E, é claro,
conhece a história da nomeação de seu cavalo favorito, Incitatus, para o Senado
romano.
Pois é.
Ninguém esperava
que, séculos depois, o Congresso Nacional teria vários Incitatus. Com a
diferença que não são cavalos, mas burros mesmo. E não precisou nenhum
imperador nomeá-los: bastou o voto direito e secreto. (E, é claro, os
candidatos enganarem o eleitor, fazendo-os achar que eram normais e tinham
cérebro.)
Uma
destas bestas quadradas é Hidekazu Takayama, pastor da Assembleia de Deus e
deputado federal pelo PSC do Paraná. Para quem acha que os japoneses e seus
descendentes são de uma inteligência acima da média, tenho a grave incumbência
de lhes informar: Takayama é uma triste exceção. Entre outras opiniões a respeito do povo LGBT, saiu-se com esta "pérola":"Se continuar com esse tipo de argumento que dois homens e duas mulheres formam uma família, daqui a pouco vai ter homem com vaca e vai virar avacalhação."
(Lembra e muito a cabra do dr. Guzzo, em seu artigo infeliz para a (In)Veja, não?)
Ah, sim: o
reverendo Takayama também disse isso (não vale rir, nem de nervoso):
“Eu desafio qualquer jornalista investigativo a descobrir, dos
quase 4 mil casos de assassinatos de homossexuais, quantos foram praticados por
católicos ou evangélicos? Nenhum. Então quem deveria ir para a cadeia são os
homossexuais. Eles é que nas briguinhas íntimas cometem os crimes”
Isso não
lembra alguém?
Lembra, sim: Silas Mala-Sem-Alça-Faia, que pensa a
mesma coisa. Mas isso eu já disse várias vezes aqui nesta séria série. Mas só para
refrescar sua memória:
iG: Mas o senhor não acha que deveria ser feito
algo para evitar as discriminações e agressões físicas aos gays?
Silas Malafaia: Não desejo que ninguém morra, ok? Mas os homossexuais dizem que foram assassinados 260 deles no ano passado. Cinquenta mil pessoas foram assassinadas no Brasil no ano passado. O número de homossexuais mortos representa 0,52%. Um dado que eles não falam: grande parte das mortes é resultado de briga de amor entre eles. Que papo é esse? No mínimo, uns 50%. Homofobia é falácia de ativista gay para manter verbas para suas ONGs para fazer propaganda de que o Brasil é um país homofóbico. Homofóbico uma vírgula, amigo.
Silas Malafaia: Não desejo que ninguém morra, ok? Mas os homossexuais dizem que foram assassinados 260 deles no ano passado. Cinquenta mil pessoas foram assassinadas no Brasil no ano passado. O número de homossexuais mortos representa 0,52%. Um dado que eles não falam: grande parte das mortes é resultado de briga de amor entre eles. Que papo é esse? No mínimo, uns 50%. Homofobia é falácia de ativista gay para manter verbas para suas ONGs para fazer propaganda de que o Brasil é um país homofóbico. Homofóbico uma vírgula, amigo.
Mas
voltando ao pastor Panakayama... digo, Takayama.
Ainda que
idiota (não como o Eremildo, do Elio Gaspari...), não é tão bobo. Sabe que, mesmo
com o fato de que, até agora, pastores escaparam de ajustar contas na justiça
por propagar o ódio se escondendo atrás da Bíblia (não só contra o povo LGBT,
mas contra outras religiões – especialmente as afro-brasileiras e espíritas
kardecistas), isso pode acontecer um dia.
Por
isso, apresentou o seguinte projeto de lei (favor
manter ao seu lado um copo d'água e sal de frutas para tomar depois de ler. Os
grifos são meus):
RELIGIÃO
28/JAN/2016 ÀS 15:56
Proposta
que transforma religiosos em seres “intocáveis” volta a tramitar
Projeto de lei que pretende dar imunidade criminal aos
religiosos que cometerem crimes de injúria e difamação volta a tramitar na
Câmara dos Deputados e causa preocupação. Dos 23 membros titulares da comissão
que vai analisar o projeto, 17 fazem parte da frente evangélica, e dois da
frente católica. Juristas criticam a proposta
Um projeto de lei na Câmara
dos Deputados quer dar imunidade aos
crimes de injúria e difamação para as opiniões de líderes religiosos no
exercício de suas atividades.
O texto é
criticado por dar imunidade criminal a
um grupo específico e chega num momento em que líderes religiosos são
questionados na Justiça sob acusações de ofensas e incitação à violência contra
homossexuais e religiões afro-brasileiras.A proposta deve voltar a tramitar a partir de fevereiro, com o fim do recesso parlamentar, na comissão especial criada em novembro para dar parecer sobre o projeto.
