25 fevereiro, 2018

O MUSEU DOS MUSEUS (SIC)

E eis que a coluna Outra Coisa, de O Globo-Niterói, publica a seguinte notinha:


Antes que você, fã das Organizações Globo (sim, ainda existem, apesar do apoio destas ao golpe e ao Vampirão Golpista Michel 0,5% Temer) dê pulos de alegria, porque "vai entrar dinheiro da Grobo" e assim a coisa finalmente vai, um lembrete, à guisa de informação: enquanto isso, outro projeto de museu à cargo da Fundação Roberto Marinho, o Museu da Imagem e do Som (MIS) – mais especificamente, as obras de seu novo prédio em Copacabana – está simplesmente parado. Isso mesmo: as obras estão paradas HÁ MAIS DE DOIS ANOS, CQD esta reportagem do Jornal do Rio, da Band. (Clique AQUI para ver.)
Essa pedra, aliás, já foi bem cantada por um ilustre professor do curso de Cinema da UFF (um dos mais tradicionais do país), em um post no Facebook que, com todo o respeito, estou roubartilhando. 

O Globo publica "Museu em boas mãos", mas quer dizer: JÁ METEMOS A MÃO NO MUSEU. Posso me orgulhar de ter previsto isso com bastante antecedência. Quando foi anunciado, no final do ano passado, que o Museu do Cinema em Niterói (ex-Centro Petrobrás de Cinema), projeto do Niemeyer, em São Domingos, seria finalmente concluído, criando um "Museu Digital do Cinema Brasileiro" (?), eu sabia que a Fundação Roberto Marinho estaria ali. Quando Cacá Diegues, garoto propaganda da Globo, esteve presente, ao lado do Ministro da Cultura, no lançamento do projeto "Niterói, cidade do audiovisual", eu tive certeza absoluta. Como o prefeito de Niterói gosta de imitar o ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, em muitas coisas, principalmente nas erradas, vamos ter em Niterói um sub-Museu de Arte do Rio (MAR), ou ainda, um sub-Museu da Imagem e do Som (MIS), projeto que, aliás, até hoje não ficou pronto em Copacabana. Afinal, o que será um museu digital do cinema brasileiro senão mais um desses museus baratos, sem acervo, que a Fundação Roberto Marinho tá criando por aí, usando a TV e a imprensa para convencer a todos que são ótimos, quando, na minha opinião, são apenas engodos (e maneiras da Globo abocanhar dinheiro público)?. Já imagino telões exibindo filmes da Globofilmes, ou aproveitando o que já foi licenciado para o MIS, também da Fundação Roberto Marinho. A verba seria de 1,5 milhão da emenda parlamentar do deputado Chico D'Angelo. Não é muito, mas daria para fazer algo bem interessante, sobretudo se a a população e a sociedade fosse convidada para opinar e colaborar, ao invés de decidir, como sempre, o destino desse elefante branco em gabinetes, às portas fechadas, sem nenhuma transparência. E com a mídia interessada cinicamente aplaudindo. Lamentável.

Antes que você, fã das Organizações Globo (sim, ainda existem etc., etc.) venha xingar este ilustre professor e este escriba de mortadelas e invejosos (SIC), porque "não suportamos a ideia de ver as Organizações Globo botando dinheiro num projeto legal" (SIC), gostaria de lhe informar uma coisinha que até mesmo no mundo mineral (copyright Mino Carta) sabe, menos você:

AS ORGANIZAÇÕES GLOBO NUNCA BOTARAM UM TOSTÃO DE SEUS COFRES (ou dos bolsos dos irmãos Marinho) NOS PROJETOS DE MUSEUS DA FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO.

Todos este projetos foram viabilizados através de:

- Lei Rouanet – isto é, dinheiro de grandes empresários e/ou empresas privadas (menos, repetindo, dos cofres das Organizações Globo ou dos bolsos dos irmãos Marinho)

e, principalmente,

- Verbas públicas de estados e/ou municípios.

Ou seja, para que São Paulo tivesse o Museu do Futebol e Museu da Língua Portuguesa (e para que volte a ter este último museu de novo, já que pegou fogo), o contribuinte paulista deu (e está dando) o seu suado dinheiro de impostos estaduais. Para que o Rio de Janeiro tivesse o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio (MAR) – e para que o bispo-prefeito Marcello Crivella decidisse que este último museu era seu e só entra a exposição que ele quisesse (daí, a proibição da mostra Queermuseum, com direito a mais uma piadinha sem graça e risinho de deboche...) – os contribuintes cariocas e fluminenses deram o seu suado dinheiro de IPTU e ICMS.
E para que Niterói finalmente tenha o seu Museu do Cinema Brasileiro (ou, o mais provável, um submuseu, muito diferente do projeto original, que o município e a UFF elaboraram), os contribuintes niteroienses darão o seu suado dinheiro de IPTU.
"Ah, não me diga que agora você se juntou ao MBL e a essa catervada pseudoliberal e passou a ser contra a Lei Rouanet?" Nem a pau, Nicolau. Continuo sendo muitíssimo a favor de todo e qualquer mecanismo de fomento às artes. Mas justamente por ser a favor – e para que tais mecanismos continuem existindo e funcionando a contento – combati e continuarei combatendo o bom combate contra toda e qualquer picaretagem em cima deles.
Até porque você não me perguntou: o que a Fundação Roberto Marinho ganha com isso?
Bem, para começar, que tal darmos uma olhada em trechos de uma ilustre reportagem da Rede Brasil Atual, de 19 de dezembro de 2017sobre a inauguração do Museu do Amanhã?

Na quinta-feira (17), a cidade do Rio de Janeiro ganhou o Museu do Amanhã, construído na zona portuária onde havia um pier abandonado. O museu faz parte da operação urbana Porto Maravilha, de revitalização e desenvolvimento da região, realizada em parceria público-privada.
Na quinta-feira (17), a cidade do Rio de Janeiro ganhou o Museu do Amanhã, construído na zona portuária onde havia um pier abandonado. O museu faz parte da operação urbana Porto Maravilha, de revitalização e desenvolvimento da região, realizada em parceria público-privada.
A prefeitura conduz o processo, as empreiteiras Carioca Engenharia e OAS constroem, parte dos recursos é de financiamentos do FGTS-FI, o fundo de investimento que faz aplicações dos recursos do Fundo de Garantia e, no caso do Museu, quem toma posse da operação depois de pronto é a Fundação Roberto Marinho, ONG ligada aos donos da TV Globo. A Fundação é duplamente beneficiada: ganha prestígio com mais um museu de grande porte em seu portfólio, e cobra da prefeitura o preço para manter o museu funcionando.
Até aí quase tudo bem, exceto o quase monopólio da Fundação Roberto Marinho na gestão de museus municipais do Rio. Além do Museu do Amanhã, a Fundação também ganhou da prefeitura a gestão do Museu de Arte do Rio, inaugurado em 2013, e o novo Museu da Imagem e do Som, em final de construção.
O maior problema é quando ficamos sabendo que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entrou nesse meio, mesmo fora de sua área de competência.
No âmbito da Operação Lava Jato, a Procuradoria-Geral da República afirma ter provas de que Cunha recebeu outros R$ 52 milhões em propinas na Suíça e em Israel da empreiteira Carioca Engenharia para liberar financiamento do FGTS-FI para as obras do Porto Maravilha. Dois donos da empresa, Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior, delataram que o próprio Cunha acertou e cobrou a propina sem intermediários, para depositar no exterior nas contas indicadas pelo deputado.
Segundo a Procuradoria da República, o elo de Cunha com o FGTS-FI era Fábio Cleto, indicado por ele para o cargo de vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal (CEF). Cleto era o representante da Caixa no Conselho Curador do FGTS, posição-chave tanto para dificultar como para facilitar a aprovação do financiamento de R$ 3,5 bilhões para o Porto Maravilha.
Cleto foi demitido pela presidenta Dilma Rousseff na semana passada. Nesta semana sua residência sofreu busca e apreensão por policiais federais, dentro da operação Catilinárias, cujo foco maior foi Eduardo Cunha e outras lideranças do PMDB.
A Fundação Roberto Marinho não é acusada pela Procuradoria-Geral da República de participação nos malfeitos, mas os fatos incontestes são de que ela se torna uma espécie de herdeira na exploração dos museus construídos com possível corrupção de Eduardo Cunha.
O que chama atenção no caso da ONG da família Marinho são os vultosos pagamentos recebidos dos cofres públicos da prefeitura. Segundo o Portal da Transparência da prefeitura do Rio, R$ 56.003.994 já foram pagos à Fundação Roberto Marinho pelo "Programa Porto Maravilha" desde 2010, mais do que a propina atribuída a Eduardo Cunha. Quase todo o valor foi pago antes mesmo da inauguração dos museus.

Isso em termos de verbas públicas.
E quanto aos patrocínios?
Lembram da CPI da Lei Rouanet? É, aquela mesma criada por deputados mais para meter medo naquela grande parcela da classe artística que se opunha ao golpe do que especificamente para descobrir as irregularidades de sua aplicação; aquela mesma que intimou Tomie Ohtake para depor – intimação que a artista não pode obedecer por motivo de força maior: ter falecido em 2015?
Pois é. No começo, foi uma baita divulgação, uma baita expectativa para saber quais petralhas "ficaram ricos" com a Lei. Até o instante em que se descobriu que a Fundação Roberto Marinho foi uma das maiores beneficiárias da Lei Rouanet durante os governos petistas. Depois disso, é incrível como esta CPI foi esquecida, e terminou sem o destaque que teve no início, sugerindo o indiciamento de 12 pessoas. Nenhuma delas era petralha. E nem se ouviu falar mais da Fundação Roberto Marinho. Duvida?
Bem, o relatório pode ser achado aqui. Não tive o prazer (ou não) de lê-lo. Mas não deve ter o que interessa a respeito da Fundação Roberto Marinho. Ou seja, o quanto ela captou de incentivos. Bem, duas planilhas que acompanham a mesma reportagem do DCM informam bem. Vai aí a primeira:


Entre 2003, ano inicial do primeiro governo Lula, e 2015, a FRM captou a ninharia de R$ 147.858.580,00.
Já a segunda planilha – que nos informa quem patrocinou via Lei Rouanet os projetos da FRM – é mais esclarecedora:


Descontando-se os suspeitos de sempre – o Itaú (grande devedor de bilhões de impostos, perdoados pelo Vampirão), a Vale (a assassina do rio Doce) & Cia. – encontramos três empresas das Organizações Globo: Globosat Programadora Ltda. (a programadora de canais de tv por assinatura), R$ 9.550.000,00; Globo Comunicações e Participações S.A. (a holding controladora da bagaça toda), R$ 7.574.172,37; e Infoglobo (os jornais O Globo, Extra e Expresso), R$ 700.000,00
E o quico?
O DCM explica procês:

Grana para fundações é restituída no Imposto de Renda. Quando a fundação é do próprio grupo, tem-se uma situação ganha-ganha. O dinheiro sai do caixa da companhia, livre do fisco, e entra numa fundação que lhe pertence. É quase lavagem. E é, em tese, legal.

Isso, claro, se as Organizações Globo realmente botaram dinheiro nos projetos da FRM.
Não custa nada lembrar que, salvo engano, as parcerias para coproduções audiovisuais da GloboFilmes não implicam, necessariamente, em grana dos cofres da mesma: ela costuma investir a sua parte em serviços – principalmente, de divulgação (em todas as suas mídias, inclusive Rede Globo) – no valor que, em tese, deveria colocar no filme. Como a FRM e suas atividades também são divulgadas quase que a exaustão em todas as mídias das Organizações Globo (e no canal de televisão da FRM, o Futura), vai que seja o mesmo esquema?
Em suma, já intuímos bem o que a FRM ganha ao assumir mais um projeto de Museu, o Museu do Cinema Brasileiro de Niterói.
(A menos que, desta vez, a prefeitura exija da FRM, em suas negociações, que efetivamente tirem o escorpião do bolso e realmente ponham dinheiro no projeto. Mas isso é querer demais...)
Mas... afinal, o que os jeniais (assim mesmo, sr. revisor, obrigado) membros da Secretaria Municipal da Cultura e da FAN – a começar por seu secretário elitista ao extremo – ganham com isso?
Talvez, mais um bistrô, que para eles é coisa muito fina, elegante e insincera. Será? Mal sabem eles – ou esqueceram – que um bistrô, na França (de onde veio a palavra original, bistrot) equivale... ao bom e velho botequim – igualzinho aos bares e barzinhos de São Domingos, vizinhos do futuro Museu, mas que certamente não serão convidados a dar suas opiniões e propostas a respeito do futuro bistrô. Aliás, nem a UFF e seu curso de cinema (copropositora do projeto original do Museu do Cinema Brasileiro), nem os fazedores de cultura - incluindo os profissionais de cinema de Niterói (que, segundo a Secretaria, "não existem", o que justifica a "inglória tarefa" e os seus ilustres esforços para trazer à cidade o que eles definem - a portas fechadas, claro – que deve ser cultura) serão chamados a opinar. Em português claro: serão rifados mais uma vez do projeto do Museu do Cinema Brasileiro. Afinal, como já dizia o Barão de Itararé, deve ser "um excelente negócio para o qual não fomos convidados"...
Aí, vocês vão ter de tirar suas próprias conclusões – tanto sobre isso quanto sobre o futuro Museu (ou sub-Museu) do Cinema Brasileiro.
Só gostaria de corrigir um pouco o ilustre professor de cinema da UFF. Ele acha que o Museu será assim: "Já imagino telões exibindo filmes da Globofilmes".
Eu não, mestre. Eu sou um menino (SIC) de muita imaginação. Imagino um museu de cinema brasileiro que simplesmente esqueça os 100 anos de história do cinema brasileiro anteriores à criação da GloboFilmes (1998). Duplipensar puro. Às nossas custas.
O certo (espero estar errado, mas...) é que: ou a UFF e seu curso de cinema (um dos mais antigos do Brasil) e os profissionais de cinema de Niterói se manifestam agora ou (como espera a prefeitura e seu secretário de Cultura) calem-se para sempre.

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