Lá no início dos anos 1980 – mais especificamente,
na presidência do general João Batista Figueiredo (1979-1985) – como parte do
processo de abertura política lenta e gradual iniciado na presidência do quase
prussiano Ernesto Geisel (1974 a 1979),
criou-se um Conselho Superior de Censura, que seria a última instância da
censura. Quando foi informado desta "democrática" medida, Millôr Fernandes (1923-2012)
– que já enfrentou a censura do regime militar desde os tempos de sua revista Pif-Paf – não perdoou: “Se esse Conselho
é de Censura, não pode ser superior”.
Aí, os gentis leitores me perguntarão: o que isso
tem a ver com as calças? Não perdem por esperar.
No último dia 29 de janeiro, o superintendente da
Fundação de Artes de Niterói (FAN), Victor de Wolf, reuniu-se com professores e
estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF), mais o respeitável público
de Niterói interessado na área de cultura (incluindo este escriba que vos fala)
no Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF. Neste encontro, Victor de
Wolf explicou a todos os presentes os motivos pelos quais a Secretaria
Municipal de Cultura vai fazer, do zero, um novo edital de concessão do Centro
Petrobras de Cultura (o anterior da era Jorge Roberto Silveira – vulgo Jorginho-lalau-Pinochet-municipal,
como o movimento dos estudantes secundaristas da cidade o chamava... – com mais
furos do que queijo suíço, foi rejeitado, por orientação da Procuradoria Geral
do Município): a falta de planejamento do projeto, o alto custo de manutenção e
a falta de recursos da prefeitura para acabar e equipar as salas de cinema (obras
orçadas em R$ 12 milhões).
Para quem não é de Niterói ou voltou de Marte ontem
depois de 30 anos residindo no planeta vermelho: o Centro Petrobras de Cinema
nasceu em 2004 como Museu Petrobras de Cinema, já que sediaria um museu
dedicado ao cinema brasileiro, mais salas de cinema, salas de processamento de
dados, centro de documentação, biblioteca praça de alimentação e lojas. (Outras versões
incluiriam também abrigar a sede da Academia Brasileira de Cinema – vítima... digo, tema de post anterior do blog desta implacável revista - e receberia eventos, inclusive festivais de cinema.) A UFF
está envolvida neste projeto porque, tendo um dos cursos de cinema mais
tradicionais do país, faz parte de seu conselho gestor. E se chama Centro (ou
Museu) Petrobras de Cinema porque a petrolífera gostou da ideia e investiu uma
grana e tanto – um pouco mais da metade do dinheiro gasto até agora na obra. A
ideia era terminar a obra em 12 meses, a um preço bem menor do que os R$ 24 milhões
gastos até hoje. Isso teria sido feito se... digamos... outros “valores” mais “altos”
(ou “baixos”, se preferirem) não se alevantassem... (Por conta desses “valores”,
hoje a Petrobras quer distância, como se o prédio fosse aquilo que o gato
enterra...)
Mas a ideia do encontro era justamente dialogar com
a UFF, para que ela também apresentasse propostas para o edital.
E propostas apareceram. Não deu para anotar tudo,
mas vão aí algumas:
- Concessão de uma das salas de cinema para a UFF,
a ser programada por ela;
- Espaço para o Museu
do Cinema onde estava planejado, no último andar do “rolo de filme” do prédio,
e onde a prefeitura, agora, pretende conceder para um restaurante panorâmico. (Aliás,
como são engraçadas certas pessoas da cidade: ficam com essa obsessão de que Niterói
deve ter um “restaurante panorâmico”, mas não movem uma palha – ou um centavo
do próprio bolso – para concretizar essa ideia...)