O autor do texto, deputado Takayama (PSC-PR), justifica a proposta com o argumento de que o objetivo é “garantir a liberdade de expressão dos religiosos“.
O texto em tramitação hoje abre uma brecha para que qualquer pessoa que emitir uma manifestação de teor religioso fique imune aos crimes de injúria e difamação.
Diz o texto mais atual da proposta que “não será configurada como crime de injúria ou difamação a manifestação de crença religiosa, em qualquer modalidade, por qualquer pessoa, acerca de qualquer assunto e a opinião de professor no exercício do magistério”.
Bancada Evangélica
Juristas
religiosos criticam o projeto. Para o presidente da Anajure (Associação
Nacional de Juristas Evangélicos), Uziel Santana, o direito à opinião não deve
ser defendido com base em alterações nas leis penais.Santana afirma ver contradição na crítica feita por setores religiosos ao projeto de tornar crime opiniões que ofendam os homossexuais (homofobia) e a defesa do texto de Takayama.
“Então, quando os próprios evangélicos criticam o PL 122/06 da homofobia justamente por que é uma norma penal, como eu, evangélico, vou defender um projeto de natureza penal para dar uma excludente a essas duas questões [injúria e difamação] a professores e religiosos?”, questiona Santana. “Acho que legislação penal não serve para direitos humanos. Essa é uma opinião fechada da Anajure”, diz.
“Religiosos, professores, homossexuais, de direita e de esquerda devem ser cidadãos. E como cidadãos eles têm seus direitos e seus deveres”, afirma.
O presidente da Anajure, que tem acompanhado a tramitação do projeto, diz que a comissão especial foi criada originalmente para analisar o projeto do Estatuto da Liberdade Religiosa, mas por pressão da Frente Parlamentar Evangélica, foi incluído o projeto que trata dos crimes de injúria e difamação.
Dos 23 membros titulares da comissão que vai analisar o projeto, 17 fazem parte da frente evangélica, e dois da frente católica.
Injúria e difamação
O crime de
difamação é a atribuição a alguém de um fato ofensivo à sua reputação. Por
exemplo, dizer que alguém é desonesto ou que trai a mulher. Já a injúria está
relacionada ao ato da ofensa em si, e pode ser configurada por meio de
xingamentos, por exemplo. A dupla costuma estar associada ao crime de calúnia,
que é quando é atribuído a alguém a prática de um crime. Por exemplo, ao dizer
que um homem é ladrão. A calúnia, no entanto, não é alvo do projeto de lei em
tramitação na Câmara.O promotor de Justiça e professor de direito penal da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) Christiano Jorge Santos afirma que a liberdade de expressão de religiosos e professores já é garantida por lei. Ele explica que só é configurado o crime quando está clara a intenção de ofender, e que a lei não pune a discussão de ideias, mesmo que contrárias a outras crenças ou comportamentos sociais.
“Qual a justificativa para se pretender excluir do rol dos crimes do artigo 140 [do Código Penal] uma ofensa no contexto religioso ou praticada por quem está no exercício de função religiosa?”, questiona Souza.
Religiosos processados
Líderes
religiosos que se destacam por sua atuação já tiveram opiniões questionadas na
Justiça sob a suspeita de discriminação. Em maio do ano passado, a TV Record,
de propriedade do bispo Edir Macedo, foi condenada a exibir quatro programas de
televisão como direito de resposta às religiões de origem africana por ofensas
contra elas, veiculadas no programa “Mistérios” e no quadro “Sessão de
Descarrego”.Outro caso ocorreu em outubro de 2015, quando o TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3º Região) determinou que seja retomado o processo contra o pastor Silas Malafaia por supostas declarações homofóbicas durante o programa de TV “Vitória em Cristo”.
informações de Felipe Amorim, UOL
Pois é.
É como diz
um engraçadinho no Facebook sobre o motivo do projeto:
"Eu
sei o porquê desta proposta: querem evitar que Jesus, se e quando voltar à
terra, processe pastores como este ou Silas Malafaia por falsidade
ideológica..."
Sabe a rola que o Boechat mandou o Mala-Sem-Alça-Faia procurar? Pois os
evangelicuzinhos acharam, e agora eles querem introduzi-la em nossos
subilatórios.
Sério. Já não
basta às igrejas que eles representam ter isenções fiscais (que nós, comuns
contribuintes, não temos) Agora, querem ter ainda mais liberdade de pregar o
ódio contra outras religiões e estimular as agressões.
