10 novembro, 2014

CURTAS, MAS NÃO TÃO GROSSAS...

1- E o juiz João Carlos de Souza Correa, hein?
Para quem não está ligando o nome à pessoa, é o juiz que se acha deus (assim mesmo, sr. revisor, "deus" em minúscula, para não confundir com o outro, em maiúscula – obrigado), que processou a agente de trânsito Luciana Tamburini, só porque ela ousou para-lo em uma operação da Lei Seca. O fato do meretríssimo (assim mesmo, sr. revisor – obrigado) estar dirigindo um carro Land-Rover sem placas, sem documentos e sem carteira de habilitação – isto é, desobedecendo diversas leis de trânsito – pare ele, era um mero detalhe. Ruim mesmo, para o meretríssimo juiz, era o abuso daquerla tal de Luciana. Onde já se viu, parar um "deus" (assim mesmo, sr. revisor, em minúscula e entre aspas – obrigado) como se fosse um comum mortal?
A 36ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro – que também deve ser composta por "deuses" – concordou com meretríssimo juiz. O desembargador José Carlos Paes – outro "deus" – também concordou. E Luciana, que cometeu o terrível crime de, simplesmente, cumprir seu dever de agente de trânsito, foi condenada a pagar a "ninharia" de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) de indenização por (não vale rir!) "danos morais" ao "deus" de toga.
O problema que os "deuses" protetores da carteirada e do "sabe-com-quem-está-falando" não esperavam era que os comuns mortais não ficassem conformados com isso. Como disse Cláudia Wallin, em um artigo para o Diário do Centro do Mundo, chamado O que aconteceria na Suécia com o juiz parado numa blitz no Rio?:

No Brasil, o êxito da "divina vaquinha", a campanha virtual organizada com a hashtag #juiznaoehdeus# a fim de coletar doações para o pagamento da multa imposta à agente do Detran, é um recado claro de que a sociedade está mais atenta aos seus direitos: ao lidar com o cidadão, a autoridade pública também precisa saber com quem está falando.

Ou seja, o pessoal já tá de saco cheio do "sabe-com-quem-está-falando", seja de políticos – que podem ser mandados para casa na próxima eleição (ou antes, via impeachment ou demissão) – seja de "deuses" de toga.
Quer dizer. O pessoal tá p... da vida. Menos uma pessoa: Alice Tamborindeguy, ex-deputada estadual... e ex-esposa do "deus" de toga em questão. Palavras dela (mais uma vez: não vale rir!):

"Não me dirigi a ela na ocasião, mas achei ela muito abusada e arrogante. Foi deboche. Ela parecia a “rainha da Lei Seca’’. Tem que cumprir a lei, mas sem destratar as pessoas. Se ela faz isso com um juiz, o que dirá com cidadão comum?

Vamos ver se entendemos, dona Alice. Seu ex-marido dirige um carro sem placas, sem documentos e sem a carteira de habilitação – isto é, desrespeitando o Código de Trânsito (uma lei!); depois, usa e abusa da carteirada e da autoridade, destratando e mandando prender uma agente de trânsito que, simplesmente estava cumprindo o seu dever... e é ela que é a abusada, dona Alice?
Depois não entende porque tem perdido as últimas eleições que disputou. Na última, tentou novamente ser deputada estadual, e obteve uma votação supimpa: 297 votos.
Isso, aliás, me lembra uma das eleições que essa senhora disputou. Mais especificamente, a primeira vez que concorreu à prefeitura de São Gonçalo, então pelo PSDB, em 1996. Já não estava indo muito bem, porque era candidata pelo partido do governador Marcello Alencar (aquela altura conhecido como "Família vende tudo" – será que ele inspirou o título do filme de Alain Fresnot?). Pois ela ainda se sai com esta pérola, dita para seus assessores (que vazou para o respeitável público eleitor): disse que estava preocupada porque São Gonçalo "era tão pobre que não tinha nem mesmo Mc Donalds"...
Quer dizer: com tantos problemas na época (e ainda hoje: a cidade cresceu, mas sua administração não acompanhou...) com água, esgoto e calçamento, o que mais preocupava a esposa do "deus" era a falta de um Mc Donalds em São Gonçalo. Isso numa época em que o eleitor levava muito a sério candidatos que se preocupavam com água, esgoto, calçamento etc.
Claro, perdeu aquela eleição feio.
(Aliás, a eleição de 2012 para prefeito de São Gonçalo também: não passou do 1º turno, com 15.494 votos.)
Por isso é que o eleitor de são Gonçalo imita aquele ilustre economista inglês (cujo nome não me lembro no momento) e, a cada eleição, diz à dona Alice: Go to the put a keep are you. (assim mesmo, sr. revisor, em inglês vulgar – obrigado)
Pano rápido.

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2- E prossegue a bolsa de apostas político-cultural, para ver quem será o próximo ministro da Cultura do segundo governo Dilma Rousseff, já que Marta "Relaxa e Goza" Suplicy está de saída do cargo. A classe artística – especialmente quem é ligado á preservação audiovisual, depois da crise artificial criada pela ministra dentro da Cinemateca Brasileira – e a moda – irritada pela concessão de lei Rouanet a desfiles de moda de estilistas conhecidos em Paris (em detrimento da Coopa-Roca, da Daspu e de novos estilistas) – penhorada, deseja à sra. futura ex-ministra uma boa viagem de volta ao Senado – só de ida.
O favorito de onze entre dez fazedores de atividades culturais é o ex-ministro Juca Ferreira, claro. Mas sempre tem gente jogando outros nomes ao ar, como pérolas aos porcos.
Agora, lá vem mais um nome para a bolsa de apostas: o compositor e cantor Chico César. Pelo menos, segundo notinha da coluna Gente Boa, d' O Grobo (assim mesmo, sr. revisor -  obrigado):

A ala do PT que em 2010 defendeu o nome de Ana de Hollanda no Ministério da Cultura levou para o Planalto a indicação de um novo ministro para a pasta, que, segundo eles, seria um consenso no setor: o cantor e compositor Chico César, atual secretário de Cultura da Paraíba.

Sobre esta novidade, que conste dos autos: adoro o cantor e compositor Chico César.
Mas não sei nada a respeito do gestor cultural Chico César.
Daí, seria importante saber como é a gestão de Chico César como secretário de Cultura da Paraíba.
Porque, como diz a notinha:
"A ala do PT que em 2010 defendeu o nome de Ana de Hollanda no Ministério da Cultura levou para o Planalto a indicação de um novo ministro para a pasta, que, segundo eles, seria um consenso no setor: o cantor e compositor Chico César, atual secretário de Cultura da Paraíba."
Repetindo (aos berros): A ALA DO PT QUE INDICOU PARA O MinC DONA ANA AUTISTA DE AMSTERDAM DE HOLLANDA.
Nem preciso lembrar a todos os retrocessos, os conflitos, as minimizações por parte desta ministra e seus asseclas (como Antônio Grassi, sua vingativa eminência parda) de reivindicações legítimas da classe cultural... enfim, a m... que deu.

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3- E, finalmente, saiu o resultado da licitação referente ao Centro Petrobras de Cinema. Mas este resultado, mais os acordos espúrios do presidente do Grupo Executivo do Caminho Niemeyer – eterno dono de algo em Niterói que (segundo ele próprio disse a testemunha confiável) não existe: a cultura – com um professor facilmente subornável (embora não o parecesse...) e um grupo minúsculo de audiovisual, ligado a um personagem apelidado (em homenagem a um personagem do filme Tropa de elite) de "Zero-Dois", para ignorar decisões da III Conferência Municipal de Cultura (disponíveis em seu relatório final) referente ao "rolo de filme" do mesmo Centro Petrobras de Cinema – especialmente um Centro Digital de Preservação Audiovisual (leiam os itens 14 e 28 do EIXO 2: Produção e Diversidades Culturais (NACIONAL: Produção Simbólica e Diversidade Cultural); e os itens 4 e 24 do 7.15 Grupo Setorial: CINEMA, VÍDEO E CULTURA DIGITAL – no relatório final da III Conferência) – eu comentarei com mais calma em outra ocasião.
(Minto. Falta fazer uma pergunta: o que adianta a sociedade civil fazer e participar de uma Conferência Municipal de Cultura, discutindo e aprovando propostas, se elas são solenemente ignoradas pelo poder público, que prefere ouvir somente o eterno dono da cultura de Niterói?)

