03 outubro, 2014

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XXXVI)

Caro Sr. Levy Fidelix:

Até este domingo, 28 de setembro de 2014, o senhor era mais um folclórico e simpático eterno candidato a presidente da república brasileira.
Depois deste dia, passou a ser – se Deus e o eleitorado brasileiro assim o quiserem – apenas um eterno candidato a presidente da república brasileira. Porque o senhor não merece sequer a honra de pleitear este cargo.
Não pelo que o senhor disse neste dia, no debate entre os candidatos à presidência, realizado (aliás, muito mal e porcamente) pela Record, ao responder uma questão feita pela candidata do PSol Luciana Genro.



Tenho 62 anos, pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho, e digo mais, mas aparelho excretor não reproduz. Não podemos jamais deixar que tenhamos esses que aí estão, fazer escorando essa minoria a maioria do povo brasileiro. Eu como pai, avô, que tem vergonha na cara, ensinar os seus filhos e netos. Eu vi agora o Papa expurgar o padre pedófilo. Então, eu lamento, que façam bom proveito, mas como presidente, eu jamais vou estimular essa prática. Você já imaginou se começarmos a estimular isso aí, vamos reduzir a população brasileira pela metade. Vamos enfrentar esse problema. Essas pessoas que têm esses problemas que sejam atendidos por ajudas psicológicas.

Não, não é por isso – embora seja extremamente ofensivo e estúpido.
É pelo fato de descobrirmos, com esta sua fala ofensiva, que, aos 62 anos, o senhor envelheceu, mas não amadureceu.
(Certo, o Rei Lear também envelheceu, mas não amadureceu. Mas o senhor não é um personagem de Shakespeare. E nem tem a grandeza deste.)
Ou, como diria alguém em um anúncio de TV: "Sabe de nada, inocente!"
Por isso, espero que senhor não se ofenda, mas preciso lhe dizer algumas coisas que talvez, por ingrinorança, o senhor também não saiba.
Como diria Jack, o Estripador, vamos por partes:

1- Casamento (ou união sob qualquer outra forma, mesmo sem papel assinado) não foi feito só para procriação: foi feito, principalmente, para unir duas pessoas que, a certa altura deste campeonato chamado Vida, não querem percorrê-la uma sem a outra – tanto faz se são um homem + uma mulher, ou dois homens, ou duas mulheres. (É o que podemos chamar, poeticamente, de "almas gêmeas".)
Só para ficarmos nos casais heterossexuais: uma mulher não escolhe o homem com quem vai casar só por sua capacidade reprodutiva: ela quer também quer alguém que tenha afinidades comuns ou complementares – tipo assim, este exemplo mais ou menos mequetrefe: uma moça gostou de um rapaz porque ele é ator de teatro, e ela adora teatro; e o rapaz gostou da moça porque ela adora Shakespeare.
Se apenas a procriação fosse mais importante do que outra coisa, nem precisaria haver a instituição do casamento: bastaria fazer como fazem os criadores de gado: o "homem reprodutor" até a "mulher-matriz-reprodutora", e os dois fazem o que a turma do saudoso Pasquim chamava de gip-gip-nheco-nheco; ao fim de nove meses, os bezerros... digo, os bebês nasciam e cada um ia para seu lado – ela, ele e o(s) bebê(s).

2- Aliás, pensando bem, parece que isso é o que está acontecendo: homens e mulheres estão descobrindo (ou não se deram conta?) de que não precisam casar para procriar. Taí o grande número de mães solteiras (e, às vezes, pais solteiros) que não me deixa mentir. Será que mães e/ou pais solteiros não são uma família?

3- (Essa, juro, é imbecil, mas vamos lá.) Também por isso, sr. Fidelix, a população brasileira não se reduzirá à metade por conta da homossexualidade, porque sempre haverão milhares de "dois diferentes" (um homem + uma mulher) que vão gerar filhos, casando ou não.