Marco
Feliciânus poderá pregar sossegado que "africanos são uma raça
amaldiçoada" (enquanto insistirem em cultuar seus orixás, claro; se eles se
converterem às igrejas evangelicuzinhas e colocarem dízimos nos bolsos destes
"homens de Deus", estarão "abençoados"...). Silas
Mala-Sem-Alça-Faia pode incitar as pessoas, em sentido "figurado"
(SIC), a "meter o pau" no povo LGBT. E o próprio pastor Babakayama...
ops, Takayama (ô teclado ruim...) pode continuar comparando o casamento entre
pessoas do mesmo sexo a relações entre humanos e vacas...
Será.
Vamos dar
uma lidinha na parte do Código Penal que trata deste assunto (o grifo, para
variar, é meu):
PARTE ESPECIAL
TÍTULO I DOS CRIMES
CONTRA A PESSOA
CAPÍTULO V DOS CRIMES
CONTRA A HONRA
Exclusão do crime
Art. 142. Não constituem injúria
ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo,
na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da
crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável
emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único. Nos casos dos
ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
Retratação
Art. 143. O querelado que, antes
da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de
pena.
Em
português mais ou menos claro: o projeto de lei do deputado Babakayama (vai
assim mesmo: não vou parar o texto para consertar esse teclado ruim...) só vai
dar mais trabalho aos advogados dos que forem ofendidos por evangelicuzinhos.
Voltando a
Feliciânus, só para usar um exemplo: se ele voltar a usar aquela babaquice de
que "africanos são descendentes de Caim e uma raça amaldiçoada" e
disser que isso está na Bíblia, o advogado vai ter de consultar um teólogo
sério (não estes fundamentalistas evangelicuzinhos...) para saber se isso é
sério.
Como a
história de Caim e Abel está no Antigo Testamento – por coincidência, a única
parte da Bíblia que os evangelicuzinhos consultam para pinçar seus exemplos (embora
sejam cristãos e, portanto, deveriam ser mais obedientes ao Novo Testamento) –
e quem escreveu o Antigo Testamento nem sequer conhecia a África como um todo (a
não ser o Egito dos faraós), vai ser mais ou menos fácil para o advogado e o
teólogo sério provarem que a África é "amaldiçoada" só na cabeça com
penteado de chapinha de Feliciânus, e pronto: fica configurada a ofensa, os
ministros do STF (que são os encarregados de julgar os nobres deputados
federais) o condenam, e pronto.
Isso
sem lembrarmos, claro, das manifestações "caridosas" de Feliciânus
sobre as mortes de John Lennon e dos Mamonas Assassinas (e aí, familiares dos
rapazes, já entraram com processo contra Feliciânus) e, last but not least, sobre os atentados do Estado Islâmico em Paris, que já comentei nesta séria série. Aí eu
espero que não tenha "imunidade de opinião" que livre Feliciânus e
outros evangelicuzinhos do mesmo "quilate"...
Em suma: só
vai dar mais trabalho aos advogados. Mas ainda assim, é preocupante essa tentativa canhestra de calar a boca das pessoas de bom senso.
**************************
Uma coisa é
certa: se tal lei cretina for aprovada, sei de outro evangelicuzinho que vai
agradecer muito por isso: o pastor Ezequiel Teixeira (hoje no PMB).
Seria
uma imunidade muito bem vinda para este cretino como pastor. Como parlamentar
não deu, pois não foi reeleito em 2014. Como secretário do governo (?) do
Estado, menos ainda. Custou, mas o governador (SIC) do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, demitiu o pastor da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos – cargo
para o qual, aliás, o doutor Pezão nem deveria ter nomeado. A frase já é mais
do que manjada, mas vá lá: nomear um pastor homofóbico para uma secretaria de
Direitos Humanos foi o mesmo que colocar um lobo ou raposa para cuidar de um
galinheiro.
O mais engraçado é que, segundo o próprio doutor Pezão, ele só demitiu o imbecil porque não sabia de suas posições homofóbicas, que ele só descobriu depois de ler a entrevista dele em O Globo. Não lhe chamou a atenção o fato de que, para supostamente atender à determinação de cortar gastos dentro do Estado, o pastor Teixeira resolveu desmontar um projeto subordinado à sua secretaria – justamente, o projeto Rio Sem Homofobia, um sucesso e um exemplo desde que foi montado em 2007. Na entrevista, o pastor Teixeira negou, jurando de pés juntos, que
O mais engraçado é que, segundo o próprio doutor Pezão, ele só demitiu o imbecil porque não sabia de suas posições homofóbicas, que ele só descobriu depois de ler a entrevista dele em O Globo. Não lhe chamou a atenção o fato de que, para supostamente atender à determinação de cortar gastos dentro do Estado, o pastor Teixeira resolveu desmontar um projeto subordinado à sua secretaria – justamente, o projeto Rio Sem Homofobia, um sucesso e um exemplo desde que foi montado em 2007. Na entrevista, o pastor Teixeira negou, jurando de pés juntos, que
o
fato de ser um dos fundadores da igreja evangélica Projeto Nova Vida e que seus
valores religiosos influenciem suas ações na pasta.
