20 junho, 2016

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XLIX)

Amigos leitores desta séria série: alguém conhece um bom médico gastroenterologista? Desta vez, estamos precisando, e muito.
É que... bem... não sei se vocês não tem a mesmíssima impressão que nós temos, mas... não lhes parecem que Jair Besteiraro (patrono desta série), Silas Mala-Sem-Alça-Faia e Marco Feliciânus estão numa disputa extremamente acirrada para ver quem consegue ser mais ofensivo ao ser humano e à inteligência alheia? Enfim não acham que estão disputando para ver quem consegue ser mais escroto? Pois é. É o Grande Prêmio M... de Ouro.
Senão, vejamos.
Em abril, quando a Câmara aprovou a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff ("processo de impeachment" é o cacete! É golpe mesmo!), Jair Besteiraro saiu na frente, ao não só dedicar seu voto à memória do coronel Brilhante Ustra (e, por tabela, fazendo apologia da tortura – crime hediondo, de acordo com a Constituição – o que já é o cúmulo), mas também ao acrescentar: "o terror de Dilma Rousseff" com aquela ponta de sadismo e misoginia que lhe é peculiar.
Mas Besteiraro não ficou na ponta por muito tempo: quando o Senado afastou Dilma, e Michel "Traíra-e-Mordomo-de-Filme-de-Terror" Temer assumiu, interina e prazeirosamente, a presidência, e uma das primeiras medidas foi acabar com o ministério da Cultura – medida revogada depois. Foi a chance que Silas Mala-Sem-Alça-Faia aproveitou para passar à frente, com sua grosseira tuitada, em que aplaudiu Temer pelo fim do MinC e chamando o ministério de "antro" e seus defensores de "esquerdopatas" – assunto que, aliás, tivemos o desprazer de comentar no post anterior desta séria série.
Mas não ficou na frente por muito tempo: poucos dias depois, Marco Feliciânus passou à dianteira, com um vídeo em que chamou os artistas de"vagabundos" e mandando-os ir "procurar o ministério doTrabalho".
A partir daí, Feliciânus assumiu a ponta do Grande Prêmio M... de Ouro, e parece que não quer deixa-la, pois em menos de uma semana soltou duas m... a respeito de dois fatos terríveis que aconteceram: um no Rio de Janeiro – o estupro coletivo sofrido por uma jovem de 16 anos; o outro no exterior – o massacre de 50 pessoas numa boate LGBT em Orlando (Flórida).
A partir daí, como diria Jack, o Estripador, vamos por partes.
Primeiro, sobre o estupro. Sobre isso, Feliciânus bostejou... digo, proferiu um discurso na Câmara a respeito do crime e da da cultura do estupro. Disse o psicopata-deputado: 

"Cultura tem a ver com crença, arte, moral, lei e costumes. Não existe no nosso país uma religião que apoie o estupro, portanto não é crença. Não existe beleza no estupro, então não é arte. Não existe moral no estupro, e não há lei que apoie o estupro, tampouco o costume do estupro. Existe estupro? Existe. Existe no nosso país um bando de gente delinquente, sociopatas, psicopatas. Pessoas maltratadas no seio da sua família, com algum tipo de trauma”
(...)
"Moro em uma casa com seis mulheres, minha mãe, minha esposa, minha sogra, minhas três filhas. E sempre ensinei às minhas mulheres que deem respeito para que sejam respeitadas."

Como assim? A vítima é que "deve se dar ao respeito"? O estuprador não?
Depois dessa, fizemos a alegria do laboratório fabricante de sal de frutas e tomamos uns dez envelopes, antes de responder a essa.
Vamos adiante. Pesquisa do Instituto DataPhoudassy com cerca de mil pessoas normais (isto é, com o número exato de neurônios no cérebro – ou, no mínimo, com o Tico e o Teco bem ligados um ao outro e funcionando regularmente – sobre o assunto "estupro" deu o seguinte resultado:



