Caro
Sr. Levy Fidelix:
Até
este domingo, 28 de setembro de 2014, o senhor era mais um folclórico e
simpático eterno candidato a presidente da república brasileira.
Depois
deste dia, passou a ser – se Deus e o eleitorado brasileiro assim o quiserem –
apenas um eterno candidato a presidente da república brasileira. Porque o
senhor não merece sequer a honra de pleitear este cargo.
Não
pelo que o senhor disse neste dia, no debate entre os candidatos à presidência,
realizado (aliás, muito mal e porcamente) pela Record, ao responder uma questão
feita pela candidata do PSol Luciana Genro.
Tenho 62 anos, pelo que eu vi na
vida, dois iguais não fazem filho, e digo mais, mas aparelho excretor não
reproduz. Não podemos jamais deixar que tenhamos
esses que aí estão, fazer escorando essa minoria a maioria do povo brasileiro.
Eu como pai, avô, que tem vergonha na cara, ensinar os seus filhos e netos. Eu
vi agora o Papa expurgar o padre pedófilo. Então, eu lamento, que façam bom
proveito, mas como presidente, eu jamais vou estimular essa prática. Você já
imaginou se começarmos a estimular isso aí, vamos reduzir a população
brasileira pela metade. Vamos enfrentar esse problema. Essas pessoas que têm
esses problemas que sejam atendidos por ajudas psicológicas.
Não,
não é por isso – embora seja extremamente ofensivo e estúpido.
É
pelo fato de descobrirmos, com esta sua fala ofensiva, que, aos 62 anos, o
senhor envelheceu, mas não amadureceu.
(Certo,
o Rei Lear também envelheceu, mas não amadureceu. Mas o senhor não é um
personagem de Shakespeare. E nem tem a grandeza deste.)
Ou,
como diria alguém em um anúncio de TV: "Sabe de nada, inocente!"
Por
isso, espero que senhor não se ofenda, mas preciso lhe dizer algumas coisas que
talvez, por ingrinorança, o senhor
também não saiba.
Como
diria Jack, o Estripador, vamos por partes:
1-
Casamento (ou união sob qualquer outra forma, mesmo sem papel assinado) não foi
feito só para procriação: foi feito, principalmente, para unir duas pessoas
que, a certa altura deste campeonato chamado Vida, não querem percorrê-la uma
sem a outra – tanto faz se são um homem + uma mulher, ou dois homens, ou duas
mulheres. (É o que podemos chamar, poeticamente, de "almas gêmeas".)
Só
para ficarmos nos casais heterossexuais: uma mulher não escolhe o homem com
quem vai casar só por sua capacidade reprodutiva: ela quer também quer alguém
que tenha afinidades comuns ou complementares – tipo assim, este exemplo mais
ou menos mequetrefe: uma moça gostou de um rapaz porque ele é ator de teatro, e
ela adora teatro; e o rapaz gostou da moça porque ela adora Shakespeare.
Se
apenas a procriação fosse mais importante do que outra coisa, nem precisaria
haver a instituição do casamento: bastaria fazer como fazem os criadores de
gado: o "homem reprodutor" até a
"mulher-matriz-reprodutora", e os dois fazem o que a turma do saudoso
Pasquim chamava de
gip-gip-nheco-nheco; ao fim de nove meses, os bezerros... digo, os bebês
nasciam e cada um ia para seu lado – ela, ele e o(s) bebê(s).
2-
Aliás, pensando bem, parece que isso é o que está acontecendo: homens e
mulheres estão descobrindo (ou não se deram conta?) de que não precisam casar
para procriar. Taí o grande número de mães solteiras (e, às vezes, pais
solteiros) que não me deixa mentir. Será que mães e/ou pais solteiros não são
uma família?
3-
(Essa, juro, é imbecil, mas vamos lá.) Também por isso, sr. Fidelix, a
população brasileira não se reduzirá à metade por conta da homossexualidade,
porque sempre haverão milhares de "dois diferentes" (um homem + uma
mulher) que vão gerar filhos, casando ou não.
4-
Aliás, sabia que é grande o número de crianças geradas por (segundo seu
linguajar, sr. Fidelix) "dois diferentes" (um homem + uma mulher) e
abandonadas por eles, por não quererem assumir a responsabilidade de criar e
educar uma nova vida que geraram?
