Mas hoje, nesta séria série, entre outras coisas, gostaria de convocar os pesquisadores – especialmente psicólogos, psicanalistas e, quem sabe, os mesmos cientistas que descobriram em experiências de laboratório que grande parte dos homofóbicos, na verdade, tem tendências homossexuais reprimidas – para uma pesquisa que deve ser realizada urgentemente, para descobrir por que é que, pouco a pouco, certas pessoas sofrem uma grave deficiência de empatia – a capacidade psicológica de sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela; tentar compreender sentimentos e emoções de outro indivíduo, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo – com o outro ao seu lado.
Não sou cientista, mas já deixo uma sugestão de um nome para esta síndrome ou deficiência grave de empatia: felicianismo, em homenagem a um dos mais ilustres casos clínicos – o sereno e tolerante (só que não) pastor deputado Marco Feliciânus. Qualquer dúvida, basta espiar alguns exemplos de seus surtos de felicianismo (falta de empatia) relatados em sua página na Wikipedia:
Em
abril de 2013 foi divulgada na internet uma filmagem de um culto religioso de
2005, mostrando o pastor dizendo que o cantor britânico John Lennon foi castigado e morto por Deus por ter dito
em certa ocasião que "Os Beatles são mais populares do que Jesus
Cristo". Sobre a morte do cantor,
assassinado em 1980 por Mark Chapman,
Feliciano disse que se tratou de uma "vingança divina" e que
"ninguém afronta Deus e sobrevive para debochar". No mesmo
vídeo e ainda sobre o assunto, o pastor diz: "Eu queria estar lá no dia em
que descobriram o corpo dele. Ia tirar o pano de cima e dizer: 'me perdoe John,
mas esse primeiro tiro é em nome do Pai, esse é em nome do Filho e esse é em
nome do Espírito Santo'."
(Nem sempre. Feliciano é um exemplo: toda vez que ele diz "bem feito" a pessoas que morrem, dizendo que é "castigo de Deus", ele debocha claramente do amor aos outros, pregado por este mesmo Jesus Cristo que ele diz representar. E, no entanto, ele está aí, sem nenhuma punição: nem da terra – da justiça – nem dos céus.)
Em
outro vídeo, mas no mesmo culto em que menciona John Lennon, o religioso fala
sobre o grupo Mamonas Assassinas,
dizendo que o vocalista da banda, o cantor Dinho,
se "vendeu ao Diabo" por dinheiro. Sobre o acidente aéreo que matou
todos os integrantes do grupo em 1996, Feliciano diz: "O avião estava no
céu, região do ministro do juízo de Deus, lá na serra da Cantareira. Ao invés
de virar para um lado, o manche tocou para o outro. O anjo pôs o dedo no
manche, e Deus fulminou aqueles que tentaram colocar palavras torpes na boca
das nossas crianças." Hildebrando Alves, o pai de Dinho, disse que iria
processar judicialmente o pastor e afirmou: "Ele (Marco Feliciano) é
louco. Deus não mata ninguém, Deus é amor. O acidente que aconteceu foi uma
fatalidade, eles viajavam muito de avião." Cristiane Parreira
Martins, a viúva do piloto do avião, que também é mencionado por Feliciano no
vídeo, classificou o discurso do pastor como uma "pregação infeliz e
inútil". "Neste momento, eu consigo sentir dó, pena de um comentário
que chegou a me perturbar, como perturbou às minhas filhas. Mas a gente tem de
ser superior nessa hora. [...] Se Deus, o Deus do Marco, queria tirar esse
grupo que cantava músicas ‘inconsequentes’ - sei lá como ele chamou -, o que o
meu marido tinha a ver com isso? Ele não cantava, era o piloto, estava trabalhando,
com uma filha de 1 ano e uma de 3 anos em casa. A gente tem de acreditar que o
mesmo Deus dele não é meu Deus", afirmou a viúva.
Até a trágica morte de Domingos Montagner, afogado no rio São Francisco – cortesia de redemoinhos e fortes correntezas ao qual ele não resistiu, mais descaso da prefeitura de Canindé do São Francisco, que retirou boias, avisos e salva vidas para uma obra e não os recolocou (só fazendo isso após a tragédia) – pensava-se que Marco Feliciânus era o único expoente deste caso clinico. Agora, não mais: outros casos surgiram.