Ah,
sim, e jurou que vai continuar o Rio Sem Homofobia – isso depois de demitir
cerca de 78 pessoas, fechar quatro centros de atendimento e suspender o
telefone 0800 do projeto.
(Fundo
musical: Hipocrita
/ sencillamente hipócrita...)
Só
que, antes de fazer tais juras, o pastor Teixeira se traiu. Ao ser questionado
pelo repórter se acredita na "cura gay", eis o que ele responde (o grifo é meu):
—
Poxa, o senhor crê na cura? Eu creio,
plenamente. Eu não creio só na cura gay, não. Creio na cura do câncer, na cura
da Aids... Sabe por quê? Porque eu sou fruto de um milagre de Deus também.
Ou
seja: para o pastor: câncer + AIDS + homossexualidade = tudo doença.
E
logo depois, ao responder sobre as críticas do coordenador do Rio Sem
Homofobia, Claudio Nascimento, foi ainda mais explícito (o grifo é meu):
—
Os incomodados que se mudem. Eu estou aqui e bem. Quem é o secretário? Se está desconforme com o secretário, o que
vou fazer? Eu não o poderia ter exonerado? Eu exonerei várias pessoas...
Estou tentando caminhar (...) Fui eleito com essas convicções. Fui convidado
para estar aqui. E todos que me chamaram sabiam das minhas convicções.
O pastor só
esqueceu de um detalhe: o doutor Pezão – segundo o próprio governador (SIC)
diz, é claro – se sentiu incomodado com o que ele diz. Ao invés de se mudar,
ele fez com que o pastor se mudasse para o olho da rua – afinal, chefes de
governo também tem o poder de nomear e exonerar seus secretários, sempre que
quiser.
Mas
voltando à vaca fria:
O senhor
REALMENTE não sabia das convicções homofóbicas de seu secretário dos Direitos
Humanos, doutor Pezão?
Ora,
se o senhor tivesse nos consultado a respeito do pastor Ezequiel Teixeira,
poderíamos ter lhe lembrado uma das gracinhas que ele e outro pastor-político,
Édino Fonseca (Solidariedade) – que, aliás, faziam parte da sua coligação no
estado - fizeram na última eleição: um panfleto em forma de revista, em nomeda campanha presidencial de Marina Silva, chamando a candidata à reeleição Dilma Rousseff e Jean Wyllys (PSol) de "anticristos". (Aliás, uma revista muito bem impressa. Quantos dízimos dos fiéis deve ter custado a
edição deste troço, hein?). Se o senhor quiser, doutor Pezão, pode até ler o
febeapá (festival de besteira que assola o país – © Stanislaw Ponte Preta)
fundamentalista completo dentro deste material, pois Jean Wyllys, que o denunciou, publicou-o em sua coluna no site da revista Carta Capital. E o nobre
pastor nem poderá negar, já que o seu nome e o de Edino Fonseca estão impressos
neste troço.
Mas, se não
quiser ler o troço, posso fazer um resumo. Olha só a lista de coisas das quais
Dilma e Jean Wyllys eram acusados:
1- Queriam
legalizar a eutanásia;
2- Queriam
legalizar o aborto e instalar um "mercado de fetos abortados" (SIC);
3- Queriam
legalizar a prostituição, "inclusive de menores de 12 anos de idade";
4- Queriam
legalizar a maconha;
5- Queriam
legalizar a invasão de propriedades urbanas e rurais;
6- Queriam
legalizar a adoção de crianças por casais homoafetivos, o que, para eles,
"influenciaria as crianças a se tornarem gays" (?); e
7- Queriam,
claro, criminalizar a homofobia, "numa CLARA PERSEGUIÇÃO às famílias, aos
seguimentos (SIC) religiosos, avançando sobre a área educacional, comercial e
industrial (?)".
Pior: o
material foi feito, supostamente, para a campanha presidencial de Marina Silva
(então candidata do PSB) – afinal, ela é evangélica.
Em uma atualização posterior feita em seu
artigo no site da revista Carta Capital, Jean Wyllys comenta que a coordenação
da campanha de Marina veio a público e desautorizou os dois candidatos
fluminenses; garantiu que vai processá-los pelo que fizeram e que vai exigir o
recolhimento do material.