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4- Finalmente: custou, mas estreia hoje, 10 de novembro, a 18ª edição do Festival Brasileiro de Cinema Universitário. Estão todos convidados.


07 novembro, 2014

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XXXVII)

E, de repente, o grande assunto de nossa ilustre grande imprensa passou a ser um "casamento" entre duas mulheres.
Assim mesmo, sr. revisor, porque não é um casamento comum, de papel passado e tudo (direito, aliás, que os fiscais de fiofó alheios se esforçam para negar a casais do mesmo sexo, mas isso é outro assunto), obrigado.
O casamento a que nos referimos é o de duas ilustres hóspedes do sistema prisional brasileiro: Suzane von Richthofen e Sandra Regina Ruiz Gomes, mais conhecida como Sandrão. O que nos causa mais espécie é o destaque que órgãos como a Folha de S. Paulo, o Último Segundo, do iG e mesmo o G1, do Globo.com, deram ao caso.
Para quem voltou de Marte ontem, depois de 50 anos de residência no planeta, vamos aos personagens e detalhes desta história.
Suzane von Richthofen cumpre 39 anos de cadeia, como mentora do assassinato de seus pais – o engenheiro Manfred Albert von Richthofen e a psiquiatra Marísia von Richthofen – e está na cadeia há uns 12 anos. Neste período, a moça se tornou evangélica – inclusive morando na ala das evangélicas da prisão – e se tornou vítima de um boato que seria engraçadíssimo se não fosse de mau gosto: o de que seria nomeada para a presidência da Comissão daSeguridade Social e Família, por influência do pastor-depufede... digo, pastor-deputadoMarco (In)Feliciano – boato que, por increça que parível, muita gente levou a sério sem sequer botar o Tico e o Teco do cérebro para funcionar um pouquinho.
A história de Sandrão mostra que ela também égente muito fina. Em outubro de 2003 – quando ainda era conhecida como Galega – participou do sequestro de Talisson Vinicius da Silva Castro, de 14 anos, em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo) com três homens. O pedido de resgate foi de R$ 40 mil, mas acabou reduzido para R$ 3.000. Quando a família efetuou o pagamento, o menino já estava morto com um tiro na cabeça. Para a polícia, o bando nunca teve a intenção de devolvê-lo com vida até porque ele conhecia os criminosos – o rapaz era vizinho de Sandra. Resultado: Sandrão foi condenada a 27 anos de prisão. A pena posteriormente foi reduzida a 24 anos.
Sandrão também é uma moça muito meiga e calma (atenção, turma que não usa o Tico e o Teco: isso é uma IRONIA...). "Hospedada" no centro de ressocialização de São José dos Campos, Sandrão encestou um agente penitenciário em fevereiro de 2011. Por esta "gentileza", ganhou mais uns três meses e 15 dias de detenção. No mesmo mês, foi transferida para a penitenciária de Tremembé.
O resto da história passa a ter detalhes de novela mexicana (ou, como prefere a turma do Tico e Teco sem funcionar, de filme erótico). Sandrão conheceu Elize Matsunaga – que está presa desde junho de 2012, quando matou e esquartejou Marcos Kitano Matsunaga, que, segundo a própria Elize, a humilhava com amantes e ameaças. (Eu até acredito nisso, mas, claro, nem por isso justifica) – as duas se "casaram" na cadeia e viviam felizes. Até a hora em que Suzane cruzou o caminho das duas.
(Antes de continuar, preciso explicar a quem ainda tem paciência de ler isso porque estou usando as palavras "casamento", "casaram", "casadas" sempre entre aspas. É que, basicamente, não é uma união civil passada em cartório – válida desde a decisão do Supremo Tribunal Federal, que substituiu o corpo mole de Suas Excelências, os deputados e senadores, para votar uma lei específica para tal – mas um documento de reconhecimento afetivo, válido somente para o sistema penitenciário de São Paulo. Com ele, presas que mantém relacionamentos amorosos podem viver numa ala da penitenciária de Tremembé, destinada a presas "casadas", que tem uma relação firme. Muderno esse sistema penitenciário paulista, não?)
Voltando a Suzane. Em agosto de 2014, Suzane foi beneficiada com a progressão da pena, do regime fechado para o regime semiaberto – isto é, com o direito de trabalhar durante o dia e dormir na prisão. A princípio, Suzane iria trabalhar como auxiliar no escritório de seu advogado de defesa, Denivaldo Barni. Só que, menos de uma semana depois, Suzane entrou com pedido à justiça para permanecer em regime fechado, lá mesmo na Penitenciária de Tremembé. Entre as alegações, está o temor de ser hostilizada em outro presídio – que já aconteceu quando se encontrava presa no Carandiru – e que necessita do salário que recebe por seu trabalho na oficina de confecção de roupas da penitenciária.
Quando Suzane anunciou seu "casamento" com Sandrão, todos – inclusive a justiça, presumo – entenderam por que.
A única coisa que eu acho chata nesta história é que Elize e Sandrão acabaram se separando por causa de Suzane, e a pobre Elize Matsunaga ficou a ver navios...
Como podem ver, não tenho nenhuma grande simpatia por Suzane e Sandrão, e tenho um pouquinho de simpatia por Elize Matsunaga. Mas não é por causa de minhas simpatias ou antipatias que estou escrevendo este texto. E não é só porque o escarcéu da chamada grande mídia em torno deste assunto já está enchendo o saco.
As três estão presas. Duas estão cumprindo pena por seus crimes, e a terceira aguarda julgamento.
E desde que paguem por seus crimes, as três tem o direito de viver como bem queiram entender.
Então (pausa para o berro internético), POR QUE CARGAS D'ÁGUA A IMPRENSA ESTÁ DANDO UMA DE FISCAL DO FIOFÓ ALHEIO PARA CIMA DELAS?
Bem, o nome Cesare Lombroso lhes diz alguma coisa?
Para quem voltou de Marte ontem etc., etc.: Cesare Lombroso (1835 - 1909) – psiquiatra, cirurgião, higienista, criminologista, antropólogo e cientista italiano – desenvolveu a teoria de que o criminoso é vítima principalmente de influências atávicas, isso é, uma regressão hereditária a estágios mais primitivos da evolução, justificando sua tese com base nos estudos científicos de Charles Darwin. Uma de suas conclusões é possibilitar a equivalência do criminoso a um doente que não pode responder por seus atos por lhe faltarem forças para lutar contra os ímpetos naturais.
Traduzindo em português ainda mais claro: foi ele que definiu em suas pesquisas que o crime é hereditário.
Algumas de suas teorias são citadas neste artigo:

