Prezada
senhora Mayra Bandeira de Oliveira:
Antes de
mais nada, minhas cordiais saudações, apesar do assunto ser um tanto
desagradável.
Costumo
assinar os abaixo-assinados do Change.org, e por isso eles sempre me enviam
outros abaixo-assinados que porventura me interessem.
Pois
a senhora criou um abaixo-assinado em defesa de Jair Besteiraro, que me foi mandado pelo Change.org. E é por
isso que eu lhe escrevo – para lhe avisar do grande king-kong que a senhora
está pagando.(Para quem acordou da CTI depois de um ano em coma: Jair Besteiraro se tornou réu no Supremo Tribunal Federal, e se Deus e a justiça assim o quiserem, será julgado por incitação ao crime. Para quem acordou da CTI depois de uns dez anos em coma: por duas vezes – uma, nos corredores da Câmara; outra em pleno plenário – Jair Besteiraro xingou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) do mesmo jeito, com a mesma "educativa" frase: "Eu só não te estupro porque você não merece!" Detalhe: na primeira vez, nos corredores da Câmara, o ínclito deputado ainda a mimoseou com o epíteto de "vagabunda". Gentil, o nobre deputado, não?)
E vou lhe
explicar por quê, em alguns itens:
1- Quando Jair Besteiraro rosnou para uma deputada adversária
política (que, para ele, é o mesmo que inimiga, e portanto não merece nem o
mínimo de respeito) que "só não a estupraria porque ela não merece",
ele deixa claro que o estupro é um "prêmio" para a mulher.
A senhora gostaria de ser "premiada" com um
estupro?
(E repetindo: da primeira vez que ele disse isso, ainda
chamou a deputada de "vagabunda". Acho que a senhora se incomoda de
ser chamada assim. Ou não?)
2- Desta forma, ele
faz incitação ao estupro - ou seja, INCITAÇÃO AO CRIME. E incitação ao crime É
CRIME COMUM, de acordo com o Código Penal (Art. 286 - Incitar, publicamente, a
prática de crime - Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.)
3- Pela Constituição Federal (é, este documento ao qual todos os que exercem um dos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – juram ser leais, mas que seu ídolo acha que só serve para limpar o... sim, isso mesmo que a senhora está pensando...), a imunidade parlamentar por palavras e atos NÃO LIVRA UM PARLAMENTAR DE RESPONDER A CRIMES COMUNS (O único privilégio que eles tem é de ser julgados pelo STF) – e incitação ao crime É CRIME COMUM.
3- Pela Constituição Federal (é, este documento ao qual todos os que exercem um dos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – juram ser leais, mas que seu ídolo acha que só serve para limpar o... sim, isso mesmo que a senhora está pensando...), a imunidade parlamentar por palavras e atos NÃO LIVRA UM PARLAMENTAR DE RESPONDER A CRIMES COMUNS (O único privilégio que eles tem é de ser julgados pelo STF) – e incitação ao crime É CRIME COMUM.
4- O mais
importante: Jair Besteiraro jura que falou isso duas vezes para a deputada
"sem pensar" (SIC).
Minha senhora, só
um tipo de pessoa comete o mesmo erro – falar a mesma m... – por duas vezes
"sem pensar": um idiota. E eu não acho que Jair Besteiraro seja
idiota. Ele é um cultivador de idiotas tão misóginos e homofóbicos como ele,
que pode manipular como bem quiser.
"Ah, não, ele
não é misógino!", dirá a senhora. Mas a senhora sabe o que é misógino?
Rezam os nossos
melhores dicionários (livro que Jair Besteiraro e seus adeptos deveriam consultar
de vez em quando):
misoginia
substantivo feminino
1. ódio ou aversão às mulheres.
2. aversão ao contato sexual com as
mulheres.
Misoginia (do grego μισέω, transl. miseó, "ódio"; e γυνὴ, gyné, "mulher") é o ódio, desprezo ou repulsa ao gênero feminino e às características a ele associadas (mulheres ou meninas). Misoginia é o correlato oposto à misandria [ódio, aversão, preconceito ou desprezo a pessoas do sexo
masculino] e antônimo de filoginia, que é o apreço, admiração ou amor pelas
mulheres, embora o termo "filoginia" possa ser considerado preconceito benevolente.
Se isso não é nojo pelas mulheres (como a senhora), então é o quê?
Pior: a misoginia de Jair
Besteiraro tornou-se vergonha internacional, como mostra esta matéria do jornal Le Monde (que não, não é um
jornal "petralha", mas um dos mais respeitados diários de direita da
França).
Pior ainda: considerando-se as opiniões de seu ídolo a respeito do povo
LGBT – e que a ciência provou, através de pesquisas sérias, que muitos homófobos
são assim porque não conseguem assumir seus impulsos homossexuais, – não acha muito esquisito seu ídolo viver mais
cercado de fãs homens do que mulheres, como mostra um artigo do Diário do Centro do Mundo?
Algumas coisas chamam
a atenção na legião de seguidores de Jair Bolsonaro, o deputado que emergiu com
mais força depois do último protesto antigoverno.