Então, de duas uma: ou o doutor Pezão realmente não
sabia das convicções homofóbicas do pastor Teixeira – e neste caso, foi uma
falha brutal dos aspones (= ASsessores de POrra NEnhuma – © Roniquito de
Chevalier) do sr. governador, que deveriam ter verificado e lhe informado; ou o
doutor Pezão sabia, mas não estava nem aí, já que o importante eram as
"conjuminâncias" políticas: nomeia-se qualquer um, desde que seja de
um partido que faz parte da base governista, para qualquer coisa, e assim mantém o partido na base. O
substituto do pastor Ezequiel Teixeira na Secretaria – o deputado estadual Paulo
Melo (PMDB), que estava na chefia da Casa Civil – que o diga. Não que o doutor
Paulo Melo seja um fundamentalista evangelicuzinho. Mas também não é bem assim um
paladino das causas e reivindicações LGBT. Haja vista esta reportagem n'O Globo de 20 de fevereiro último:
Embora tenha votado favoravelmente ao projeto, o deputado disse, em plenário, durante um debate em que veio à baila a questão da cura gay, levantada por outro parlamentar, que "garrafa que levou querosene não perde o cheiro jamais".
O trecho completo está registrado nos arquivos da Casa:
"Sr. Presidente, não gostaria de criticar. Penso que devemos acreditar na
recuperação do ser humano em todos os níveis. Em alguns casos, exigem-se provas
científicas. No interior, existe a "prova da farinha". Se não passar
pela "prova da farinha de trigo", não há justificativa. Voto
favoravelmente ao projeto, porque devemos investir em todas as propostas, mas
"garrafa que levou querosene não perde o cheiro jamais".
(Tá,
essa piadinha – SIC – era uma resposta o "colega" Wolney Trindade,
que era contra o projeto – e que aqui, em Niterói, durante sua vereança, sempre
apoiou projetos contra os LGBT. Mas mesmo assim...)
***********
A
propósito: antes da exoneração do pastor Ezequiel Teixeira (e logo depois que o
reverendo pontificou sobre a "cura gay"), um casal LGBT se manifestou
sobre isso de maneira contundente.
No caso, o
casal é formado pelo jornalista Gilberto Scofield Jr. e Rodrigo Barbosa, pais
do pequeno Paulo Henrique, de 6 anos.
Vale ler o que escreveram, na íntegra:
Sr Ezequiel Teixeira,
Hoje eu acordei, ao lado do meu
marido, com quem vivo há 13 anos, com a notícia de que o senhor acredita na
cura gay. Eu, gay, nunca acreditei nisso. E nunca acreditei porque tenho
consciência de que não estou doente.
Desde muito pequeno "sentia que
era diferente dos outros meninos". Sinto-me obrigado a colocar essa frase
entre aspas porque é algo que foi dito muitas vezes, por muitas pessoas que,
assim como eu, não se sentem doentes.
Muitos anos antes do meu nascimento,
e acredito que do seu também, em 1948, o homossexualismo passou a existir na
Classificação Internacional de Doenças (CID) sob código 320, dentro da
categoria de Personalidade Patológica, na subcategoria de Desvio Sexual.
Acredito que o senhor saiba que no
dia 17 de maio de 1990 o homossexualismo deixou de fazer parte da CID. Eu não
lembro desse marco, tinha apenas 9 anos, mas lembro que naquele mesmo ano perdemos
Cazuza. Quem queria um Cazuza diferente daquele que tivemos? Não, não queremos
cura alguma.
Aos 14 anos comecei a me relacionar
com homens mais velhos, já que os meninos da minha idade não contavam uns aos
outros sua orientação sexual. Era 1995. E lendo o jornal de hoje já nem sei se
posso dizer que era uma época mais careta, mas certamente menos esclarecida. Eu
não tinha abertura para conversar com meus pais, amigos, escola. Por vezes, me
arriscava a entrar no carro de pessoas das quais eu nem sabia o nome em busca
de alguma aventura. Outras vezes apenas suprimia meus desejos e as lembranças
hoje são de uma infância e adolescência muito tristes, tentando esconder de
todos que eu conhecia quem eu realmente era.
Em algum momento eu consegui me
libertar do julgamento de pessoas que acham que a homossexualidade (como passou
a ser chamada, porque não se trata de uma doença, e então não precisa de cura)
seja algo errado, um desvio, uma escolha, e passei a ser feliz.
Hoje, casado, pai de um menino de 6
anos que é uma felicidade na minha vida, digo com total certeza que não há nada
a ser curado aqui. Olhe para a foto da minha família e me diga, sinceramente,
se tem algo a ser curado aqui. É uma delícia ser gay, Sr Ezequiel, acredite.