(Para ser mais honesto, em números: apenas um disse que a causa do estupro eram todas as causas. Oba, vai haver debate, certo? Ia haver debate: quem respondeu isso, além de não argumentar decentemente, veio com teorias da conspiração esdrúxulas, tipo: "O comunismo islâmico é o principal responsável por isso!", e afirmou que Elvis Presley e Ulisses Guimarães estavam vivos – e sabia onde estavam escondidos juntos, jogando purrinha – de modo que sua resposta foi excluída da pesquisa, ficando apenas 999 respostas. Aliás, sobre essa de "comunismo islâmico", um vlogger muito do irreverente disse emmomento de alta sapiência: " 'Comunismo islâmico' faz tanto sentido quanto churrasquinho de gelo"...)
E convenhamos, o resultado de tal pesquisa faz todo o sentido.
Será que, se todas as mulheres "se dessem ao respeito" (leia-se: cobrir-se de burca, se autoreprimir e ficar em casa lavando a louça, as roupas etc.), tal como reza (ou melhor, ora e cobra dízimo...) o jumentíssimo pastor-dePUTAdo, elas se livrariam de ser estupradas um dia, e só as chamadas "moças-de-vida-fácil" (fácil para os clientes, porque para elas é difícil pra chuchu) é que seriam atacadas?
A resposta é muito simples: NÃO.
Cortesia da cultura do estupro, da qual alguns exemplos extraídos de um artigo a respeito:


Mas como essa cultura é fortalecida? Com uma série de atitudes:
1 – Assim que meninas começam a ganhar contornos de mulher em seus corpos passam a ser desejados, apesar disso ser chamado, por lei, de estupro, já que ninguém abaixo de 14 anos pode escolher fazer sexo.
2 – Nas novelas, filmes, séries, capas de revista e ruas os corpos femininos são julgados, ovacionados ou execrados, desejados, tratados como chamariz para vender qualquer tipo de produto, mesmo que não haja ligação alguma com aquele corpo. Picanhas em exposição no açougue, com direito a questionarem o tamanho da “capa de gordura”.
3 – Mulheres são cobradas de serem femininas e sensuais. Mas quando o são, são cobradas de serem recatadas. E quando o são, são chamadas de frígidas. Nossos corpos devem estar no padrão, mesmo que ninguém saiba ao certo que padrão é esse. Devemos agradar o homem que está presente no momento, mesmo que nem saibamos quem seja ele e não tenhamos esse desejo.
4 – Em escolas, os corpos de meninas são culpabilizados pela falta de atenção dos alunos e descontrole de professores. A educação deles e empregos dos outros importam mais que a educação feminina.
5 – Os crimes de estupro são relativizados. A esposa tinha sexo como obrigação. A mulher não deveria estar na rua àquela hora. A menina estava provocando o avô. A culpa nunca é do agressor.
6 – O desejo masculino é tido como verdadeiro, enquanto o feminino é apontado como algo utilizado para se ter o que quer, produto de troca e barganha. Se não há desejo nas negociações, a vontade feminina, de acordo com essa lógica, não precisaria ser respeitada.
7 – Existe o mito de que meninas amadurecem mais cedo, portanto dariam conta de relacionamentos com homens mais velhos. O estupro, aí, estaria justificado por maturidade.
8 – Mulheres vítimas de estupro têm sua palavra questionada. Os exames para comprovar a violência são ineficientes porque estupros são ligados à poder e coerção, portanto não deixam marcas como outros tipos de violência. O medo de ser culpabilizada, da humilhação exercida pelos responsáveis pela lei e o estigma social faz com que mulheres levem esse trauma para o túmulo.
9 – Nossa legislação, que protegia minimamente as vítimas de estupro, vem sendo questionada e o novo governo interino pretende burocratizar ainda mais o acesso a cuidados e profilaxia. A mulher vítima de estupro pode perder o direito ao aborto e lidar com o acesso dificultado a medicamentos que evitariam que ela contraísse, por exemplo, o HIV.
Essa cultura está tão enraizada na nossa sociedade que é até difícil enxergá-la. Se tudo o que entendemos como “normal” faz parte desse processo de construção social que nos coloca em risco, como viver questionando tudo o tempo todo? Exatamente dessa forma: questionando tudo o tempo todo.
Nossos corpos não são objetos de troca, não são mercadoria, não estão à disposição. Nossa dignidade tem valor. Nossa vida tem valor. E não vamos mais aceitar que nos digam o contrário.