Para começar, os criminosos seriam mais altos que a média (e isso significava 1,69m na Veneza e 1,70 na Inglaterra), teriam crânios menores que os dos homens “normais” e maiores do que os crânios dos “loucos”, além de uma aparência desagradável, mas não deformada, sendo que estupradores e sodomitas teriam feições feminilizadas.
Outras características comuns seriam orelhas de abano, nariz adunco, queixo protuberante,  maxilar largo, maçãs do rosto proeminentes, barba rala, cabelos revoltos, caninos bem desenvolvidos (olha só uma prerrogativa para vampiros aí), cabelos e olhos escuros. Ladrões teriam olhar esquivo, já os assassinos um olhar firme e vidrado. Seriam ainda especialmente insensíveis à dor.
Socialmente, criminosos teriam preferência por tatuagens o que provaria sua insensibilidade à dor. Os locais preferidos para tatuagens em geral (não necessariamente entre criminosos) seriam os ombros, o peito (marinheiros) a parte interna do braço e os dedos (mineiros). Criminosos teriam tatuagens nas costas ou nos genitais, muitas vezes denotando uma gangue ou imagens obscenas. Criminosos seriam ainda infantis, empáticos e extremamente vaidosos (a ponto de facilitar o trabalho de seus perseguidores) e um senso de moral extremamente apurado. Suas paixões exacerbadas que levariam a reações desproporcionais e criminosas às ações mais triviais. Isso sem contar seu interesse antinatural pelo mórbido.
Entre as mulheres, o que denotaria o potencial criminoso seria uma certa masculinidade nos traços e na voz, causados por um excesso de pelos corporais, verrugas, cordas vocais grossas com relação à laringe, mamilos pequenos ou muito grandes e mesmo sua forma de escrever. As mulheres criminosas seriam em geral mais cruéis que os homens, e possuiriam vitalidade, reflexos e força incomuns.
A leitura deste texto é revoltante não só por seus conteúdos, mas também pela apresentação falaciosa de dados e números. Lombroso parte de um modelo dedutivo e faz conclusões extrapolando em muito o significado dos números que ele mesmo apresenta. Mas a fisiognomia não era exclusividade deste autor. Ele cita diversos estudiosos em seu artigo que corroboram sua tese e alguns deles usam dados ainda menos precisos que os apresentados pelo italiano.

Isso lhe parece preconceituoso, caro leitor? Não, você não está errado: é preconceituoso mesmo. Tanto que a ciência criminológica moderna não lhes dá muito valor hoje em dia. Mas ainda tem gente (essa mesma cujo Tico e o Teco não funciona direito) que ainda lhes dá crédito.
Pior: como o crime é uma circunstância natural por ser de caráter primariamente hereditário, porém inaceitável socialmente, Lombroso era favorável à pena de morte e prisão perpétua. (Ver "As mais recentes descobertas e aplicações da psiquiatria e antropologia criminal" de 1893).
Pior ainda, repetindo um trecho do artigo (e é isso que nos interessa nesta séria série):

(...) estupradores e sodomitas teriam feições feminilizadas.

Para quem não sabe o que é isso, breve consulta a um pai dos burros:

Sodomia
s.f. Relação sexual anal entre pessoas do sexo masculino ou entre um homem e uma mulher.
(Etm. do latim: sodomia)

E para quem ainda não percebeu (por falta de uso do Tico e do Teco): Lombroso atuou na Europa do século XIX. E nesta época – com a honrosa exceção da França, graças ao Código Napoleônico, especialmente durante a Terceira República (1870 a 1940) – a homossexualidade – chamada de sodomia – era crime nos códigos penais europeus.
Relembrando: ainda tem gente que leva a sério as teorias preconceituosas de Lombroso, como se fossem as tábuas da lei.
Daí, o resultado desta equação simples:

Escarcéu da imprensa sobre o "casamento" de Suzane com Sandrão + Resquícios da teoria-preconceito lombrosiana na cabeça da turma do Tico e Teco com defeito + Homossexualidade chamada de sodomia = PRECONCEITO A SER USADO CONTRA O POVO LGBT.

Lembram do patrono desta séria série e de certos pastores, como Marco (IN)Feliciano, Silas Mala-Sem-Alça-Faia et caterva, relacionando a homossexualidade à pedofilia? Pois é.
Alguém já viu, por exemplo, alguns filmes brasileiros, produzidos na chamada Boca do Lixo? Se me permitem o cabotinismo, citei alguns em um artigo que escrevi há algum tempo para osite de cinema Cinequanon, sobre apresença das personagens lésbicas no cinema, onde falei de alguns estereótipos negativos em relação às lésbicas. O pior deles foi a lésbica criminosa – a filha putativa do casamento entre o lombrosianismo e a pior psicanálise de botequim, que decreta peremptoriamente o lesbianismo como uma característica determinante para levar certas mulheres ao crime. Alguns exemplos desta "inteligente" teoria aplicados ao Cinema brasileiro, citados em A personagem homossexual no Cinema brasileiro, de Antônio Moreno (Rio de Janeiro / Niterói, Funarte / EDUFF, 2001):

- Em A gata devassa (Rafaele Rossi, 1974), as duas únicas personagens lésbicas são ligadas à cúpula de uma organização criminosa internacional.
- Em Um corpo de mulher (Hércules Breseghelo, 1979), a polícia investiga uma série de assassinatos de modelos que trabalharam para um fotógrafo, que se torna o principal suspeito... até que se descobre quem foi: a irmã do fotógrafo, uma (já adivinhou?) lésbica.
- Isso sem nos esquecermos do ambiente presidiário e afins: tanto o presídio feminino de As depravadas (Geraldo Miranda, 1977) – de onde um grupo de presas foge e barbariza geral –, quanto o reformatório feminino de Internato de meninas virgens (Osvaldo de Oliveira, 1977) não são apenas escolas de criminalidade, mas de "depravação"...

Então, imaginem. E se o Tico e o Teco com defeito de várias pessoas que ainda levam Lombroso a sério confunde estas obras de ficção com a realidade?

Daí, alguns conselhos de amigo:
1- Suzane e Sandrão não estão na cadeia, cumprindo suas penas? Então deixa elas quietas e não encha o saco, porra...
2- Antes que alguém use este "casamento" entre Suzane e Sandrão para, mais uma vez, relacionar homossexualidade com criminalidade, seria interessante que fosse seguido um conselho dado pela Revista de antropofagia, "1ª dentição", em seu editorial do nº 3, de julho de 1928:

"Daí o melhor é por a carniça num tanque de creolina e recambiá-la para a Europa. Com a seguinte mensagem: 'Preferimos sardinha'. Que marca vocês querem? Amieux, Philippe & Canaud ou aquela de saudosa memória D. Pero Fernandes, inexplicavelmente desaparecida do mercado desde 1556?"

(Para ser honesto: na verdade, a carniça a qual eles se referem é a filosofia positivista. Mas serve também para a carniça preconceituosa lombrosiana.)

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E já que o crime foi o mote para este texto desta séria série, vai aí mais uma indicação minha, que já foi lançado nos cinemas brasileiros, mas merece ser visto de novo: Versos de um crime (Kill your darlings - EUA, 2013), de John Krokidas.
Na verdade, o filme tem duas razões para ser visto.
Uma é pela curiosidade de muitos fãs da série Harry Potter: foi o primeiro grande papel adulto de Daniel Radcliffe depois que ele deixou definitivamente de ser aquele simpático bruxinho da Escócia. E ele pega justamente um papel suculento: Allen Ginsberg (1926 - 1997) – um dos grandes nomes da geração beat – quando jovem.
O que nos leva ao segundo fato, histórico-cultural: o filme trata justamente do encontro entre os três nomes mais importantes desta geração beat: Ginsberg, Jack Kerouac (1922 - 1969) e William Burroughs (1914 - 1997)infelizmente, em torno de um crime.
A historinha: em 1944, Allen Ginsberg sai da casa dos pais rumo à universidade, precisando lidar com o sentimento de culpa por ter deixado sua mãe, Naomi (Jennifer Jason Leigh), que tem problemas psicológicos. Seu sonho é tornar-se um escritor, mas logo sente-se incomodado pelo modelo "certinho" de poesia que o curso ensina. Não demora muito para que ele conheça Lucien Carr (Dane DeHaan), um jovem provocador que apresenta Allen ao mundo da contracultura – e, por tabela, a Jack Kerouac (Jack Huston – que, aliás, não nega a herança artística, já que seu avô paterno é o cineasta John Huston – 1906-1987) e William Burroughs (Ben Foster).
Logo nasce uma grande amizade entre os dois, que se torna algo mais quando Allen passa a sentir atração por Lucien. O problema é que já havia alguém apaixonado por Lucien: um professor chamado David Kammerer (Michael C. Hall – sim, ele mesmo, o serial killer "do bem" Dexter, da série homônima, e também ator da série Six feet under / A sete palmos).
O que acontece depois? Bem, sugiro que você assista o filme quando for lançado em DVD ou Blu-Ray. Por ora, fique com o trailer.



