12 maio, 2017

COMBATENDO O BOM COMBATE 2017

Nota sobre a retirada de filmes da programação do Cine PE 2017
10 de maio de 2017
Decidimos tornar pública a decisão, conjunta, de retirar nossas obras da seleção do XXI Cine PE Festival Audiovisual, a ser realizado entre os dia 23 e 29 de maio de 2017, na cidade de Recife. Apenas no dia 08 de maio, através de veículos de imprensa, tomamos conhecimento da grade completa dos filmes que foram selecionados para o festival.
Constatamos que a escolha de alguns filmes para esta edição favorece um discurso partidário alinhado à direita conservadora e grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao Estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016. Para nós, isso deixa claro o posicionamento desta edição, ao o qual não queremos estar atrelados.
Reconhecemos a importância do Cine PE Festival Audiovisual, do qual muitos de nós já participaram em edições anteriores. Esperamos poder participar de edições futuras e mais conscientes, condizentes com sua grandeza histórica e relevância para a formação de público do cinema brasileiro.
Assinam os representantes dos filmes abaixo listados:
Abissal – Ceará
A Menina Só – Santa Catarina
Baunilha – Pernambuco
Iluminadas – Pernambuco
Não me Prometa Nada – Rio de Janeiro
O silêncio da Noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras – Pernambuco
Vênus – Filó a fadinha lésbica – Minas Gerais

Para entender uma parte do imbroglio, sugiro a leitura do texto de Marcelo Lyra, originalmente publicado em seu Facebook e republicado neste blog.
Agora, pra quem acha que a atitude dos realizadores dos filmes acima citados foi censura, duas coisas:
1- Censura foi a canetada do então presidente José Sarney, proibindo Je vous Salue Marie, de Godard, a pedido da Igreja, que não viu o filme e não gostou. Censura foi Cesar Maia (o psicopata que, quando prefeito do Rio de Janeiro, deixou que centenas de pessoas morreram durante um surto de dengue sem mover uma palha - afinal, para ele, "não havia surto de dengue"...) - entrar na justiça solicitando a proibição da exibição de A Serbian Film em todo o território nacional - mais uma vez, sem ver o filme. Censura foi o cornel Menezes Cortes baixar portaria proibindo Rio, 40 graus (1956), de Nelson Pereira dos Santos - mais uma vez, sem ver o filme.
"Ah, mas eles não viram o filme sobre o Olavo de Carvalho!". Sim, não viram. Mas não exigiram que ele saísse da seleção do Cine PE. Preferiram retirar seus filmes - afinal, como realizadores, eles tem todo o direito de inscrever seus filmes no evento que quiserem, e retirá-los de tais eventos quando quiserem e acharem bem conveniente.
(Foi decisão deles não querer que seus filmes não convivessem com um filme sobre um filósofo que, quando o governo (?) Temer decidiu extinguir o Ministério da Cultura, foi um dos que aplaudiu a medida chamando os artistas de "vagabundos". Você gostaria de conviver com um filme sobre um "filósofo" que os despreza?)
2- O que me lembra de um fato recente, em que Chico Buarque foi chamado de "censor". Dias depois que o programa Roda viva (TV Cultura - SP) exibiu uma entrevista chapa branca com o presidente (SIC) Michel Temer (aliás, chapa branca até demais da conta... nunca pensei viver pra ver Ricardo Noblat pagar o maior pau pro Temer...), Chico Buarque retirou a autorização para que o programa utilizasse sua canção Roda viva (1968) como música tema.
Ah, o que choveu de coxinha acusando o Chico de "censura" (logo o chico, que sofreu com a censura do regime militar)...
Só que:
a) não havia nenhuma autorização escrita e assinada para a utilização da canção Roda viva como tema do programa idem. Havia, isso sim, uma autorização verbal, mediada por um velho amigo de Chico, o "Baixo" Fernando Faro, criador do programa Ensaio. Só que Faro morreu em abril de 2016, e sem ele (e logo depois do vergonhoso Roda viva - o programa - chapa branca), não havia mais razão para manter a autorização verbal;
b) afinal, a Lei nº 9.610/1998que trata de direitos autorais, estava do lado de Chico - além, claro, do art. 5º da Constituição Federal: "aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar". Ponto.

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