4- Aliás, sabia que é grande o número de crianças geradas por (segundo seu linguajar, sr. Fidelix) "dois diferentes" (um homem + uma mulher) e abandonadas por eles, por não quererem assumir a responsabilidade de criar e educar uma nova vida que geraram?
Pois é.
E tais crianças acabam sendo adotadas, educadas e amadas por outros casais – sejam casais de "dois diferentes", sejam casais de "dois iguais", isto é, casais LGBT.


E, neste caso, não há nenhuma diferença se o casal que adota, educa e ama esta criança seja hetero (de "dois diferentes"), ou gay. Pesquisas científicas respeitáveis mostram:

- que pais gays e/ou mães lésbicas podem ser pais e mães tão bons quanto pais heterossexuais – às vezes,até melhores;
- que filhos criados por pais gays e/ou mães lésbicas não sofrem prejuízos psicológicos;
que filhos criados por pais gays e/ou mães lésbicas não sofrem abusos sexuais (ideia cretina disseminada até hoje por líderes evangelicuzinhos): O estigma de perversão, sustentado também por líderes religiosos, mantém a crença sobre o "perigo" que as crianças correm quando criadas por gays. Até hoje, as pesquisas ainda não encontraram nenhuma relação entre homossexualidade e abusos sexuais. Nenhum dos adolescentes do National Longitudinal Lesbian Family Study reportou abuso sexual ou físico. Outra pesquisa, realizada por três pediatras americanas, avaliou o caso de 269 crianças abusadas sexualmente. Apenas dois agressores eram homossexuais. A Associação de Psiquiatria Americana ainda esclarece: "Homens homossexuais não tendem a abusar mais sexualmente de crianças do que homens heterossexuais". (O grifo. sr. Fidelix, é meu.)
- o que equivale a dizer, finalmente, que filhos criados por pais gays e/ou mães lésbicas NÃO SETORNAM GAYS OU LÉSBICAS POR INFLUÊNCIA DELESAs psicólogas [Helena D'Azevedo Marques e Miriam Debieux Rosa] garantem que uma criança criada por dois homens ou duas mulheres não será, necessariamente, homossexual. "Homossexualidade não é um espelho. É a orientação do desejo. Não é porque os dois são homossexuais que a criança vai virar homossexual”, diz Helena.
Aliás, a personalidade de uma pessoa, da infância até a idade adulta, não se forma apenas pela sua interação com sua família, mas também pela sua interação com a sociedade, conforme expliquei em outro post para uma beócia que é deputada estadual no Rio de Janeiro.



(Aliás 2, a missão - um conselho, sr. Fidelix. Se ler em algum lugar algum outro estudo falando o contrário do que lhe apresentei, verifique, em primeiro lugar, se quem escreve tal estudo é gospel e/ou de extrema direita. Eles se baseiam mais em preconceitos do que em argumentos baseados na ciência.)

4- E já que supunhetamos no assunto (© Aldir Blanc), vamos falar de pedofilia.
Primeiro, vamos pedir socorro ao Aurélio.
A palavra pedofilia vem do grego παιδοφιλια (paidophilia) onde παις (pais, "criança") e φιλια (philia, "amizade", "afinidade", "amor", "afeição", "atração", "atração ou afinidade patológica" ou "tendência patológica").
Agora que nos entendemos a respeito disso, repito o que já disse à deputada estadual beócia:

- Não só meninos são vítimas de ataques pedófilos: meninas também. (Lembra-se daquele pedreiro de Olinda – PE, que engravidou a própria enteada de 9 anos?
Se isso ainda lhe causa dúvidas, dê uma olhada nesta gravura de Martin Van Maele  (1863 - 1926)desenhista francês especializado em ilustrações eróticas, para seu livro La Grande Danse macabre des vifs (1905):