Pois
é.
E
tais crianças acabam sendo adotadas, educadas e amadas por outros casais –
sejam casais de "dois diferentes", sejam casais de "dois
iguais", isto é, casais LGBT.
- que filhos criados por pais gays e/ou mães lésbicas não sofrem prejuízos psicológicos;
que
filhos criados por pais gays e/ou mães lésbicas não sofrem abusos sexuais (ideia cretina disseminada até hoje por líderes evangelicuzinhos): O
estigma de perversão, sustentado também por líderes religiosos, mantém a crença
sobre o "perigo" que as crianças correm quando criadas por gays. Até
hoje, as pesquisas ainda não encontraram nenhuma relação entre homossexualidade
e abusos sexuais. Nenhum dos adolescentes do National Longitudinal Lesbian
Family Study reportou abuso sexual ou físico. Outra pesquisa, realizada por
três pediatras americanas, avaliou o caso de 269 crianças abusadas sexualmente.
Apenas dois agressores eram
homossexuais. A Associação de Psiquiatria Americana ainda esclarece: "Homens
homossexuais não tendem a abusar mais sexualmente de crianças do que homens
heterossexuais". (O grifo. sr. Fidelix, é meu.)
- o que equivale a dizer,
finalmente, que filhos criados por pais gays e/ou mães lésbicas NÃO SETORNAM GAYS OU LÉSBICAS POR INFLUÊNCIA DELES. As
psicólogas [Helena D'Azevedo Marques e Miriam
Debieux Rosa] garantem que uma criança
criada por dois homens ou duas mulheres não será, necessariamente, homossexual.
"Homossexualidade não é um espelho. É a orientação do desejo. Não é porque
os dois são homossexuais que a criança vai virar homossexual”, diz Helena.Aliás, a personalidade de uma pessoa, da infância até a idade adulta, não se forma apenas pela sua interação com sua família, mas também pela sua interação com a sociedade, conforme expliquei em outro post para uma beócia que é deputada estadual no Rio de Janeiro.
(Aliás
2, a missão - um conselho, sr. Fidelix. Se ler em algum lugar algum outro
estudo falando o contrário do que lhe apresentei, verifique, em primeiro lugar,
se quem escreve tal estudo é gospel e/ou de extrema direita. Eles se baseiam
mais em preconceitos do que em argumentos baseados na ciência.)
Primeiro,
vamos pedir socorro ao Aurélio.
A palavra pedofilia vem do grego παιδοφιλια (paidophilia) onde παις (pais,
"criança") e φιλια (philia, "amizade",
"afinidade", "amor", "afeição",
"atração", "atração ou afinidade patológica" ou
"tendência patológica").
Agora
que nos entendemos a respeito disso, repito o que já disse à deputada estadual beócia:
Se isso ainda lhe causa dúvidas, dê uma olhada nesta gravura
de Martin Van Maele (1863 - 1926) –
desenhista francês especializado
em ilustrações eróticas, para seu
livro La Grande Danse macabre des
vifs (1905):
(Repare bem, sr. Fidelix, no cavalheiro que está... como
direi para não ser vulgar?... animado com a criança que lê um livro sentada em seu
colo. Este cavalheiro lhe parece gay? E a criança? Parece-lhe um menino ou uma
menina?)
O problema atual, quando se fala de pedofilia, é que preferem
generalizar apenas os casos em que o homem adulto predador e a criança vítima
são do mesmo sexo (adulto X menino). Isso pode ser chamado de dois nomes. Um
chama-se IGNORÂNCIA. O outro chama-se MAUCARATISMO para os homossexuais. (No
seu caso, sr. Fidelix, prefiro achar que seja a primeira opção – embora hajam
fortes suspeitas de que seja a segunda.)
O pior é que quando os ataques pedófilos envolvem... segundo
seu linguajar peculiar... "dois diferentes" (predador adulto X
menina), tem gente que não considera isso como pedofilia – especialmente os
imbecis que, mesmo achando grave, passam a mão e na cabeça deles, por achar, no
fundo, que são uma “prova” de sua “virilidade” (SIC) – mesmo quando os
predadores são parentes – pai e filha, tio e sobrinha, avô e neta.