Começou com uma piada muito da sem graça, escrota mesmo, que apareceu (para variar...) no Facebook (e que os leitores estejam livres para vomitar, se assim o desejarem):
Se você acha ruim manga com leite, experimente comer pitanga no rio...
Custei a perceber que a pitanga, no caso, não é a fruta, mas a atriz: Camila Pitanga, par romântico de Montagner em Velho Chico.
Depois apareceram surtos de teoria de conspiração e vingança.
Primeiro, o surto conspiratório:
Únicas falhas da teoria conspiratória:
1ª- A troco de quê Camila Pitanga "assassinaria" seu par romântico em Velho Chico - com quem, aliás, se dava muito bem? (Aliás, todos os atores que trabalharam com Domingos Montagner são unânimes em achá-lo de uma simplicidade e simpatia para com os colegas.) Só para sacanear a Globo? Isso não esclareceram.
2ª- De onde surgiu a "informação" de que Camila é "ateia"? Será que ela não é agnóstica, o que é bem diferente? E ainda que fosse ateia: desde quando falta de religião implica em falta de caráter? (Está aí Marco Feliciânus para provar que religião não dá vergonha na cara a ninguém...)
Depois, o surto de vingança:
Até que (e aí é que evangelicuzinhos como Marco Feliciânus entram na jogada), uma amiga (que não vou identificar, para que doentes não a aporrinhem) postou isso em seu facebook:
Evangélicos
dizem que Domingos Montaigner morreu porque não aceitou Jesus.
Indígenas da
tribo Fulni-õ dizem que a alma de Domingos está livre e que agora ele é um
protetor do rio.
Estou
interessadíssima nas mensagens de luz e conforto que estes últimos têm a me
oferecer.
Já os
outros, na boa, acho que nem Cristo guenta...
Isso mesmo: a teoria do castigo da mente suja de Marco Feliciânus entrou em cena: Montagner morreu porque Deus assim o quis, para castiga-lo.
O problema desta teoria é: qual foi o pecado que Domingos Montagner cometeu para que o "deus dos evangelicuzinhos felicianistas" o castigasse?
Ter um grande talento?
Ter começado sua carreira no circo – arte que alguns puritanos fanáticos, em tempos idos, achavam pecado?
Sério, essa eu ainda não entendi.
O que só dá razão ao sábio pichador que escreveu numa parede:
E me dá mais razão ao pedir, exigir, implorar até, que os cientistas entrem em ação para pesquisar uma terapia eficaz para curar o felicianismo. Sem uma terapia, pacientes acometidos desta doença podem não só fazer mal a si mesmos, mas a toda a sociedade – especialmente se se envolverem na atividade política. Está aí a história da Europa entre 1918 e 1945 – especialmente a dos regimes nazifascistas – que não nos deixa mentir.
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Para demonstrar como o sábio pichador tinha razão, olha só a foto abaixo:
- A Bíblia não constrói pontes e edifícios: quem os planeja e coordena sua construção são arquitetos e engenheiros civis - formados no ensino superior.
- A Bíblia pode até ajudar a curar quem tem muita fé, mas não cura por si só: para isso, são necessários médicos e enfermeiros – formados no ensino superior.
- A Bíblia não ajuda médicos e enfermeiros a curar: para isso, são necessários medicamentos, elaborados por químicos e farmacêuticos – formados no ensino superior.
- A Bíblia pode educar (ou não) pessoas para que sejam mais cristãs, mas não as prepara para cursar engenharia, medicina, enfermagem, química ou farmácia: para isso, precisa de professores com licenciatura – formados no ensino superior.
Por isso, minha filha, pegue este cartaz, enrole bem e o introduza no subilatório do "pastor" evangelicuzinho que lhe ensinou esta besteira.
Se quiser, pode usar para isso o bom e velho KY – produto elaborado por químicos formados no ensino superior.
Ou então, se seu "pastor" assim o quiser, pode sugerir a ele para imitar Marlon Brando e Maria Schneider em O último tango em Paris (1972) e utilizar manteiga ou margarina – alimentos preparado a partir do trabalho e cuidado de agrônomos, veterinários e engenheiros de produção de alimentos – igualmente formados no ensino superior.
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Mas voltando á vaca fria.
Sugiro que, a estes novos pesquisadores desta doença chamada felicianismo, poderiam se juntar psicanalistas especializados em tratar as chamadas parafilias e especialistas em chans.
Tio, que trem é esse de parafilia? E que troço é esse de chan?