A primeira, óbvia, é
o fanatismo. Bolsomito, como eles chamam, é incorruptível, infalível,
inteligente, a encarnação do profeta.
A segunda é a
truculência. Eles gostam de porrada, eles rejeitam qualquer crítica, eles
xingam o que vêem pela frente, especialmente se as vítimas forem mais fracas.
A terceira, e esta é
a mais interessante, é que são todos homens. Não propriamente homens — meninos.
Há raríssimas fãs do sexo feminino.
Os rapazes
idolatram o jeito de ele falar, a boca torta num esgar que fica mais
estranho quando ele está nervoso, o jeito de ele andar, o jeito dele ser.
Bolsonaro gosta de ficar entre esses machos e os machos gostam de estar com
Bolsonaro.
A cada artigo sobre
ele no DCM, essa meninada aparece aos magotes, revoltadíssima com qualquer
coisa que conspurque a imagem de seu ídolo, e descrevendo um sujeito imaculado
de alma e corpo.
Ele é um pop star do
extremismo político, o homem dos sonhos para garotos plenos de testosterona.
“Eu amo ele, sim!”, escreveu um bolsonarista em resposta a um artigo, no meio
de ofensas pesadas.
Bolsonaro exerce um
intenso apelo homoerótico sobre seu eleitorado. É o fascínio homossexual do
fascismo, disfarçado sob a homofobia.
Os jihadistas de JB
gostam de ficar entre si, de se amassar nos eventos do mito. Eles suam e se
roçam e gritam em louvor ao chefe. Dispensam namoradas e esposas. Parte é
misoginia, mas outra parte enorme é vontade mesmo de estar apenas entre homens
exaltados.
Após a guerra, a
parafernália nazifascista foi adotada por praticantes do sado masoquismo.
Artistas embarcaram nisso. David Bowie, em sua fase gay no início dos anos 70,
chegou a colecionar uniformes de oficiais da SS e foi preso na Polônia com
eles.
Os membros da Escola
de Frankfurt descreveram um “tipo de personalidade homossexual” entre os
nazifascistas. As tendências de submissão masoquistas desse tipo o tornaram
vulnerável ao apelo sedutor da causa.
Na Alemanha de
Hitler, uma elite de homens firmemente unidos entre si e aduladores de um deus
de bigode esquisito era a condição necessária para uma nação forte, pura,
honesta e viril.
Segundo a professora
Elizabeth D. Heineman, era o “Mannerbund” — que pode ser traduzido como
“coletivo do sexo masculino” —, a união homens disciplinados física e
mentalmente, sem distrações femininas, transformando seus laços profundos uns
com os outros e com seu líder em potência. O eventual sexo entre eles era
considerado um vínculo a mais.
É evidente que não há
problema algum no hemoerotismo dos bolsonaristas. Ninguém tem nada a ver com
isso. A questão é a histeria homofóbica deles e como esse caldo é
transformado em virulência, intolerância e ditadura.
Bolsonaro, seus
mancebos e o país que querem salvar só têm a ganhar quando se aceitarem como
são.
Ainda assim, vai
que esta e outras coisas ditas e feitas pelo seu ídolo Jair Besteiraro – como dedicar
seu voto pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff ao torturador Carlos
Alberto Brilhante Ustra (e ainda frisar, com um prazer sádico: "o pavor de
Dilma Rousseff"; ou chamar Jean Wyllys de "viadinho" ou
"bichinha" o tempo todo, e ainda fazer seu filho Eduardo Bolsonaro cuspir
nele (o que fez com que Jean Wyllys respondesse da mesma maneira, cuspindo em Jair
Besteiraro) – sejam feitas "sem pensar".
Levando-se em conta
que ele pretende se candidatar a presidente da república, imagine as decisões
que ele tomaria "sem pensar" no exercício do cargo.
Portanto, não perca
tempo com um abaixo assinado: que tal uma vaquinha para pagar o advogado para
seu ídolo, embora ele não precise?
Atenciosamente...
*****************
O filme é Freeheld (Amor por direito – EUA, 2015), de Peter Sollett, com Julianne Moore e Ellen Page).
Mais um filme "baseado em fatos reais", - que aliás, renderam um
documentário em 2007.
A
historinha é bem simples.
Freeheld conta a história real
de Laurel Hester, policial de Ocean County, Nova Jersey, que
enfrentou uma dura batalha para garantir que sua companheira, Stacie
Andree, tivesse direito a benefícios após sua morte. O filme mostra como
Laurel (Julianne Moore)
e Stacey (Ellen Page) se conheceram e
começaram um relacionamento – mandando ás favas a diferença de idade (19 anos) –
que evoluiu até o registro de união civil. Tudo lindo até o dia em que a
policial descobriu estar gravemente doente, com câncer de pulmão em estágio IV.
No trailer é neste momento que o romance transforma-se em drama político e
Laurel passa a enfrentar o sistema, que não reconhece seu relacionamento
homoafetivo.
E então?
Vocês acham que o filme é tão didático como Jenny's
wedding? Assistam e venham discutir comigo depois.
Para quem
ainda não viu, fica o trailer.
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