você pensa
que vai depois da morte?
Jean-Paul
Sartre diz que morte transforma a vida em destino. Meu ponto final: crematório.
Por favor, eu sei
que o senhor deve estar me achando medíocre, que as pessoas que falam comigo
devem ser medíocres... Por gentileza, defina o que é a mediocridade.
Como
a arte de não ter inimigos.
O senhor esteve
muito presente na televisão, como diretor, como ator... O que acha da
televisão?
"Acho
muito difícil fazer uma coisa boa em televisão. Os donos das emissoras não
querem que o povo realmente saiba das coisas. Eles querem é Ibope, querem
faturar e faturam muito bem."
(Portal
Terra, 2004)
Que pergunta você
gostaria que eu tivesse feito e não fiz?
Como você veio parar nas artes.
Então
responda: como você veio parar nas artes?
Aonde?
Nas
artes.
Porque
tentei britar pedras e não aguentei, era muito difícil. Aí, passei para as
artes, para o teatro.
(Caros Amigos nº 54 - Setembro de 2001)
Que pergunta você
gostaria que eu não tivesse feito?
Não é uma
pergunta boa! É uma pergunta medíocre e eu detesto perguntas medíocres.
"Por que você não gosta de dar o rabo? Por que você não gosta de dar isso?
Por que não gosta de dar aquilo?" Não é uma boa pergunta. Dar entrevistas?
Não sou bom para dar entrevistas. Não sou uma Marilena Chauí, que sabe
responder bem. Não sei fazer entrevistas boas, sei fazer entrevistas pensadas,
organizadas, principalmente porque durante 51 anos dando entrevistas só me
foderam nas entrevistas. Eu falo uma coisa, sai outra. Depois: "Ah, não,
conosco não, conosco não". É tudo mentira, é tudo igual. Os gutemberguianos...
Eu odeio esses gutemberguianos. Veio a eletrônica e acabou Gutemberg, acabou...
Vocês não existem mais. Dar entrevista? Eu não quero saber de dar entrevista.
Vou responder aqui de má vontade, irritado. Odeio dar entrevistas,
principalmente para a Caros Amigos.
(Caros Amigos nº 54 - Setembro de 2001)
Qual é o grande equívoco
que as pessoas cometem ao falar do senhor?
Achar
que eu sou o Antônio Abujamra.
Para terminar: o
que é a vida?
É
preciso ter a dor de sentir que a vida não tem roteiro... E na vida não existe
nada seguro. Quem gosta de abismos tem que ter asas. Cuidado, minha gente.
*************
(Em
tempo: as citações que não foram indicadas foram extraídas de dois vídeos
disponíveis no YouTube, com entrevistas que Antônio Abujamra fez para seu
programa Provocações... com ele
próprio. Divirtam-se. E, se quiserem realmente homenagear Abu, façam o
seguinte: de vez em quando, façam o que desejam; "enforquem-se na corda da Liberdade".)
***************
Antônio Abujamra no cinema
1989 - Festa -
direção: Ugo Giorgetti - Velho
1989 - Lua Cheia
- direção: Alain Fresnot - Veríssimo
1990 - Os Sermões - A
História de Antônio Vieira - direção: Júlio
Bressane
1991 - Olímpicos -
direção: Flávia Moraes (curtametragem)
1992 - Atrás das
Grades – direção: Paolo Gregori
1992 - Perigo Negro
(episódio de Oswaldianas) - direção: Rogério Sganzerla - presidente do Estrela
Futebol Clube
1993 - Oceano
Atlantis – direção: Francisco de Paula
1995 - Carlota
Joaquina, princesa do Brazil - direção: Carla
Camurati - Conde de Mata-Porcos (um dos
brasileiros que ganhou título de nobreza do rei D. João VI, por ter posto
dinheiro no 1º Banco do Brasil...)
1996 - Quem matou
Pixote? - direção: José Joffily - Advogado
1996 - Olhos de Vampa
- direção - Walter Rogério (curtametragem)
1998 - Caminho dos
Sonhos - direção: Lucas Amberg - padre
Otero
2000 - Villa-Lobos -
Uma Vida de Paixão - direção: Zelito Viana
- diretor do Teatro Municipal
2005 - Concerto
Campestre, com direção de Henrique de Freitas Lima - major Eleutério Fontes
2005 - Quanto vale ou
é por quilo? - direção: Sérgio
Bianchi
2008 - É Proibido
Fumar - direção: Anna Muylaert
2010 - Syndrome -
direção: Roberto Bomtempo
2011 - Assalto ao
Banco Central - direção: Marcos Paulo - Moacir
Gama
2013 - Babu - A
Reencarnação do Mal - direção: Cesar Nero
2012 - Brichos - A
Floresta é Nossa - desenho animado
(voz)
2015
- Que Horas ela
Volta? - direção: Anna
Muylaert
Nenhum comentário:
Postar um comentário