1º Round
Todo ano é a mesma coisa: perdendo completamente
o “timming” das premiações cinematográficas nacionais e internacionais, o
Grande Prêmio do Cinema Brasileiro deixa para revelar os melhores filmes de
2014 somente agora, no último quadrimestre de 2015. Desta
forma, fica difícil para este nosso “Oscar brasileiro” (com Academia e tudo)
conseguir alguma visibilidade e alguma credibilidade para o nosso cinema.
Certo, pode se dizer – como disseram na época em que falei sobre o GPCB (estou usando esta sigla porque o nome é longo pra cacildis...)– que tudo dependia de captação de recursos, que este era o problema. Mas um projeto de captação de recursos também é questão de planejamento: formular o projeto de captação de recursos e produção para que o GPCB seja realizado em um mês do primeiro trimestre do ano (janeiro, março ou abril – em fevereiro tem carnaval) não custa nada. Produzir o GPCB quase no fim do ano custa uma coisa: a visibilidade e a repercussão.
2º Round
Voltando
ao parágrafo anterior: estou usando a sigla GPCB porque o nome do prêmio –
Grande Prêmio do cinema Brasileiro – é longo pra chuchu. Fora o fato de que Inácio
Araújo lembrou bem na época: Quem inventou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro
merecia uma medalha: não é todo dia que alguém dá a um prêmio de cinema o nome
de corrida de cavalo...
(Lembra
muito as corridas de cavalo "narradas" pela PRK-30, não é?)
A cobertura do GPCB pela PRK-30, através de seus afamados locutores Otelo Trigueiro (Lauro Borges) e Megatério Nababo de Alicerce (Castro Barbosa).
E lembro o que a nobre colega Maria do Rosário Caetano (Rô, para os íntimos) sugeriu na mesma época: :
"Por
que não arrumar um nome SINTÉTICO, PARÓDICO (e não paródico ao mesmo tempo!!!!!!) E
GENIAL (...)???"
Já
tivemos prêmios com nomes marcantes: o Medalhão de Bronze, concedido pela revista Cinearte
(apenas uma vez, em 1927, para Tesouro
Perdido, de Humberto Mauro); o Saci, concedido pelo jornal O Estado de
S. Paulo até 1968 (que, a rigor, era um prêmio multiartístico, concedido ao
cinema e ao teatro); e a Coruja de Ouro, do antigo Instituto Nacional do Cinema
(INC). Ainda temos prêmios com nomes marcantes: o Kikito
(o deus do bom humor do Festival de Gramado) que, aliás, foi o que mais tivemos de parecido no Brasil, em termos
de prestígio, com o prêmio da Academia de Hollywood, por muito tempo, – isso
porque o Festival de Gramado era o mais importante – e o Candango, do Festival
de Brasília.
O cinema mundial tem prêmios com nomes marcantes calcados no prêmio da
Academia de Hollywood: o Cesar (França), o Goya (Espanha), o Davi di Donatello (Itália).
Uma
sugestão: já que o troféu do GPCB se chama Grande Otello, por que não chamar o
evento de Grande Otello? Ou melhor: de Otello, mais sintético?
Porque,
vamos e venhamos: PRA QUE UM PRÊMIO COM NOME DE PÁREO DE CORRIDA DE CAVALO?
3º Round
Só
um pequeno senão: o desenho é de um Grande Otello de pé, segurando um bastão
(que presumo que seja o famosos "bastão de Molière"), que lembra muito uma
imitação da imitação do troféu da Academia de Hollywood, que um amigo muito
chegado á franqueza chamou certa vez de "bonequinho viado"... como
ele se chama mesmo? Ah, sim, esse tal de Oscar.
4º Round
Certo,
entende-se que uma ocasião desta é importante. Mas exigir "traje passeio
completo" (pra quem não entende esse troço de etiqueta: paletó e gravata)
em um evento num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza – e nesse inverno
"viúva Porcina", que foi sem nunca ter sido (cortesia do El Niño e do
aquecimento global enchendo o saco...) – é sadomasoquismo.
E quase todo mundo foi - haviam umas raríssimas exceções sem paletó. Eu mesmo tive de pedir emprestado um blazer claro, tipo o-defunto-era-maior.