Aliás é uma delícia poder ser quem você é ou quer ser. O único momento em que
eu me sinto entristecido, é quando abro o jornal e vejo que uma pessoa que está
no cargo de Secretário de Direitos Humanos faz declarações como essas que todos
lemos na manhã de hoje.
Mas não há cura para o mau-caratismo
e a sem-vergonhice, não é mesmo? Que vergonha em ter o senhor como Secretário.
Que vergonha!
...
Alguns amigos me perguntaram se podem
compartilhar. Claro. Essa luta é de todos nós.
Simples
assim.
************************
E agora,
para não dizer que implico demais com os evangélicos e com o dízimo...
Permitam-me
citar alguns trechos de um artigo sobre o assunto a seguir, lá no Blasting News, ), com
informações muito esclarecedoras para os não religiosos a respeito do dízimo:
(...) saiba como funciona e para onde vai, em tese, o dinheiro
arrecadado nos cultos religiosos, a intenção desta matéria não é levantar
discussão sobre o tema, é apenas para fins informativos, de acordo com
pesquisas e conversas com alguns pastores e sacerdotes.
O dízimo, na maioria das igrejas, não é "cobrado", e sim
"sugerido", tem base na Bíblia e origem no velho testamento. O dízimo
era o compromisso feito pelos judeus com Deus de darem 10% de tudo o que
produziam para manutenção dos templos e sobrevivência dos membros da tribo de
Levi, chamados de "levitas", e dos sacerdotes, que dedicavam a sua
vida para cuidar dos templos, (ou tabernáculos), homens que pela lei de Moisés
não podiam possuir bens nem propriedades e não recebiam heranças. Esses
recursos também eram usados para socorrer os pobres, viúvas e órfãos desamparados
na época.
Hoje o dízimo, em tese, tem praticamente a mesma função de
antigamente, cobrir os custos de manutenção de uma instituição religiosa nas
despesas de cunho material, como água, energia elétrica, telefone, manutenção
elétrica e hidráulica, alugueis, limpeza, etc., os recursos também são usados
em obras sociais, evangelização, escolas, associações de amparo à viciados e
socorro aos mais necessitados.
A contribuição em algumas igrejas deve ser regular e proporcional [ao]
ganho do fiel. É entendido como um meio de manifestação da sua fé numa forma
concreta, aquele que compromete como dizimista deve estar ciente de que nunca
estará "pagando" pelas bênçãos que espera receber e sim
"devolvendo" parte do que já lhe foi concedido materialmente. O dízimo
também é um compromisso do fiel para cobertura das despesas da igreja.
Alguns padres e pastores não veem dificuldades em falar
sobre este assunto, mas concordam que sua prática tem sido tema de polêmica
devido a abusos e deturpação das referencias bíblicas sobre dízimos por parte
de alguns que eles chamam de "mercadores da fé", que abusam da
interpretação das escrituras para enriquecimento pessoal em cima de pessoas
fragilizadas ou sem instrução.
Tipo assim:
ao invés de socorrer pobres, viúvas, órfãos e outros desamparados, o dízimo
financia a construção de templos de suntuoso mau gosto – como um, lá em São
Paulo, de certa igreja dona de uma rede de TV. (E que tem tanta grana que ainda
aluga 22 horas de programação em outra rede de TV – alô, Ministério das Comunicações,
onde estás que não respondes?)
Ou paga
salários de alto executivo a pastores de certas igrejas – como a de Silas
Mala-Sem-Alça-Faia, e ele próprio assume aqui naquela entrevista ao iG:
iG: Quanto ganham em média os pastores
da sua igreja?
Silas Malafaia: Ninguém ganha igual. Cada um tem o seu valor. Tenho pastores que ganham entre R$ 4 mil e R$ 22 mil. Pastores que mando para outro estado, pago casa, água, luz, escola dos filhos, gasolina. Dou dignidade aos caras. Não trabalho com zé bobão. Tinha dois pastores que eram advogados e possuíam escritórios de advocacia. Cheguei e perguntei: amigo, o que você quer ser? Pastor ou advogado? Qual é teu chamado? Pastor? Então fecha essa porcaria e vem comigo. Não tenho gente que não ia ser nada na vida e virou pastor.
Silas Malafaia: Ninguém ganha igual. Cada um tem o seu valor. Tenho pastores que ganham entre R$ 4 mil e R$ 22 mil. Pastores que mando para outro estado, pago casa, água, luz, escola dos filhos, gasolina. Dou dignidade aos caras. Não trabalho com zé bobão. Tinha dois pastores que eram advogados e possuíam escritórios de advocacia. Cheguei e perguntei: amigo, o que você quer ser? Pastor ou advogado? Qual é teu chamado? Pastor? Então fecha essa porcaria e vem comigo. Não tenho gente que não ia ser nada na vida e virou pastor.
iG: O senhor diz que é o único pastor
que fala em valores. Quanto o senhor paga pelo o seu tempo na TV?
