Fica a seu critério achar o que você bem quiser. Mas fica um recadinho para quem simpatiza com a atitude desta mãe: não ouse ter filhos, porque para isso você precisa ter AMOR – e se acha que matar o próprio filho (ou mesmo expulsá-lo de casa) por ser gay é normal é a prova de que você não merece ser pai ou mãe, porque amar um filho é incondicional.
Vamos ao texto.
Numa família nuclear
comum, uma mãe mata o filho com três facadas no pescoço e, com a ajuda do
marido, enrola o corpo num edredom, leva a um canavial e ateia fogo. Na
delegacia, confessa o crime e diz que o filho era homossexual e usuário de
drogas.
“Eu não o aguentava
mais.”
Tatiana Ferreira, gerente
de supermercado, e Alex Canteli, taxista, suspeitos no crime que vitimou
Itaberli Lozano, de 17 anos, homossexual, eram cidadãos comuns. Passariam até
como “cidadãos de bem”: Emprego, residência fixa, impostos pagos e foto de
natal da família.
Fazem parte do clã que
defende a “moral da família brasileira.” São guardiões desta moral
a ponto de não aceitarem a homossexualidade do filho (estamos no século
XXI orientação sexual ainda está associada à moral).
Cresceram, provavelmente,
ouvindo (e absorvendo, por todos os poros), que homossexuais e usuários de
drogas são a escória da honrada sociedade brasileira e que, portanto, não
merecem ser amados, tampouco respeitados, tampouco mantidos vivos – nem
mesmo segundo esta moral que diz, com o peito estufado de orgulho, defender a
“família brasileira.”
Defendem a família
brasileira, desde que não haja nela um LGBT, desde que um dos filhos não vire
comunista, desde que nenhum membro tenha contato com drogas ilícitas (quanto às
lícitas, tudo bem), desde que ninguém discuta nada e absolutamente todos –
ignorando as próprias convicções e, se possível (spoiler: não é possível) a própria
orientação sexual- obedeçam ao digníssimo e hipócrita modelo de Família
Brasileira, que acoberta violência com a mais requintada hipocrisia.
Resumindo: A moral cristã
– que é a mesma moral da “grande” mídia, que é a mesma moral da Direita
Brasileira, que é a mesmíssima moral dos Bolsominions – não defende a família
brasileira. O que ela faz é, na verdade, justamente o contrário: Destrói-a por
todos os lados, de todas as maneiras, e cada vez mais violentamente.
De qualquer modo, não
deve ser muito saudável dar ouvidos a uma moralidade que faz com que mães matem
filhos – se uma mãe que esfaqueia um filho e queima o corpo não é capaz de te
convencer, eu tampouco o serei.
O fato é que, na
verdadeira “família brasileira” – desconhecida para os mais conservadores –
há pessoas de todas as cores, de todas as orientações sexuais e
políticas, com todo tipo de ideologia – qualquer moral que se proponha a
defendê-la deve, portanto, ter como primeiro preceito a tolerância à
diversidade – mas, sabemos, conservadorismo e tolerância não se dão muito bem.
Onde há conservadorismo,
há violência – Itaberli Lozano certamente soube disso quando sua mãe – que
confessou o crime sem nenhuma comoção – fincou-lhe uma faca no pescoço. Graças
à moral conservadora e sedenta por violência, talvez agora lhe caia sobre os
ombros uma estranha sensação de dever cumprido.
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Para compensar, duas indicações de filmes para esta séria série.
A primeira indicação estreou nesta quinta feira (14 de janeiro): A criada (Ah-ga-ssi / The Handmaiden - Coreia do Sul, 2016), de Park Chan-Wook – livremente inspirado no romance Fingersmith, de Sarah Waters (edição brasileira: Na ponta dos dedos – Rio de Janeiro, Record, 2005) transferida da Londres vitoriana do século XIX para a Coreia sob ocupação japonesa, nos anos 1930. Só para lembrar: Sarah Waters é a mesma autora de Tipping the velvet (edição brasileira: Toque de veludo – Rio de Janeiro, Record, 2011) (Aliás, tanto Fingersmith como Tipping the velvet foram séries da BBC – aliás, Tipping the velvet foi indicada por mim em um dos posts desta séria sérieMinha sugestão? Assistam a versão de Park Chan-Wook (realizador de Oldboy, 2003, Lady vingança, 2005, Sede de sangue, 2009 e Segredos de sangue, 2013) e depois a série da BBC (se quiserem inverter a ordem dos tratores, que não altera o viaduto, tudo bem.), para decidir qual delas é... como é que se diz mesmo?... instigante.
A sinopse: durante a ocupação japonesa na Coreia, nos anos 1930, a jovem Soo-kee (Kim Tae-ri) é contratada para trabalhar para uma herdeira nipônica, Hideko (Kim Min-Hee), que leva uma vida isolada ao lado do tio autoritário, Kouzuki (Jin-woong Jo). Só que Soo-kee guarda um segredo: tudo faz parte do plano de um vigarista, o conde Fujiwara (Jung-woo Ha). Soo-kee deve ajudar Fujiwara a desposar a herdeira, roubar sua fortuna e trancafiá-la em um sanatório. Tudo corre bem com o plano... até que Soo-kee aos poucos começa a compreender as motivações de Hideko.
This is the trailer.
Fiquem também com um trailer do filme.
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