(Repare bem, sr. Fidelix, no cavalheiro que está... como direi para não ser vulgar?... animado com a criança que lê um livro sentada em seu colo. Este cavalheiro lhe parece gay? E a criança? Parece-lhe um menino ou uma menina?)
O problema atual, quando se fala de pedofilia, é que preferem generalizar apenas os casos em que o homem adulto predador e a criança vítima são do mesmo sexo (adulto X menino). Isso pode ser chamado de dois nomes. Um chama-se IGNORÂNCIA. O outro chama-se MAUCARATISMO para os homossexuais. (No seu caso, sr. Fidelix, prefiro achar que seja a primeira opção – embora hajam fortes suspeitas de que seja a segunda.)
O pior é que quando os ataques pedófilos envolvem... segundo seu linguajar peculiar... "dois diferentes" (predador adulto X menina), tem gente que não considera isso como pedofilia – especialmente os imbecis que, mesmo achando grave, passam a mão e na cabeça deles, por achar, no fundo, que são uma “prova” de sua “virilidade” (SIC) – mesmo quando os predadores são parentes – pai e filha, tio e sobrinha, avô e neta.

(O que me leva a lhe perguntar, sr. Fidelix: o senhor está entre os que acham isso?)
- Nenhum pedófilo – pelo menos, os que foram presos pela polícia – se declarou homossexual. E por uma razão muito simples: o pedófilo não se assume publicamente como nada – nem mesmo como pedófilo. Na verdade, ao invés de se assumir como alguma coisa, o pedófilo prefere se esconder. De preferência, atrás de uma boa máscara respeitável, como a do parentesco: boa parte dos casos de ataques pedófilos ocorre entre parentes – pai e filho (a), tio e sobrinho (a), avô e neto (a) etc. (Nem preciso lembrá-lo daquele episódio do pedreiro de Olinda – PE, que engravidou a própria enteada de 9 anos, que resultou em uma das mais idiotas atitudes de uma autoridade da Igreja Católica, o então arcebispo de Olinda e Recife, d. José “Fogueira-da-Inquisição” Cardoso Sobrinho, que preferiu excomungar os médicos que foram obrigados a fazer o aborto na menina  e que tinham de fazê-lo, senão a menina e os bebês gêmeos que esperava morreriam caso a gravidez fosse adiante mas não excomungou o padrasto pedófilo que a engravidou: "Dom José reconhece que seu crime foi grave. Mas afirma que o direito canônico não prevê excomunhão para o criminoso."). Ou então em alguma função que inspire certa confiança entre os pais e crianças: professor, médico pediatra (lembra-se do dr. Eugênio Chipkevitch?), pastor evangélico, padre etc.
(Claro, não vamos generalizar em nenhuma destas ocasiões, certo? Os pedófilos encontrados nestas áreas são as exceções de uma regra de profissionais bons e éticos. Mas já pensou se algum de seus ilustres companheiros do seu partido, o PRTB, for um pedófilo, disfarçado? Melhor abrir o olho, para não dizer depois que a cigana lhes enganou.)
Donde a relação pedofilia = homossexualidade, além de falsa e errônea, é bem canalha. Menos para os homófobos, é claro.
- Então o que causa o surgimento de um pedófilo? Freud explica (e se Freud não explicar o suficiente, Jung, Hélio Pellegrino ou qualquer outro psicanalista competente poderá fazê-lo): a pedofilia é uma falha na construção da personalidade e da identidade sexual de uma pessoa em algum momento de sua formação, seja na infância, seja na adolescência, que faz com que seu impulso sexual se fixe nas crianças e adolescentes. (Claro, dizem que certa e antiga tradição de casamentos com menores – inclusive casamentos forçados – ajudou muito.) 