- Ampliação do conselho gestor do Centro Petrobras
de Cinema, incluindo, além da prefeitura e da UFF, representantes da sociedade
civil;
- Levar para o prédio do Centro Petrobras de Cinema
um centro de preservação digital e o Núcleo de Produção Digital (NPD), da
própria prefeitura;
- Tentar a linha de crédito do BNDES e/ou o Fundo
Setorial do Audiovisual (FSA) da Agência Nacional de Cinema (Ancine),
destinados a salas de cinema; e
- Fatiar o edital em vários editais: um para as
salas de cinema, outro para as lojas, outro para o restaurante; ou
- Editais somente para as lojas e para o
restaurante, mantendo as salas sob controle da FAN, revertendo os alugueis das
lojas e do restaurante para a manutenção (e, por que não, para
equipar das salas de cinema) do Centro Petrobras de Cinema.
Agora, se a sociedade quer pluralidade cultural –
especialmente no cinema, se já estiver cansada do cinemão cultural – não pode
deixar o assunto do Centro Petrobras de Cinema de lado e DEVE PARTICIPAR DA
AUDIÊNCIA PÚBLICA.
Especialmente porque, por mais que queiram o
diálogo com a sociedade sobre este assunto, o destino do Centro Petrobras de
Cinema, infelizmente, não depende só da Secretaria de Cultura de Niterói e a FAN.
Se eu esqueci de dizer, digo agora: ainda que seja
um aparelho cultural da Secretaria de Cultura de Niterói e a FAN, o Centro
Petrobras de Cinema integra o chamado Caminho Niemeyer.
E este tem o chamado Grupo Executivo do Caminho
Niemeyer, cujo presidente equivale a um secretário de governo.
E
vários executivos deste Grupo Executivo – inclusive seu atual presidente,useiro e vezeiro, entra prefeito e sai prefeito, em ficar encravado no governo municipal igual pentelho na virilha (vejam sobre quem estou falando aqui) – buscam, além de terminar este maldito
caminho, grandes oportunidades de ajudar bons e pios megaempresários... e se
ajudar também.
Sobre
a primeira: nada contra, desde que a sociedade não pague o pato. O problema é
que os ínclitos executivos deste Grupo Executivo não ligam a mínima para o
segundo objetivo, desde que possam concretizar o primeiro objetivo.
Já basta o dinheiro roub... ops... quer dizer, mal gasto durante essa longa obra de igreja chamada Centro Petrobras de Cinema.
O que me lembra a seguinte historinha (juro que é real).
Há poucos anos atrás, um distinto cidadão lusitano veio morar no prédio onde moro.
Até então, as administrações anteriores de ínclitos vizinhos no importante cargo de síndico tinham três características básicas:
1- Quando assumiam o cargo, sempre decidiam fazer uma obra no prédio. (Se era importante ou não, pouco importava.)
2- Quando faziam a obra sempre cobravam uma cota extra no condomínio para custear a obra.
3- Uma vez terminava a obra e o mandato, o ínclito vizinho deixava o cargo de síndico com a conta bancária... digamos... um pouco mais robusta...
A coisa mudou quando aquele distinto cidadão lusitano foi eleito síndico do prédio.
Como sói acontecer, o lusitano também fez uma obra no prédio. Desta vez, importante, para acabar com as goteiras na garagem. Mas, estranhamente, desta vez não cobrou cota extra no condomínio.
Depois, fez uma obra de embelezamento na portaria. E, mais uma vez, não cobrou cota extra.
Um dia, curiosos, dois ex-síndicos do prédio se encontraram com o distinto cidadão lusitano na portaria do prédio. Conversa vai, conversa vem (futebol, mulher, política, os - assuntos - suspeitos de sempre), um deles perguntou ao português como é que ele conseguia fazer tanta obra no prédio sem aumentar o condomínio.
O português deu uma de José Nêumanne Pinto (é, aquele ilustre jornalista que adoooooora o Lula e o PT...) e foi direto ao assunto:
- Ora, é muito simples... é só parar de roubaire!
A conversa acabou ali: um dos ex-síndicos tinha de ir para casa, que a mulher estava esperando, o outro tinha de ir na padaria... um tossindo, o outro pigarreando...
(Para registro: foi no segundo ou terceiro mandato do distinto cidadão lusitano que ele contratou uma administradora de imóveis, para administrar as contas do prédio. Daí em diante, nenhum síndico saiu com a conta bancária mais robusta. Por que será?)
Houvessem seguido a lógica do distinto cidadão lusitano, e o Centro Petrobras de Cinema já estaria pronto e funcionando, por um valor menor do que os R$ 24 milhões supostamente gastos na obra, não é?
E este Centro semipronto não estaria sendo alvo da "brilhante ideia" que corre nos corredores deste Grupo Executivo: entregar o Centro Petrobras de Cinema para um grupo empresarial imobiliário, especializado em administrar shoppings, transformando-o num “shopping cultural”.
Já basta o dinheiro roub... ops... quer dizer, mal gasto durante essa longa obra de igreja chamada Centro Petrobras de Cinema.
O que me lembra a seguinte historinha (juro que é real).
Há poucos anos atrás, um distinto cidadão lusitano veio morar no prédio onde moro.
Até então, as administrações anteriores de ínclitos vizinhos no importante cargo de síndico tinham três características básicas:
1- Quando assumiam o cargo, sempre decidiam fazer uma obra no prédio. (Se era importante ou não, pouco importava.)
2- Quando faziam a obra sempre cobravam uma cota extra no condomínio para custear a obra.
3- Uma vez terminava a obra e o mandato, o ínclito vizinho deixava o cargo de síndico com a conta bancária... digamos... um pouco mais robusta...
A coisa mudou quando aquele distinto cidadão lusitano foi eleito síndico do prédio.
Como sói acontecer, o lusitano também fez uma obra no prédio. Desta vez, importante, para acabar com as goteiras na garagem. Mas, estranhamente, desta vez não cobrou cota extra no condomínio.
Depois, fez uma obra de embelezamento na portaria. E, mais uma vez, não cobrou cota extra.
Um dia, curiosos, dois ex-síndicos do prédio se encontraram com o distinto cidadão lusitano na portaria do prédio. Conversa vai, conversa vem (futebol, mulher, política, os - assuntos - suspeitos de sempre), um deles perguntou ao português como é que ele conseguia fazer tanta obra no prédio sem aumentar o condomínio.
O português deu uma de José Nêumanne Pinto (é, aquele ilustre jornalista que adoooooora o Lula e o PT...) e foi direto ao assunto:
- Ora, é muito simples... é só parar de roubaire!
A conversa acabou ali: um dos ex-síndicos tinha de ir para casa, que a mulher estava esperando, o outro tinha de ir na padaria... um tossindo, o outro pigarreando...
(Para registro: foi no segundo ou terceiro mandato do distinto cidadão lusitano que ele contratou uma administradora de imóveis, para administrar as contas do prédio. Daí em diante, nenhum síndico saiu com a conta bancária mais robusta. Por que será?)
Houvessem seguido a lógica do distinto cidadão lusitano, e o Centro Petrobras de Cinema já estaria pronto e funcionando, por um valor menor do que os R$ 24 milhões supostamente gastos na obra, não é?
E este Centro semipronto não estaria sendo alvo da "brilhante ideia" que corre nos corredores deste Grupo Executivo: entregar o Centro Petrobras de Cinema para um grupo empresarial imobiliário, especializado em administrar shoppings, transformando-o num “shopping cultural”.
Certo, se o novo prefeito, Rodrigo Neves, nomeou os ínclitos executivos deste Grupo Executivo do Caminho Niemeyer, é porque achou necessário. Mas vamos e venhamos: foi um erro crasso desta nova administração nomear cobras criadas, quase imortais (sabe como é, entra governo e sai governo...) e gulosas. E suficientemente espertos para levar a erro o poder executivo municipal em benefício próprio. O Excelentíssimo sr. prefeito vai sair bem chamuscado.
Certo, a prefeitura pode não ter os recursos necessários para terminar e abrir o Centro Petrobras de Cinema. Mas bem que esta planilha pode perfeitamente ser reexaminada - ao menos, para ver se realmente são necessários R$ 12 milhões para terminá-lo e abri-lo para a cidade.
Certo, não existe almoço grátis. Mas, se prevalecer a mercantil (no pior sentido da palavra) ideia dos ínclitos executivos do Grupo Executivo do Caminho Niemeyer, todos nós, contribuintes municipais e federais, vamos pagar o almoço, o jantar, a ceia, o lanchinho, o quarto de motel, as luxuosas garotas de programa (ou garotos, sei lá qual a orientação sexual dos ínclitos executivos deste Grupo Executivo do Caminho Niemeyer...) e as camisinhas de meia dúzia de três ou quatro pessoas - o(s) acionista(s) majoritário(s) do grupo empresarial e os ínclitos executivos deste Grupo Executivo do Caminho Niemeyer (incluindo seu presidente) - cuja conta bancária já é suficientemente gorda para bancar por si só estas módicas despesas.
Ou, como diria um amigo meu, extremamente franco:
- O pior que vai ser mediante um acordo com a sociedade, chamado “acordo pau no (*)”: a sociedade entra com o (*), os ilustres executivos do Grupo Executivo entram com o pau, e o grupo empresarial fica com o orgasmo...
(Eu disse que era de uma franqueza rara...)
Isso é justo?
Aliás, dizem que, ao saber disso, Millôr Fernandes baixou num centro espírita para dar o seguinte recado: “Shopping cultural? Putz, se é shopping, não pode ser cultural!”
Certo, não existe almoço grátis. Mas, se prevalecer a mercantil (no pior sentido da palavra) ideia dos ínclitos executivos do Grupo Executivo do Caminho Niemeyer, todos nós, contribuintes municipais e federais, vamos pagar o almoço, o jantar, a ceia, o lanchinho, o quarto de motel, as luxuosas garotas de programa (ou garotos, sei lá qual a orientação sexual dos ínclitos executivos deste Grupo Executivo do Caminho Niemeyer...) e as camisinhas de meia dúzia de três ou quatro pessoas - o(s) acionista(s) majoritário(s) do grupo empresarial e os ínclitos executivos deste Grupo Executivo do Caminho Niemeyer (incluindo seu presidente) - cuja conta bancária já é suficientemente gorda para bancar por si só estas módicas despesas.
Ou, como diria um amigo meu, extremamente franco:
- O pior que vai ser mediante um acordo com a sociedade, chamado “acordo pau no (*)”: a sociedade entra com o (*), os ilustres executivos do Grupo Executivo entram com o pau, e o grupo empresarial fica com o orgasmo...
(Eu disse que era de uma franqueza rara...)
Isso é justo?
Aliás, dizem que, ao saber disso, Millôr Fernandes baixou num centro espírita para dar o seguinte recado: “Shopping cultural? Putz, se é shopping, não pode ser cultural!”
Em tempo: as fotos do Centro Petrobras de Cinema que ilustram este post não são as que foram tiradas por Victor de Wolf e estudantes de cinema da UFF, que visitaram o Centro Petrobras de Cinema na semana anterior, e exibidas no encontro com a comunidade da UFF no IACS. Estas foram extraídas de reportagem no JB On Line. Mas não são muito diferentes das outras fotos
Excelente post.
ResponderExcluirNão conhecia a estória desse elefante branco de Niterói...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA população precisa tomar esse prédio em suas mãos. Precisa assinar (19 mil assinaturas) um PLIP (projeto de lei de iniciativa popular) para tramitar e buscar aprovação de lei Municipal que determine que a população, através de um amplo conselho formado pela sociedade civil organizada, vai administrar e organizar o espaço de acordo com sua vontade, e sem qualquer interferência.
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