Calma, amigos leitores, uma coisa de cada vez.
Primeiro, parafilia. Como bem define a Wikipedia (e, no tocante ao assunto desta séria série, há um grifo que é meu):
Parafilia (do grego παρά, para, "fora de",e φιλία, philia, "amor") é um padrão de comportamento sexual no qual, em geral, a fonte predominante de prazer não se encontra na cópula, mas em alguma outra atividade. São considerados também parafilias os padrões de comportamento em que o desvio se dá não no ato, mas no objeto do desejo sexual, ou seja, no tipo de parceiro, como, por exemplo, a efebofilia.
Em
determinadas situações, o comportamento sexual parafílico pode ser considerado perversão
ou anormalidade.
As
parafilias podem ser consideradas inofensivas e, de acordo com algumas teorias psicológicas, são parte integral da psique normal
— salvo quando estão dirigidas a um objeto potencialmente perigoso, danoso para
o sujeito ou para outros (trazendo prejuízos para a saúde ou segurança, por exemplo), ou quando impedem
o funcionamento sexual normal, sendo classificadas como distorções da
preferência sexual na CID-10 na classe
F65.
As
considerações com respeito ao comportamento considerado parafílico dependem em um grau muito elevado das
convenções sociais reinantes em um momento e lugar determinados; certas
práticas, como a homossexualidade ou até mesmo o sexo oral, o sexo anal
e a masturbação foram consideradas parafílicas em seu
momento, embora agora sejam consideradas variações normais e aceitáveis do
comportamento sexual.
Entretanto,
há quem considere que o excesso na masturbação após a adolescência ou o fato de alguém preferir sempre esta
prática do que o contato com outro indivíduo venha configurar-se uma parafilia.
Por
outro lado, o próprio conceito de parafilia tende a ser revisto já que na
atualidade a ciência tem ampliado cada vez mais as variações aceitáveis do
comportamento sexual, mas sem que os valores novos tenham aprovado algumas
condutas ainda que acompanhadas da cópula vaginal, como é o caso das relações sexuais com crianças.
Sendo
assim, é impossível elaborar um catálogo definitivo das parafilias; as
definições mais usuais listam comportamentos como o sadismo, o masoquismo, o exibicionismo, o voyeurismo ou o fetichismo.
A lista de parafilias é enorme. Inclui, obviamente, a mais citada pelos pastores evangelicuzinhos fundamentalistas para tentar desmoralizar e criminalizar o povo LGBT: a pedofilia, que até minha sobrinha de dez anos sabe (de ouvir dizer por aí, claro...) que é a atração sexual primária ou exclusiva por crianças de cinco aos 11 anos de idade, mais ou menos.
Tenho de explicar isso porque, os "çábios" (assim mesmo, sr. revisor, obrigado) evangelicuzinhos, do alto de sua "çabedoria" (assim mesmo, sr. revisor, novamente obrigado) misturam a pedofilia com a pederastia (do grego clássico παιδεραστής, composto de παῖς, "criança", e ἐράω, "amar") – o relacionamento erótico entre o um homem e um menino – e com a efebofilia (do grego "ephebos" - pessoa jovem pós-pubescente + "philia" - amor ou amizade) , também chamada de hebefilia (do grego "hebe" - juventude + "philia" - amor ou amizade) – que é a atração sexual de adultos por adolescentes entre 13 a 17 anos. (Aliás, os evangelicuzinhos ainda usam o termo pederasta para designar o homossexual – afinal, a ideia é acusa-los de querer comer meninos. O estranho é que não incluem os adultos que atacam meninas – inclusive adultos que se dizem "pastores evangélicos"... Por que será?)
Mas voltando à pedofilia propriamente dita. Se realmente pesquisassem com honestidade, os evangelicuzinhos descobririam que o verdadeiro de pedófilos e defensores da pedofilia não está entre grupos ou entidades LGBT, mas nos chans.
O que nos leva à sua segunda pergunta: tio, que que é chan?
Wikipedia de novo:
Um imageboard (também conhecido como chan, abreviatura do inglês channel)
é um tipo de fórum de discussão que se baseia na postagem de imagens e
texto, geralmente de forma anônima, do qual o representante mais conhecido é o
americano 4chan. O primeiro imageboard conhecido é o Futaba Channel (2chan), criado em 2001, que foi baseado no textboard 2channel.
