15 janeiro, 2017

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (LVI)

Mil desculpas, mas hoje eu não vou escrever coisa minha a respeito do assassinato do jovem Itaberli Lozano, de 17 – assassinado pela própria mãe, Tatiana Ferreira, por ser gay, e que ainda teve o corpo queimado num canavial por ela e seu marido, Alex Canteli). Prefiro compartilhar com vocês um texto de Nathali Macedo para o Diário do Centro do Mundo, porque este texto fala por mim.
Fica a seu critério achar o que você bem quiser. Mas fica um recadinho para quem simpatiza com a atitude desta mãe: não ouse ter filhos, porque para isso você precisa ter AMOR – e se acha que matar o próprio filho (ou mesmo expulsá-lo de casa) por ser gay é normal é a prova de que você não merece ser pai ou mãe, porque amar um filho é incondicional.
Vamos ao texto.

Numa família nuclear comum, uma mãe mata o filho com três facadas no pescoço e, com a ajuda do marido, enrola o corpo num edredom, leva a um canavial e ateia fogo. Na delegacia, confessa o crime e diz que o filho era homossexual e usuário de drogas.
“Eu não o aguentava mais.”
Tatiana Ferreira, gerente de supermercado, e Alex Canteli, taxista, suspeitos no crime que vitimou Itaberli Lozano, de 17 anos, homossexual, eram cidadãos comuns. Passariam até como “cidadãos de bem”: Emprego, residência fixa, impostos pagos e foto de natal da família.
Fazem parte do clã que defende a “moral da família brasileira.” São guardiões desta moral a ponto de não aceitarem a homossexualidade do filho (estamos no século XXI orientação sexual ainda está associada à moral).
Cresceram, provavelmente, ouvindo (e absorvendo, por todos os poros), que homossexuais e usuários de drogas são a escória da honrada sociedade brasileira e que, portanto, não merecem ser amados, tampouco respeitados, tampouco mantidos vivos  – nem mesmo segundo esta moral que diz, com o peito estufado de orgulho, defender a “família brasileira.”
Defendem a família brasileira, desde que não haja nela um LGBT, desde que um dos filhos não vire comunista, desde que nenhum membro tenha contato com drogas ilícitas (quanto às lícitas, tudo bem), desde que ninguém discuta nada e absolutamente todos – ignorando as próprias convicções e, se possível (spoiler: não é possível) a própria orientação sexual- obedeçam ao digníssimo e hipócrita modelo de Família Brasileira, que acoberta violência com a mais requintada hipocrisia.
Resumindo: A moral cristã –  que é a mesma moral da “grande” mídia, que é a mesma moral da Direita Brasileira, que é a mesmíssima moral dos Bolsominions – não defende a família brasileira. O que ela faz é, na verdade, justamente o contrário: Destrói-a por todos os lados, de todas as maneiras, e cada vez mais violentamente.
De qualquer modo, não deve ser muito saudável dar ouvidos a uma moralidade que faz com que mães matem filhos – se uma mãe que esfaqueia um filho e queima o corpo não é capaz de te convencer, eu tampouco o serei.
O fato é que, na verdadeira “família brasileira” – desconhecida para os mais conservadores –  há pessoas de todas as cores, de todas as orientações sexuais e políticas, com todo tipo de ideologia – qualquer moral que se proponha a defendê-la deve, portanto, ter como primeiro preceito a tolerância à diversidade – mas, sabemos, conservadorismo e tolerância não se dão muito bem.
Onde há conservadorismo, há violência – Itaberli Lozano certamente soube disso quando sua mãe – que confessou o crime sem nenhuma comoção – fincou-lhe uma faca no pescoço. Graças à moral conservadora e sedenta por violência, talvez agora lhe caia sobre os ombros uma estranha sensação de dever cumprido.

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Para compensar, duas indicações de filmes para esta séria série.
A primeira indicação estreou nesta quinta feira (14 de janeiro): A criada (Ah-ga-ssi / The Handmaiden - Coreia do Sul, 2016), de Park Chan-Wook – livremente inspirado no romance Fingersmith, de Sarah Waters (edição brasileira: Na ponta dos dedos – Rio de Janeiro, Record, 2005) transferida da Londres vitoriana do século XIX para a Coreia sob ocupação japonesa, nos anos 1930. Só para lembrar: Sarah Waters é a mesma autora de Tipping the velvet (edição brasileira: Toque de veludo – Rio de Janeiro, Record, 2011) (Aliás, tanto Fingersmith como Tipping the velvet foram séries da BBC – aliás, Tipping the velvet foi indicada por mim em um dos posts desta séria sérieMinha sugestão? Assistam a versão de Park Chan-Wook (realizador de Oldboy, 2003, Lady vingança, 2005, Sede de sangue, 2009 e Segredos de sangue, 2013) e depois a série da BBC (se quiserem inverter a ordem dos tratores, que não altera o viaduto, tudo bem.), para decidir qual delas é... como é que se diz mesmo?... instigante.
A sinopse: durante a ocupação japonesa na Coreia, nos anos 1930, a jovem Soo-kee (Kim Tae-ri) é contratada para trabalhar para uma herdeira nipônica, Hideko (Kim Min-Hee), que leva uma vida isolada ao lado do tio autoritário, Kouzuki (Jin-woong Jo). Só que Soo-kee guarda um segredo: tudo faz parte do plano de um vigarista, o conde Fujiwara (Jung-woo Ha). Soo-kee deve ajudar Fujiwara a desposar a herdeira, roubar sua fortuna e trancafiá-la em um sanatório. Tudo corre bem com o plano... até que Soo-kee aos poucos começa a compreender as motivações de Hideko.

This is the trailer.


A minha segunda indicação é Mango kiss (EUA, 2003), de Sascha Rice, exibido no Panorama Internacional do 13º Mix Brasil (2005). É uma comédia romântica, baseada em Triângulo das Bermudas: uma Experiência Não-Monogâmica, de Sarah Brown, que leva às telas a cena lésbica de São Francisco, onde casais de mulheres vivem papéis bem definidos e a monogamia é uma exceção. A vida de Lou (Michelle Wolff) vira ao avesso quando ela se apaixona por sua melhor amiga, Sassafras (Danièle Ferraro), e as duas se mudam, justamente, para a cidade mais gay dos EUA.

Fiquem também com um trailer do filme.


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