O nobre leitor não se incomoda com nenhum dos nove itens acima? Parabéns (só que não): você propaga e estimula a cultura do estupro.
E aí, pouco importa se a mulher vítima de estupro é uma santa ou, com o perdão do termo, uma puta; se é "bela, recatada e do lar" (não como a sra. Michel Temer, faz favor...) ou se é a reencarnação da Rê Bordosa (a personagem porralouca do cartunista Angeli); se trabalha fora ou fica dentro de casa (aliás, o mesmo vlogger falou sobre algo parecido em outro vídeo– e não custa nada lembrar que, em abril deste ano, uma adolescente de 14 anosfoi estuprada, torturada e morta no Morro dos Macacos, no Rio de Janeiro. Detalhe: como uma boa menina que era, ela estava dentro de casa, quietinha); se é adulta ou "novinha" (como chamam as meninas a partir de 12 a 13 anos que começam a ganhar contornos de mulher em seus corpos): o estupro pode acontecer com qualquer mulher.
E porque acontece? Porque, como diz aquele amigo meu que é a franqueza em pessoa resumiu: "Água de morro abaixo, fogo de morro acima, e estuprador que quer atacar uma mulher ninguém segura..." E a cultura do estupro, que estimula e relativiza o crime, também o protege – CQD aquele nobre delegado que começou a investigação do estupro coletivo "investigando se houve consentimento" porque, segundo ele, "a polícia não pode ser leviana".
Só fico imaginando se este mesmo delegado investigasse um outro tipo de crime. Já fico imaginando a cena na delegacia:

HOMEM - Olá. Eu gostaria de registrar um assalto.
POLICIAL - Um assalto, é? Onde aconteceu?
HOMEM - Eu estava andando pela Rua X quando um homem sacou uma arma e disse: "Passa a grana! Passa a grana!"
POLICIAL - E você passou o dinheiro todo para ele?
HOMEM - Sim.
POLICIAL - Então você, por vontade própria, deu seu dinheiro ao homem sem resistir, chamar ajuda ou tentar escapar?
HOMEM - Bem... sim... mas eu estava apavorado... Achei que ele fosse me matar.
POLICIAL - Sei... Só uma coisa... por um acaso, o senhor é filantropo, você costuma doar dinheiro para a caridade?
HOMEM - Sim, doo dinheiro para um orfanato, para o Criança Esperança...
POLICIAL - Então você tem o hábito de dar dinheiro para os outros, você gosta de dar dinheiro para os outros.
HOMEM - Mas o que isso tem a ver com o assalto?
POLICIAL - Simples... Você conscientemente desceu a Rua X, vestindo um terno... todo mundo sabe que você gosta de doar seu dinheiro... e mais, você não tentou resistir. O que acontece é que você deu seu dinheiro a alguém, mas agora está arrependido, está com um arrependimento pós-doação.
HOMEM - Mas isso é...
POLICIAL Me diga uma coisa... você realmente quer arruinar a vida dele por causa de um erro seu?
HOMEM - Mas isso é o cúmulo do absurdo!

Claro que esta é uma historinha de ficção. Mas se você trocar o sexo da vítima do crime (de homem para mulher) e a palavra "assalto" por "estupro", vai ver o que as mulheres vítimas de estupro encaram todo dia quando tentam levar estupradores para a justiça.

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Mas voltando a... argh... ai, meu estômago... a Marco Feliciânus.
A segunda m... dita por ele foi bostejada via twitter. Aliás, não foi só uma bosta tuitada, mas várias.

1) Triste a tentativa de grupos LGBTT de usar esta tragédia para se promover. Como se a razão deste ataque fosse apenas homofobia.

Até onde sei, nenhum grupo LGBT usou a tragédia "para se promover". Acontece que o povo LGBT tem o direito de sentir dor e indignação com isso. Assim como você deve ter se indignado com o massacre cometido por um branco racista na Emanuel African Methodist Episcopal Church, em Charleston, na Carolina do Sul, em 2015. (Ou será que você simplesmente ficou quieto como se não tivesse nada a ver com isso, já que tal massacre ter ocorrido numa igreja da comunidade negra? Afinal, sabemos muito bem o que você pensa dos africanos, né, Feliciânus?)
Mas adiante.