Silas Malafaia: Não posso dizer o que pago na Band por regra contratual. Na Rede TV, pago R$ 900 mil por mês. Na CNT, pago R$ 450 mil. Eu dou número, amigo. Não tenho problemas.
Silas Malafaia: Não posso dizer o que pago na Band por regra contratual. Na Rede TV, pago R$ 900 mil por mês. Na CNT, pago R$ 450 mil. Eu dou número, amigo. Não tenho problemas.
Pois eis
que, para meu alívio – e alegria dos verdadeiros cristãos evangélicos (sim,
isso mesmo, os evangélicos de verdade, não os evangelicuzinhos acometidos pela
Síndrome da Melancia no Pescoço, tipo Feliciânus, Mala-Sem-Alça-Faia et caterva) – descubro alguém que lembrou
o sentido original do dízimo e preferiu aplica-lo em coisas mais úteis do que salários
gordos, templos suntuosos e redes de TV.
A
seguir, notícia do site Gospel Mais sobre o assunto:
Igreja aplica dízimos e ofertas na
construção de casas para fiéis que não têm onde morar
Publicado por Tiago Chagas em
26 de agosto de 2013
Tags: amor ao próximo, Araruama, assembleia de deus ministério lagoinha, igreja primitiva, pastor Fábio Mendonça, projetos sociais, Solidariedade, terceiro setor, voluntariado
Tags: amor ao próximo, Araruama, assembleia de deus ministério lagoinha, igreja primitiva, pastor Fábio Mendonça, projetos sociais, Solidariedade, terceiro setor, voluntariado
A Igreja Primitiva é descrita na Bíblia
como uma comunidade em que todos repartiam seus bens de forma que nenhum fiel
ficasse desamparado. Aplicar esse conceito de forma literal nos dias de hoje é
algo visto como impossível, mas adotar princípios dessa filosofia, não.
O pastor Fábio Mendonça, líder da
Assembleia de Deus Ministério Lagoinha na cidade de Araruama, Rio de Janeiro, e
sargento da Polícia Militar da 25ª CIA em Cabo Frio, aplicou princípios da
Igreja Primitiva na congregação que dirige.
Atento às necessidades materiais de alguns
membros de sua igreja, resolveu reverter a aplicação dos dízimos e ofertas
arrecadados na construção de moradias para os fiéis em situação de
vulnerabilidade social, sem custos para os beneficiados.
Mendonça afirmou, em entrevista ao jornal O
Cidadão, que a ideia surgiu do desejo de prestar assistência às pessoas em
dificuldades: “A igreja a princípio se assustou com a ideia, mas eu tinha que
ser o primeiro a mostrar que poderia acontecer. Na Polícia Militar eu trabalho
com manutenção, usei minha experiência na área no projeto. Por isso, eu mesmo
fiquei de frente, inclusive, ajudando a cavar a fundação das casas”.
A iniciativa incomum já recebeu críticas,
disse Mendonça: “Alguns pastores me perguntaram se eu não estava ‘arrumando’
muito trabalho. Se Deus pensasse no trabalho que o ser humano dá a Ele em
relação à desobediência a seus princípios, não teria feito o mundo. Tudo que
fazemos na vida pode nos gerar problemas, você não compra um carro, por
exemplo, pensando que o pneu pode furar um dia, mas no benefício que você vai
ter com o veículo”, ilustrou.
O trabalho voluntário e o aproveitamento
máximo dos materiais foram essenciais para que o desafio se tornasse realidade,
de acordo com o pastor: “O maior desafio era não desperdiçar material e
economizar com mão de obra. Foram construídas quatro casas em apenas quatro
meses, os dízimos e ofertas foram revertidos para a obra. Além de mim, mais
três pedreiros ajudaram na realização das construções trabalhando
voluntariamente aos finais de semana”.
A congregação possui 200 membros, e com a
iniciativa de construir moradias para os fiéis que não tinham onde morar houve
mobilização solidária por parte da comunidade. O pastor Fábio Mendonça ressalta
que não realizou nenhuma campanha de arrecadação: “Não sou de pedir. Acredito
que quando o trabalho é direito, o Espírito Santo se encarrega de mover o
coração das pessoas ao desejo de ofertar. E assim foi: um membro doou mil
tijolos, outro duas pias…”, disse, revelando que a iniciativa ainda não atendeu
as necessidades de todos os membros: “Agora, estamos construindo mais quatro
quitinetes, com o desafio de entregá-las até o dia 12 de outubro, pois, hoje
temos duas senhoras alojadas na igreja, uma delas está no espaço onde eu
atendia, meu gabinete pastoral e a outra na ‘salinha’ das crianças”.