E eis que a coleguinha Rô Caetano chama a atenção para uma coisa:
Com a palavra, as boas casas funerárias do ramo. E, claro, o Ivan Sugahara, diretor conceituado de teatro, encarregado da cerimônia.
5º Round
Para compensar o calor dos infernos: o ar condicionado do Odeon funcionava, e o champanhe (antes e depois da cerimônia) estava bem gelado.
6º Round
Por falar em Ivan Sugahara: é a segunda vez que ele é chamado pela Academia Brasileira de Cinema para dirigir o evento. E foi ótima a ideia de esquetes em torno do homenageado do ano, Roberto Farias - mais especificamente, a partir de Roberto Carlos em ritmo de aventura (1968).
Claro, Marcelo Faria, recém-desencarnado de Lobão, - não confundir com Lo(bo)bão (o roqueiro que atualmente anda com um cérebro de camarão...): é o vilão da última (e ótima - parabéns pelo ótimo texto, Paulo Halm e Rosane Svartman) temporada de Malhação - fazia o tio, e Paulo Tiefenthaler, uma versão bem humorada de José Lewgoy (1920-2003), o vilão favorito (mas nem sempre) de nosso cinema (versão que Rô Caetano não gostou - lamento discordar de ti, Rô...). Mesmo com a luz fantasmagórica e sepulcral, foi bem melhor do que a quermesse cheia de empáfia daquela cerimônia daquele prêmio... qual mesmo? Ah, sim, o "bonequinho viado"...
**********
E quase todo mundo foi - haviam umas raríssimas exceções sem paletó. Eu mesmo tive de pedir emprestado um blazer claro, tipo o-defunto-era-maior.
E eis que a coleguinha Rô Caetano chama a atenção para uma coisa:
Problemas graves na concepção da festa. O maior
de todos: a iluminação.
Tudo era azul-TV ou preto. Para nós, telespectadores, é um sofrimento. NINGUÉM via ninguém na plateia. Só os vultos fantasmagóricos de Barretão, Lucy, Daniel Filho, Carla Camurati… Gente, se as Academias se inspiram no OSCAR, têm que aprender a iluminar como os norte-americanos. O público quer ver quem está na plateia, se ela for mostrada.
Para agravar, as atrizes resolveram ir todas de… PRETO: Leandra Leal, Deborah Secco (grávida de seis meses), Bianca Comparato… Somadas aos ternos dos homens, pareciam estar todos num velório. E com fundo azul-TV, aquele fantasmagórico. Até a trinca do Canal Brasil entrou em clima de velório: Roger Lerina e Luiz Fernando Zanin Oricchio (meu marido) estavam de ternos escuros. Simone Zucollotto estava com um vestido preto, lindíssimo, mas o trio inteiro de preto foi demais!!! Por que Simone não vestiu rosa, salmão, laranja ou vermelho, para quebrar a monotonia do preto em fundo escuro??? Me expliquem!!!!
Tudo era azul-TV ou preto. Para nós, telespectadores, é um sofrimento. NINGUÉM via ninguém na plateia. Só os vultos fantasmagóricos de Barretão, Lucy, Daniel Filho, Carla Camurati… Gente, se as Academias se inspiram no OSCAR, têm que aprender a iluminar como os norte-americanos. O público quer ver quem está na plateia, se ela for mostrada.
Para agravar, as atrizes resolveram ir todas de… PRETO: Leandra Leal, Deborah Secco (grávida de seis meses), Bianca Comparato… Somadas aos ternos dos homens, pareciam estar todos num velório. E com fundo azul-TV, aquele fantasmagórico. Até a trinca do Canal Brasil entrou em clima de velório: Roger Lerina e Luiz Fernando Zanin Oricchio (meu marido) estavam de ternos escuros. Simone Zucollotto estava com um vestido preto, lindíssimo, mas o trio inteiro de preto foi demais!!! Por que Simone não vestiu rosa, salmão, laranja ou vermelho, para quebrar a monotonia do preto em fundo escuro??? Me expliquem!!!!
Com a palavra, as boas casas funerárias do ramo. E, claro, o Ivan Sugahara, diretor conceituado de teatro, encarregado da cerimônia.
