26 fevereiro, 2016

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XLV)

(Da séria subsérie “Grandes chances perdidas para o pastor Ezequiel Teixeira ficar calado”...)

Reverendo Ezequiel Teixeira:
No último dia 17 de fevereiro, o senhor foi exonerado da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do estado do Rio de Janeiro, depois de uma gestão à frente desta que ficou marcada, especificamente, pelo desmonte do programa Rio Sem Homofobia.
E, é forçoso reconhecer: a sua saída da Secretaria deve-se à sua contraditória língua comprida. O senhor jurou de pés juntos que iria continuar o Rio Sem Homofobia, mesmo desmontando-o acintosamente, demitindo cerca de 78 pessoas, fechando quatro centros de atendimento e suspendendo o telefone 0800 do projeto – tendo como pretexto a crise financeira do estado e a necessidade de cortar custos.
Mas o senhor acabou se traindo ao ser questionado pelo repórter se acredita na"cura gay":

— Poxa, o senhor crê na cura? Eu creio, plenamente. Eu não creio só na cura gay, não. Creio na cura do câncer, na cura da Aids... Sabe por quê? Porque eu sou fruto de um milagre de Deus também.

Ora, como acreditar que o senhor diz que vai manter um programa que combatia o ódio ao povo LGBT, que estava desmontando, se acredita que: câncer + AIDS + homossexualidade = tudo doença.
E logo depois, ao responder as críticas do coordenador do Rio Sem Homofobia, Claudio Nascimento, foi ainda mais explícito (o grifo é meu):

— Os incomodados que se mudem. Eu estou aqui e bem. Quem é o secretário? Se está desconforme com o secretário, o que vou fazer? Eu não o poderia ter exonerado? Eu exonerei várias pessoas... Estou tentando caminhar (...) Fui eleito com essas convicções. Fui convidado para estar aqui. E todos que me chamaram sabiam das minhas convicções.

Ou seja, o senhor não foi gentilmente convidado a se retirar da Secretaria por suas convicções, mas porque elas batiam de frente (com perda total) com suas promessas de combater a homofobia.
Melhor dizendo: porque o senhor não foi honesto a respeito de suas convicções: disse uma coisa – "vou manter o Rio Sem Homofobia" – quando até quem tem dois neurônios no cérebro sabe que o senhor pensa outra coisa – "homossexualidade é doença, e um dia vai ter cura, mas até lá não podemos aturar". (Se bem que é mais fácil a cura da calvície – que, aliás, bem que o senhor está precisando... – do que a "cura" para algo que não é doença, e nem é mais considerado como tal há anos.). Em suma: o senhor fez o que os políticos fazem – para o bem (?) e para o mal – e o eleitor já está cansado de aturar.
Com isso, se o senhor tivesse um mínimo de vergonha na cara, simplesmente voltaria para a Câmara dos Deputados e para a sua insignificância.
Mas a vaidade... ah, a sua vaidade... ela não podia ficar quieta...
Mal o senhor volta, já solta o verbo como vingança.
Lá vai o senhor discursar na Câmara dos Deputados (ainda presidida por Eduardo Vai-Tomar-no-Cunha... aliás: e aí, STF, quando é que vão tirar este pulha?) para tentar se justificar. Segundo o senhor, a culpa de sua exoneração não é de suas (com o perdão do termo) m..., mas porque... como é que mesmo? Ah, sim: intolerância religiosa (SIC). (Estranha intolerância essa, que permite que um religioso se candidate a um mandato parlamentar, se eleja e obtenha a imunidade parlamentar – que tem limites – para "ser discriminado"... Faz-me rir, reverendo, faz-me rir...)

— O que praticaram foi intolerância religiosa, por eu manter firme minhas convicções como filho de Deus. Fui exonerado por crer nos milagres de Deus — disse o deputado, ao finalizar o discurso.

(Ah, tá..."por eu manter firme minhas convicções"... incluindo as homofóbicas, não é?)

- (Eu) não iria permitir a prorrogação da farra com dinheiro público que ocorre desde antes de 2010. Só no último ano foram gastos R$ 228 mil em uma única festa homoafetiva. Olha a contradição. Enquanto uma parcela da população estava sem salário, o estado financiava uma festa. Agora pergunto: acham que a festa atende ao interesse público? - questionou.

E prosseguindo na sua metralhadora de m... verbal:

"O Estado não pode bancar festa enquanto pessoas morrem na fila dos hospitais diariamente. Prevaleceu a promiscuidade no custeio do casamento gay" (...) "Isso sem contar com o valor de mais de R$ 1 milhão e meio destinados para a realização de conferências e festas chamadas paradas do orgulho gay e outras ações que consumiram mais de R$ 9 milhões, em 2015, que em nada favoreceram para a diminuição do preconceito. Isso é apenas farra. Isso me causa indignação", completou o deputado do PMB.