13 outubro, 2014

O FLA-FLU DA DISPUTA ELEITORAL (E O QUE TEM O AUDIOVISUAL BRASILEIRO COM ISSO)

 


Pode-se dizer o que quiser a respeito da atual política audiovisual do governo do PT. A ação da Ancine - especialmente através de seus PRODECINEs (Produção de obras cinematográficas de longa-metragem - Linha A; Produção de obras cinematográficas de longa-metragem, via distribuidora - Linha C; Comercialização  de obras cinematográficas de longa-metragem - Linha D; Complementação à produção de obras cinematográficas de longa-metragem; e Projetos de produção de longa-metragens com propostas de linguagem inovadora e relevância artística)
PRODAVs (Produção de obras audiovisuais destinadas ao mercado da televisão - Linha B; Produção de conteúdos em projetos de programação; Núcleos Criativos; Laboratórios de Desenvolvimento; e Desenvolvimento de Projetos) - pode ser criticada por sua opção pelas grandes produtoras estabelecidas no mercado, enquanto fecha a porta para quem entra agora. Fora os fatos de: não estimular muito os novos cineastas e a inovação (só recentemente apareceu uma linha do PRODAV para propostas de linguagem inovadora, que ainda não deu grandes frutos) e não enfrentar o problema de pífia reserva de mercado para o cinema brasileiro.
Por outro lado, temos agora a lei 12485, que diz o seguinte em seu Art. 16:  "Nos canais de espaço qualificado, no mínimo 3h30 (três horas e trinta minutos) semanais dos conteúdos veiculados no horário nobre deverão ser brasileiros e integrar espaço qualificado, e metade deverá ser produzida por produtora brasileira independente." Isso, é inegável, está estimulando o fortalecimento dos canais de TV por assinatura totalmente voltados para produção brasileira (Canal Brasil, CineBrasil TV etc.) e da produção independente para todos os canais (inclusive os estrangeiros instalados aqui). No entanto, continuam problemas como: pouco espaço para a produção independente brasileira (uma reserva de mercado ás avessas de 3h30min); a prioridade para as grandes produtoras já estabelecidas há séculos no mercado brasileiro (novas produtoras parecem que estão fora); e os critérios obscuros para estabelecer quais os canais de TV podem ser classificados e aprovados pela Ancine como canais Brasileiros de Espaço Qualificado: por que o SESC TV - que tem 100% de produção brasileira (e destes, 90 a 99% de produções independentes) - não foi qualificado pela Ancine como tal?
Ainda assim, com todos estes problemas e críticas, a política audiovisual que temos é muita coisa, perto do que pode vir caso o PSDB volte ao poder. Tudo depende de qual dos partidos da coligação (PSDB e DEMO) vai predominar na elaboração de sua política cultural. (E nem adianta contar com o que está escrito no programa de governo de Aécio Neves, porque é uma coleção de promessas vagas e platitudes, sem nada de concreto.)
Se forem os çábios do PSDB (assim mesmo, sr. revisor, com c cedilha - obrigado), o resultado serão algumas migalhas para os grandes e mais antigos produtores, para que se conformem em ficar com um espaço no audiovisual minúsculo, em contraste com o atual. 
E claro, novos cineastas e produtores (se me perdoarem o termo chulo) sifu.
Se forem os çábios do DEMO, nem isso: adeptos do mantra "o livre mercado resolve tudo sozinho" - o que, por si só, já traz, na mesma frase, duas mentiras: um mercado completamente livre não existe, com tantos grupos econômicos formando carteis; e se este tal de mercado resolve os problemas sozinho... bem, não haveria a crise econômica que atormenta o mundo desde 2008, não é? (E nem a crise de 1929, certo?) - o que todos nós, do audiovisual brasileiro, teremos é um sifu amplo, geral e irrestrito. 
Não custa nada lembrar que, na área da TV paga, o DEMO é contra a lei 12485, tanto que entrou com ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra ela no Supremo Tribunal Federal.  Isso sem falarmos na "inteligente" argumentação de um de seus ínclitos próceres - o então senador (e hoje crítico especializado em cinema pornô) Demóstenes Torres, em artigo para a Folha de S. Paulo. Sem a licença deste íntimo colaborador do ínclito empresário Carlinhos Cachoeira, um dos trechos mais instigantes, que mostra o seu grande conhecimento do cinema brasileiro passado e atual: "Filmes, só os nacionais não realizados por emissoras. Veta o Brasileirão, aprova as Brasileirinhas." (Para quem voltou de Marte ontem, depois de meio século de residência no planeta: "Brasileirinhas" é um selo brasileiro de vídeos pornôs. Daí, a suposta nova profissão do ex-senador, depois que perdeu seu mandato.)
Isso sem esquecermos da colaboração dos çábios do DEMO - então chamado PFL - à política de "mercado livre" (SIC) no audiovisual brasileiro, durante o governo daquelle caçador de maracujás, e de seu "cineasno" secretário de Cultura... lembram dos "estimulantes" resultados desta política para o cinema brasileiro?
Daí, mesmo os críticos da atual política audiovisual são obrigados a concordar: ruim com o governo atual, pior com um governo demo-tucano.
Pensem nisso na hora de votar.

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Para os cariocas e fluminenses, pensem também em uma coisa para o segundo turno para o governo do RJ: qual número vão criar para votar nulo no dia 26 de outubro? Votar no candidato da situação é votar no grupo do chefe do PNGB (Partido Nazista-Guardanapista Brasileiro), o führer Serge von Cabral. Votar no candidato que foi para o segundo turno é arriscar-se a ter uma experiência piloto no RJ de como seria uma República Teocrático-Evangelica Brasileira.
Páreo duro.
Alguém em SP, MG, RS ou qualquer outro estado da federação teria um emprego para um roteirista e crítico de cinema que não quer viver num estado assim? Ofertas de trabalho para o email deste escriba.

09 outubro, 2014

HUGO CARVANA (1937-2014)

 
 

Agora está mais do que provado: o câncer, além de ser uma doença filha-da-puta (e desde já, mil desculpas por ser assim, tão explícito), é estranhamente seletiva. Ao invés de levar aparelhos excretores falantes, besteiraros e energúmenos "ungidos por Deus" (que já deve estar de saco cheio), prefere levar os bons.
Hugo Carvana era um destes bons.
Aliás, quem leu a sinopse de Apolônio Brasil, o campeão da alegria (2003) sem ver o filme, poderia pensar que era uma autobiografia do próprio Hugo Carvana. Isso apesar de papeis sérios e tristes que também fez no cinema: um dos soldados de Os fuzis (1962), de Ruy Guerra; o jornalista depressivo de Terra em transe (1967); e o delegado covarde de O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969), ambos de Glauber Rocha.
Mas Hugo Carvana era mesmo o campeão da alegria (e da malandragem bem carioca) no cinema. Sim, Apolônio Brasil, o campeão da alegria e outros filmes que vieram depois, como Casa da Mãe Joana (2008) e Não se preocupe, nada vai dar certo (2011) são ótimos. Mas para o gosto deste crítico mala-sem-alça-sem-rodinha-de-papelão-cheia-de-pedra-no-meio-da-chuva que vos fala, as obras primas do cineasta Hugo Carvana são três: Vai trabalhar vagabundo (1973), Se segura, malandro! (1978) e Bar Esperança, o último que fecha (1982) – que eu proponho que sejam englobados numa "Trilogia malandro-boêmia carioca". Como todo filme de ficção, com o passar do tempo, acaba se tornando documentário (© Jurandyr Noronha), esta trilogia documenta para as futuras gerações o que foi a persona do carioca autêntico, pouco a pouco sufocada por especulações (inclusive) imobiliárias, fanatismos religiosos e outros animais ferozes.
Adeus, Hugo Carvana. E bom chope com São Pedro.

FILMOGRAFIA

DIREÇÃO

1973 - VAI TRABALHAR, VAGABUNDO Vai Trabalhar, Vagabundo
1978 - SE SEGURA, MALANDRO!
1982 - BAR ESPERANÇA, O ÚLTIMO QUE FECHA
1991 - VAI TRABALHAR VAGABUNDO II - A VOLTA
1997 - O HOMEM NU
2003 - APOLÔNIO BRASIL, CAMPEÃO DA ALEGRIA
2008 - CASA DA MÃE JOANA
2011 - NÃO SE PREOCUPE, NADA VAI DAR CERTO!
2013 - CASA DA MÃE JOANA 2

PRODUÇÃO

1971 - CAPITÃO BANDEIRA CONTRA O DR. MOURA BRASIL, direção de Antônio Calmon
1978 - SE SEGURA MALANDRO
1982 - BAR ESPERANÇA
1991 - VAI TRABALHAR VAGABUNDO II, A VOLTA
1996 - O HOMEM NU
2001 - APOLÔNIO BRASIL, CAMPEÃO DA ALEGRIA
2003 - CASA DA MÃE JOANA

ROTEIRO

1961 COPACABANA ZERO HORA (colaborando com Duilio Mastroiani)
1970 QUANDO O CARNAVAL CHEGAR (colaborando com Carlos Diegues)
1973 VAI TRABALHAR VAGABUNDO
1982 BAR ESPERANÇA
2001 APOLONIO BRASIL, CAMPEÃO DA ALEGRIA

ATOR

1955 TRABALHOU BEM GENIVAL, direção de Lulu de Barros
1955 SINFONIA CARIOCA, direção de Watson Macedo
1955 GUERRA AO SAMBA, direção de Carlos Manga
1955 CARNAVAL EM MARTE, direção de Watson Macedo
1956 GENIVAL É DE MORTE, direção de Aloísio de Carvalho
1956 O FEIJÃO É NOSSO, direção de Victor de Lima
1956 DEPOIS EU CONTO, direção de Watson Macedo
1957 TUDO É MÚSICA, direção de Lulu de Barros
1957 TEM BOI NA LINHA, direção de Aloísio de Carvalho
1957 RIO FANTASIA, direção de Watson Macedo
1957 RICO RI A TOA, direção de Roberto Farias
1957 METIDO À BACANA, direção de J. B. Tanko
1957 BARONESA TRANSVIADA, direção de Watson Macedo
1957 GAROTAS E SAMBA, direção de Carlos Manga
1958 É DE CHUÁ, direção de Victor de Lima
1958 CONTRABANDO, direção de Eduardo Lhoronte
1958 ALEGRIA DE VIVER, direção de Watson Macedo
1958 AGUENTE O ROJÃO, direção de Watson Macedo
1958 A GRANDE VEDETE, direção de Watson Macedo
1959 PÉ NA TÁBUA, direção de Victor de Lima
1961 COPACABANA ZERO HORA, direção de Duílio Mastroiani
1961 ESSE RIO QUE EU AMO, direção de Carlos Hugo Christensen
1962 OS CAFAJESTES, direção de Ruy Guerra
1962 O ANJO, direção de Silvio Autuori
1963 OS FUZIS, direção de Ruy Guerra
1965 O DESAFIO, direção de Paulo Cesar Sarraceni
1965 A FALECIDA, direção de Leon Hirszman
1965 CRIME DE AMOR, direção de Rex Endsleigh
1966 A GRANDE CIDADE, direção de Carlos Diegues
1967 O ENGANO, direção de Mário Fiorani
1967 MAR CORRENTE, direção de Luiz Paulino
1967 TERRA EM TRANSE, direção de Glauber Rocha
1968 COMO VAI, VAI BEM? , direção de Alberto Salvá
1968 O CANCER, direção de Glauber Rocha
1968 JARDIM DE GUERRA, direção de Neville de Almeida
1968 O BRAVO GUERREIRO, direção de Gustavo Dahl
1968 A VIDA PROVISÓRIA, direção de Maurício Gomes Leite
1968 O HOMEM QUE COMPROU O MUNDO, direção de Eduardo Coutinho
1968 ANTES O VERÃO, direção de Gerson Tavares
1968 TATU BOLA, direção de Gianni Amico / Joel Barcelos
1969 O ANJO NASCEU, direção de Julio Bressane
1969 O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO, direção de Glauber Rocha
1969 OS HERDEIROS, direção de Carlos Diegues
1969 MACUNAÍMA, direção de Joaquim Pedro de Andrade
1969 A MÁSCARA DA TRAIÇÃO, direção de Roberto Pires
1969 O HOMEM E SUA JAULA – Fernando Coni Campos
1969 TEMPO DE VIOLÊNCIA, direção de Hugo Kusnet
1969 PEDRO DIABO AMA ROSA MEIA-NOITE, direção de Miguel Faria
1970 O LEÃO DE SETE CABEÇAS, direção de Gláuber Rocha
1970 PINDORAMA, direção de Arnaldo Jabor
1971 CAPITÃO BANDEIRA CONTRA O DR. MOURA BRASIL, direção de Antônio Calmon
1972 AMOR, CARNAVAL E SONHO, direção de Paulo Cesar Saraceni
1972 PROCURA-SE UMA VIRGEM, direção de Paulo Gil Soares
1972 QUANDO O CARNAVAL CHEGAR, direção de Carlos Diegues – "Lourival"
1972 TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA, direção de Arnaldo Jabor
1973 TATI A GAROTA, direção de Bruno Barreto
1973 VAI TRABALHAR VAGABUNDO, direção de Hugo Carvana – "Dino"
1974 IPANEMA ADEUS, direção de Paulo Martins
1975 A NUDEZ DE ALESSANDRA, direção de Pierre Kast
1976 A QUEDA, direção de Ruy Guerra
1977 GORDOS E MAGROS, direção de Mário Carneiro
1977 MAR DE ROSAS, direção de Ana Carolina
1977 TENDA DOS MILAGRES, direção de Nelson Pereira dos Santos
1978 ANCHIETA, JOSÉ DO BRASIL, direção de Paulo Cesar Sarraceni
1978 SE SEGURA MALANDRO, direção de Hugo Carvana – "Paulo Otávio"
1979 ESCRAVOS DE JÓ, direção de Lael Rodrigues
1982 BAR ESPERANÇA, direção de Hugo Carvana
1983 ÁGUIA NA CABEÇA, direção de Paulo Thiago
1984 BETE BALANÇO, direção de Lael Rodrigues – "Tony"
1985 AVAETÉ, A SEMENTE DA VINGANÇA, direção de Zelito Viana
1987 LEILA DINIZ, direção de Luiz Carlos Lacerda – "Clyde"
1990 BOCA DE OURO, direção de Walter Avancini – "Caveirinha"
1991 VAI TRABALHAR VAGABUNDO II, A VOLTA, direção de Hugo Carvana – "Dino"
1991 ASSIM NA TELA COMO NO CÉU, direção de Ricardo Miranda
1996 O HOMEM NU, direção de Hugo Carvana – "Motorista de táxi"
1998 HAPPY HOUR, direção de Dodô Brandão
1999 MAUÁ – O IMPERADOR E O REI, direção de Sérgio Resende – "Queiroz"
2000 O CABEÇA DE COPACABANA (curta-metragem) – Rosane Swartman
2000 SONHOS TROPICAIS, direção de André Sturm – "Macedo"
2002 DEUS É BRASILEIRO, direção de Cacá Diegues
2002 A BREVE HISTÓRIA DE CÂNDIDO SAMPAIO (curta-metragem), direção de Pedro Carvana
2003 APOLONIO BRASIL, CAMPEÃO DA ALEGRIA, direção de Hugo Carvana – "Mendigo"
2004 ACHADOS E PERDIDOS, direção de de José Jofilly – "Juiz"
2005 O MAIOR AMOR DO MUNDO, direção de Cacá Diegues – "Salvador"
2005 MAIS UMA VEZ AMOR, direção de Rosane Swartman – "Dr. Alvarez"
2008 CASA DA MÃE JOANA, direção de Hugo Carvana – "Salomão"
2010 HISTÓRIAS DE AMOR DURAM 90 MINUTOS, direção de Paulo Halm
2010 5x FAVELA, direção de Manaira Carneiro & Wavá Novais
2011 NÃO SE PREOCUPE, NADA VAI DAR CERTO!, direção de Hugo Carvana
2013 GIOVANNI IMPROTTA, direção de José Wilker – "Cantagallo"

03 outubro, 2014

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XXXVI)

Caro Sr. Levy Fidelix:

Até este domingo, 28 de setembro de 2014, o senhor era mais um folclórico e simpático eterno candidato a presidente da república brasileira.
Depois deste dia, passou a ser – se Deus e o eleitorado brasileiro assim o quiserem – apenas um eterno candidato a presidente da república brasileira. Porque o senhor não merece sequer a honra de pleitear este cargo.
Não pelo que o senhor disse neste dia, no debate entre os candidatos à presidência, realizado (aliás, muito mal e porcamente) pela Record, ao responder uma questão feita pela candidata do PSol Luciana Genro.



Tenho 62 anos, pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho, e digo mais, mas aparelho excretor não reproduz. Não podemos jamais deixar que tenhamos esses que aí estão, fazer escorando essa minoria a maioria do povo brasileiro. Eu como pai, avô, que tem vergonha na cara, ensinar os seus filhos e netos. Eu vi agora o Papa expurgar o padre pedófilo. Então, eu lamento, que façam bom proveito, mas como presidente, eu jamais vou estimular essa prática. Você já imaginou se começarmos a estimular isso aí, vamos reduzir a população brasileira pela metade. Vamos enfrentar esse problema. Essas pessoas que têm esses problemas que sejam atendidos por ajudas psicológicas.

Não, não é por isso – embora seja extremamente ofensivo e estúpido.
É pelo fato de descobrirmos, com esta sua fala ofensiva, que, aos 62 anos, o senhor envelheceu, mas não amadureceu.
(Certo, o Rei Lear também envelheceu, mas não amadureceu. Mas o senhor não é um personagem de Shakespeare. E nem tem a grandeza deste.)
Ou, como diria alguém em um anúncio de TV: "Sabe de nada, inocente!"
Por isso, espero que senhor não se ofenda, mas preciso lhe dizer algumas coisas que talvez, por ingrinorança, o senhor também não saiba.
Como diria Jack, o Estripador, vamos por partes:

1- Casamento (ou união sob qualquer outra forma, mesmo sem papel assinado) não foi feito só para procriação: foi feito, principalmente, para unir duas pessoas que, a certa altura deste campeonato chamado Vida, não querem percorrê-la uma sem a outra – tanto faz se são um homem + uma mulher, ou dois homens, ou duas mulheres. (É o que podemos chamar, poeticamente, de "almas gêmeas".)
Só para ficarmos nos casais heterossexuais: uma mulher não escolhe o homem com quem vai casar só por sua capacidade reprodutiva: ela quer também quer alguém que tenha afinidades comuns ou complementares – tipo assim, este exemplo mais ou menos mequetrefe: uma moça gostou de um rapaz porque ele é ator de teatro, e ela adora teatro; e o rapaz gostou da moça porque ela adora Shakespeare.
Se apenas a procriação fosse mais importante do que outra coisa, nem precisaria haver a instituição do casamento: bastaria fazer como fazem os criadores de gado: o "homem reprodutor" até a "mulher-matriz-reprodutora", e os dois fazem o que a turma do saudoso Pasquim chamava de gip-gip-nheco-nheco; ao fim de nove meses, os bezerros... digo, os bebês nasciam e cada um ia para seu lado – ela, ele e o(s) bebê(s).

2- Aliás, pensando bem, parece que isso é o que está acontecendo: homens e mulheres estão descobrindo (ou não se deram conta?) de que não precisam casar para procriar. Taí o grande número de mães solteiras (e, às vezes, pais solteiros) que não me deixa mentir. Será que mães e/ou pais solteiros não são uma família?

3- (Essa, juro, é imbecil, mas vamos lá.) Também por isso, sr. Fidelix, a população brasileira não se reduzirá à metade por conta da homossexualidade, porque sempre haverão milhares de "dois diferentes" (um homem + uma mulher) que vão gerar filhos, casando ou não.

4- Aliás, sabia que é grande o número de crianças geradas por (segundo seu linguajar, sr. Fidelix) "dois diferentes" (um homem + uma mulher) e abandonadas por eles, por não quererem assumir a responsabilidade de criar e educar uma nova vida que geraram?
Pois é.
E tais crianças acabam sendo adotadas, educadas e amadas por outros casais – sejam casais de "dois diferentes", sejam casais de "dois iguais", isto é, casais LGBT.


E, neste caso, não há nenhuma diferença se o casal que adota, educa e ama esta criança seja hetero (de "dois diferentes"), ou gay. Pesquisas científicas respeitáveis mostram:

- que pais gays e/ou mães lésbicas podem ser pais e mães tão bons quanto pais heterossexuais – às vezes,até melhores;
- que filhos criados por pais gays e/ou mães lésbicas não sofrem prejuízos psicológicos;
que filhos criados por pais gays e/ou mães lésbicas não sofrem abusos sexuais (ideia cretina disseminada até hoje por líderes evangelicuzinhos): O estigma de perversão, sustentado também por líderes religiosos, mantém a crença sobre o "perigo" que as crianças correm quando criadas por gays. Até hoje, as pesquisas ainda não encontraram nenhuma relação entre homossexualidade e abusos sexuais. Nenhum dos adolescentes do National Longitudinal Lesbian Family Study reportou abuso sexual ou físico. Outra pesquisa, realizada por três pediatras americanas, avaliou o caso de 269 crianças abusadas sexualmente. Apenas dois agressores eram homossexuais. A Associação de Psiquiatria Americana ainda esclarece: "Homens homossexuais não tendem a abusar mais sexualmente de crianças do que homens heterossexuais". (O grifo. sr. Fidelix, é meu.)
- o que equivale a dizer, finalmente, que filhos criados por pais gays e/ou mães lésbicas NÃO SETORNAM GAYS OU LÉSBICAS POR INFLUÊNCIA DELESAs psicólogas [Helena D'Azevedo Marques e Miriam Debieux Rosa] garantem que uma criança criada por dois homens ou duas mulheres não será, necessariamente, homossexual. "Homossexualidade não é um espelho. É a orientação do desejo. Não é porque os dois são homossexuais que a criança vai virar homossexual”, diz Helena.
Aliás, a personalidade de uma pessoa, da infância até a idade adulta, não se forma apenas pela sua interação com sua família, mas também pela sua interação com a sociedade, conforme expliquei em outro post para uma beócia que é deputada estadual no Rio de Janeiro.



(Aliás 2, a missão - um conselho, sr. Fidelix. Se ler em algum lugar algum outro estudo falando o contrário do que lhe apresentei, verifique, em primeiro lugar, se quem escreve tal estudo é gospel e/ou de extrema direita. Eles se baseiam mais em preconceitos do que em argumentos baseados na ciência.)

4- E já que supunhetamos no assunto (© Aldir Blanc), vamos falar de pedofilia.
Primeiro, vamos pedir socorro ao Aurélio.
A palavra pedofilia vem do grego παιδοφιλια (paidophilia) onde παις (pais, "criança") e φιλια (philia, "amizade", "afinidade", "amor", "afeição", "atração", "atração ou afinidade patológica" ou "tendência patológica").
Agora que nos entendemos a respeito disso, repito o que já disse à deputada estadual beócia:

- Não só meninos são vítimas de ataques pedófilos: meninas também. (Lembra-se daquele pedreiro de Olinda – PE, que engravidou a própria enteada de 9 anos?
Se isso ainda lhe causa dúvidas, dê uma olhada nesta gravura de Martin Van Maele  (1863 - 1926)desenhista francês especializado em ilustrações eróticas, para seu livro La Grande Danse macabre des vifs (1905):


(Repare bem, sr. Fidelix, no cavalheiro que está... como direi para não ser vulgar?... animado com a criança que lê um livro sentada em seu colo. Este cavalheiro lhe parece gay? E a criança? Parece-lhe um menino ou uma menina?)
O problema atual, quando se fala de pedofilia, é que preferem generalizar apenas os casos em que o homem adulto predador e a criança vítima são do mesmo sexo (adulto X menino). Isso pode ser chamado de dois nomes. Um chama-se IGNORÂNCIA. O outro chama-se MAUCARATISMO para os homossexuais. (No seu caso, sr. Fidelix, prefiro achar que seja a primeira opção – embora hajam fortes suspeitas de que seja a segunda.)
O pior é que quando os ataques pedófilos envolvem... segundo seu linguajar peculiar... "dois diferentes" (predador adulto X menina), tem gente que não considera isso como pedofilia – especialmente os imbecis que, mesmo achando grave, passam a mão e na cabeça deles, por achar, no fundo, que são uma “prova” de sua “virilidade” (SIC) – mesmo quando os predadores são parentes – pai e filha, tio e sobrinha, avô e neta.

(O que me leva a lhe perguntar, sr. Fidelix: o senhor está entre os que acham isso?)
- Nenhum pedófilo – pelo menos, os que foram presos pela polícia – se declarou homossexual. E por uma razão muito simples: o pedófilo não se assume publicamente como nada – nem mesmo como pedófilo. Na verdade, ao invés de se assumir como alguma coisa, o pedófilo prefere se esconder. De preferência, atrás de uma boa máscara respeitável, como a do parentesco: boa parte dos casos de ataques pedófilos ocorre entre parentes – pai e filho (a), tio e sobrinho (a), avô e neto (a) etc. (Nem preciso lembrá-lo daquele episódio do pedreiro de Olinda – PE, que engravidou a própria enteada de 9 anos, que resultou em uma das mais idiotas atitudes de uma autoridade da Igreja Católica, o então arcebispo de Olinda e Recife, d. José “Fogueira-da-Inquisição” Cardoso Sobrinho, que preferiu excomungar os médicos que foram obrigados a fazer o aborto na menina  e que tinham de fazê-lo, senão a menina e os bebês gêmeos que esperava morreriam caso a gravidez fosse adiante mas não excomungou o padrasto pedófilo que a engravidou: "Dom José reconhece que seu crime foi grave. Mas afirma que o direito canônico não prevê excomunhão para o criminoso."). Ou então em alguma função que inspire certa confiança entre os pais e crianças: professor, médico pediatra (lembra-se do dr. Eugênio Chipkevitch?), pastor evangélico, padre etc.
(Claro, não vamos generalizar em nenhuma destas ocasiões, certo? Os pedófilos encontrados nestas áreas são as exceções de uma regra de profissionais bons e éticos. Mas já pensou se algum de seus ilustres companheiros do seu partido, o PRTB, for um pedófilo, disfarçado? Melhor abrir o olho, para não dizer depois que a cigana lhes enganou.)
Donde a relação pedofilia = homossexualidade, além de falsa e errônea, é bem canalha. Menos para os homófobos, é claro.
- Então o que causa o surgimento de um pedófilo? Freud explica (e se Freud não explicar o suficiente, Jung, Hélio Pellegrino ou qualquer outro psicanalista competente poderá fazê-lo): a pedofilia é uma falha na construção da personalidade e da identidade sexual de uma pessoa em algum momento de sua formação, seja na infância, seja na adolescência, que faz com que seu impulso sexual se fixe nas crianças e adolescentes. (Claro, dizem que certa e antiga tradição de casamentos com menores – inclusive casamentos forçados – ajudou muito.) 

- Quem se assume como homossexual – para si mesmo e publicamente – é porque está absolutamente seguro a respeito de sua sexualidade. Logo, para que vai usar ardis para buscar um parceiro sexual entre os que não podem se defender (meninos ou meninas)?
Logo, não é melhor homossexuais e lésbicas se assumirem publicamente, mesmo que seja para prevenir enganos e dissabores? Quem for hetero, procura parceiros sexuais, namorados e/ou companheiros entre pessoas de sexo diferente do seu. Quem for LGBTTS (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros e Simpatizantes) procura parceiros sexuais, namorados e/ou companheiros entre pessoas do mesmo sexo. E quem for hetero seguro de si e de sua sexualidade – especialmente se for simpatizante (o S da sigla) – convive tranquilamente com as lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros – afinal, o que importa não é a orientação sexual do (a) amigo (a), e sim a pessoa.
Agora, como o homossexual pode se assumir como tal publicamente se velhas ideias de jerico homófobas (tipo essa, de relacionar pedofilia só com o homossexualismo) continuam sendo veiculadas por aí – especialmente pelos homófobos? (Aliás, noves fora os que são assim por ignorância, há os homófobos que são assim porque não conseguem assumir seus impulsos homossexuais e os reprimem, como prova a ciência.
). Logo, desconfie daquele que quer que “todo gay morra”...)
(Ah, quase que eu ia me esquecendo de lhe perguntar, sr. Fidelix: o senhor é um homófobo deste tipo que acabei de falar? Ou o senhor é idiota mesmo?)
A própria oposição ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (veja bem, em caixa alta, para senhor entender: CASAMENTO CIVIL – nenhum padre, pastor ou qualquer outro religioso será obrigado a casar duas pessoas do mesmo sexo em sua igrela, templo etc.) é uma imbecilidade – igual mesmo à oposição de grupos conservadores (Igreja Católica à frente) à adoção do divórcio. Uma das alegações é bem parecida com a que usam contra a união civil entre pessoas do mesmo sexo: o divórcio seria "fator de dissolução da família". Em 1977, o divórcio é adotado no Brasil, e, até onde se saiba, a família brasileira não sofreu nenhum grande abalo significativo – até porque, entre os heteros, pessoas ainda continuam se casando.
O mesmo ocorrerá com o casamento CIVIL (não religioso) entre pessoas do mesmo sexo: não vai abalar a tradicional família heterossexual. Vai, isso sim, possibilitar o surgimento de novos tipos de família, e ambos os tipos vão conviver em harmonia, sem que um tipo vá interferir no outro.


5- (Essa é ainda mais imbecil, mas vamos em frente.) Não, sr. Fidelix, "essas pessoas que têm esses problemas" NÃO PRECISAM DE "AJUDA PSICOLÓGICA". Primeiro, porque a homossexualidade não é doença, e deixou de ser considerada como tal faz tempo.
Para sua informação: a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), por decisão da 43ª Assembleia Mundial da Saúde, em 17 de maio de 1990. Antes disso, a Associação Americana de Psiquiatria retirou a homossexualidade de seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) em 1973, afirmando que "a homossexualidade em si não implica qualquer prejuízo no julgamento, estabilidade, confiabilidade ou capacidades gerais sociais e vocacionais." Depois de uma profunda revisão de dados científicos, a Associação Americana de Psicologia adotou a mesma posição em 1975, e exortou todos os profissionais de saúde mental "para assumir a liderança em eliminar o estigma de doença mental que há muito tem sido associado com orientações homossexuais."
Aqui em Terra Papagalli, a Associação Brasileira de Psicologia, em 1984, e o Conselho Federal de Psicologia, em 1985, eliminaram a homossexualidade da lista de doenças e distúrbios sexuais. O que faz sentido, porque, se alguém é gay ou lésbica e se assume como tal, não faz mal a ninguém, nem a ele(a) mesmo(a) – só aos homófobos.
E, convenhamos, odiar outras pessoas só porque são diferentes de alguma forma de você (por sexo, etnia e/ou orientação sexual) só pode ser um distúrbio mental gravíssimo. No caso da homofobia, é ainda mais grave quando o paciente é homófobo porque não consegue, no fundo, no fundo, assumir sua homossexualidade oculta e latente). Estes sim, merecem tratamento psicológico, mesmo que por decisão judicial – e não a liberdade de pregar o que Mário de Andrade falava em sua Ode ao burguês (1922 – espero que o senhor tenha lido):

Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! 
Ódio fundamento, sem perdão!

Desta vez, não ao burguês, mas a grupos sociais que lhe "desagradam" - como o povo LGBT, por exemplo.

6- De qualquer forma, quando Luciana Genro lhe perguntou sobre os direitos do povo LGBT, ela certamente não quis se limitar a falar sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ela também queria falar de outros problemas que os afetam, como a homofobia e suas consequências – agressões e assassinatos de gays e lésbicas, movidos por ódio. E sua fala impossibilitou isso.
"Ora", pensará o senhor, "será possível que eu não posso mais exercer meu direito constitucional de expressar a minha opinião?"
Claro, sr. Fidelix. A liberdade de expressão é um direito assegurado por nossa Constituição Federal.
Acontece que toda liberdade perante a lei implica em responsabilidade para exercê-la. No caso em questão – o da liberdade de expressão – as pessoas são responsáveis pelo impacto que elas causam pela sua divulgação. Ainda mais quando tais opiniões trazem um sentimento de ódio a um grupo especifico – no caso específico, aos LGBTs.
Não sei se senhor percebeu, mas foi além de "expressar sua opinião": ao propor que a "maioria do povo brasileiro" (SIC) "enfrentasse essa minoria" (SIC, de novo) – propondo inclusive que direitos lhes sejam restringidos – o senhor externou a um grupo específico (o povo LGBT) um Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! / Ódio fundamento, sem perdão! via satélite para todo o Brasil.
O que acontece depois disso? Bem, vou deixar que Leonardo Sakamoto lhe explique, em seu blog, o mal que sua "modesta opinião faz, pouco a pouco: Pessoas como ele [no caso, o senhor] dizem que não incitam a violência. Não é a mão delas que segura a faca ou o revólver, mas é a sobreposicão de seus discursos ao longo do tempo que distorce o mundo e torna o ato de esfaquear, atirar e atacar banais. Ou, melhor dizendo, 'necessários', quase um pedido do céu. São pessoas como ele que alimentam lentamente a intolerância, que depois será consumida pelos malucos que fazem o serviço sujo.
O senhor diz que não aguenta mais ver o que acontece lá na avenida Paulista. Pois é, eu também não aguento ver certas coisas por lá. Não, não estou me referindo aos casais LGBT que passeiam de mãos dadas e se beijam. Estou me referindo aos homófobos desocupados, que zanzam por ali agredindo gays e lésbicas com lâmpadas fluorescentes ou, pior, com objetos mais fortes – porretes, socos ingleses, revólveres de vez em quando etc. Recentemente, um jovem chamado GabeKowalczyk – gay assumido, que tem o apoio de sua família – foi agredido esofreu tentativa de estuproJustificativa dos "valentes" agressores: "Você quer ser mulher? Então agora vai apanhar como mulher".
(Ou seja, os "valentes" agressores não acham só que gays e lésbicas devem apanhar: mulheres, em geral, também.)
E mesmo que a sua intenção não seja propagar a violência, está estimulando justamente isso. Está dando sua absolvição a agressões e mesmo a assassinatos de gays, lésbicas, transgêneros etc. e tal. Estimulando CRIMES. Sim, porque assassinatos e agressões ainda são crimes previstos no Código Penal.
Ou será que o mesmo Código penal abre exceção para gays, lésbicas etc., e eu não sabia? Parece que sim.
Em 21 de junho de 2010, um jovem de 14 anos, chamado Alexandre Ivo, foi torturado e assassinado em São Gonçalo (RJ). Crime cometido por ele, até onde se sabe: ter amigos gays entre os colegas da escola onde estudava. Nem a mãe dele, Angélica Ivo, sabia dizer se o filho era gay ou não, porque ele nunca disse nada a respeito. Para a "inteligência" de um grupo de três beócios brucutus, não havia dúvida: se era amigo de gays, era gay do mesmo jeito, e merecia morrer.
O senhor sabia que, por increça que parível, até hoje os três brucutus ainda estão soltos? E o senhor sabia que, até hoje, o julgamento deles ainda não foi marcado?
Pois é.
No mais, sr. Fidelix, um conselho de amigo. Leia mais as leis – especialmente as de seu Estado, São Paulo. Sabia que há uma lei estadual, a lei 10.948, de 2001, que pune, justamente, manifestações de ódio e/ou discriminação ao povo LGBT? Pois é.
Permita-me transcrever aqui alguns artigos da referida Lei (o grifo, mais uma vez, é meu):

Artigo 1.º - Será punida, nos termos desta lei, toda manifestação atentatória ou discriminatória praticada contra cidadão homossexual, bissexual ou transgênero.

Artigo 2.º - Consideram-se atos atentatórios e discriminatórios dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos homossexuais, bissexuais ou transgêneros, para os efeitos desta lei:

I - praticar qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica;
II - proibir o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento público ou privado, aberto ao público;
III - praticar atendimento selecionado que não esteja devidamente determinado em lei;
IV - preterir, sobretaxar ou impedir a hospedagem em hotéis, motéis, pensões ou similares;
V - preterir, sobretaxar ou impedir a locação, compra, aquisição, arrendamento ou empréstimo de bens móveis ou imóveis de qualquer finalidade;
VI - praticar o empregador, ou seu preposto, atos de demissão direta ou indireta, em função da orientação sexual do empregado;
VII - inibir ou proibir a admissão ou o acesso profissional em qualquer estabelecimento público ou privado em função da orientação sexual do profissional;
VIII - proibir a livre expressão e manifestação de afetividade, sendo estas expressões e manifestações permitidas aos demais cidadãos.

Artigo 3.º - São passíveis de punição o cidadão, inclusive os detentores de função pública, civil ou militar, e toda organização social ou empresa, com ou sem fins lucrativos, de caráter privado ou público, instaladas neste Estado, que intentarem contra o que dispõe esta lei.

Não há escapatória, nem para o senhor, nem para o estado de São Paulo. A secretaria de Justiça, recentemente, respondeu a uma queixa-crime impetrada contra o senhor, dizendo que está reunindo todos os documentos necessários para entrar com processo contra o senhor.
E mesmo que o estado de São Paulo resolvesse fazer como a justiça em São Gonçalo, no caso de Alexandre Ivo, e se fazer de surda, ele não pode. Há um abaixo assinado dirigido àsecretária de Justiça, solicitando a abertura de processo legal contra o senhor com base nesta lei. Ou seja, a esta altura, sugiro que o senhor constitua um bom advogado.

7- Por fim, sr. Fidelix, mais um conselho. Da próxima vez, pense antes de falar. Este incidente é a prova de que fazer o contrário – falar antes de pensar – não dá muito certo.
De minha parte, se o senhor quiser, posso fazer uma campanha para levantar recursos financeiros, a fim de que o senhor possa realizar uma cirurgia corretiva.
Porque eu acho muito esquisito o senhor ter um "aparelho excretor" em baixo de seu nariz e de seu bigode, ao invés de estar no lugar normal a todos os seres humanos.

Sem mais, para o momento,
Atenciosamente...

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(Não sei se Levy (In)Fidelix vai entender o recado. Mas que alguém vai entender, ah, isso vai.)

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Vamos agora a mais uma sugestão de filme que poderia ser comprado e distribuído por nossas distribuidoras, se tivessem coragem: Anatomy of a Love Seen (2014), de Marina Rice BaderDir-se-ia – e desde já, mil desculpas a François Truffaut – que poderia ser um A noite americana lésbico. Mas seria exagero. O fato é que tem seu quê de metalinguagem.
Ah, sim, vamos à sinopse.
Seis meses antes, Zoe (Sharon Hinnendael) e Mal (Jill Evyn) contracenavam em um filme, e acabam se apaixonando uma pela outra – por incrível que pareça, a partir das filmagens de uma cena de amor. Zoe e Mal ficaram juntas, felizes, até que Mal se afastou de Zoe, deixando-a arrasada. Algumas semanas depois, Zoe e Mal são reconvocadas pela diretora do filme, Kara (a própria Marina Rice Bader) para... refilmar a cena de amor. E agora?
Bem, agora, quetal ver um trailer do filme e encher o saco de sua distribuidora favorita, para que traga Anatomy of a Love Seen para o Brasil?