- Quem se assume como homossexual – para si mesmo e publicamente – é porque está absolutamente seguro a respeito de sua sexualidade. Logo, para que vai usar ardis para buscar um parceiro sexual entre os que não podem se defender (meninos ou meninas)?
Logo, não é melhor homossexuais e lésbicas se assumirem publicamente, mesmo que seja para prevenir enganos e dissabores? Quem for hetero, procura parceiros sexuais, namorados e/ou companheiros entre pessoas de sexo diferente do seu. Quem for LGBTTS (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros e Simpatizantes) procura parceiros sexuais, namorados e/ou companheiros entre pessoas do mesmo sexo. E quem for hetero seguro de si e de sua sexualidade – especialmente se for simpatizante (o S da sigla) – convive tranquilamente com as lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros – afinal, o que importa não é a orientação sexual do (a) amigo (a), e sim a pessoa.
Agora, como o homossexual pode se assumir como tal publicamente se velhas ideias de jerico homófobas (tipo essa, de relacionar pedofilia só com o homossexualismo) continuam sendo veiculadas por aí – especialmente pelos homófobos? (Aliás, noves fora os que são assim por ignorância, há os homófobos que são assim porque não conseguem assumir seus impulsos homossexuais e os reprimem, como prova a ciência.
). Logo, desconfie daquele que quer que “todo gay morra”...)
(Ah, quase que eu ia me esquecendo de lhe perguntar, sr. Fidelix: o senhor é um homófobo deste tipo que acabei de falar? Ou o senhor é idiota mesmo?)
A própria oposição ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (veja bem, em caixa alta, para senhor entender: CASAMENTO CIVIL – nenhum padre, pastor ou qualquer outro religioso será obrigado a casar duas pessoas do mesmo sexo em sua igrela, templo etc.) é uma imbecilidade – igual mesmo à oposição de grupos conservadores (Igreja Católica à frente) à adoção do divórcio. Uma das alegações é bem parecida com a que usam contra a união civil entre pessoas do mesmo sexo: o divórcio seria "fator de dissolução da família". Em 1977, o divórcio é adotado no Brasil, e, até onde se saiba, a família brasileira não sofreu nenhum grande abalo significativo – até porque, entre os heteros, pessoas ainda continuam se casando.
O mesmo ocorrerá com o casamento CIVIL (não religioso) entre pessoas do mesmo sexo: não vai abalar a tradicional família heterossexual. Vai, isso sim, possibilitar o surgimento de novos tipos de família, e ambos os tipos vão conviver em harmonia, sem que um tipo vá interferir no outro.


5- (Essa é ainda mais imbecil, mas vamos em frente.) Não, sr. Fidelix, "essas pessoas que têm esses problemas" NÃO PRECISAM DE "AJUDA PSICOLÓGICA". Primeiro, porque a homossexualidade não é doença, e deixou de ser considerada como tal faz tempo.
Para sua informação: a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), por decisão da 43ª Assembleia Mundial da Saúde, em 17 de maio de 1990. Antes disso, a Associação Americana de Psiquiatria retirou a homossexualidade de seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) em 1973, afirmando que "a homossexualidade em si não implica qualquer prejuízo no julgamento, estabilidade, confiabilidade ou capacidades gerais sociais e vocacionais." Depois de uma profunda revisão de dados científicos, a Associação Americana de Psicologia adotou a mesma posição em 1975, e exortou todos os profissionais de saúde mental "para assumir a liderança em eliminar o estigma de doença mental que há muito tem sido associado com orientações homossexuais."
Aqui em Terra Papagalli, a Associação Brasileira de Psicologia, em 1984, e o Conselho Federal de Psicologia, em 1985, eliminaram a homossexualidade da lista de doenças e distúrbios sexuais. O que faz sentido, porque, se alguém é gay ou lésbica e se assume como tal, não faz mal a ninguém, nem a ele(a) mesmo(a) – só aos homófobos.
E, convenhamos, odiar outras pessoas só porque são diferentes de alguma forma de você (por sexo, etnia e/ou orientação sexual) só pode ser um distúrbio mental gravíssimo. No caso da homofobia, é ainda mais grave quando o paciente é homófobo porque não consegue, no fundo, no fundo, assumir sua homossexualidade oculta e latente). Estes sim, merecem tratamento psicológico, mesmo que por decisão judicial – e não a liberdade de pregar o que Mário de Andrade falava em sua Ode ao burguês (1922 – espero que o senhor tenha lido):

Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! 
Ódio fundamento, sem perdão!

Desta vez, não ao burguês, mas a grupos sociais que lhe "desagradam" - como o povo LGBT, por exemplo.