A
interface dos imageboards é bastante simples, não exigindo cadastro
nem mantendo o histórico das discussões por muito tempo. Qualquer pessoa pode
fixar uma mensagem, iniciando um tópico de discussão em determinado canal
temático. O formato e a dinâmica dos chans favoreceu o surgimento de vários memes da Internet, como é o caso do trollface e do pedobear, bem como a criação do
movimento de ativistas hackers "Anonymous", que ficou
conhecido por protestar contra a Cientologia em 2008, espalhando-se por diversos países
e tendo suas ações originalmente orquestradas através do imageboard 4chan
Resumindo a p... toda: o chan é um fórum da internet anônimo – as pessoas participantes são anônimas.
O problema é que, aqui em Terra Papagalli (certo, não só aqui, mas estamos falando da terrinha), os chans se tornaram um antro de losers.
Do you speak english? No? That's traduction para a inculta e bela: losers = vencidos, derrotados, perdedores.
Se os dois primeiros termos (vencidos, derrotados) realmente representassem o que são os losers , poderíamos pensar que estes seriam os que foram à luta para alguma coisa (assim como o povo do Anonymous, que quase sempre prestam algum serviço à humanidade – tipo aporrinhar o Estado Islâmico e fazer cair as suas páginas onde eles recrutam cretinos...), e perderam uma batalha. Fosse assim, estes losers mereceriam respeito, porque pelos menos tentaram.
Mas os losers a que nos referimos (e que atulham os chans) são os que bem podem ser descritos no último termo: perdedores – no sentido de serem sujeitos solitários, perturbados, sem vida social ou afetiva, quase sempre sem família (ou cuja família não dá a mínima ou não aguenta mais...) que, uma vez nos chans, propagam ideias de ódio (contra negros, mulheres, LGBTs) – ou seja, além de losers, são haters (Donkeys' father, isto é, pai dos burros inglês-português: odiadores, os que odeiam tudo – e todos – o que puderem odiar) – e ideias de jerico – como defender a pedofilia como algo normal e aceitável.
Se minha explicação escrita ficou chata, pula esta explicação e vai direto para um vídeo do canal de Felipe Neto no YouTube – aposto que ele explica melhor do que eu. E, certamente, ele também vai lhe explicar porque cretinos como Mallone Morais existem e só poderiam nascer em chans.
Mallonne Morais, que já foi preso
por pedofilia,
postou um vídeo muito polêmico neste sábado. Ele, que tem um canal no Youtube
com dicas sobre games, também usa o local para opinar sobre temas polêmicos.
Desta vez, o homem sugere que pais tenham relação sexual com a própria filha.
Na publicação, ele diz que os
pais devem estuprar as filhas quando elas voltarem da escola, pois seria deles
o direito de iniciar a menina na vida sexual. Em outra publicação, Malonne
Morais diz que as autoridades devem entender que o consumo de pornografia
infantil não causa mal a ninguém, sugerindo que não seria crime.
Os absurdos postados pelo homem,
que saiu da prisão após pagar fiança, não pararam por ai. No site da Revista
Forum foi abordado outro vídeo postado por ele. De acordo com a publicação, o
pedófilo fez também uma homenagem a um professor norte-americano que abusou das
alunas e filmou tudo o que fez. James Bartholomew Huskey foi preso e condenado
a 70 anos de cadeira.
Para Mallonne, o pedófilo ter
sido preso foi uma injustiça e mais uma vez diz que pais devem estuprar as
filhas. Para ele, o estupro realizado pelo pai evitaria que a filha venha a dar
para qualquer maconheiro” ou que se torne uma feminista.
Mallonne chega a dizer que homens
que se sentem atraídos por crianças são vítimas de preconceito e diz que
“infelizmente” a pornografia infantil é ilegal. O homem também conta como
descobriu que se sente atraído por crianças sem roupa. Ele contou que percebeu
isso ao acompanhar a carreira de MC Melody.
A menina é uma criança, que
começou a fazer sucesso após o pai postar vídeos dela na internet com a música
“Falem de Mim”. Após divulgar as imagens, MC Belinho foi muito criticado e
acabou retirando as postagens.
Mallonne de Morais foi preso por
pedofilia no início de 2016. Além de compartilhar, ele tinha pornografia
infantil em casa. Ele pagou fiança e segue solto na sociedade, fazendo apologia
ao estupro e à pedofilia na internet. Internautas pedem ajuda para que o homem seja
denunciado para a polícia.
A convocação de Felipe Neto ganhou um reforço de peso: Maestro Bogs.
Ou de vazar dados do Felipe Neto, sua empresa, seus sócios e familiares... e dos fãs que mais acessaram o site, para em tese, elaborar fraudes fiscais contra o Felipe Neto e seus fãs. Fora as ameaças de morte regulamentares de sempre...)
O aviso foi dado pelo canal do YouTube Deep Web. Talvez isso não dê em nada. Mas não sabemos quem está por trás das telas de computador.
Por isso, hay que vigilar, y siempre. (e mis escusas por mi portunhol...)
Porque, ainda que não se entenda, sempre vão aparecer losers pela internet destilando seu ódio e suas neuroses pela web.
Pior: fica a impressão que a nossa ínclita Polícia Federal, por mais que mantenha um canal para denúncias de crimes na internet, parece que não está nem aí...
******************************
Agora, me desculpem o incômodo, mas (apesar do atraso) precisamos falar sobre a palhaçada da comissão do Ministério da Cultura – é, este MinC do ministro histérico de um governo golpista – encarregada de selecionar o candidato brasileiro para Oscar de melhor filme estrangeiro de 2017.
Ou melhor, quem vai falar MESMO é Celso Sabadin, em texto do seu site Planeta Tela (os grifos e as notas são meus):
Baixada (pelo menos um pouco) a poeira da polêmica sobre a escolha do
filme brasileiro que irá nos representar no Oscar 2017, creio ser importante
deixar claro que, em toda esta história, o Oscar em si é o que menos importa.
Se um dia o Brasil ganhar um Oscar de Filme Estrangeiro, beleza, maravilha,
palmas para o vencedor. E se jamais
ganhar, não há a menor importância, pois o nosso cinema e a nossa cultura são
muito mais importantes para nós que a estatueta daquele homem pelado com uma
espada na frente. [1]
A questão não é o prêmio, mas a cadeia de ilegitimidades que ele
sinaliza. A partir de um governo ilegítimo empossado por um golpe de estado, um
ministro da cultura igualmente ilegítimo, com
nenhuma identificação com os meios culturais do país, [2] escolheu um Secretário do Audiovisual, claro, consequentemente
ilegítimo, que pode até ser “gente boa”. Mas, que diabos, minha vó também era
gente boa, mas jamais teria condições de comandar a Secretaria do Audiovisual. O Secretário, que já foi Secretário do
Turismo, Presidente do Sport Club Recife, e cuja atuação na área da
cinematografia se restringe a comandar um evento anual na área [3], começou a compor uma comissão de escolha do filme brasileiro concorrente
ao Oscar de maneira, igualmente, ilegítima (pelo menos há coerência: é tudo
ilegítimo) [4]. Alguns membros escolhidos para esta
comissão, ao perceberem o tamanho da encrenca em que estavam começando a se
meter, sabiamente se retiraram. Outros, talvez não atentando à gravidade da
situação, optaram por permanecer. Alguns filmes previamente concorrentes também
notaram o imbróglio e retiraram suas candidaturas.
O resultado não poderia ser diferente: ilegítimo. Não é o caso de
defender este ou aquele filme, de atacar outros, nada disso. A grande questão é
que estamos enviando para uma premiação internacional um produto audiovisual
sem a menor legitimidade do nosso povo, da nossa democracia, da nossa cultura,
posto que foi escolhido por uma comissão ilegítima, formada por uma Secretaria
ilegítima vinda de um Ministério ilegítimo formado por indicação de um
presidente golpista. [5]
Nós, que sempre lutamos contra o filme pirata, temos agora uma
Secretaria do Audiovisual pirata, escolhida por um ministério pirata de um
governo pirata. Pirata no sentido de ilegal, mesmo. Bucaneiro.
Tudo bem, é só o Oscar. Verdade. Mas é só o Oscar, hoje. Toda este rede
de ilegitimidades, com Oscar ou sem, continua
comandando diariamente os rumos e as políticas da cultura brasileira, fazendo
opções que não têm o aval do voto. [6] Tudo isso é muito grave, com consequências inimagináveis para o futuro
do país.