2) Mas calaram-se em relação aos outros atentados. Sem contar o suporte dados pela esquerda (PT, PCDOB e Psol) para a Palestina governada...

Ninguém se calou a respeito de outros atentados.
Você mesmo, Feliciânus, falou sobre o atentado do Estado Islâmico em Paris... para culpar as vítimas (os franceses), como já comentei aqui nesta séria série. Lembra-se?
E que cargas d'água o apoio a causa dos palestinos – que querem ter o seu Estado independente nos territórios ocupados por Israel desde 1967 – tem a ver com isso, cretino?

8) Quando o mundo irá acordar e perceber que a ESQUERDA RADICAL lidera o terror mundial? Apoiados e sustentados por governos totalitários!

Até tu, Feliciânus, acredita no "churrasquinho de gelo" do "comunismo islâmico"?
Não quero ser chato, mas a última coisa que o Estado Islâmico e a Al-Qaeda tem é simpatia pela esquerda ou mesmo pela direita ou pela pela democracia. O barato deles é criar um estado teocrático.
Sabe o que é teocracia? Não?

Teocracia (do grego Teo: Deus + cracia: poder) é o sistema de governo em que as ações políticas, jurídicas e policiais são submetidas às normas de algumas religiões. O poder teocrático pode ser exercido direta ou indiretamente pelos clérigos de uma religião: os governantes, juízes e demais autoridades podem ser os próprios líderes religiosos (tal como foi Justiniano I) ou podem ser cidadãos laicos submetidos ao controle dos clérigos (como ocorre atualmente no Irã, onde os chefes de governo, estado e poder judiciário estão submetidos ao aiatolá e ao conselho dos clérigos). Sua forma corrupta é também denominada clerocracia.
Exemplos atuais de regimes desse tipo são o Vaticano, regido pela Igreja Católica e tendo como chefe de Estado um sacerdote (o Papa), e o Irã, que é controlado pelos aiatolás, líderes religiosos islâmicos, desde a Revolução Islâmica, em 1979.

Faltou lembrar a Arábia Saudita – monarquia absoluta sem constituição nem código penal (nem mesmo para salvar as aparências), regida pela sharia (lei islâmica).
Pois o sonho do Estado Islâmico é esse: um califado regido pelas leis de Maomé.
Aliás, nem sei porque estou lhe explicando isso, Feliciânus, porque, no fundo, no fundo, você e outros líderes evangelicuzinhos também sonham com isso, não é?
(Aliás, porque estamos falando tanto do Estado Islâmico nesta história do atentado em Orlando? Mesmo sabendo que o tal do Omar Mateen tenha declarado lealdade ao EI – fiquei com preguiça de escrever o nome por extenso... – e que o grupo assumiu a responsabilidade pelo atentado – talvez só para aparecer, acometido da Síndrome da Melancia no Pescoço – não há evidências de que o grupo tenha planejado o atentado, nem que o cretino seja filiado a ele. O que há são suspeitas de que o cretino do Mateen, na verdade, seja um gay enrustido que expressou seu conflito interno através da homofobia. Mas isso falaremos mais tarde.)

Qdo o El mata cristãos por serem cristãos, os degolam, crucificam, afogam, queimam vivos, o mundo se cala. Por que? Cristãos são inferiores?

Não sei se lhe informaram, Feliciânus, mas o EI – repetindo – quer um estado teocrático dedicado ao Islâ – ou ao que entendem ser o Islã. Por isso perseguem e matam cristãos – e crentes de outras religiões (judeus, islâmicos xiitas – já que o EI é sunita de carteirinha – etc.) nos territórios que ainda dominam.
Aqui em Terra Papagalli, o que acontece é justamente o contrários: são alguns grupelhos de supostos cristãos (e frisamos o "supostos" porque cristão de verdade não deve fazer isso) que perseguem outras religiões – inclusive (e desde já, mil desculpas, Feliciânus, por ofendê-lo, e eu sei que isso o ofende) os cultos afrobrasileiros. Basta lembrar o caso da menina de 11 anos, iniciada no candomblé, que foi agredida a pedradas por alguns destes cretinos – que, por sua vez, originou um acalorado debate entre um ilustre jornalista e um pastor, colega seu, do qual resultou um proveitoso conselho do primeiro ao segundo, que já comentamos aqui nesta séria série.
(Matando a cobra  e mostrando o pau: o vídeo onde o pastor Lucinho confessa o fato aqui.)



