28 junho, 2016

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (L)

Prezada senhora Mayra Bandeira de Oliveira:

Antes de mais nada, minhas cordiais saudações, apesar do assunto ser um tanto desagradável.
Costumo assinar os abaixo-assinados do Change.org, e por isso eles sempre me enviam outros abaixo-assinados que porventura me interessem.
Pois a senhora criou um abaixo-assinado em defesa de Jair Besteiraro, que me foi mandado pelo Change.orgE é por isso que eu lhe escrevo – para lhe avisar do grande king-kong que a senhora está pagando.
(Para quem acordou da CTI depois de um ano em coma: Jair Besteiraro se tornou réu no Supremo Tribunal Federal, e se Deus e a justiça assim o quiserem, será julgado por incitação ao crime. Para quem acordou da CTI depois de uns dez anos em coma: por duas vezes – uma, nos corredores da Câmara; outra em pleno plenário – Jair Besteiraro xingou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) do mesmo jeito, com a mesma "educativa" frase: "Eu só não te estupro porque você não merece!" Detalhe: na primeira vez, nos corredores da Câmara, o ínclito deputado ainda a mimoseou com o epíteto de "vagabunda"Gentil, o nobre deputado, não?)
E vou lhe explicar por quê, em alguns itens:

1- Quando Jair Besteiraro rosnou para uma deputada adversária política (que, para ele, é o mesmo que inimiga, e portanto não merece nem o mínimo de respeito) que "só não a estupraria porque ela não merece", ele deixa claro que o estupro é um "prêmio" para a mulher.
A senhora gostaria de ser "premiada" com um estupro?
(E repetindo: da primeira vez que ele disse isso, ainda chamou a deputada de "vagabunda". Acho que a senhora se incomoda de ser chamada assim. Ou não?)
2- Desta forma, ele faz incitação ao estupro - ou seja, INCITAÇÃO AO CRIME. E incitação ao crime É CRIME COMUM, de acordo com o Código Penal (Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime - Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.)
3- Pela Constituição Federal (é, este documento ao qual todos os que exercem um dos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – juram ser leais, mas que seu ídolo acha que só serve para limpar o... sim, isso mesmo que a senhora está pensando...), a imunidade parlamentar por palavras e atos NÃO LIVRA UM PARLAMENTAR DE RESPONDER A CRIMES COMUNS (O único privilégio que eles tem é de ser julgados pelo STF) – e incitação ao crime É CRIME COMUM.
4- O mais importante: Jair Besteiraro jura que falou isso duas vezes para a deputada "sem pensar" (SIC).
Minha senhora, só um tipo de pessoa comete o mesmo erro – falar a mesma m... – por duas vezes "sem pensar": um idiota. E eu não acho que Jair Besteiraro seja idiota. Ele é um cultivador de idiotas tão misóginos e homofóbicos como ele, que pode manipular como bem quiser.
"Ah, não, ele não é misógino!", dirá a senhora. Mas a senhora sabe o que é misógino?
Rezam os nossos melhores dicionários (livro que Jair Besteiraro e seus adeptos deveriam consultar de vez em quando):

misoginia
substantivo feminino
1. ódio ou aversão às mulheres.
2. aversão ao contato sexual com as mulheres.

Reza a Wikipedia:
Misoginia (do grego μισέω, transl. miseó, "ódio"; e γυνὴ, gyné, "mulher") é o ódio, desprezo ou repulsa ao gênero feminino e às características a ele associadas (mulheres ou meninas). Misoginia é o correlato oposto à misandria [ódio, aversão, preconceito ou desprezo a pessoas do sexo masculino] e antônimo de filoginia, que é o apreço, admiração ou amor pelas mulheres, embora o termo "filoginia" possa ser considerado preconceito benevolente.

Ora, seu ídolo Jair Besteiraro defendeu certa vez que as mulheresdevem ganhar salários menores porque engravidam. E em 2011, a cantora Preta Gil, filha de Gilberto Gil, fez uma singela perguntinha a seu ídolo em um quadro do programa CQC (Band):"O que você faria se seu filho se apaixonasse por uma negra?". E seu ídolo respondeu: "Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu". Quando deu aquelas cinco letras que fedem, Bolsonaro quis dizer que "não ouviu bem a pergunta". Mas a turma do CQC provou em alto e bom som (e mil perdões pelo trocadalho...) – minuto 2:18 do vídeo – que sim, ele ouviu bem a pergunta:


Se isso não é nojo pelas mulheres (como a senhora), então é o quê?
Pior: a misoginia de Jair Besteiraro tornou-se vergonha internacional, como mostra esta matéria do jornal Le Monde (que não, não é um jornal "petralha", mas um dos mais respeitados diários de direita da França).
Pior ainda: considerando-se as opiniões de seu ídolo a respeito do povo LGBT – e que a ciência provou, através de pesquisas sérias, que muitos homófobos são assim porque não conseguem assumir seus impulsos homossexuais– não acha muito esquisito seu ídolo viver mais cercado de fãs homens do que mulheres, como mostra um artigo do Diário do Centro do Mundo?