6- De qualquer forma, quando Luciana Genro lhe perguntou sobre os direitos do povo LGBT, ela certamente não quis se limitar a falar sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ela também queria falar de outros problemas que os afetam, como a homofobia e suas consequências – agressões e assassinatos de gays e lésbicas, movidos por ódio. E sua fala impossibilitou isso.
"Ora", pensará o senhor, "será possível que eu não posso mais exercer meu direito constitucional de expressar a minha opinião?"
Claro, sr. Fidelix. A liberdade de expressão é um direito assegurado por nossa Constituição Federal.
Acontece que toda liberdade perante a lei implica em responsabilidade para exercê-la. No caso em questão – o da liberdade de expressão – as pessoas são responsáveis pelo impacto que elas causam pela sua divulgação. Ainda mais quando tais opiniões trazem um sentimento de ódio a um grupo especifico – no caso específico, aos LGBTs.
Não sei se senhor percebeu, mas foi além de "expressar sua opinião": ao propor que a "maioria do povo brasileiro" (SIC) "enfrentasse essa minoria" (SIC, de novo) – propondo inclusive que direitos lhes sejam restringidos – o senhor externou a um grupo específico (o povo LGBT) um Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! / Ódio fundamento, sem perdão! via satélite para todo o Brasil.
O que acontece depois disso? Bem, vou deixar que Leonardo Sakamoto lhe explique, em seu blog, o mal que sua "modesta opinião faz, pouco a pouco: Pessoas como ele [no caso, o senhor] dizem que não incitam a violência. Não é a mão delas que segura a faca ou o revólver, mas é a sobreposicão de seus discursos ao longo do tempo que distorce o mundo e torna o ato de esfaquear, atirar e atacar banais. Ou, melhor dizendo, 'necessários', quase um pedido do céu. São pessoas como ele que alimentam lentamente a intolerância, que depois será consumida pelos malucos que fazem o serviço sujo.
O senhor diz que não aguenta mais ver o que acontece lá na avenida Paulista. Pois é, eu também não aguento ver certas coisas por lá. Não, não estou me referindo aos casais LGBT que passeiam de mãos dadas e se beijam. Estou me referindo aos homófobos desocupados, que zanzam por ali agredindo gays e lésbicas com lâmpadas fluorescentes ou, pior, com objetos mais fortes – porretes, socos ingleses, revólveres de vez em quando etc. Recentemente, um jovem chamado GabeKowalczyk – gay assumido, que tem o apoio de sua família – foi agredido esofreu tentativa de estuproJustificativa dos "valentes" agressores: "Você quer ser mulher? Então agora vai apanhar como mulher".
(Ou seja, os "valentes" agressores não acham só que gays e lésbicas devem apanhar: mulheres, em geral, também.)
E mesmo que a sua intenção não seja propagar a violência, está estimulando justamente isso. Está dando sua absolvição a agressões e mesmo a assassinatos de gays, lésbicas, transgêneros etc. e tal. Estimulando CRIMES. Sim, porque assassinatos e agressões ainda são crimes previstos no Código Penal.
Ou será que o mesmo Código penal abre exceção para gays, lésbicas etc., e eu não sabia? Parece que sim.
Em 21 de junho de 2010, um jovem de 14 anos, chamado Alexandre Ivo, foi torturado e assassinado em São Gonçalo (RJ). Crime cometido por ele, até onde se sabe: ter amigos gays entre os colegas da escola onde estudava. Nem a mãe dele, Angélica Ivo, sabia dizer se o filho era gay ou não, porque ele nunca disse nada a respeito. Para a "inteligência" de um grupo de três beócios brucutus, não havia dúvida: se era amigo de gays, era gay do mesmo jeito, e merecia morrer.
O senhor sabia que, por increça que parível, até hoje os três brucutus ainda estão soltos? E o senhor sabia que, até hoje, o julgamento deles ainda não foi marcado?
Pois é.
No mais, sr. Fidelix, um conselho de amigo. Leia mais as leis – especialmente as de seu Estado, São Paulo. Sabia que há uma lei estadual, a lei 10.948, de 2001, que pune, justamente, manifestações de ódio e/ou discriminação ao povo LGBT? Pois é.
Permita-me transcrever aqui alguns artigos da referida Lei (o grifo, mais uma vez, é meu):

Artigo 1.º - Será punida, nos termos desta lei, toda manifestação atentatória ou discriminatória praticada contra cidadão homossexual, bissexual ou transgênero.