5º Round
Para compensar o calor dos infernos: o ar condicionado do Odeon funcionava, e o champanhe (antes e depois da cerimônia) estava bem gelado.
6º Round
Por falar em Ivan Sugahara: é a segunda vez que ele é chamado pela Academia Brasileira de Cinema para dirigir o evento. E foi ótima a ideia de esquetes em torno do homenageado do ano, Roberto Farias - mais especificamente, a partir de Roberto Carlos em ritmo de aventura (1968).
Claro, Marcelo Faria, recém-desencarnado de Lobão, - não confundir com Lo(bo)bão (o roqueiro que atualmente anda com um cérebro de camarão...): é o vilão da última (e ótima - parabéns pelo ótimo texto, Paulo Halm e Rosane Svartman) temporada de Malhação - fazia o tio, e Paulo Tiefenthaler, uma versão bem humorada de José Lewgoy (1920-2003), o vilão favorito (mas nem sempre) de nosso cinema (versão que Rô Caetano não gostou - lamento discordar de ti, Rô...). Mesmo com a luz fantasmagórica e sepulcral, foi bem melhor do que a quermesse cheia de empáfia daquela cerimônia daquele prêmio... qual mesmo? Ah, sim, o "bonequinho viado"...
7º Round
O que nos leva ao mais
importante: quem levou o Otello (vou chamar o troféu assim, tipo #ficaadica:
Troféu Grande Otello é grande, e GPCB - como já disse antes - além de maior
ainda, parece nome de páreo...).
Bom ver que o
cariococentrismo e o "globofilmismo" - isto é, a ênfase no cinema
dito "comercial" de 2012 - ficou lá em 2012. Cortesia das indicações
dos membros da Academia Brasileira de Cinema, que preferiram uma certa
qualidade técnica e artística, além da comercial, claro. Claro, ficou meio
incômodo ver a Gullane levar os principais Otellos, com O lobo atrás da porta (ficção) e Brincante (documentário). Mas fazer o quê, se os
filmes tinham qualidade técnica? Além disso, ver a Gullane levar os principais
Otellos para casa é bem menos incômodo do que ter a possibilidade de ver a
Gullane influenciando as políticas futuras da Agência Nacional de Cinema
(Ancine). Pelo menos, foi sobre isso que o Intervozes botou a boca no trombone, ao nos informar que uma das sócias da produtora, Débora Ivanov, é candidata a uma das cadeiras da sua diretoria colegiada.
Mas voltemos ao Otello.
O
"globofilmismo" esteve presente com Getúlio, de João Jardim, e Os
homens são de Marte… é pra lá que eu vou, a versão cinematográfica de Marcus Baldini para o monólogo...
digamos... casadoiro de Mônica Martelli. Mas, ao contrário de 2012, tais filmes
não levaram sacos de troféus para casa. Quando muito, possibilitou o quase
inesperado empate para melhor ator, entre um inesperadamente tímido Babu Santana
(quando foi receber o seu
Otello, claro...), por Tim Maia, e um Tony Ramos extremamente generoso com seus colegas atores, por
Getúlio.
Desta
vez, não nos arriscamos a fazer previsões a respeito de vencedores. Só nos
limitamos a torcer por Praia do futuro , de Karim Ainöuz – que só levou um mísero
troféu de Ator Coadjuvante – e Hoje eu quero voltar sozinho. Bom saber
que o respeitável público também ficou tocado pelo filme de Daniel Ribeiro,
pois ficou com um dos prêmios do júri popular, o de Melhor Filme de Ficção. O
outro – o de Melhor Filme Documentário pelo voto popular, para Dominguinhos – também foi merecido.
Assim como o Prêmio do júri da Academia para Brincante – o doc de Walter Carvalho sobre o trabalho de Antônio
Nóbrega.
Mas a noite
foi mesmo de O lobo atrás da porta: melhor longa de ficção, direção, atriz, atriz
coadjuvante, fotografia, roteiro original, montagem... Nada mal para o primeiro
longa de Fernando Coimbra, que evoca, ainda que mui distante, a tragédia asfixiante
de Porto das caixas (1962), de Paulo
Cesar Saraceni.