Algumas coisas chamam a atenção na legião de seguidores de Jair Bolsonaro, o deputado que emergiu com mais força depois do último protesto antigoverno.
A primeira, óbvia, é o fanatismo. Bolsomito, como eles chamam, é incorruptível, infalível, inteligente, a encarnação do profeta.
A segunda é a truculência. Eles gostam de porrada, eles rejeitam qualquer crítica, eles xingam o que vêem pela frente, especialmente se as vítimas forem mais fracas.
A terceira, e esta é a mais interessante, é que são todos homens. Não propriamente homens — meninos. Há raríssimas fãs do sexo feminino.
Os rapazes idolatram o jeito de ele falar, a boca torta num esgar que fica mais estranho quando ele está nervoso, o jeito de ele andar, o jeito dele ser. Bolsonaro gosta de ficar entre esses machos e os machos gostam de estar com Bolsonaro.
A cada artigo sobre ele no DCM, essa meninada aparece aos magotes, revoltadíssima com qualquer coisa que conspurque a imagem de seu ídolo, e descrevendo um sujeito imaculado de alma e corpo.
Ele é um pop star do extremismo político, o homem dos sonhos para garotos plenos de testosterona. “Eu amo ele, sim!”, escreveu um bolsonarista em resposta a um artigo, no meio de ofensas pesadas.
Bolsonaro exerce um intenso apelo homoerótico sobre seu eleitorado. É o fascínio homossexual do fascismo, disfarçado sob a homofobia.
Os jihadistas de JB gostam de ficar entre si, de se amassar nos eventos do mito. Eles suam e se roçam e gritam em louvor ao chefe. Dispensam namoradas e esposas. Parte é misoginia, mas outra parte enorme é vontade mesmo de estar apenas entre homens exaltados.
Após a guerra, a parafernália nazifascista foi adotada por praticantes do sado masoquismo. Artistas embarcaram nisso. David Bowie, em sua fase gay no início dos anos 70, chegou a colecionar uniformes de oficiais da SS e foi preso na Polônia com eles.
Os membros da Escola de Frankfurt descreveram um “tipo de personalidade homossexual” entre os nazifascistas. As tendências de submissão masoquistas desse tipo o tornaram vulnerável ao apelo sedutor da causa.
Na Alemanha de Hitler, uma elite de homens firmemente unidos entre si e aduladores de um deus de bigode esquisito era a condição necessária para uma nação forte, pura, honesta e viril.
Segundo a professora Elizabeth D. Heineman, era o “Mannerbund” — que pode ser traduzido como “coletivo do sexo masculino” —, a união homens disciplinados física e mentalmente, sem distrações femininas, transformando seus laços profundos uns com os outros e com seu líder em potência. O eventual sexo entre eles era considerado um vínculo a mais.
É evidente que não há problema algum no hemoerotismo dos bolsonaristas. Ninguém tem nada a ver com isso. A questão é a histeria homofóbica deles e como esse caldo é transformado em virulência, intolerância e ditadura.
Bolsonaro, seus mancebos e o país que querem salvar só têm a ganhar quando se aceitarem como são.

Ainda assim, vai que esta e outras coisas ditas e feitas pelo seu ídolo Jair Besteiraro – como dedicar seu voto pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra (e ainda frisar, com um prazer sádico: "o pavor de Dilma Rousseff"; ou chamar Jean Wyllys de "viadinho" ou "bichinha" o tempo todo, e ainda fazer seu filho Eduardo Bolsonaro cuspir nele (o que fez com que Jean Wyllys respondesse da mesma maneira, cuspindo em Jair Besteiraro) – sejam feitas "sem pensar".
Levando-se em conta que ele pretende se candidatar a presidente da república, imagine as decisões que ele tomaria "sem pensar" no exercício do cargo.
Portanto, não perca tempo com um abaixo assinado: que tal uma vaquinha para pagar o advogado para seu ídolo, embora ele não precise?

Atenciosamente...

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Nossa indicação para esta séria série já foi lançada nos cinemas. Mas não custa nada falar dela, já que a crítica teve o mesmo "carinho" que teve com Jenny's wedding (Casamento de verdade), do qual falei aqui em post anterior desta séria série.
O filme é Freeheld (Amor por direito – EUA, 2015), de Peter Sollett, com Julianne Moore e Ellen Page). Mais um filme "baseado em fatos reais", - que aliás, renderam um documentário em 2007.
A historinha é bem simples.
Freeheld conta a história real de Laurel Hester, policial de Ocean County, Nova Jersey, que enfrentou uma dura batalha para garantir que sua companheira, Stacie Andree, tivesse direito a benefícios após sua morte. O filme mostra como Laurel (Julianne Moore) e Stacey (Ellen Page) se conheceram e começaram um relacionamento – mandando ás favas a diferença de idade (19 anos) – que evoluiu até o registro de união civil. Tudo lindo até o dia em que a policial descobriu estar gravemente doente, com câncer de pulmão em estágio IV. No trailer é neste momento que o romance transforma-se em drama político e Laurel passa a enfrentar o sistema, que não reconhece seu relacionamento homoafetivo.
E então? Vocês acham que o filme é tão didático como Jenny's wedding? Assistam e venham discutir comigo depois.
Para quem ainda não viu, fica o trailer.

  


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