(O
que me leva a lhe perguntar, sr. Fidelix: o senhor está entre os que acham
isso?)
- Nenhum pedófilo – pelo menos, os que foram presos pela polícia – se
declarou homossexual. E por uma razão muito simples: o pedófilo não se assume
publicamente como nada – nem mesmo como pedófilo. Na verdade, ao invés de se
assumir como alguma coisa, o pedófilo prefere se esconder. De preferência,
atrás de uma boa máscara respeitável, como a do parentesco: boa parte dos casos
de ataques pedófilos ocorre entre parentes – pai e filho (a), tio e sobrinho
(a), avô e neto (a) etc. (Nem preciso lembrá-lo daquele episódio do pedreiro de Olinda –
PE, que engravidou a própria enteada de 9 anos, que resultou em uma das mais idiotas atitudes de
uma autoridade da Igreja Católica, o então arcebispo de Olinda e Recife, d.
José “Fogueira-da-Inquisição” Cardoso Sobrinho, que preferiu excomungar os médicos que foram obrigados a fazer o aborto na menina – e que tinham de fazê-lo, senão a menina e os bebês gêmeos que esperava morreriam caso a gravidez fosse adiante – mas não
excomungou o padrasto pedófilo que a engravidou: "Dom José reconhece que
seu crime foi grave. Mas afirma que o direito canônico não prevê excomunhão
para o criminoso."). Ou então em alguma função que inspire certa confiança
entre os pais e crianças: professor, médico
pediatra (lembra-se do dr. Eugênio Chipkevitch?), pastor evangélico, padre etc.
(Claro, não vamos generalizar em nenhuma destas ocasiões,
certo? Os pedófilos encontrados nestas áreas são as exceções de uma regra de
profissionais bons e éticos. Mas já pensou se algum de seus ilustres
companheiros do seu partido, o PRTB, for um pedófilo, disfarçado? Melhor abrir
o olho, para não dizer depois que a cigana lhes enganou.)
Donde a relação
pedofilia = homossexualidade, além de falsa e errônea, é bem canalha. Menos
para os homófobos, é claro.- Então o que causa o surgimento de um pedófilo? Freud explica (e se Freud não explicar o suficiente, Jung, Hélio Pellegrino ou qualquer outro psicanalista competente poderá fazê-lo): a pedofilia é uma falha na construção da personalidade e da identidade sexual de uma pessoa em algum momento de sua formação, seja na infância, seja na adolescência, que faz com que seu impulso sexual se fixe nas crianças e adolescentes. (Claro, dizem que certa e antiga tradição de casamentos com menores – inclusive casamentos forçados – ajudou muito.)
- Quem se assume como homossexual – para si mesmo e
publicamente – é porque está absolutamente seguro a respeito de sua
sexualidade. Logo, para que vai usar ardis para buscar um parceiro sexual entre
os que não podem se defender (meninos ou meninas)?
Logo, não é melhor homossexuais e lésbicas se assumirem
publicamente, mesmo que seja para prevenir enganos e dissabores? Quem for
hetero, procura parceiros sexuais, namorados e/ou companheiros entre pessoas de
sexo diferente do seu. Quem for LGBTTS (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis,
Transgêneros e Simpatizantes) procura parceiros sexuais, namorados e/ou
companheiros entre pessoas do mesmo sexo. E quem for hetero seguro de si e de
sua sexualidade – especialmente se for simpatizante (o S da sigla) – convive
tranquilamente com as lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros –
afinal, o que importa não é a orientação sexual do (a) amigo (a), e sim a
pessoa.
Agora, como o
homossexual pode se assumir como tal publicamente se velhas ideias de jerico
homófobas (tipo essa, de relacionar pedofilia só com o homossexualismo)
continuam sendo veiculadas por aí – especialmente pelos homófobos? (Aliás,
noves fora os que são assim por ignorância, há os homófobos que são assim porque não conseguem assumir seus impulsos homossexuais e os reprimem, como prova a ciência.). Logo, desconfie daquele que quer que “todo gay morra”...)
(Ah, quase que eu ia me esquecendo de lhe perguntar, sr.
Fidelix: o senhor é um homófobo deste tipo que acabei de falar? Ou o senhor é
idiota mesmo?)
A própria oposição ao casamento civil entre pessoas do mesmo
sexo (veja bem, em caixa alta, para senhor entender: CASAMENTO CIVIL – nenhum
padre, pastor ou qualquer outro religioso será obrigado a casar duas pessoas do
mesmo sexo em sua igrela, templo etc.) é uma imbecilidade – igual mesmo à
oposição de grupos conservadores (Igreja Católica à frente) à adoção do
divórcio. Uma das alegações é bem parecida com a que usam contra a união civil
entre pessoas do mesmo sexo: o divórcio seria "fator de dissolução da
família". Em 1977, o divórcio é adotado no Brasil, e, até onde se saiba, a
família brasileira não sofreu nenhum grande abalo significativo – até porque, entre
os heteros, pessoas ainda continuam se casando.
O mesmo ocorrerá com o casamento CIVIL (não religioso) entre
pessoas do mesmo sexo: não vai abalar a tradicional família heterossexual. Vai,
isso sim, possibilitar o surgimento de novos tipos de família, e ambos os tipos
vão conviver em harmonia, sem que um tipo vá interferir no outro.
5-
(Essa é ainda mais imbecil, mas vamos em frente.) Não, sr. Fidelix, "essas
pessoas que têm esses problemas" NÃO PRECISAM DE "AJUDA
PSICOLÓGICA". Primeiro, porque a homossexualidade não é doença, e deixou
de ser considerada como tal faz tempo.
Para
sua informação: a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), por decisão da 43ª Assembleia
Mundial da Saúde, em 17 de maio de 1990. Antes disso, a Associação Americana de Psiquiatria retirou a
homossexualidade de seu Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) em 1973, afirmando que "a homossexualidade em
si não implica qualquer prejuízo no julgamento, estabilidade, confiabilidade ou
capacidades gerais sociais e vocacionais." Depois de uma profunda revisão
de dados científicos, a Associação Americana de Psicologia adotou a mesma
posição em 1975, e exortou todos os profissionais de saúde mental "para
assumir a liderança em eliminar o estigma de doença mental que há muito tem
sido associado com orientações homossexuais."
Aqui
em Terra Papagalli, a Associação Brasileira de Psicologia, em 1984, e o Conselho
Federal de Psicologia, em 1985, eliminaram a homossexualidade da lista de
doenças e distúrbios sexuais. O que faz sentido, porque, se alguém é gay ou
lésbica e se assume como tal, não faz mal a ninguém, nem a ele(a) mesmo(a) – só
aos homófobos.
E, convenhamos, odiar
outras pessoas só porque são diferentes de alguma forma de você (por sexo,
etnia e/ou orientação sexual) só pode ser um distúrbio mental gravíssimo. No
caso da homofobia, é ainda mais grave quando o paciente é homófobo porque não consegue, no fundo, no fundo, assumir sua homossexualidade oculta e latente).
Estes sim, merecem tratamento psicológico, mesmo que por decisão judicial – e
não a liberdade de pregar o que Mário de Andrade falava em sua Ode ao burguês (1922 – espero que o
senhor tenha lido):
Ódio vermelho! Ódio
fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Ódio fundamento, sem perdão!
Desta
vez, não ao burguês, mas a grupos sociais que lhe "desagradam" - como o povo LGBT, por exemplo.
6-
De qualquer forma, quando Luciana Genro lhe perguntou sobre os direitos do povo
LGBT, ela certamente não quis se limitar a falar sobre o casamento entre
pessoas do mesmo sexo. Ela também queria falar de outros problemas que os
afetam, como a homofobia e suas consequências – agressões e assassinatos de
gays e lésbicas, movidos por ódio. E sua fala impossibilitou isso.
"Ora",
pensará o senhor, "será possível que eu não posso mais exercer meu direito
constitucional de expressar a minha opinião?"
Claro,
sr. Fidelix. A liberdade de expressão é um direito assegurado por nossa
Constituição Federal.
Acontece
que toda liberdade perante a lei implica em responsabilidade para exercê-la. No
caso em questão – o da liberdade de expressão – as pessoas são responsáveis pelo
impacto que elas causam pela sua divulgação. Ainda mais quando tais opiniões
trazem um sentimento de ódio a um grupo especifico – no caso específico, aos
LGBTs.
Não
sei se senhor percebeu, mas foi além de "expressar sua opinião": ao
propor que a "maioria do povo brasileiro" (SIC) "enfrentasse
essa minoria" (SIC, de novo) – propondo inclusive que direitos lhes sejam
restringidos – o senhor externou a um grupo específico (o povo LGBT) um Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! / Ódio fundamento, sem perdão! via
satélite para todo o Brasil.
O que acontece depois
disso? Bem, vou
deixar que Leonardo Sakamoto lhe explique, em seu blog, o mal que sua "modesta opinião faz, pouco a pouco: Pessoas como ele [no caso, o senhor] dizem que não incitam a violência. Não
é a mão delas que segura a faca ou o revólver, mas é a sobreposicão de seus
discursos ao longo do tempo que distorce o mundo e torna o ato de esfaquear,
atirar e atacar banais. Ou, melhor dizendo, 'necessários', quase um pedido do
céu. São pessoas como ele que alimentam lentamente a intolerância, que depois
será consumida pelos malucos que fazem o serviço sujo.
O
senhor diz que não aguenta mais ver o que acontece lá na avenida Paulista. Pois
é, eu também não aguento ver certas coisas por lá. Não, não estou me referindo
aos casais LGBT que passeiam de mãos dadas e se beijam. Estou me referindo aos
homófobos desocupados, que zanzam por ali agredindo gays e lésbicas com lâmpadas
fluorescentes ou, pior, com objetos mais fortes – porretes, socos ingleses,
revólveres de vez em quando etc. Recentemente, um jovem chamado GabeKowalczyk – gay assumido, que tem o apoio de sua família – foi agredido esofreu tentativa de estupro. Justificativa
dos "valentes" agressores: "Você
quer ser mulher? Então agora vai apanhar como mulher".
(Ou
seja, os "valentes" agressores não acham só que gays e lésbicas devem apanhar: mulheres, em geral,
também.)
E
mesmo que a sua intenção não seja propagar a violência, está estimulando
justamente isso. Está dando sua absolvição a agressões e mesmo a assassinatos
de gays, lésbicas, transgêneros etc. e tal. Estimulando CRIMES. Sim, porque
assassinatos e agressões ainda são crimes previstos no Código Penal.
Ou
será que o mesmo Código penal abre exceção para gays, lésbicas etc., e eu não
sabia? Parece que sim.
Em
21 de junho de 2010, um jovem de 14 anos, chamado
Alexandre Ivo, foi torturado e assassinado em São Gonçalo (RJ). Crime cometido
por ele, até onde se sabe: ter amigos gays entre os colegas da escola onde
estudava. Nem a mãe dele, Angélica Ivo, sabia dizer se o filho era gay ou não,
porque ele nunca disse nada a respeito. Para a "inteligência" de um
grupo de três beócios brucutus, não havia dúvida: se era amigo de gays, era gay
do mesmo jeito, e merecia morrer.
O senhor sabia que, por increça que parível, até
hoje os três brucutus ainda estão soltos? E o senhor sabia que, até hoje, o
julgamento deles ainda não foi marcado?
Pois é.
No
mais, sr. Fidelix, um conselho de amigo. Leia mais as leis – especialmente as
de seu Estado, São Paulo. Sabia que há uma lei estadual, a lei 10.948, de 2001, que pune, justamente, manifestações de
ódio e/ou discriminação ao povo LGBT? Pois é.
Permita-me transcrever aqui alguns
artigos da referida Lei (o grifo, mais uma vez, é meu):
Artigo 1.º - Será punida,
nos termos desta lei, toda manifestação atentatória ou discriminatória
praticada contra cidadão homossexual, bissexual ou transgênero.