Segundo o pastor, sua iniciativa não tem
motivação política: “Se eu estiver fazendo isso na intenção de ser candidato o
trabalho é em vão, não tenho interesse político nenhum”.
“As igrejas devem ficar mais atentas à
necessidade do povo. Sejam elas materiais ou espirituais. Há igrejas em que a
maioria dos membros não possui necessidades financeiras, mas sempre há os que
precisam de ajuda espiritual e aqueles que precisam de ajuda material”, alertou
o pastor Fábio Mendonça.
Gostei
muito disso. E mais ainda em saber que o pastor Fábio Mendonça não pretende entrar
na política e ser candidato a alguma coisa.
Aliás, torço
para que ele mantenha a promessa de não se candidatar a nada. Porque parece que
há algo na água do Congresso Nacional, assembleias estaduais e câmaras de
vereadores que contamina até o cristão mais humilde com a Síndrome da Melancia
no Pescoço – senão com coisas piores... (Taí a Bancada dos Fiscais de Fiofó,
vulgo Frente Parlamentar Evangelicuzinha, no Congresso Nacional, que não nos
deixa mentir.) Porque não apenas os cristãos, mas todas as pessoas, precisam de
gente que fique em terra firme, longe das "alturas" dos poderes
políticos, para fazer o bem, sem ver a quem.
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E agora, a nossa indicação para esta séria série – aliás, uma indicação histórica.
Todo mundo – pelo menos,
todo mundo que estuda a história do mundo direitinho – está careca de saber
quem foi a rainha Cristina da Suécia. E,
possivelmente até assistiram o filme de 1933, com Greta Garbo –
onde, aliás, tinha o hábito de beijar sua favorita, Ebba, na boca, de leve,
como nesta cena.
E, é
claro, todo mundo sabe que Cristina tinha opiniões fortes e o hábito de se
vestir com roupas masculinas – cortesia, aliás, da própria educação que teve
para reinar, já que os próprios suecos a chamavam de "Menina Rei"...
Isso,
aliás, tornou Cristina um ícone não só das feministas, mas da comunidade LGBT.
Mas só recentemente começou a se escrever a respeito de sua sexualidade peculiar
– especialmente os finlandeses, vizinhos da Suécia, que demonstraram certa obsessão
pelo assunto. (Não só eles, claro.) Uma certa Laura Ruohonen escreveu uma peça, Queen C, onde Cristina é, claro, a protagonista – uma rainha que deixa seus contemporâneos com suas opiniões controversas sobre a identidade e sexualidade humana, e acaba abdicando por causa disso.
Agora, o cineasta finlandês Mika Kaurismaki – muito conhecido nosso, até porque vive no Brasil desde 1992, casado com uma baiana e pai de dois filhos brasileiros – resolveu dar seu pitaco na vida da rainha Cristina, com The Girl King (A Jovem Rainha – Suécia/Finlândia/Canadá/Alemanha, 2015).
(Aliás, alguém precisa nos explicar porque os tradutores das distribuidoras brasileiras transformaram o título original, que traz o apelido que os próprios suecos lhe deram, "Menina Rei", em A Jovem Rainha... Parece que Ruy Castro, em seu artigo "Assim tropeça a humanidade – E outros títulos de filmes em português", de 2006 – do livro Um filme é para sempre, Companhia das Letras – tinha razão ao escrever: "Antigamente, brincava-se de chamar os Marx Brothers [os Irmãos Marx: Groucho, Chico, Harpo e Zeppo] de Irmãos Brothers — hoje, pelo visto, essa infame piada é feita a sério, e o sujeito é pago para fazê-la." E mais ainda ao escrever: "Se você der a um tradutor brasileiro a chance de fazer asneira, ele a fará." Mas voltemos à vaca devidamente congelada no frio de Estocolmo...)
Baseado em peça do canadense Michel Marc Bouchard (que também assina o roteiro), The Girl King se divide entre as intrigas da austera corte sueca do século XVII e o amor (agora bem mais claro) da rainha Cristina (Malin Buska, bela e excelente atriz) com sua favorita, a condessa Ebba Sparre (Sarah Gadon, outra bela e talentosa atriz canadense).
Que bicho isso vai dar? Não sei. Só insistindo com os distribuidores brasileiros para que lancem The Girl King em Terra Papagalli... Tá, tá bom, pode ser com este redundante título, A Jovem Rainha. Mas não nos privem deste filme por favor...
Enquanto A Jovem Rainha... ou The Girl King (fica a seu critério como chamar este filme...) não vem, fiquem com o trailer.
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