Mas estes casos você nem liga, né, Feliciânus?

Até jornais de esquerda trazem a matéria amigos @zehdeabreu @rafinhabastos  @felipeneto  @jeanwyllys_real  FIEL AO El

Sério: o dia em que um jornal como O Estado de S. Paulo se tornar um jornal "de esquerda" – justo o Estadão, que se diz "liberal", mas na verdade é um jornal conservador reacionário, que defendeu em editorial a censura artística na ditadura, em 1968 (um trecho do tristemente célebre editorial pode ser encontrado aqui) e repetiu a dose recentemente, ao criticar em novos editoriais os jornalistas estrangeiros respeitados que, por acaso constataram que há um golpe e dizem que é um golpe – será o mesmo dia em que morcego vai doar sangue.
E se Feliciânus acha que a grande mídia conservadora do país é "de esquerda", é sinal de que, realmente, estamos ruins em termos de direita...
Depois de tudo isso, é ou não é razão para consultar um gastroenterologista?

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No fundo, o Grande Prêmio M... de Ouro (nome inspirado em um célebre ditado popular português: Se m... tivesse valor, os pobres não tinham c...) e seu laurel, o Troféu Melancia no Pescoço, só são possíveis porque há um caldo de cultura favorável a isso, em que a homofobia ainda é consideradanatural.
Aliás, já que supunhetamos no assunto (© Aldir Blanc, que completa 70 anos de idade), temos esta pequena e instrutiva lista:

Muitos heterossexuais aderiram à causa e lutam lado a lado no movimento, porém as atitudes da cultura homofóbica ainda estão presentes e vivas. Não pense que você não tem nada com isso. Porque você tem. Nossa mentalidade é fraca e temos muito o que aprender. Saiba identificar algumas ações que são prejudiciais às pessoas LGBTs:

1- Fazer piadinhas homofóbicas.
O humor é usado como justificativa para o ódio. Nunca é “só uma piada”. O humor é uma forte arma formadora de opiniões e, quando usado para ridicularizar, estereotipar e estigmatizar o homossexual, se torna cúmplice de todas as barbaridades cometidas contra esse grupo de pessoas.

2- Glorificar a “Cultura Gay”.
Divas pop, memes engraçadinhos, glitter, bandeiras coloridas e gírias legais são elementos convidativos. Eles atraem vários heterossexuais que dizem estar no “Vale dos homossexuais”. É ótimo poder festejar com todo mundo, porém na hora da luta, os heterossexuais somem. Quando transformamos a festa em luta e pedimos mais direitos, estamos “engayzando” tudo. Ter a mentalidade de que gays, lésbicas, bissexuais e trans só servem para trazer sorrisos é inviabilizar nossa luta e o movimento.

3- Reforçar estereótipos.
Gay é afeminado, fútil, adora divas pop. Lésbica é masculinizada, “caminhoneira”, não se depila, tem cabelo curto. Bissexuais são promíscuos e indecisos. Estes são alguns estereótipos de sexualidade que são enfiados goela abaixo da sociedade. Eles ajudam a criar uma mentalidade intolerante contra os LGBT, além de invalidar aqueles que não se encaixam nesses “padrões”.

4- Chamar homossexualidade de “homossexualismo”
A palavra “homossexualismo” é problemática, pois o sufixo -ismo é usado para descrever doenças. A homossexualidade deixou de ser vista como doença em 1990, mas algumas pessoas insistem em ignorar esse fato. O que nos leva a…

5- Se apoiar em “dados científicos” para justificar preconceitos.
Alguns cientistas fazem pesquisas para provar que a não-heterossexualidade das pessoas é fator causado por doenças neurológicas. Vale lembrar que muitas coisas já foram tratadas como doenças ou disfunções, como, por exemplo, ser canhoto. Até onde a ciência é imparcial?

6- Rejeitar sangue de homossexuais.
Até 2004 os hemocentros brasileiros proibiam homens homossexuais de doarem sangue e, ainda hoje, eles são barrados na hora de fazerem uma doação. Mesmo com o escasso número de doadores e com testes nos sangues recebidos, o homossexual é visto como “sangue-ruim”. As ideias de promiscuidade e de que todos os homossexuais são portadores de DST são reforçadas.

7- Usar a ingenuidade das crianças pra justificar seus argumentos.
“Como eu vou explicar isso para o meu filho?” é uma frase muito usada por conservadores quando se trata qualquer demonstração de afeto entre duas pessoas LGBT. O falso moralismo é arma forte para tratar o amor LGBT como algo promíscuo e errado. Algo que crianças não podem saber e não entenderiam. Difícil é explicar como uma pessoa mata 50 outras. Explicar o amor não é difícil.

8- Dizer que aceita, mas longe de você/da sua família.
Ao falar que não aceitaria um filho ou parente LGBT, você está oprimindo mais ainda os LGBTs e, caso haja um na família (as chances são muitas), você contribui para o afastamento dessa pessoa e o medo dela por rejeição. Você contribui para o aumento exponencial do número de suicídios entre jovens LGBT.

9- Falar em “privilégio gay”.
Quando LGBTs pedem direitos, homofóbicos dizem que são privilégios. Esta mentira serve para marginalizar e privar esse grupo de ser completamente inserido na sociedade e tratado como igual. Casamento entre pessoas do mesmo sexo e leis que reconhecem a homofobia e a criminalizam servem para que todas as pessoas comecem a ter tratamentos iguais. Ter direitos específicos para impedir o ódio não é privilégio.

10- Utilizar fatores biológicos para justificar preconceito.
“Aparelho excretor não reproduz” não é razão para impedir LGBTs de terem acesso a direitos básicos. É puro preconceito. Mulheres na menopausa, pessoas inférteis, pessoas que usam preservativos e que não querem ter filhos também não usarão o sexo para reproduzir. Casamento, amor e relações sexuais não servem apenas para o propósito da reprodução. Casais homossexuais não reproduzem, mas podem adotar, e isso é positivo, pois só no Brasil há mais de 6,5 mil crianças a espera de uma família.

11- Se embasar em preceitos religiosos.
A religião é uma forma de pregar o amor e a aceitação. Falar que seu Deus não permite isso é ir contra tudo aquilo que ele próprio prega. Escolher passagens específicas para seguir e ignorar outras é ser intolerante e contribuir para a exclusão e rejeição dos LGBT na sociedade.
No cristianismo, homofóbicos utilizam uma passagem do Antigo Testamento (já ultrapassado) para embasar seu ódio (Levítico 18:22: ” Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é”) porém ignoram outras passagens do mesmo livro (por exemplo, Levítico 19:27 ” Não cortareis o cabelo, arredondando os cantos da vossa cabeça, nem danificareis as extremidades da tua barba”). Fé seletiva não é fé.

Em tempo: sobre isso, temos uma instrutiva cena da série da Warner West Wing, onde o presidente, (Martin Sheen), discute sobre o mesmo assunto com uma destas evangelicuzinhas. Enjoy.



12- Ouvir e aceitar falas que utilizem os 11 pontos citados acima.
Ao validar qualquer discurso que esteja presente nos pontos levantados no texto, você escolhe o lado do opressor e ajuda na desumanização e marginalização sistemáticas dos LGBTS. Não aceite discursos como estes. Não dê voz à intolerância.

Quer mais explicadinho? OK, apelemos para um texto no BuzzFeed:

1. “Mas é só a opinião da pessoa, a gente tem que respeitar”.

Debater se é “certo ou não ser gay” é o mesmo que debater se é “certo ou não ser negro”. Nunca é uma opinião, é sempre um ato de preconceito.

2. “Ele nunca levantou a mão pra ninguém”.

Homofobia não é só agressão física, ela pode ser também psicológica, pode ser um desamparo ou até um julgamento velado. Aqui você encontra 20 relatos de homofobia que não envolvem violência física.

(Entre outras tantas historinhas, estão: a rejeição de gays, lésbicas e bissexuais como doadores de sangue; as agressões e ameaças verbais, seguranças e garçons "gentilmente" convidando casais gays e lésbicos a sair dos estabelecimentos – enfim, as m... de sempre cometidas pelos suspeitos de sempre.)

3. “Mas é muito difícil para um pai ou uma mãe ter um filho LGBT, precisa ter paciência”.

Desconstruir conceitos é realmente um processo longo, porém não justifica um familiar destruir psicologicamente um outro ser humano. Aqui você encontra grupos de apoio para pais.

4. “Homofobia é coisa de gente doente”.

Não é não, homofobia é na verdade o produto de uma sociedade preconceituosa e machista.

5. “A pessoa que é homofóbica é na verdade um monstro”.

Ao dizer que um homofóbico é um monstro você justifica a agressão como coisa de uma pessoa desequilibrada, quando na verdade qualquer pessoa, inclusive alguém cheio de qualidades, pode ter atitudes homofóbicas.

6. “No fundo homofobia é coisa de gay que não se assumiu”.

SIMPLESMENTE NÃO. Dizer isso é responsabilizar os próprios LGBT pelo preconceito que ele sofre.

(Nesse ponto, calma no Brasil. Há vários posts desta séria série em que falamos sobre isso – inclusive no primeiro, e realmente há pesquisas científicas que demonstram que alguns homofóbicos, na verdade, são pessoas com sua sexualidade em conflito – gays enrustidos que se recusam a se assumir e não só se auto reprimem, como tentam reprimir os outros. Este fato não exclui os que se tornaram homofóbicos por formação cultural. Ingrinorança, mesmo. O que demonstra a necessidade da discussão sobre diversidade sexual e gênero no ensino, para que a homofobia, o machismo e outros utensílios ultrapassados sejam superados. Mas não dá para deixar de lado o fato de que muitos homofóbicos são gays enrustidos em conflito. Isso não é responsabilizar o povo LGBT pelo preconceito que sofrem ,as responsabilizar... o preconceituoso homofóbico enrustido por seu preconceito e sua falta de coragem para sair de Nárnia – isto é, do armário – e ser feliz. Ponto.)

7. “Nem tudo é homofobia, algumas coisas são só brincadeira”.

Sempre foi preconceito e homofobia. A diferença é que antes as pessoas que eram diminuídas não reclamavam.

8. “Antes de ser um atentando homofóbico, foi um ato contra a humanidade”.

Com certeza um atentado contra um LGBT é um atentado contra um ser humano, a grande questão é que esse ser humano morreu apenas por ser LGBT.

9. “Não precisa se mostrar tanto, vai. Podia ser mais discreto, afinal nem todo mundo tá pronto”.

Não importa. Ninguém deve esconder o que porque uma parcela da população é preconceituosa. A culpa nunca é de quem foi agredido.

10. “Calma, nem tudo é homofobia”.

Se um LGBT está se dizendo ofendido, existem grandes chances de ser homofobia. Então não rebata, apenas pare, reflita e veja o que você pode fazer para não ser homofóbico.

E aí? Sobre a cultura do estupro: você pratica alguma destas ações da primeira lista? E sobre a homofobia: faz alguma das ações da segunda lista? Fala algumas das coisas da lista acima?
Então, meus pêsames: você está ajudando a perpetuar, por preguiça, ignorância ou omissão, dois males muitíssimo incômodos de nossa sociedade. Mexa-se para combate-los.
E, quanto a Feliciânus, nossa palavrinha de consolo para ele:




Agora, se me derem licença... argh... meu estômago... precisamos marcar a consulta no gastroenterologista.

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Mas antes de ir ao médico, só para mudar de assunto: não, ainda que pareça, a distribuidora NÃO OUVIU AS NOSSAS PRECES e resolveu lançar Jenny's wedding, de Mary Agnes Donoghue - citado e recomendado em um post desta séria série - no Brasil. Ah, e que conste dos autos: esta séria série também não se responsabiliza pelo estranhíssimo título em português de Terra Papagalli com o qual o filme foi lançado no Brasil: Casamento de verdade. (O que só prova a sapiência do mestre Ruy Castro ao falar dos títulos de filmes em português dados pelas nossas distribuidoras: se der ao nobre funcionário encarregado destas empresas a chance de fazer besteira, ele o fará...)
Mas voltando ao filme. 
Certo, Jenny's wedding (me recuso a chamá-lo de Casamento de verdade) não é uma obra prima. Mas não merece o massacre que está sofrendo de nossa ilustre crítica especializada - com as honrosas exceções do CinePOP e do canal do YouTube Papo de Cinemateca. Para citar um caso exemplar de massacre, temos a crítica de Carlos Heli de Almeida, em O Globo. Um trecho:

O inferno está cheio de boas intenções, comprova “Casamento de verdade”, drama lésbico que parece ter sido feito para “educar” aqueles que relutam em aceitar a união entre pessoas do mesmo sexo. Protagonizado por Katherine Heigl, estrela de incontáveis comédias românticas (heterossexuais), o filme de Mary Agnes Donohue usa um discurso quase simplório, cheio de clichês, para defender a igualdade de direitos civis dos gays — melhor ainda se o casal em questão queira constituir uma família nos moldes convencionais.

Prezado Carlos Heli: Os dez mandamentos, o "grande sucesso" do cinema evangelicuzinho da Record (e digo grande sucesso, entre aspas, porque dizem que os pastores da Igreja Universal compravam ingressos das sessões a quilo e distribuíam entre os fiéis, que eram intimados a ir assistir o filme, "em nome de Jesus!" - coitado dele...) também é didático (didático até demais) ao contar o quebra pau entre Moisés e o faraó. Então, porque Jenny's wedding não pode sê-lo? 
Você, Carlos Heli, está bem informado sobre a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não sei se você é a favor, não sei se você é contra, mas está bem informado sobre isso. Só que o respeitável público, em sua maioria, ainda não está. Tem gente que ainda acha que padres e pastores serão obrigados a casar dois homens e duas mulheres (o que é falso: a proposta é de casamento CIVIL, na pretoria - padre e pastor só casa gays e lésbicas se quiser), tem gente que até concorda com a premissa daquele cretino do aerotrem... como é mesmo o nome do imbecil... ah, sim, Levy (In)Fidelix, de que "dois iguais não fazem filho" - como se casamento fosse só para fazer filho, e como se casais LGBT não adotassem os filhos gerados por "dois diferentes" que não os quiseram e os amassem, não é? 
Pior: com todo o seu "didatismo" (assim mesmo, entre aspas, sr. revisor, obrigado), a extrema direita e os evangelicuzinhos conseguem cada vez mais pessoas que concordem com seu ponto de vista deformado.
Então, um filme não precisa ser muito didático. Mas precisa ter algo de didático para explicar claramente que o diabo não é tão feio como se pinta. E que, enquanto acharem que o diabo é feio, mais dificuldades terá o povo LGBT de ser aceito. E, pombas, Jenny's wedding não é uma obra prima (já disse antes, mas não custa repetir), mas é um filme gostoso de ser visto.
Portanto, nobres colegas críticos, deixem de ser chatos e dêem uma colher de chá a Jenny's wedding.

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E agora, a nossa indicação de filme para esta séria série: Raven's Touch (EUA, 2015), de Marina Rice Bader (do qual já conhecemos Anatomy of a love seen, 2014) e Dreya Weber.
A sinopse parte do princípio de que cada um lida com o luto de formas diferentes – ou se fechando em seu mundo ou se cercando de contato humano – na esperança de que o tempo cure tudo.
Raven (Dreya Weber, roteirista e codiretora) vive sozinha num camping, seu retiro pessoal, desde a morte de uma sobrinha, do qual ela se culpa muito. Sua solidão acaba com a chegada de Kate (Tracy Dinwiddie) e seus dois filhos. Tracy também está saindo de um relacionamento abusivo com Angela (Nadège August) e está fugindo dos traumas causados por ele. Raven e Kate não tem a menor ideia de que irão se apaixonar uma pela outra. Mas isso acontece. E Raven se vê na mesma situação que a fez se isolar.

Fiquem agora com o trailer.






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