13 outubro, 2014

O FLA-FLU DA DISPUTA ELEITORAL (E O QUE TEM O AUDIOVISUAL BRASILEIRO COM ISSO)

 


Pode-se dizer o que quiser a respeito da atual política audiovisual do governo do PT. A ação da Ancine - especialmente através de seus PRODECINEs (Produção de obras cinematográficas de longa-metragem - Linha A; Produção de obras cinematográficas de longa-metragem, via distribuidora - Linha C; Comercialização  de obras cinematográficas de longa-metragem - Linha D; Complementação à produção de obras cinematográficas de longa-metragem; e Projetos de produção de longa-metragens com propostas de linguagem inovadora e relevância artística)
PRODAVs (Produção de obras audiovisuais destinadas ao mercado da televisão - Linha B; Produção de conteúdos em projetos de programação; Núcleos Criativos; Laboratórios de Desenvolvimento; e Desenvolvimento de Projetos) - pode ser criticada por sua opção pelas grandes produtoras estabelecidas no mercado, enquanto fecha a porta para quem entra agora. Fora os fatos de: não estimular muito os novos cineastas e a inovação (só recentemente apareceu uma linha do PRODAV para propostas de linguagem inovadora, que ainda não deu grandes frutos) e não enfrentar o problema de pífia reserva de mercado para o cinema brasileiro.
Por outro lado, temos agora a lei 12485, que diz o seguinte em seu Art. 16:  "Nos canais de espaço qualificado, no mínimo 3h30 (três horas e trinta minutos) semanais dos conteúdos veiculados no horário nobre deverão ser brasileiros e integrar espaço qualificado, e metade deverá ser produzida por produtora brasileira independente." Isso, é inegável, está estimulando o fortalecimento dos canais de TV por assinatura totalmente voltados para produção brasileira (Canal Brasil, CineBrasil TV etc.) e da produção independente para todos os canais (inclusive os estrangeiros instalados aqui). No entanto, continuam problemas como: pouco espaço para a produção independente brasileira (uma reserva de mercado ás avessas de 3h30min); a prioridade para as grandes produtoras já estabelecidas há séculos no mercado brasileiro (novas produtoras parecem que estão fora); e os critérios obscuros para estabelecer quais os canais de TV podem ser classificados e aprovados pela Ancine como canais Brasileiros de Espaço Qualificado: por que o SESC TV - que tem 100% de produção brasileira (e destes, 90 a 99% de produções independentes) - não foi qualificado pela Ancine como tal?
Ainda assim, com todos estes problemas e críticas, a política audiovisual que temos é muita coisa, perto do que pode vir caso o PSDB volte ao poder. Tudo depende de qual dos partidos da coligação (PSDB e DEMO) vai predominar na elaboração de sua política cultural. (E nem adianta contar com o que está escrito no programa de governo de Aécio Neves, porque é uma coleção de promessas vagas e platitudes, sem nada de concreto.)
Se forem os çábios do PSDB (assim mesmo, sr. revisor, com c cedilha - obrigado), o resultado serão algumas migalhas para os grandes e mais antigos produtores, para que se conformem em ficar com um espaço no audiovisual minúsculo, em contraste com o atual. 
E claro, novos cineastas e produtores (se me perdoarem o termo chulo) sifu.
Se forem os çábios do DEMO, nem isso: adeptos do mantra "o livre mercado resolve tudo sozinho" - o que, por si só, já traz, na mesma frase, duas mentiras: um mercado completamente livre não existe, com tantos grupos econômicos formando carteis; e se este tal de mercado resolve os problemas sozinho... bem, não haveria a crise econômica que atormenta o mundo desde 2008, não é? (E nem a crise de 1929, certo?) - o que todos nós, do audiovisual brasileiro, teremos é um sifu amplo, geral e irrestrito. 
Não custa nada lembrar que, na área da TV paga, o DEMO é contra a lei 12485, tanto que entrou com ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra ela no Supremo Tribunal Federal.  Isso sem falarmos na "inteligente" argumentação de um de seus ínclitos próceres - o então senador (e hoje crítico especializado em cinema pornô) Demóstenes Torres, em artigo para a Folha de S. Paulo. Sem a licença deste íntimo colaborador do ínclito empresário Carlinhos Cachoeira, um dos trechos mais instigantes, que mostra o seu grande conhecimento do cinema brasileiro passado e atual: "Filmes, só os nacionais não realizados por emissoras. Veta o Brasileirão, aprova as Brasileirinhas." (Para quem voltou de Marte ontem, depois de meio século de residência no planeta: "Brasileirinhas" é um selo brasileiro de vídeos pornôs. Daí, a suposta nova profissão do ex-senador, depois que perdeu seu mandato.)
Isso sem esquecermos da colaboração dos çábios do DEMO - então chamado PFL - à política de "mercado livre" (SIC) no audiovisual brasileiro, durante o governo daquelle caçador de maracujás, e de seu "cineasno" secretário de Cultura... lembram dos "estimulantes" resultados desta política para o cinema brasileiro?
Daí, mesmo os críticos da atual política audiovisual são obrigados a concordar: ruim com o governo atual, pior com um governo demo-tucano.
Pensem nisso na hora de votar.

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Para os cariocas e fluminenses, pensem também em uma coisa para o segundo turno para o governo do RJ: qual número vão criar para votar nulo no dia 26 de outubro? Votar no candidato da situação é votar no grupo do chefe do PNGB (Partido Nazista-Guardanapista Brasileiro), o führer Serge von Cabral. Votar no candidato que foi para o segundo turno é arriscar-se a ter uma experiência piloto no RJ de como seria uma República Teocrático-Evangelica Brasileira.
Páreo duro.
Alguém em SP, MG, RS ou qualquer outro estado da federação teria um emprego para um roteirista e crítico de cinema que não quer viver num estado assim? Ofertas de trabalho para o email deste escriba.

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