Artigo 2.º - Consideram-se
atos atentatórios e discriminatórios dos direitos individuais e coletivos dos
cidadãos homossexuais, bissexuais ou transgêneros, para os efeitos desta lei:
I - praticar qualquer tipo de ação
violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica
ou psicológica;
II - proibir o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento público ou privado, aberto ao público;
III - praticar atendimento selecionado que não esteja devidamente determinado em lei;
IV - preterir, sobretaxar ou impedir a hospedagem em hotéis, motéis, pensões ou similares;
V - preterir, sobretaxar ou impedir a locação, compra, aquisição, arrendamento ou empréstimo de bens móveis ou imóveis de qualquer finalidade;
VI - praticar o empregador, ou seu preposto, atos de demissão direta ou indireta, em função da orientação sexual do empregado;
VII - inibir ou proibir a admissão ou o acesso profissional em qualquer estabelecimento público ou privado em função da orientação sexual do profissional;
VIII - proibir a livre expressão e manifestação de afetividade, sendo estas expressões e manifestações permitidas aos demais cidadãos.
II - proibir o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento público ou privado, aberto ao público;
III - praticar atendimento selecionado que não esteja devidamente determinado em lei;
IV - preterir, sobretaxar ou impedir a hospedagem em hotéis, motéis, pensões ou similares;
V - preterir, sobretaxar ou impedir a locação, compra, aquisição, arrendamento ou empréstimo de bens móveis ou imóveis de qualquer finalidade;
VI - praticar o empregador, ou seu preposto, atos de demissão direta ou indireta, em função da orientação sexual do empregado;
VII - inibir ou proibir a admissão ou o acesso profissional em qualquer estabelecimento público ou privado em função da orientação sexual do profissional;
VIII - proibir a livre expressão e manifestação de afetividade, sendo estas expressões e manifestações permitidas aos demais cidadãos.
Artigo 3.º - São passíveis
de punição o cidadão, inclusive os detentores de função pública, civil ou
militar, e toda organização social ou empresa, com ou sem fins lucrativos, de
caráter privado ou público, instaladas neste Estado, que intentarem contra o
que dispõe esta lei.
Não
há escapatória, nem para o senhor, nem para o estado de São Paulo. A secretaria
de Justiça, recentemente, respondeu a uma queixa-crime impetrada contra o
senhor, dizendo que está reunindo todos os documentos necessários para entrar
com processo contra o senhor.
E mesmo que o estado de São
Paulo resolvesse fazer como a justiça em São Gonçalo, no caso de Alexandre Ivo,
e se fazer de surda, ele não pode. Há um abaixo assinado dirigido àsecretária de Justiça, solicitando a abertura de processo legal contra o senhor com base nesta lei.
Ou seja, a esta altura, sugiro que o senhor constitua um bom advogado.
7-
Por fim, sr. Fidelix, mais um conselho. Da próxima vez, pense antes de falar.
Este incidente é a prova de que fazer o contrário – falar antes de pensar – não
dá muito certo.
De
minha parte, se o senhor quiser, posso fazer uma campanha para levantar
recursos financeiros, a fim de que o senhor possa realizar uma cirurgia
corretiva.
Porque
eu acho muito esquisito o senhor ter um "aparelho excretor" em baixo
de seu nariz e de seu bigode, ao invés de estar no lugar normal a todos os
seres humanos.
Sem
mais, para o momento,
Atenciosamente...
***************************************
(Não
sei se Levy (In)Fidelix vai entender o recado. Mas que alguém vai entender, ah, isso vai.)
****************************************
Vamos
agora a mais uma sugestão de filme que poderia ser comprado e distribuído por
nossas distribuidoras, se tivessem coragem: Anatomy of a Love Seen (2014), de Marina Rice Bader. Dir-se-ia – e desde
já, mil desculpas a François Truffaut – que poderia ser um A noite americana lésbico. Mas seria exagero. O fato é que tem seu
quê de metalinguagem.
Ah, sim, vamos à
sinopse.
Seis meses antes,
Zoe (Sharon Hinnendael) e Mal (Jill Evyn) contracenavam em um filme, e acabam
se apaixonando uma pela outra – por incrível que pareça, a partir das filmagens
de uma cena de amor. Zoe e Mal ficaram juntas, felizes, até que Mal se afastou
de Zoe, deixando-a arrasada. Algumas semanas depois, Zoe e Mal são reconvocadas
pela diretora do filme, Kara (a própria Marina Rice Bader) para... refilmar a
cena de amor. E agora?
Bem, agora, quetal ver um trailer do filme e encher o saco de sua distribuidora favorita, para
que traga Anatomy of a Love Seen para
o Brasil?
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