É importante lembrar que a
ilegitimidade do golpe de 1964 durou 21 anos, mas atrasou nossa cultura e nossa
educação em séculos. Esta é uma característica muito forte da ilegitimidade: o
tempo da terra arrasada é muitas vezes maior que o tempo da praga em si. [7]
Se continuarmos apenas a ser indignados virtuais, protegidos pelo
conforto dos nossos computadores, sem lutas mais efetivas, teremos de nos
esconder envergonhados dos nossos filhos e netos quando, no futuro, eles nos
perguntarem o que fizemos para combater tudo isso.
Algumas notas deste que vos fala:
[1] Um amigo meu, cineasta, num ataque de homofobia involuntária explícita, chegou a chamar o Oscar de "bonequinho viado" (SIC)...
[2] E que, pelo visto, faz toda a questão de continuar não representando: em entrevista, Marcelo Calero – diplomata nada diplomático, como mostra a sua histérica reação a pessoas do público que gritaram "Fora Temer" na abertura do Festival de Cinemade Petrópolis – disse que "(...) há um ministro da Cultura que está disposto a dialogar com quem quer que seja para a construção de políticas públicas consistentes. Mas só dialogo com quem quer dialogar." ). Ou seja, quaisquer conversa deste MinC ficará restrita a quem quiser puxar o saco do governo golpista...
O faniquito do doutor Calero em Petrópolis.
[3]
Maiores detalhes sobre sobre Alfredo Bertini, atual secretário do Audiovisual,
ver dois textos do crítico, Marcelo Lyra: um sobre festivais de cinema no Brasil, onde fala do "simpático casal Alfredo e Sandra Bertini [que] está no ramo há anos, mas ambos são essencialmente empresários, sem formação cinematográfica. Muitos filmes medianos, que não são selecionados em lugar nenhum, podem ganhar espaço lá na base da amizade"; e outro sobre o livro de Bertini, Quando o Caso É de Cinema, a Paixão é um Festival),
do qual, aliás, já falei em outro post neste blog, que não é desta séria série.
[4]
Entre outras ilegitimidades, a escolha de um crítico chamado Marcos Petrucelli para a comissão de seleção do filme brasileiro para o Oscar. Nada
de mais – mesmo o tal Petrucelli sendo um crítico tão profundo como um pires – se ele já não houvesse se manifestado de maneira rude contra Aquarius, por causa do protesto da equipe e elenco em Cannes contra o golpe – o que deixou o processo de seleção do filme
para o Oscar com gostinho de "jogo de cartas marcadas.
[5] Nada
contra O pequeno segredo (2016), de David
Schürmann. Não o vi (até porque até agora, outubro de 2016, ainda não foi
lançado nos cinemas brasileiros), e ele pode até ser um bom filme. Mas toda
esta lambança da comissão do filme para o Oscar deixa sobre o filme uma aura de
desconfiança da legitimidade de sua indicação.[6] Precisa dizer mais?
[7] E parece que a intenção deste governo golpista é continuar arrasando a terra da cultura e educação. Estão aí a medida provisória do ensino médio – é, aquela mesma que a gente não sabe se vai ou não tirar a obrigatoriedade do ensino de Filosofia, Sociologia, Educação Física e... Artes do ensino médio – e a CPI da Lei Rouanet – é, aquela mesma que convocou até os mortos como Tomie Ohtake para depor – convocada por aliados de extrema-direita do governo golpista (inclusive Jair Besteiraro, muso desta séria série) não para efetivamente desvendar falhas da legislação, mas para retaliar todos e quaisquer artistas que ousaram se colocar contra o golpe – que não nos deixam mentir.
Precisa mais? Acho que não.
******************************
E agora, a nossa indicação de filme para esta séria série: About Ray (Meu nome é Ray - EUA,2015), de Gaby Delial.Meu nome é Ray gira em torno de três gerações de mulheres de uma família que vive sob um mesmo teto em Nova York... e como elas precisam lidar com uma grande transformação de uma delas que vai afetar a todas. Ray (Elle Fanning) é uma adolescente que decidiu mudar de sexo. Sua mãe solteira, Maggie (Naomi Watts) precisa encontrar o pai biológico de Ray (Tate Donovan) para obter seu consentimento legal para a mudança. Dolly (Susan Sarandon), avó lésbica de Ray, está com dificuldade em aceitar que agora tem um neto. Cada um deles precisa confrontar sua própria identidade, aprender a aceitar a mudança e sua força como família para finalmente encontrar compreensão e harmonia.
Maiores
detalhes, assista o filme. Por enquanto, veja o trailer.
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