Análise da luta
Otello, aka
GPCB, se saiu bem nos três últimos rounds, mas perdeu pontos preciosos nos
quatro primeiros e foi derrotado. Melhor sorte no próximo ano. E, claro, na
próxima peleja pelo reconhecimento que tanto quer.
**********
VENCEDORES DO OTELLO (Grande Prêmio do Cinema Brasileiro é o cacete!) 2015
MELHOR LONGA-METRAGEM DE
FICÇÃO - O lobo atras da porta de
Fernando Coimbra. Produção: Caio Gullane, Fabiano Gullane, Debora Ivanov e
Gabriel Lacerda por Gullane e Rodrigo Castellar e Pablo Torrecillas por TC
Filmes.
MELHOR LONGA-METRAGEM
DOCUMENTÁRIO – Brincante de Walter Carvalho.
Produção: Caio Gullane, Fabiano Gullane e Debora Ivanov por Gullane.
MELHOR DIREÇÃO - Fernando
Coimbra por O
lobo atrás da porta.
MELHOR ATRIZ - Leandra
Leal (Rosa) por O lobo atrás da porta.
MELHOR ATOR – empate: Babu Santana (Tim Maia - 2º
fase), por Tim Maia; e Tony
Ramos (Getúlio Vargas) por Getúlio.
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
- Thalita Carauta (Betty) por O lobo atrás da porta.
MELHOR ATOR COADJUVANTE
- Jesuíta Barbosa (Ayrton) por Praia do futuro.
MELHOR DIREÇÃO DE
FOTOGRAFIA - Lula Carvalho por O lobo atrás da porta.
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE -
Tiago Marques por Getúlio.
MELHOR FIGURINO - Kika
Lopes, por Trinta.
MELHOR MAQUIAGEM - Martín
Macias Trujillo por Getúlio.
MELHOR EFEITO VISUAL - Adam
Rowland por Trash – a esperança vem do lixo.
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
- Fernando Coimbra por O
lobo atrás da porta.
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
- Jorge Furtado e Pedro Furtado por Boa sorte (adaptado
do conto "Frontal com Fanta" de Jorge Furtado).
MELHOR MONTAGEM FICÇÃO -
Karen Akerman por O
lobo atrás da porta.
MELHOR MONTAGEM
DOCUMENTÁRIO - Pedro Bronz por A Farra
do Circo.
MELHOR SOM - George
Saldanha, François Wolf e Armando Torres Jr, por Tim
Maia.
MELHOR TRILHA SONORA - Berna
Ceppas e Mauro Lima, por Tim
Maia.
MELHOR TRILHA SONORA
ORIGINAL - ANDRÉ ABUJAMRA, por Trinta.
MELHOR LONGA-METRAGEM
COMÉDIA - Os homens são de Marte… é pra lá que eu vou, de Marcus Baldini -
Produção: Bianca Villar, Fernando Fraiha e Karen Castanho por Biônica Filmes.
MELHOR LONGA METRAGEM
ANIMAÇÃO e MELHOR LONGA METRAGEM INFANTIL - O menino e o mundo, de
Alê Abreu. Produção: Fernanda Carvalho e Tita Tessler por
Filme de Papel.
MELHOR CURTA-METRAGEM
FICÇÃO - O caminhão do meu pai, de Maurício Osaki.
MELHOR CURTA-METRAGEM
DOCUMENTÁRIO - Efeito Casimiro, de Clarice Saliby.
MELHOR CURTA-METRAGEM
ANIMAÇÃO - A pequena vendedora de fósforo, de Kyoko Yamashita.
MELHOR LONGA-METRAGEM
ESTRANGEIRO - Relatos selvagens (Relatos selvajes - ficção - Argentina), de Damián
Szifron. Distribuição: Warner Bros.
VOTO POPULAR:
MELHOR LONGA-METRAGEM DE
FICÇÃO - Hoje eu quero voltar sozinho, de
Daniel Ribeiro. Produção: Daniel Ribeiro e Diana Almeida por Lacuna Filmes.
MELHOR LONGA-METRAGEM
DOCUMENTÁRIO - Dominguinhos, de Eduardo Nazarian, Joaquim Castro e Mariana Aydar.
MELHOR LONGA-METRAGEM
ESTRANGEIRO - Boyhood – Da infância a juventude.
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