Nesse ponto, eu tenho de lhe dar razão. É meio vergonhoso custear eventos com dinheiro público enquanto os serviços essenciais estão em crise.
Mas, salvo engano, quem custeia casamentos coletivos – incluindo os casamentos entre pessoas do mesmo sexo – não é o poder executivo (o governo do Estado), mas o poder judiciário – o Tribunal de Justiça do estado (onde, talvez, o senhor nem sequer possa passar pela porta... mas sobre isso explicar-lhe-ei – © Jânio Quadros – mais adiante).
E, se seguirmos tal lógica, então deveríamos cancelar os preparativos para as Olimpíadas – o que é meio difícil de acontecer, já que faltam seis meses para a sua realização e está quase tudo pronto.
Ah, sim: e também por esta lógica, o estado do Rio de Janeiro não deveria destinar verbas públicas para ajudar a financiar a Marcha para Jesus, que ocorre antes da Parada LGBT justamente para, entre outras coisas, dar voz a pastores tão homofóbicos como o senhor que, justamente, esculhambam o povo LGBT.
Até porque (e se o senhor, membro do parlamento federal brasileiro, não sabe, vou ter de lhe dizer) a República Federativa do Brasil É UM ESTADO LAICO – isto é, um Estado que garante liberdade a todas as religiões, mas NÃO ADOTA NENHUMA COMO RELIGIÃO OFICIAL, MERECEDORA DE VERBAS SAÍDA DO MEU, DO SEU, DO NOSSO DINHEIRO DE IMPOSTOS.
Não custa nada lembrar ao senhor o que diz a Constituição Federal (os grifos são meus):

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;

Do mesmo modo, a Igreja Católica deveria ter devolvido a ajuda financeira para a Jornada Mundial da Juventude de 2013 – graças à musa "inspiradora" desta séria série desde seu início, a então deputada estadual Myriam Rios, que apresentou emenda ao orçamento para alocar R$ 5 milhões para ajudar a custear o eventonão é mesmo?
Então, seguindo a mesma lógica: se não é justo que o Estado brasileiro dê dinheiro dos nossos impostos (que deveria custear os serviços públicos essenciais para a população) para as Paradas LGBT, é justo que o estado LAICO brasileiro dê esse mesmo dinheiro para eventos religiosos? Muitos dos quais (como a Marcha para Jesus) trazendo religiosos que propagam a discriminação ao povo LGBT?
E convenhamos, reverendo: depois que um casal de fieis, Daniel e Zelia, soltou o verbo denunciando o senhor como vigarista, convencendo-os a penhorar o único bem que eles tinham, a sua casa, para avalizar um empréstimo para a sua igreja, a Nova Vida, comprar mais um cinema e transformá-lo em templo – empréstimo que a sua igreja, até hoje, não pagou, deixando este casal em grandes dificuldades) – desconfio que o senhor não pode se arvorar em campeão da moralidade, não é?
Portanto, na boa, reverendo Ezequiel Teixeira: o senhor precisa ser mais humilde e aprender a perder.
Sem mais para o momento,
Atenciosamente (SIC)...

********************

Agora, nossa indicação para esta séria série: Parceiras Eternas (Life partners - EUA, 2015), de Susanna Fogel.
Sim, é uma comédia romântica, porque rir ainda e sempre será o melhor remédio.
Parceiras Eternas é a história de duas grandes e inseparáveis amigas, Paige (Gillian Jacobs) e Sasha (Leighton Meester). Paige é hetero; Sasha é lésbica assumida, com o apoio declarado de Paige, que promete se casar apenas quando a amiga tiver os mesmos direitos legais (isto é, de se casar com outra mulher – ou seja, este filme, possivelmente, foi realizado antes da Suprema Corte dos EUA finalmente conceder ao povo LGBT o direito de se casar com pessoas do mesmo sexo). Só que esta cumplicidade é posta à prova quando Paige se apaixona por um jovem e belo médico (Adam Brody).
E agora?
Ora, assistam o filme e tirem suas conclusões.
Minto. Uma conclusão já posso apresentar: ao contrário dos que os fiscais de fiofó alheio homofóbicos querem nos fazer pensar, heteros e o povo LGBT podem perfeitamente ser amigos. Isso é até saudável para a sociedade.
De resto, vejam o trailer.


Nenhum comentário:

Postar um comentário