Artigo 2.º - Consideram-se atos atentatórios e discriminatórios dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos homossexuais, bissexuais ou transgêneros, para os efeitos desta lei:

I - praticar qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica;
II - proibir o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento público ou privado, aberto ao público;
III - praticar atendimento selecionado que não esteja devidamente determinado em lei;
IV - preterir, sobretaxar ou impedir a hospedagem em hotéis, motéis, pensões ou similares;
V - preterir, sobretaxar ou impedir a locação, compra, aquisição, arrendamento ou empréstimo de bens móveis ou imóveis de qualquer finalidade;
VI - praticar o empregador, ou seu preposto, atos de demissão direta ou indireta, em função da orientação sexual do empregado;
VII - inibir ou proibir a admissão ou o acesso profissional em qualquer estabelecimento público ou privado em função da orientação sexual do profissional;
VIII - proibir a livre expressão e manifestação de afetividade, sendo estas expressões e manifestações permitidas aos demais cidadãos.

Artigo 3.º - São passíveis de punição o cidadão, inclusive os detentores de função pública, civil ou militar, e toda organização social ou empresa, com ou sem fins lucrativos, de caráter privado ou público, instaladas neste Estado, que intentarem contra o que dispõe esta lei.

Não há escapatória, nem para o senhor, nem para o estado de São Paulo. A secretaria de Justiça, recentemente, respondeu a uma queixa-crime impetrada contra o senhor, dizendo que está reunindo todos os documentos necessários para entrar com processo contra o senhor.
E mesmo que o estado de São Paulo resolvesse fazer como a justiça em São Gonçalo, no caso de Alexandre Ivo, e se fazer de surda, ele não pode. Há um abaixo assinado dirigido àsecretária de Justiça, solicitando a abertura de processo legal contra o senhor com base nesta lei. Ou seja, a esta altura, sugiro que o senhor constitua um bom advogado.

7- Por fim, sr. Fidelix, mais um conselho. Da próxima vez, pense antes de falar. Este incidente é a prova de que fazer o contrário – falar antes de pensar – não dá muito certo.
De minha parte, se o senhor quiser, posso fazer uma campanha para levantar recursos financeiros, a fim de que o senhor possa realizar uma cirurgia corretiva.
Porque eu acho muito esquisito o senhor ter um "aparelho excretor" em baixo de seu nariz e de seu bigode, ao invés de estar no lugar normal a todos os seres humanos.

Sem mais, para o momento,
Atenciosamente...

***************************************

(Não sei se Levy (In)Fidelix vai entender o recado. Mas que alguém vai entender, ah, isso vai.)

****************************************

Vamos agora a mais uma sugestão de filme que poderia ser comprado e distribuído por nossas distribuidoras, se tivessem coragem: Anatomy of a Love Seen (2014), de Marina Rice BaderDir-se-ia – e desde já, mil desculpas a François Truffaut – que poderia ser um A noite americana lésbico. Mas seria exagero. O fato é que tem seu quê de metalinguagem.
Ah, sim, vamos à sinopse.
Seis meses antes, Zoe (Sharon Hinnendael) e Mal (Jill Evyn) contracenavam em um filme, e acabam se apaixonando uma pela outra – por incrível que pareça, a partir das filmagens de uma cena de amor. Zoe e Mal ficaram juntas, felizes, até que Mal se afastou de Zoe, deixando-a arrasada. Algumas semanas depois, Zoe e Mal são reconvocadas pela diretora do filme, Kara (a própria Marina Rice Bader) para... refilmar a cena de amor. E agora?
Bem, agora, quetal ver um trailer do filme e encher o saco de sua distribuidora favorita, para que traga Anatomy of a Love Seen para o Brasil? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário