08 outubro, 2016

AULA DE HISTÓRIA PARA O ALUNO RELAPSO DELTAN DALLAGNOL (E UMA SELEÇÃO DE FILMES SOBRE A HISTÓRIA DO BRASIL)

A seguir, uma breve aula de História, do nosso TeleUrso 3º Grau, para um dos alunos mais relapsos da matéria: o procurador Deltan Dallagnol, da equipe da Operação Lava-Jato, que proferiu a seguinte pérola em uma palestra na Igreja Batista de Curitiba, da qual é fiel: "Quem veio de Portugal para o Brasil foram degredados, criminosos. Quem foi para os Estados Unidos foram pessoas religiosas, cristãs, que buscavam realizar seus sonhos, era um outro perfil de colono".
Dr. Dallagnol:

1- A colonização europeia na América Latina (e mais tarde na África, na Ásia e na Oceania) teve duas formas de colônias: as colônias de exploração e as colônias de povoamento.
As colônias de exploração foram colônias onde prevaleceram os interesses mercantis, ou seja, a terra é utilizada somente para dar lucros à metrópole. Esse tipo de colonização ocorreu principalmente nas colônias espanholas e portuguesas do continente americano, cuja economia se fundamentava na extração de metais ou na produção de gêneros agrários, para suprimir a falta de matérias-primas nos mercados europeus. Nessas colônias, o povoamento acontecia de maneira espontânea. Conforme o surgimento de uma atividade econômica, as populações vinham da Europa com a ideia de explorá-la. Quando essa atividade terminava, muitos deles mudavam para outras regiões, caracterizando um povoamento temporário. (Quem ficava, de três uma: ou não conseguia juntar o dinheiro suficiente para voltar; ou não podia voltar por querelas – inclusive legais – na metrópole; ou, incrível, gostava e ficava...)
O interesse principal da metrópole nestas colônias de exploração, que mais obedeceram ao chamado Pacto Colonialum sistema de leis e normas impostas pelas metrópoles às suas colônias de exploração, que limitavam as atividades econômicas de sua elite colonial – era a lucratividade. Uma destas normas, bem safadinha e (óbvio ululante...) monopolista: os colonos só podiam vender sua produção a comerciantes legalizados pelas metrópoles – quase sempre por preços que não eram lá muito bons para os colonos: da mesma forma, em troca, todos os produtos dos quais os colonos necessitavam (roupas, ferramentas etc., etc.) eram obrigatoriamente vendidos somente pela metrópole – o que justificava outra medida muito "progressista" da metrópole: a proibição de instalação de manufaturas (fábricas) nas colônias na América, o que impedia a elite colonial de investir em outro setor de produção que não fosse o setor agrário.
OK até aí, dr. Dallagnol? Continuemos.
Como o interesse principal da metrópole em suas colônias de exploração era a lucratividade para as suas metrópoles na área agrária, foram impostas técnicas hoje conhecidas como "plantation" – que, grosso modo, continuam até hoje: latifúndio (extensa propriedade agrícola), monocultura (especialização em um único produto; no Brasil foi o caso da cana-de-açúcar e, mais tarde, já independente, o café) e a força de trabalho escrava – que mais tarde seria livre, como hoje, porém mal paga e, em muitos casos em condições análogas à escravidão (tipo contrair uma dívida por alimentação e trabalhar para pagá-la... coisa que nunca ele vai conseguir, porque a dívida aumenta com juros equivalentes aos de agiota. Mas isso eu creio que o sr. dr. Dallagnol, como procurador da República, deve saber – inclusive das ações de colegas seus contra isso e da ''Lista de Transparência sobre Trabalho Escravo Contemporâneo", que traz 349 empresas e empresários que lidam com isso.

Já as colônias de povoamento – como as Treze Colônias Britânicas na América do Norte (New Hampshire, Massachusetts, Nova Iorque, Rhode Island, Connecticut, Nova Jersey, Pensilvânia, Maryland e Delaware, e no distrito de Maine), o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia – são territórios onde os colonizadores povoavam e desenvolviam a terra.
Claro, para variar só um pouquinho, há controvérsias: vários historiadores concordam com a ideia de que "não se pode povoar uma terra sem explorá-la e não se pode explorar uma terra sem povoá-la". Nisso eles se referem à oposição entre estas e as colônias de exploração, na América Latina. (Mas se levarmos em conta que, em ambos os casos, índios e africanos levaram no lombo – pra não dizer no subilatório... – neste aspecto há algumas semelhanças entre elas.)
Talvez – especialmente no caso das Treze Colônias e do Canadá – elas só foram possíveis graças a um fato conhecido como negligência salutar – tipo assim: tais colônias britânicas não eram propícias ao plantio de Culturas Tropicais e não dispunham de recursos minerais valiosos, como ouro e prata. Por isso, a Inglaterra não conseguiu criar nessas colônias uma sociedade que servisse aos objetivos do Mercantilismo (colônia de exploração) e deixaram essas colônias quase abandonadas – o que deu muita liberdade a seus colonos. (Tanta que, quando a Inglaterra tentou impor o monopólio colonial típico das colônias de exploração às Treze Colônias, o resultado foi a Guerra de Independência – 1776 a 1781 – e o surgimento dos Estados Unidos.)
Tais colônias tinham algumas características particulares:

1. As propriedades principais eram pequenas e médias fazendas. - Elas foram se formando quando os colonos dividiam a terra entre eles, graças a negligência salutar. Isso criou uma prosperidade econômica muito grande para os colonos, pois eles trabalhavam nessas fazendas para eles mesmos e prosperavam rapidamente.
2. O trabalho era livre - Os colonos não eram servos, nem escravos e trabalhavam por conta própria. Essa situação marcou tanto a história norte-americana que, até hoje, muitos acreditam que um indivíduo só é livre quando é proprietário do seu negócio.
3. Os objetivos econômicos estavam voltados para o mercado interno - Os próprios colonos compravam a produção das colônias. A economia era regida pela policultura. Houve o aparecimento de manufaturas.
4. As colônias de povoamento tinham grande autonomia e liberdade de comércio - Quase não havia monopólio comercial e a liberdade que as colônias de povoamento tinham era muito grande. Por isso, costuma-se dizer que essas colônias nunca foram colônias de verdade.
5. As colônias de povoamento tinham bastante autonomia política - Os colonos podiam eleger assembleias que trabalhavam. Era o chamado self-government (auto-governo). Essa liberdade atraiu muitas pessoas.

2- Ainda sobre colônias de povoamento: a maioria das "pessoas religiosas, cristãs, que buscavam realizar seus sonhos" nas então treze colônias inglesas na América do Norte eram refugiados por questões religiosas na Inglaterra – em sua quase totalidade, protestantes puritanos, que não se entendiam muito bem com os reis católicos da dinastia Stuart (Jaime I, Carlos I, Carlos II e Jaime II). Por isso, é que eles foram para as Treze Colônias: para ficar de vez.

3- Voltando a estas "pessoas religiosas, cristãs, que buscavam realizar seus sonhos": além delas, também foram para as Treze Colônias degredados e criminosos.
Não só lá: Austrália e Nova Zelândia também receberam, em sua maioria, "degredados, criminosos" da Inglaterra – e nem assim eles deixaram de ser os países desenvolvidos de hoje.
Já no Brasil, por increça que parível, os degredados foram bem poucos – e ainda assim, apenas no início da colonização.
Ainda assim, foi um possível degredado, João Ramalho – que se casou com a índia Bartira, depois Isabel Dias, pelas mãos do jesuíta Manoel da Nóbrega – que ajudou a fundar o colégio e a vila que se tornariam a cidade de São Paulo.
E ainda que fossem todos degredados e criminosos? Sabia que eles – degredados e criminosos –foram o ponto de partida da colonização da Austrália – aliás, quase três séculos depois dos nossos poucos "ancestrais criminosos".
Já ouviu falar da First Fleet (Primeira Frota)Pois é. É o nome pela qual é conhecida a frota britânicaonze embarcações sob o comando do Almirante Arthur Phillip, tripuladas por duzentos e trinta marinheiros e oficiais (vinte e sete dos quais acompanhados por suas famílias, inclusive trinta e sete crianças) – que deixou a Grã-Bretanha em 13 de maio de 1787 para fundar o primeiro assentamento europeu na Austrália: uma colônia penal. Para habitá-la: os seguintes degredados e mulheres de reputação duvidosa (na tabela abaixo), foram conduzidos "de livre e espontânea pressão" nos porões, a ferros. Tudo gente fina.


Homens
Mulheres
Crianças
Total
Condenados e seus filhos
548
188
17
753
Outras
219
34
24
277
Total
767
222
41
1.030

A First Fleet até passou pela baía de Guanabara em agosto de 1787, onde realizou um levantamento hidrográfico. Mas não deixou nenhum dos degredados que levava para a Austrália. E só parou em Botany Bay a 18 de janeiro de 1788.
Daí em diante – até a criação da Confederação Australiana (pais independente sob a forma de dominion), sua Majestade Britânica mandou para lá cerca de 168 mil prisioneiros das cadeias britânicas.
(Isso me lembra um debate que ocorreu às vésperas da Copa do Mundo de 1970, entre dois técnicos de seleções de futebol. De um lado, Alf Ramsey, que fez a Inglaterra ganhar a Copa do Mundo de 1966. Do outro, ninguém mais, ninguém menos do que João Saldanha. Neste debate, Ramsey disse algo que talvez o senhor concordasse, dr. Dallagnol: disse que os "latino-americanos" – e, por tabela, os brasileiros – eram pessoas de caráter duvidoso. Ao que João Saldanha respondeu na bucha: "Claro... certamente a Scotland Yard criou fama internacional prendendo somente pessoas de bom caráter". Não se sabe se o mediador deste debate chamou os comerciais enquanto o futuro sir Ramsey enfiava mui britanicamente sua língua no rabo...)
Conclusão, dr. Dallagnol: assim como diploma não encurta as orelhas de ninguém (copyright Barão de Itararé...), "berço" e religião não dão ética e caráter a todos. Está aí Eduardo Cunha – evangelicuzinho convicto – que não nos deixa mentir...
4- O que nos leva a falar de outra ideia que o senhor perfilha: a de que, se fossemos colonizados por ingleses, franceses ou holandeses, estaríamos melhor. Se a "qualidade" do povo colonizador fosse fator determinante (e só para pegar exemplos das Américas), Jamaica, Suriname e Haiti estariam atualmente no G-7... que, aliás, nem seria G-, mas G-8, ou G-9, ou G-10, ou G-11... Isso porque (se o senhor voltar ao item 1 desta aula – colônias de exploração X colônias de povoamento) vai perceber que Jamaica foi colônia de exploração da Grã-Bretanha; Suriname foi colônia de exploração da Holanda; e o Haiti, colônia de exploração da França. As únicas coisas fortes que a Jamaica tem são o atletismo (d'après Usain Bolt...), o rum (que concorre com o cubano e o dominicano sem fazer feio) e o reggae. O Suriname, colonizado pelos holandeses, nem por isso pode ser chamado de um país desenvolvido e democrático (o ditador Desi Bouterse que o diga...). Quanto ao Haiti, depois das ditaduras dos Doc (Papa Doc e Baby Doc) e das desgraças que lhe ocorreram... Pas de commentaire, s'il vous plaît...

5- O que nos leva a transcrever trecho de artigo do jornal Valor sobre a sua afirmação "historicista""O espírito cristão dos colonizadores americanos não os impediu de dizimar a população nativa, colecionar genocídios em sua política externa e conviver com o pesadelo de uma Casa Branca ocupada por Donald Trump. Mas o ex-estudante de Harvard só trouxe admiração pelas instituições americanas. O mesmo fascínio alimenta em muitos de seus compatriotas a ilusão de que o Brasil seria uma grande Amsterdã se os holandeses não tivessem sido expulsos. Não cogitam o Brasil como uma versão ampliada da África do Sul." (Lembrando: a África do Sul foi colonizada primeiro pelos holandeses, ao qual se juntaram os ingleses no século XIX, depois da chamada Guerra dos Bôeres – 1899 a 1902. O resultado, entre 1948 e 1990, foi o regime racista do apartheid.)

6- E sim, noto que o senhor tem um orgulho de seus valores religiosos. Mantenha seus valores sem pestanejar ou vacilar. Mas de preferência, gostaria que o senhor:

a) Não ofenda outras religiões ou mesmo outras confissões religiosas cristãs (até porque a colonização brasileira se deu sob a proteção da Igreja Católica – e, ao afirmar que faltam "pessoas religiosas, cristãs", o senhor ofende católicos e outros cristãos de confissões diferentes da sua);
b) Não esqueça que, pela Constituição Federal (que o senhor jurou defender), o Brasil é um estado LAICO – isto é, um estado que garante a liberdade de culto para todas as religiões e confissões religiosas, mas não tem religião oficial nem segue ditames religiosos (ou seja, não é um estado teocrático, como a República Islâmica do Irã); ainda que cristão, o senhor, como procurador da República e advogado, é UM SERVO DA LEI e UM GUARDIÃO DA LEI – a começar pela Constituição. Nunca se esqueça disso em seu trabalho, por favor.

Ah, em tempo: duvido que o curso de Direito da UFPR tenha ensinado que é legal, justo e dentro da lei acusar suspeitos sem provas cabais que embasem a acusação... só com convicções...

Por enquanto, classe, é só.

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SELEÇÃO DE FILMES BASEADOS NA HISTÓRIA DO BRASIL, ESPECIALMENTE PARA O DR. DELTAN DALLAGNOL

COLÔNIA

Descobrimento do Brasil / Século 16

- DESCOBRIMENTO DO BRASIL (1937)
Direção - Humberto Mauro
Realizado com o apoio do Instituto Nacional de Cinema (INCE), vinculado ao MEC, o filme se enquadra na política nacionalista de Getúlio Vargas. Contou com a colaboração de Afonso de Taunay, diretor do Museu Paulista, e de Edgar Roquette Pinto, dois intelectuais reconhecidos em seu período. Buscando dar fidelidade ao fato histórico, o filme cita trechos extraídos da Carta de Pero Vaz de Caminha. Para a cena da primeira missa no Brasil, o diretor reproduziu o famoso quadro de Victor Meirelles. A trilha sonora foi composta por Heitor Villa-Lobos mas, na versão em vídeo, lançada em 1997 pela Funarte, foi completamente adulterada.

- COMO ERA GOSTOSO O MEU FRANCÊS (1971)
Direção e roteiro - Nelson Pereira dos Santos
Brasil, 1594. Um aventureiro francês com conhecimentos de artilharia é feito prisioneiro dos Tupinambás, inimigos dos portugueses, que acham que ele é peró (português). Segundo a cultura índigena, era preciso devorar o inimigo para adquirir todos os seus poderes: saber utilizar a pólvora e os canhões.

- HANS STADEN (Brasil-Portugal, 1999)
Direção e Roteiro - Luiz Alberto Pereira
A história de Hans Staden, soldado e marinheiro alemão a serviço dos portugueses, que, no início do século XVI, foi capturado pelos Tupinambás, inimigos dos colonizadores portugueses.

- DESMUNDO (2003)
Direção - Alain Fresnot
Roteiro - Alain Fresnot, Sabina Anzuategui, Anna Muylaert, baseado no romance de Ana Miranda.
1570. Para minimizar o nascimento dos filhos com as índias e que os portugueses tivessem casamentos brancos e cristãos, os portugueses passaram a enviar órfãs ao Brasil para que casassem com os colonizadores. Essas órfãs viviam em conventos e muitas delas desejavam ser religiosas. Uma dessas jovens, Oribela (Simone Spoladore), é obrigada a casar com Francisco de Albuquerque (Osmar Prado).

- ANCHIETA, JOSÉ DO BRASIL. (1977)
Direção de Paulo Cezar Sarraceni.
A vida de José de Anchieta (Ney Latorraca) desde criança, passando pela fundação do Colégio de São Paulo, sua convivência com o padre Manuel da Nóbrega até sua morte no Espírito Santo, destacando sua luta em favor dos indígenas.

- VERMELHO BRASIL (Brasil, França, Canadá, Portugal, 2014)
Direção - Sylvain Archambault.
A história da expedição de Villegagnon ao Brasil por volta de 1555 e sua luta para criar uma colônia, a chamada França Antártica, nas terras conquistadas pelos portugueses. Filmado em Paraty, no Rio de Janeiro, o filme comete deslizes entre eles, ser falado em inglês (e não em francês, a língua dos invasores). A brasileira Giselle Motta vive a índia Paraguaçu e Pietro Mário, brasileiro de origem italiana, aparece em dois papéis: o de um marinheiro e o de um francês que vive entre os índios.  O ator português Joaquim de Almeida interpreta João da Silva, um lusitano já perfeitamente integrado com os indígenas e que representa o seu país colonizador.

Invasões Holandesas

- BATALHA DOS GUARARAPES, O PRÍNCIPE DE NASSAU (1978)
Direção - Paulo Thiago
Roteiro Miguel Borges, Armando Costa
Início do século XVII. Os holandeses ocupam o arraial do Bom Jesus, último reduto dos nativistas na capitania de Pernambuco. O aventureiro João Fernandes Vieira (José Wilker) decide aderir aos dominadores, opondo-se à resistência de André Vidal de Negreiros. Ligando-se ao conselheiro, representante máximo dos interesses da Companhia das Índias Ocidentais na capitania, Vieira torna-se cobrador de impostos, enriquece e tem um romance rumoroso com a viúva Ana Paes (Renée de Vielmond), que lutara ao lado dos nativistas. Favorece-lhe a ascensão sua amizade com Maurício de Nassau (Jardel Filho). Este, no governo, revela-se um estadista de larga visão política e cultural mas suas idéias chocam-se com os interesses da Companhia criando sucessivas crises econômicas e políticas. Sentindo a gradativa diluição do poderio de Nassau, Vieira une-se à luta para a expulsão dos holandeses, com o auxílio de frei Salvador. Em posição delicada, Nassau tenta um último ato de participação com a festa do Boi Voador, medida de abertura econômica aos brasileiros e política, permitindo que Vidal de Negreiros - que entrara clandestinamente no Recife - entregue-lhe uma carta do rei de Portugal. Nassau é destituído e Vieira parte para o interior. Deixa Ana mais uma vez só, levando-a a aceitar uma ligação com o conselheiro. A guerra se avizinha. Chega afinal o esperado apoio de Portugal e os holandeses são derrotados em Guararapes pelas tropas nativistas, com o auxílio dos escravos revoltosos de Henrique Dias e os índios de Felipe Camarão. Ana e Vieira reencontram-se, reconhecendo estarem definitivamente separados.

Bandeiras

- O CAÇADOR DE ESMERALDAS (1979)
Direção - Oswaldo de Oliveira
Roteiro - Oswaldo de Oliveira, Hernâni Donato, Anselmo Duarte
No século XVII, o bandeirante Fernão Dias Paes Leme (Jofre Soares), montou uma bandeira e saiu à procura do legendário Eldorado. Durante sete anos percorreu os sertões, enfrentando ataques de índios, doenças, animais selvagens, deserções. Dos 800 homens que levara consigo, apenas quinze retornaram a São Paulo, trazendo turmalinas que julgavam ser esmeraldas. O filme peca pelos figurinos, mobiliário e construções – exuberantes e limpos demais considerando a pobreza e miséria da capitania de São Paulo.

A MURALHA (2000)
Direção - Denise Saraceni.
Roteiro - Maria Adelaide Amaral.
Elenco - Tarcisio Meira, Alessandra Negrini, Mauro Mendonça, Vera Holtz, Leandra Leal, Leonardo Brício, Mateus Nachtergaele, Stênio Garcia e Letícia Sabatella.
Minissérie de 50 capítulos da Rede Globo, de janeiro a março de 2000, baseada no romance homônimo de Dinah Silveira de Queiróz. (Aliás, esta foi a terceira adaptação do romance para a TV: a primeira foi em 1961, em uma adaptação simples e sem muitos recursos de Benjamin Cattan para a TV Tupi; a segunda adaptação foi de Ivani Ribeiro, em 1968, para uma superprodução da TV Excelsior.) Ambientada no século XVII, conta a saga dos bandeirantes e suas mulheres nas cercanias da vila de São Paulo.

Século XVIII

- DIÁRIO DE UM NOVO MUNDO (2005)
Direção - Paulo Nascimento
Roteiro - Pedro Zimmermann
Em 1752 um navio cruza o oceano Atlântico, com a fome e a doença afetando a embarcação. Um dos passageiros é o médico e escritor Gaspar de Fróes (Edson Celulari), que narra em seu diário os percalços da viagem e a chegada ao Brasil. Após chegar, Gaspar se apaixona por Maria (Daniela Escobar), a esposa de um militar português influente, o que lhe causa problemas na nova terra.

- REPÚBLICA GUARANI (1981)
Direção e roteiro – Silvio Back
Pesquisa – Silvio Back, Deonísio da Silva, Antonio Carlos de Moraes, Antonio Carlos Souza Lima, Cláudia Menezes, Carlos Alberto Kolecza
Entre 1610 e 1767, ano da expulsão de jesuítas das Américas, desenvolveu-se – em uma vasta área dominada por índios guaranis e banhada pelos rios Paraná, Uruguai e Paraguai – um discutido projeto sócio-político, religioso e também arquitetônico, único na história de relacionamento conquistador-índio: uma sociedade criada por jesuítas com sucessivas gerações de guaranis que chegou a abranger 500 mil pessoas.

- BRAVA GENTE BRASILEIRA. (2000)
Direção - Lúcia Murat.
Diogo de Castro e Albuquerque, cartógrafo português a serviço da Coroa, viaja pela região do Pantanal, MS, no ano de 1778. No caminho do Forte Coimbra, os soldados que o acompanham estupram e matam um grupo de índias Kadiwéus. O português também participa mas, com remorso, salva a mulher que violentou e a leva até o forte, que está em guerra com os índios. Os dois iniciam um romance e ela engravida. A pintura de corpo dos Kadiwéus, que tanto impressionou Lévi-Strauss, com sua complexidade e simetria, é bem destacada no filme, quando o personagem Diogo, iluminista influenciado por Rousseau, escreve um livro, ilustrado com as pinturas.

Ciclo do Ouro

- XICA DA SILVA (1976)
Direção - Carlos Diegues
Roteiro - Carlos Diegues, Antonio Callado, baseado no livro Memórias do Distrito Diamantino, de João Felício dos Santos.
Francisca da Silva de Oliveira, ou simplesmente Chica da Silva (ca. 1732 - 15 de fevereiro de 1796), foi uma escrava, posteriormente alforriada, que viveu no Arraial do Tijuco, atual Diamantina, Minas Gerais, durante a segunda metade do século XVIII. Manteve durante mais de quinze anos uma união consensual estável com o rico contratador dos diamantes João Fernandes de Oliveira, tendo com ele treze filhos. O fato de uma escrava alforriada ter atingido posição de destaque na sociedade local durante o apogeu da exploração de diamantes deu origem a diversos mitos. O filme de Carlos Diegues trabalha o mito de Xica da Silva (Zezé Motta).

- CHICO REI (1985)
Direção - Walter Lima Jr.
Roteiro - Mário Prata
Galanga (Severino d'Acelino), rei do Congo que é trazido ao Brasil como escravo, encontra ouro em Vila Rica, na província de Minas Gerais. Após comprar sua libertação, ele compra uma fazenda, tornando-se assim Chico Rei, o primeiro homem negro proprietário de terras no Brasil, e compra a liberdade de seu povo, reconstruindo no Brasil o seu reinado. Baseado em poesias de Cecília Meireles, na tradição oral mineira e na memória do negro brasileiro

Revoltas Coloniais

- GANGA ZUMBA (1964)
Direção - Carlos Diegues
Roteiro - Carlos Diegues, João Felício dos Santos, Rubem Rocha Filho, Leopoldo Serran, Paulo Gil Soares.
Num engenho de cana-de-açúcar na Capitania de Pernambuco, no século XVII, Antão (Antonio Pitanga) é um jovem escravo concebido nos porões do navio negreiro que trouxe sua mãe cativa para a colônia portuguesa do Brasil. Quando cresce, é lhe contado que sua mãe (já falecida) era rainha e que ele está destinado a ser Ganga Zumba, rei africano. O escravo veterano e sábio Sororoba (Eliezer Gomes) lhe conta também sobre Palmares, um reino livre escondido na serra e protegido pela orixá Oxóssi, formado por escravos fugitivos. O rei daquele lugar, Zambi, que está em guerra constante contra os brancos, acabara de perder o filho e agora quer que Ganga Zumba venha para ocupar o lugar de novo líder. Sororoba e Terêncio preparam a fuga com a ajuda de um guia enviado por Zambi, e Antão vai com eles levando a amante Cipriana (Léa Garcia), que o ajudara a matar um malvado feitor. No caminho, são vistos pelos senhores brancos da vizinha fazenda Pieró, que são mortos quando atiram em Terêncio. Apenas a mucama da senhora, a mulata Dandara (Luiza Maranhão), é poupada por atrair Antão. Mas quando chegam ao rio, o grupo não encontra o barco dos guerreiros de Zambi que serviria para a travessia. Agora eles devem construir uma jangada para continuar enquanto os perseguidores, comandados pelo capitão-do-mato Tolentino da Rosa, se aproximam para o confronto.

- QUILOMBO (Brasil-França, 1984)
Direção e roteiro - Carlos Diegues
Num engenho de Pernambuco, por volta de 1650, um grupo de escravos se rebela e ruma ao Quilombo dos Palmares, onde existe uma nação de ex-escravos fugidos que resiste ao cerco colonial, entre eles Ganga Zumba (Tony Tornado), um príncipe africano. Tempos depois, seu herdeiro e afilhado, Zumbi (Antônio Pompeo), contesta as ideias conciliatórias de Ganga Zumba (Príncipe)e enfrenta o maior exército jamais visto na história colonial brasileira.

- OS INCONFIDENTES (1972)
Direção - Joaquim Pedro de Andrade
Roteiro - Eduardo Escorel, Joaquim Pedro de Andrade, baseado nos Autos da devassa (1791) e no romanceiro da Inconfidência (1953), de Cecília Meireles.
Elenco - José Wilker (Tiradentes), Luiz Linhares (Tomás Antônio Gonzaga), Paulo César Peréio (Alvarenga Peixoto), Fernando Torres (Cláudio Manuel da Costa), Carlos Kroeber (ten.-cel. Francisco de Paula Freire de Andrade), Nelson Dantas (côn. Luís Vieira da Silva), Margarida Rey (Marília de Dirceu), Susana Gonçalves (Maria I, rainha de Portugal), Carlos Gregório (José Álvares Maciel), Wilson Grey (Joaquim Silvério dos Reis), Fábio Sabag (Visconde de Barbacena).
A Inconfidência Mineira, de seu início até o degredo dos inconfidentes e a execução de Tiradentes (José Wilker), na visão de Joaquim Pedro de Andrade.

- TIRADENTES (1998)
Direção - Oswaldo Caldeira.
Uma nova versão da Inconfidência Mineira, segundo a qual Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (Humberto Martins), foi condenado à morte por ser o único dos revoltosos que não tinha grandes posses. Por outro lado, grande parte da elite de Ouro Preto estava envolvida no levante, inclusive o próprio visconde de Barbacena, mas a maioria não foi processada e nem sequer presa. (Qualquer semelhança com os nossos dias é mera coincidência, não é mesmo?)

Período Joanino

- CARLOTA JOAQUINA, PRINCESA DO BRAZIL (1999)
Direção - Carla Camurati
Roteiro - Carla Camurati, Melanie Dimantas, Angus Mitchell.
Em terras da Escócia, possivelmente, Yaolanda (Ludmilla Dayer) ouve de seu preceptor a história de Carlota Joaquina (Marieta Severo) e da presença da corte portuguesa no Brasil. A morte do rei de Portugal D. José I de Bragança, em 1777, e a declaração de insanidade da rainha Dona Maria I (Maria Fernanda), em 1792, levam seu filho, o então príncipe D. João de Bragança (Marco Nanini) e sua esposa, a infanta espanhola Carlota Joaquina de Bourbon, ao trono real português. Em 1807, para escapar das tropas napoleônicas que invadiam Portugal, o casal e a corte transferem-se às pressas para o Rio de Janeiro, onde a família real e grande parte da nobreza portuguesa vive exilada por 13 anos. Na colônia aumentam os desentendimentos entre a arrogante Carlota Joaquina e o intelectualmente limitadíssimo D. João VI, que após a morte da mãe, deixa de ser príncipe-regente e torna-se rei de Portugal e, posteriormente, rei do reino unido de Portugal, Brasil e Algarves.

- 1808, A CORTE NO BRASIL (2009)
Tudo bem, se você prefere ouvir a Globo, que tal esta série de 12 documentários realizada pelas jornalistas Sandra Moreyra e Mônica Sanches para a Globo News? A série abrange o período joanino desde a vinda da Corte até o seu retorno. Os episódios, com cerca de 20 minutos cada, são:
1-A fuga dos reis; 2-Nobreza e política; 3-Um reino sem rei; 4-A travessia; 5-A chegada à Bahia; 6-O desembarque no Rio de Janeiro; 7-A economia no tempo de D. João; 8-A política no tempo de D. João; 9-A corrupção no tempo de D. João; 10-Arte e ciência, o reino do Saber; 11-O templo dos livros e da música; 12-O retorno da corte.

IMPÉRIO

Independencia e Primeiro Reinado

- INDEPENDÊNCIA OU MORTE (1972)
Direção - Carlos Coimbra
Roteiro - Carlos Coimbra, Abílio Pereira de Almeida, Dionísio Azevedo, Anselmo Duarte, Lauro César Muniz
O ponto de partida da história é o dia da abdicação de D. Pedro I (Tarcísio Meira). A partir daí, é traçado um perfil do monarca desde quando ainda menino veio da Europa, enquanto sua família fugia das tropas napoleônicas, até sua ascensão à Príncipe Regente, quando D. João VI (Manoel da Nóbrega) retorna para Portugal. Em pouco tempo a situação política torna-se insustentável e o regente proclama a independência, mas seu envolvimento extraconjugal com a futura Marquesa de Santos (Glória Menezes) provoca oposição em diversos setores, gerando um inevitável desgaste político.

- CAMINHOS DA INDEPENDÊNCIA, O GRITO NAS RUAS (2012)
Direção - Bianca Vasconcellos.
Documentário produzido pela TV Brasil. Traz entrevistas com os professores José Murilo de Carvalho, Lúcia Bastos e Marcello Basille que, durante quinze anos, pesquisaram documentos em bibliotecas do Brasil, Portugal e Estados Unidos.

- BATALHA DO JENIPAPO. Direção de Diego Lopes e Tamar Fortes. Fundação Antares, Piauí. Documentário produzido pela Fundação e TV Antares, afiliada TV Brasil no estado do Piauí. Conta a história desse episódio da guerra de independência por meio de versos de cordel de Pedro Costa e de depoimentos de historiadores e especialistas, assim como de descendentes dos combatentes. Usa desenhos e animação gráfica de José Quaresma e Davi Scooby que também assinam a trilha musical.

Regencia

- O CÔNEGO. SENDEROS DA CABANAGEM (2007)
Direção - Paulo Miranda
Longa-metragem de ficção inspirada em fatos históricos. A partir da experiência vivida pelo Cônego Batista Campos (1782-1834), a trama chega a Lavor Papagaio, Manoel Vinagre e diversos homens e mulheres chamados pela alcunha coletiva de "cabanos". A história ambienta-se no período preparatório à eclosão da Cabanagem que teve seu desfecho em 7 de janeiro de 1835 com a tomada de Belém.

- ANAHÍ DE LAS MISIONES (1997)
Direção - Sergio Silva
Em 1839, a andarilha Anahy (Araci Esteves) viaja pelos campos de batalha do Rio Grande do Sul (chamado por ela de República de São Pedro do Rio Grande), durante a Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha, saqueando os mortos e negociando os achados com os soldados sobreviventes. Com ela vão os filhos Solano (Marcos Palmeira), o mais velho que manca de uma perna, Teobaldo (Cláudio Gabriel), simpatizante dos revoltosos (os "Farrapos", que lutam contra as forças do Império, apelidadas de "Caramurus"), Luna (Dira Paes), que esconde sua beleza com bandagens, e Leonardo (Fernando Alves Pinto), o impetuoso caçula. À família se juntam ainda o revoltoso Manoel (Matheus Nachtergaele) e a prostituta Picumã (Giovanna Gold).

- PAIXÃO DE GAÚCHO (1957)
Direção - Walter George Durst
Baseado no romance O gaúcho, de autoria de José de Alencar. A Guerra dos Farrapos mal tem início e já começa a formar alianças poderosas. Uma delas é feita entre dois homens, de países diferentes: o gaúcho Jango (Alberto Ruschel) e o chileno Solano (Victor Merinow), salvo da morte pelo vaqueiro gaúcho. No entanto, essa união de honra pode ser abalada pela chegada da noiva de Solano, Catita (Carmen Morales).

- GARIBALDI IN AMÉRICA (2008)
Direção - Alberto Rondalli
Giuseppe Garibaldi (Gabriel Braga Nunes), 32 anos, italiano, marinheiro, comandante dos rebeldes republicanos que invadiram Laguna, em Santa Catarina, durante a Guerra dos Farrapos (1835-1845), encontra sua alma gêmea em Anita (Ana Paula Arósio), 18 anos, casada com um sapateiro. Entre a paixão e a guerra, eles escolhem o caminho de suas vidas e da revolução.

2º Reinado

- A MORENINHA (1970)
Direção - Glauco Mirko Laurelli
Adaptação musical do romance de Joaquim Manuel de Macedo.
Toda a história se passa na paradisíaca Ilha de Paquetá centrada em Carolina (Sonia Braga) e Augusto (David Cardoso). Amigos da família reúnem-se para um sarau na casa de Carolina. Lá, ele vai reencontrar aquele amor dos tempos de criança, com quem trocou juras de amor e um camafeu, peça fundamental para que eles se reconheçam.

- MAUÁ, O IMPERADOR E O REI (1999)
Direção - Sérgio Resende.
A infância, o enriquecimento e a falência de Mauá (1813-1889) interpretado por Paulo Betti. Suas iniciativas modernizadoras foram vistas com apreensão pelos conservadores e pelo próprio imperador, que não lhe deu o devido apoio. Sua postura liberal, em defesa da abolição da escravidão e sua atitude contrária à Guerra do Paraguai acabaram isolando-o ainda mais, contribuindo para a falência ou venda de suas empresas a preços irrisórios.

- O CORTIÇO (1978)
Direção - Francisco Ramalho Jr.
Existem dois filmes baseados no romance de Aluísio Azevedo. O primeiro foi realizado em 1945 por Luiz de Barros para a Cinédia. A segunda, um pouco mais recente, é esta, de Francisco Ramalho Jr. (Filhos e Amantes, 1981). Assim como o romance, o filme narra a vida miserável dos moradores de uma habitação coletiva (cortiço), de propriedade de João Romão (Armando Bógus). Uma das moradoras é Rita Baiana (Betty Faria), uma mulher expansiva e liberada. Ao se apaixonar por Jerônimo (Mario Gomes), jovem lusitano recém-chegado ao Brasil, ela deflagra um jogo de paixões que acaba em tragédia. Outra situação é a de Pombinha (Sílvia Salgado), filha de Isabel (Beatriz Segall), uma moça que já era noiva, mas esperava menstruar para poder se casar. Pombinha também é afilhada de uma cocotte, Léonie (Carmen Monegal).

Guerra do Paraguai

- GUERRA DO BRASIL (1987)
Direção - Sylvio Back.
Documentário sobre a Guerra do Paraguai com base no trabalho de pesquisadores brasileiros, argentinos, uruguaios e paraguaios. Reconstituição de alguns episódios, entrevistas e grande material iconográfico sobre a guerra dão margem a muita discussão sobre o maior conflito da América do Sul.


NETTO PERDE SUA ALMA (2001)
Direção - Tabajara Ruas e Beto Souza.
Baseado no livro homônimo de Tabajara Ruas, recria a complexa personalidade do general Antônio de Sousa Netto (Werner Schünemann), protagonista central de dois episódios-chaves da história brasileira – a Revolução Farroupilha (1835-1845) e a Guerra do Paraguai (1861-1866) – comandando a sua cavalaria de gaúchos e lanceiros negros. As locações foram feitas no Rio Grande do Sul e no Uruguai. Ferido em combate na Guerra do Paraguai, Netto se recupera no Hospital Militar de Corrientes, na Argentina. Lá ele percebe acontecimentos estranhos, como o capitão de Los Santos (João França) acusar o cirurgião argentino de ter amputado suas pernas sem necessidade e reencontrar um antigo camarada, o sargento Caldeira (Sirmar Antunes), ex-escravo com quem lutou na Guerra dos Farrapos, ocorrida algumas décadas antes. Juntamente com Caldeira, Netto rememora suas participações na guerra e ainda o encontro com Milonga (Anderson Simões), jovem escravo que se alistara no Corpo de Lanceiros Negros, além do período em que viveu no exílio no Uruguai.

Abolição da escravatura

- SINHÁ MOÇA (1953)
Direção Tom Payne
Certo, esta é uma visão água-com-açucar da luta pela abolição da escravatura, no final do século XIX – até porque é baseado em um romance idem de Maria Dezonne Pacheco Fernandes (1910 - 1998). Mas vale a pena ver assim mesmo, para ver como a história pode ser contada desta ou daquela maneira. Se preferirem, podem ver as duas adaptações que a Rede Globo realizou – uma em 1986, com Lucélia Santos, Marcos Paulo e Rubens de Falco, e outra em 2006 com Débora Falabella, Danton Mello e Osmar Prado
Na pequena cidade de Araruna, no fim do século XIX, as contínuas fugas de escravos alarmavam os grandes fazendeiros, em especial o coronel Ferreira (José Policena). É nessa ocasião que sua filha Sinhá Moça (Eliane Lage) regressa de São Paulo, dominada pelos ideais abolicionistas. Em sua viagem de volta, ela conhece Rodolfo Fontes (Anselmo Duarte), filho de um renomado médico de Araruna e advogado recém-formado. No primeiro instante os dois jovens sentem-se mutuamente atraídos, porém, Rodolfo a decepciona ao se mostrar um defensor dos escravocratas. Um dos escravos, o jovem Fulgêncio, se revolta contra os maus tratos do coronel Ferreira e de seu cruel capataz Benedito e é severamente punido. Esse fato causa uma grande rebelião liderada pelo irmão de Fulgêncio, Justino, que leva ao incêndio da senzala e fuga em massa dos escravos. Justino vai a julgamento por assassinato e, para surpresa de todos, Rodolfo serve-lhe de advogado de defesa. Os abolicionistas, entre eles Sinhá Moça, assistem ao julgamento com grande expectativa. É quando chega um mensageiro dando a notícia de que a escravidão acabara de ser abolida no Brasil.

- ABOLIÇÃO (1988)
Direção - Zózimo Bulbul.
Documentário que aborda a condição do negro no Brasil, 100 anos após a proclamação da Lei Áurea, enfocando temas como o padrão de vida dos negros, sua luta e sua realidade. Traz entrevistas com personagens importantes para a preservação da cultura negra, como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalés, Beatriz do Nascimento, Grande Otelo, Joel Ruffino, Dom Elder Câmera em contraposição com D. João de Orleans e Bragança e Gilberto Freire. O documentário traz também fotos históricas em preto-e-branco – as imagens descrevem as muitas situações enfrentadas pelos escravos negros, traçando um paralelo de seus descendentes nos dias atuais. O cineasta Zózimo Bulbul é considerado o inventor do cinema negro brasileiro.

REPÚBLICA

Primeira República (1889 a 1930)

- POLICARPO QUARESMA, HERÓI DO BRASIL (1988)
Direção - Paulo Thiago
Adaptado do romance “O triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, conta a história do major Policarpo Quaresma (Paulo José), um visionário que ama o seu país e deseja que o tupi-guarani seja adotado como idioma nacional. Ele tem o apoio de sua afilhada Olga (Giulia Gam) por quem nutre um afeto especial e Ricardo (Ilya São Paulo), trovador e compositor de modinhas. Policarpo consegue advogar em temas tão atuais como a reforma agrária, a moralização da política nacional, a valorização da cultura indígena, o direito de manifestação e a honestidade de princípios. Acaba se envolvendo em fatos históricos ocorridos do governo de Floriano Peixoto (Othon Bastos).

- PAIXÃO E GUERRA NO SERTÃO DE CANUDOS (1993)
Direção - Antônio Olavo
Documentário com narração de José Wilker, sobre a epopeia sertaneja e seu líder no percurso de dezenas de cidades e povoados do Ceará, Pernambuco, Sergipe e Bahia. Reúne raros depoimentos de parentes de Conselheiro, contemporâneos da guerra, filhos de líderes guerrilheiros, historiadores, religiosos e militares. Premiado como melhor vídeo do X Rio Cine Festival Internacional de Cinema e Vídeo em 1994.

- A MATADEIRA (1994)
Direção - Jorge Furtado
Documentário de 14 minutos sobre o massacre de Canudos a partir de um canhão inglês, apelidado pelos sertanejos de "matadeira" e que foi transportado por 20 juntas de bois através do sertão para disparar um único tiro. O ator Pedro Cardoso apresenta o argumento principal com um texto carregado de humor e ironia, e ilustrado por uma animação gráfica. Em paralelo, uma reconstituição, em estúdio, surge a imagem hiper-realista da "matadeira" causando forte impacto nos soldados.

- GUERRA DE CANUDOS (1997)
Direção - Sérgio Rezende
A trajetória de uma família envolvida com o movimento de Canudos. Os pais, Zé Lucena (Paulo Betti) e Penha (Marieta Severo) entusiasmam-se com as palavras de Antônio Conselheiro (José Wilker) e resolvem acompanhá-lo. Luzia, a filha mais velha (Cláudia Abreu) rebela-se e foge de casa. Anos depois, em plena guerra, casada com um soldado (Tuca Andrada), mas atraída por um jovem oficial (Selton Mello), Luiza vai tentar salvar sua família quando o exército decide acabar de vez com Canudos. O filme destaca as opiniões conflitantes sobre o líder messiânico.

- O ARRAIAL (1997)
Direção - Otto Guerra e Adalgiza Luz (13 min)
Desenho animado com imagens que lembram a literatura de cordel. No sertão da Bahia, no final do século XIX, centenas de famílias seguem para o arraial de Belo Monte de Canudos, atraídas pelas promessas de Antônio Conselheiro

- A GUERRA DOS PELADOS (1971)
Direção - Sylvio Back. Brasil, 1971. Uma produção grandiosa, filmado na cidade de Caçador, Santa Catarina e com elenco de grandes atores como Jofre Soares, Stênio Garcia, Otávio Augusto e Zózimo Bulbul.  O roteiro chegou a detalhes na guerra corpo a corpo e na estratégia militar.

- ABRIL DESPEDAÇADO (2001)
Direção de Walter Salles
Baseado no romance Prilli i Thyer do escritor albanês Ismail Kadare, foi ambientado por Karim Aïnouz para o Nordeste, em 1910, para discutir aspectos do coronelismo. Tonho (Rodrigo Santoro), filho do meio da família Breves, é impelido pelo pai (José Dumont) a vingar a morte de seu irmão mais velho, vítima de uma luta ancestral entre famílias pela posse da terra. Tonho sabe que se cumprir a missão, será perseguido pela família rival, como dita o código de vingança da região. Tonho começa a questionar a lógica da violência e da tradição. É quando dois artistas de um pequeno circo itinerante cruzam o seu caminho.

- O TRONCO (1999)
Direção de João Batista de Andrade.
No início do século XX, a disputa pelo poder entre grandes fazendeiros e coronéis de Goiás leva à chamada "guerra dos Lemos". O coletor de impostos Vicente Lemos (Ângelo Antônio) é enviado da capital para combater o domínio absoluto do patriarca Pedro Melo (Rolando Boldrin), seu parente. Este manda incendiar o prédio da coletoria onde Vicente guarda os documentos. O governo reage enviando soldados o que vai desencadear a guerra com violências de ambos os lados. Envia também o juiz Celso Carvalho (Antonio Fagundes) com ordem de prisão aos membros da família Melo. O exército trata os prisioneiros como escravos prendendo todos os homens da família no antigo tronco da propriedade Melo.

- CORONEL DELMIRO GOUVEIA (1978)
Direção - Geraldo Sarno
Roteiro - Geraldo Sarno e Orlando Senna
Produção - Geraldo Sarno e Thomaz Farkas
Baseado em história real, conta a saga de Delmiro Gouveia (Rubens de Falco), pioneiro da industrialização no Nordeste, perseguido e assassinado por se recusar a vender suas empresas a companhias inglesas no início do século XX. No filme, Delmiro Gouveia (1863-1917) é mostrado como um ousado e humanista empreendedor que enfrenta o poder dos coronéis e dos trustes internacionais.

- GAIJIN: OS CAMINHOS DA LIBERDADE (1980)
Direção – Tizuka Yamazaki
Japão, 1908. Em virtude de haver muita miséria no país e poucas perspectivas de trabalho, muitos japoneses emigravam em busca de oportunidades. Como a companhia de emigração só aceitava grupos familiares que tivesse pelo menos um casal, assim Yamada (Jiro Kawarazaki) e Kobayashi (Keniti Kaneko), que eram irmãos, vêem como solução que Yamada se casasse com Titoe (Kyoko Tsukamoto), que tinha apenas 16 anos. Yamada e Titoe tinham acabado de se conhecer e, juntamente com um primo, partem para o Brasil. Após 52 dias de viagem chegam ao Brasil e vão trabalhar na Fazenda Santa Rosa, em São Paulo, pois a expansão cafeeira era intensa. Porém eles se deparam com um capataz que trata os colonos hostilmente, exigindo sempre que trabalhem até a exaustão. Além disso são roubados pelos donos da fazenda, apenas sendo tratados com respeito por outros colonos e por Tonho (Antônio Fagundes), o contador da fazenda.

- LIBERTÁRIOS (1976)
Direção - Lauro Escorel Filho
Documentário de 28 minutos que narra parte da história do movimento operário brasileiro no final do século XIX e primeiras décadas do XX. Utilizando fotos, músicas e filmes da época, o filme descreve a influência dos anarquistas espanhóis, italianos e portugueses na conscientização do nascente operariado brasileiro. Com destaque para a greve geral de 1917 e a morte de um jovem anarquista espanhol, José Martinez, que pararam São Paulo. Realizado em plena ditadura militar, o documentário foi filmado pouco antes da greve dos metalúrgicos do ABC paulista e acabou se tornando material de trabalho de militantes ligados à causa social. Tem narração de Othon Bastos que chega a entrar em cena vestido como operário do começo do século XX para interpretar um texto. A música de Carlos Vergueiro foi composta para um poema retirado de um jornal operário, de autor desconhecido: “Quem de três tira noventa, adivinha quanto fica/essa conta é que atormenta/que enferma e mortifica/os pobres dos proletários/nesse jogo de entre mês/ ganham 6 mil reis diários/gastam 300 por mês/ganham 6 mil reis diários/gastam 300 por mês/custa casa cento e tantos/o sapato custa trinta/roupa nem se sabe quanto/o vendeiro não se finta/médico, farmácia, pouca/ou bastante, mas é ali,/só mesmo ficando louco/com pensão no Juqueri/a feira só para os ricos/o armazém para os ricaços/ se houvesse ao menos um bico/ tivéssemos quatro braços/ trabalhava-se o dia inteiro/ à noite caísse no chão/ essa vida sem dinheiro/ não é de homem é de cão/ essa vida sem dinheiro/não é de homem é de cão”.  

- CHAPELEIROS (1983)
Direção - Adrian Cooper
Documentário de 24 minutos sobre trabalhadores da fábrica de chapéus Vicente Cury, em Campinas, SP. A fábrica, fundada em 1920 e que teve o auge de sua produção nas décadas de 1940 a 1960, ainda utilizava maquinário do final do século XIX. O documentário (feito em 1978, mas só editado quatro anos depois) mostra o ritmo das máquinas, a moldagem do feltro, o trabalho repetitivo e sufocante junto das caldeiras onde os homens trabalham só de calção e encharcados de suor, a entrada da fábrica com os operários batendo o cartão de ponto (observe mulheres e menores). O prédio da fábrica foi desativado em 2012 e hoje resta somente a chaminé de tijolos, tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc). A empresa, contudo, não desapareceu: foi transferida para Jaguariúna, uma cidade vizinha e continua fabricando chapéus. Uma curiosidade: a Cury ficou mundialmente famosa por ter criado o chapéu que o ator Harrison Ford imortalizou nos filmes da série “Indiana Jones”. Obs.: Os documentários “Chapeleiros” e “Libertários” foram reunidos em DVD pelo Instituto Moreira Salles. Acompanha livreto ilustrado com textos de Carlos Augusto Calil, da USP, e Michael M. Hall, da Unicamp. Tem, ainda, dois documentários extras – “Reminiscências de um projeto” e “Filmando Chapeleiros” que contextualizam essa ousada experiência de cinema proletário.

(Um complemento interessante é O CHAPÉU DO MEU AVÔ (ECA-USP / Gato do Parque, 2004) de Julia Zákia (Rio cigano) – ela própria neta de um dos proprietários da fábrica de chapéus Cury, que mostra o funcionamento da fábrica e entrevista ex-trabalhadores.)

- COLÔNIA CECÍLIA: UMA HISTÓRIA DE AMOR E UTOPIA (2011)
Direção - Guto Pasko
Ficção baseada na história da Colônia Cecília (1890 a 1894), a primeira tentativa efetiva de implantação do ideário anarquista no Brasil. Fundada no município de Palmeira, no estado do Paraná, por um grupo de libertários mobilizados pelo jornalista e agrônomo italiano Giovanni Rossi(1859-1943) que foi instigado pelo músico brasileiro Carlos Gomes a procurar D. Pedro II com o propósito de instaurar uma comunidade capaz de propulsionar um "novo tempo", uma utopia baseada no trabalho, na vida e no amor libertário. A história da colônia é narrada a partir da jornada do casal italiano Fabrizio (Daniel Siwek) e Giulia (Carol Damião), que chega ao Paraná, em 1892, a convite de um tio, Casimiro (Roberto Innocente), sem saber ao certo o que iria encontrar.

- LA CECILIA, UNE COMMUNE ANARCHISTE AU BRÈSIL (França/Itália, 1977)
Direção - Jean-Louis Comolli
A história da Colônia Cecília sob o olhar de um importante cineasta francês engajado no cinema político da década de 1970. A breve duração da colônia anarquista (1890-1894) está relacionada, entre outros fatores à mudança do regime político do Brasil. Criada em uma área doada por D. Pedro II, com o advento da República perdem a proteção da monarquia. As novas autoridades exigem que os colonos paguem impostos. Por outro lado, os companheiros que ficaram na Itália acusam os que imigraram de terem abandonado a luta no momento em que os sindicatos estão se organizando na península. Filme falado em italiano e português.

- MENINO DE ENGENHO (1965)
Direção - Walter Lima Jr.
Baseado no romance homônimo de José Lins do Rego e filmado na Várzea do Paraíba, PB. A história se passa em 1920 e é narrada por Carlinhos que, aos quatro anos de idade, ficou órfão. Seu tio Juca vai buscá-lo para ir morar com seu avô em seu engenho Santa Rosa. A rotina do engenho com seus costumes e tradições encanta o menino: a chegada de um cangaceiro, as histórias contadas pelas negras, lendas de lobisomem etc.

- FOGO MORTO (1976)
Direção - Marcos Faria
Baseado no romance homônimo de José Lins do Rego o filme é ambientado na Paraíba, por volta de 1910. Lula de Holanda (Othon Bastos), senhor do engenho decadente Santa Fé, onde vive com a mulher Marta (Mary Nebauer) e a filha Amélia (Ângela Leal), discute com o seleiro Zé Amaro (Jofre Soares) e o expulsa de suas terras. O seleiro é vingado pelo cangaceiro Antônio Silvino (Fernando Peixoto) que com seu bando invade o engenho.

- DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL (1964)
Direção - Glauber Rocha
Filmado em Monte Santo e Cocoribó (Bahia). Tendo como referência a literatura de cordel, o filme conta a trajetória de fuga dos personagens Manuel (Geraldo del Rey) e Rosa (Yoná Magalhães), em uma realidade marcada pela seca, miséria, opressão, fanatismo religioso, cangaço e violência.

- DIÁRIO DE PROVÍNCIA (1978)
Direção e roteiro - Roberto Palmari)
Acácio Figueira (José Lewgoy) possui grande ambição. Em sua escalada para atingir a prefeitura da cidade, ele vai passando por todos os partidos que dominam a situação da época: Republicano, Libertador, Democrático, Constitucionalista, Integralista, etc. Sua grande oportunidade chega com a Revolução de 30, quando Getúlio Vargas assume o poder. Não existem eleições e os prefeitos são interventores nomeados. Para atingir seus intentos, Figueira manipula os grupos de expressão da comunidade. Paralelamente, uma família aristocrática do café se debate na decadência, enquanto uma família de imigrantes busca sua ascensão econômica. Através de seu pequeno jornal, um jornalista liberal (Gianfrancesco Guarnieri) denuncia as falcatruas, desmandos e sujeiras praticadas por Acácio Figueira.

- ETERNAMENTE PAGU (1988)
Direção - Norma Bengell
A história da escritora e ativista política Patrícia Galvão / Pagu (Carla Camurati), que na década de 1920 escandalizou a burguesia conservadora brasileira. Tornou-se musa da poesia modernista, conviveu com Tarsila do Amaral (Esther Góes) e Oswald de Andrade (Antônio Fagundes) com quem teve um romance. Filiou-se ao Partido Comunista e quase foi deportada para a Alemanha nazista. Depois de uma viagem ao exterior, voltou ao Brasil e foi presa. Libertada, rompeu com o partido e se dedicou ao teatro de vanguarda.

- O HOMEM DO PAU BRASIL (1982)
Direção - Joaquim Pedro de Andrade
Já que citamos Eternamente Pagu, não custa nada indicar também este filme – o último filme de Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) (contra a sua vontade, claro...) A história de Oswald de Andrade (1890-1954) sob a forma de comédia fantástica – tão fantástica que Oswald aparece dividido em dois Oswalds - um Oswald-macho (Flávio Galvão) e uma Oswald-fêmea (Ítala Nandi). Os dois Oswalds partilham as mesmas camas – com Lalá (Regina Duarte), Doroteia (Cristina Aché), Branca Clara (Dina Sfat) e Rosa Lituana (Dora Pellegrino) - e ideias (Semana de Arte Moderna, de 1922, Pau-Brasil, Antropofagia, socialismo, naturismo) com as demais personagens até que estas (as ideias) os separem.  Com a devoração de Oswald-macho pelo Oswald-fêmea, dá-se a criação da mulher do pau-brasil, líder da revolução que instalará o matriarcado antropófago como regime político do país.

- O PAÍS DOS TENENTES (1987)
Direção - João Batista de Andrade.
Gui (Paulo Autran), um velho general da reserva, entra em uma crise pessoal no dia em que é homenageado, e começa a rememorar sua participação em diversos movimentos políticos do Brasil: a revolta dos "18 do Forte", a Revolução de 1930, o governo de Getúlio Vargas, o período militar dos anos 1960 e 1970. Filmado à época da abertura política, o filme contou com a pesquisa e assessoria dos historiadores Hélio Silva e Edgard Carone, e pretende fazer uma reflexão crítica da história brasileira mostrando o fim de um ciclo revolucionário iniciado em 1922 e culminado com a ditadura que teria corrompido o sonho tenentista.

Era Vargas (1930 a 1954)

- REVOLUÇÃO DE 30 (1980)
Direção - Sylvio Back.
Documentário de montagem, com trechos de documentários e filmes de ficção, fotografias e registros sonoros dos anos 1920, mostrando os momentos que antecederam o conflito, seu desenrolar e consequências. Seu fio condutor é o documentário Pátria Redimida, realizado na época por João Batista Groff com cenas filmadas em zonas de combate: Itararé, Ribeira e Catinguá. Inclui comentários críticos de Boris Fausto, Edgar Carone e Paulo Sérgio Pinheiro. A trilha sonora traz antigas gravações de discursos e músicas do período, algumas compostas especialmente para celebrar a revolução: hinos a João Pessoa, a Miguel Costa e Juarez Távora.

- ADÁGIO AO SOL (2000)
Direção - Xavier de Oliveira
No início dos anos 1930, numa fazenda de café no interior de São Paulo, Júlio (Cláudio Marzo), Angélica (Rossana Ghessa) e Álvaro (Marcelo Moraes) vivem um intenso triângulo amoroso, tendo como pano de fundo a crise do café, a tomada do poder por Getúlio Vargas e a revolução constitucionalista de 1932 na qual Álvaro se alista. Uma curiosidade: para as cenas de multidão, nos momentos pré-revolucionários, o diretor teve o apoio da população da cidade de Casa Branca, SP que foi devidamente caracterizada conforme a moda da época.

- O MUNDO EM QUE GETÚLIO VIVEU (1963)
Direção - Jorge Ileli
Documentário sobre a vida e a época de Getúlio Vargas com narração de Armando Bogus. Rememora o início do século XX, a belle époque, os voos experimentais de Santos Dumont, a I Guerra Mundial, a ascensão do fascismo e nazismo, a II Guerra Mundial, a revolução espanhola, o peronismo na Argentina em paralelo à trajetória e carreira de Vargas até o suicídio.

- GETÚLIO VARGAS (1974)
Direção - Ana Carolina Teixeira Soares
Documentário que mostra os fatos que marcaram a vida e carreira de Vargas, o cotidiano da época e o suicídio que gerou controvérsias e uma gigantesca comoção social. Com narração de Paulo César Pereio, o documentário utiliza cinejornais produzidos pelo DIP e pela Agência Nacional, fotos de época, discos, discursos de Vargas e textos de literatura de cordel.

- GETÚLIO (2014)
Direção - João Jardim
Drama biográfico que percorre a intimidade de Getúlio Vargas (Tony Ramos), então presidente do Brasil, em seus 19 últimos dias de vida, em agosto de 1954. Isolado no Palácio do Catete com a mulher Darcy Vargas (Clarice Abujamra) e a filha Alzira Vargas (Drica Moraes), ele sofre as pressões políticas decorrentes da acusação de que teria ordenado Gregório Fortunato (Thiago Justino) assassinar o jornalista Carlos Lacerda (Alexandre Borges).  O filme foi inteiramente rodado no interior do Palácio do Catete, RJ, sede da Presidência na época, atual Museu da República.

- VIDAS SECAS (1963)
Direção - Nelson Pereira dos Santos
Baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos, conta a história de uma família de retirantes composta por Fabiano (Átila Iório), Sinhá Vitória (Maria Ribeiro), os dois filhos e a cachorra Baleia. Em 1941, pressionados pela seca, eles atravessam o sertão nordestino em busca de meios para sobreviver. Chegam a um casebre abandonado nas terras do fazendeiro Miguel (Jofre Soares). A chuva volta a cair e recupera os pastos. Fabiano trabalha de vaqueiro para o fazendeiro e a família sonha em melhorar de vida. Mas, ao final do primeiro ano de muito trabalho e dificuldades, a miséria da família persista e nova seca se aproxima para assolar o sertão. Com locações feitas em Minador do Negrão e Palmeira dos Índios, no sertão de Alagoas, Vidas Secas é um filme representativo do movimento chamado de Cinema Novo, que abordava problemas sociais do Brasil.

- O VELHO: A HISTÓRIA DE LUIZ CARLOS PRESTES (1997)
Direção - Toni Venturi
Documentário sobre a vida e a militância do líder comunista brasileiro desde a sua educação militar, passando pelo tenentismo, formação da Coluna, governo Vargas, ditadura militar, exílio, abertura política e seu retorno com a anistia chegando à participação, já idoso, nas manifestações operárias dos anos 1980. Dois vídeos históricos abrem o documentário: um de 1989 sobre a queda do Muro de Berlim e outro de 1917 sobre a Revolução Russa. A trajetória de Prestes é feita por meio de fotos e filmes de época, depoimentos dos filhos, descendentes de líderes tenentistas, políticos e do próprio Prestes (tomado em novembro de 1985). A narração de Paulo José faz a conexão do rico acervo documental apresentado pelo documentário.

- OLGA (2004)
Direção - Jayme Monjardim
Inspirado na biografia de Olga Benário Prestes (1908-1942) – alemã, judia e militante comunista – escrita por Fernando Morais. O filme acompanha a trajetória de Olga Benário (Camila Morgado) e Luís Carlos Prestes (Caco Ciocler) na época da ditadura de Getúlio Vargas (Osmar Prado) até a prisão de ambos ordenada por Filinto Müller (Floriano Peixoto), acusados de organizar a Intentona Comunista de 1935. Por sua origem alemã e judia, Olga é deportada para a Alemanha, onde morre na câmara de gás no campo de concentração de Ravensbrück, deixando sua filha recém-nascida Anita Leocádia.

- MEMÓRIAS DO CÁRCERE (1984)
Direção - Nelson Pereira dos Santos
Reconstitui os dez meses, entre 1936 e 1937, em que o escritor Graciliano Ramos (Carlos Vereza) ficou preso na Ilha Grande, RJ, acusado de participação na Intentona Comunista. Inicialmente, a prisão lhe parece um intervalo para se libertar da vida enfadonha com a mulher, o emprego público e o provincianismo de sua cidade, Maceió, onde era diretor da Instrução Pública de Alagoas. A crueldade do que vê na prisão é suportada pela dedicação à literatura, enquanto sua esposa (Glória Pires) e um advogado procuram meios para libertá-lo. Os prisioneiros o tratam com carinho pois querem "sair no livro" que, no entanto, só será publicado em 1953, após sua morte, com o nome "Memórias do Cárcere". Consagrado no Festival de Cannes de 1984, o filme foi realizado com um elenco de 120 atores e 2.000 figurantes

- SOLDADOS DE DEUS (2004)
Direção - Sérgio Sanz
Documentário sobre o Integralismo – o fascismo brasileiro – e seu principal mentor, Plínio Salgado que mobilizou cerca de 1 milhão de pessoas e teve 500 mil filiados, constituindo o primeiro partido de massas do Brasil. Traz o testemunho daqueles que ajudaram a sua formação e, ocasionalmente, deixaram de defender seus princípios e práticas bem como daqueles que sempre o criticaram, além de pesquisadores (Anita Prestes, Gerardo Melo Mourão, Antônio Carlos Vilaça, Leandro Konder, Muniz Sodré etc.). Narração de Nelson Xavier.

- ALELUIA, GRETCHEN (1977)
Direção - Sylvio Back
Ficção que conta a história de uma família de imigrantes alemães que, em 1937, por perseguição ao pai, o professor Ross (Sérgio Hingst) foge do nazismo e vem radicar-se numa cidade no interior do Paraná onde compram um hotel. Quando começa a guerra, a mãe, Frau Kranz (Míriam Pires), que continua admiradora do nazismo, permite que o filho volte à Alemanha para lutar na guerra.  Membros da família envolvem-se com o integralismo e com os espiões da 5ª coluna. Na década de 1950 são visitados por ex-oficiais da SS nazista em trânsito para a Argentina e a intromissão faz reviver episódios aparentemente sepultados com o fim da guerra.

- BAILE PERFUMADO (1996)
Direção - Paulo Caldas e Lírio Ferreira
Um filme inovador tanto na estética quanto na maneira de abordar o cangaço. Conforme Lírio Ferreira, um dos diretores, o filme revela um Lampião "já aburguesado, quase um gangster, que jogava baralhos com os coronéis e vivia de agiotagem e do comando de sequestros". A reconstituição histórica foi enriquecida com a inclusão do pequeno documentário de 11 minutos realizado pelo libanês Benjamin Abrahão, nos anos de 1930, sobre o bando de Lampião e seu cotidiano. O filme de Abrahão foi proibido pela ditadura de Getúlio Vargas.

- MADAME SATÃ (2004)
Direção - Karim Aïnouz)
O filme retrata a vida de um personagem que é referência na cultura marginal urbana do século XX, o malandro, artista, presidiário, pai adotivo de sete filhos, negro, pobre e homossexual João Francisco dos Santos- conhecido como "Madame Satã" (Lázaro Ramos) e frequentador do bairro boêmio da Lapa, no Rio de Janeiro.Mostra seu círculo de amigos, antes de se transformar no mito Madame Satã, lendário personagem da boêmia carioca.

- LOST ZWEIG (2003)
Direção - Sylvio Back
Baseado na obra “Morte no paraíso, a tragédia de Stefan Zweig”, de Alberto Dines. Revive a vida, em Petrópolis, RJ, do escritor austríaco Stefan Zweig (Rüdiger Vogler) autor do célebre livro “Brasil, país do futuro”, e de sua jovem esposa Lotte (Ruth Rieser) que, num pacto até hoje cercado de mistério, decidem suicidar-se na semana seguinte ao carnaval de 1942. Inteiramente falado em inglês.

- SENTA A PUA (1999)
Direção - Erik de Castro
Documentário que reúne entrevistas, fotos e ilustrações para contar a história do Primeiro Grupo de Aviação de Caça do Brasil, que no dia 6 de outubro de 1944 desembarcou no porto de Livorno, na Itália para participar da Segunda Guerra Mundial. Fazia parte do grupo 466 pessoas sendo 49 pilotos e 417 homens de apoio. A saga é relatada pelos próprios pilotos reunindo 23 depoimentos, imagens de arquivo e ilustrações digitais.   “For All”, Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz, 1997.

- FOR ALL, O TRAMPOLIM DA VITÓRIA (1997)
Direção - Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz
Romance cômico, ambientado na cidade de Natal, RN, em 1943, onde os Estados Unidos construíram a base militar de Parnamirim Field. A presença de soldados americanos altera a estabilidade das famílias locais trazendo não somente dólares e eletrodomésticos, mas também o glamour de uma cultura de Hollywood, a música das grandes bandas. Neste contexto, a história se desenrola em torno de uma família de classe média, os Sandrini, que são abalados pelas novas circunstâncias: amores inesperados, reflexos de intrigas políticas, desafios aos preconceitos e testes para a coragem. Foi feita uma reconstituição primorosa da cidade de Natal e usaram-se resquícios da base de Parnamirim Field para a locação de diversas cenas, como a sessão de cinema que abre o filme e as aulas do professor João Marreco.

- A ESTRADA 47 (2013)
Direção - Vicente Ferraz
Baseado em fatos reais e com uma produção primorosa, o filme mostra o drama dos soldados brasileiros, em sua maioria despreparados para o combate tendo que aprender na prática a lutar pela sobrevivência na guerra. Depois de sofrerem um ataque de pânico coletivo, no sopé do Monte Castelo, os soldados Guimarães (Daniel de Oliveira), Tenente (Júlio Andrade), Piauí (Francisco Gaspar) e Laurindo (Thogum) tentam descer a montanha, mas acabam se perdendo uns do outros. Quando eles se reuniram, tiveram que decidir entre voltar para o batalhão e correrem o risco de enfrentar a corte marcial por deserção, ou retornar para a posição na noite anterior e correr o risco de enfrentar um ataque surpresa do inimigo. Quando o jornalista Rui (Ivo Canelas), fala sobre um campo minado ativo, eles acham que esta é uma oportunidade para se redimir do erro que cometeram, mas ainda há muito o que acontecer, a guerra está longe de terminar.

(E que conste dos autos: poderia lhe indicar RÁDIO AURIVERDE - 1991, de Sylvio Back. Mas não o farei: me recuso a indicar esta bosta - o ponto mais baixo da carreira de Sylvio Back. Uma coisa é a intenção de questionar a versão me-ufanista oficial da ação da FEB na Itália. Outra, muito diferente, foi o resultado: um deboche completo, que poupa os poderosos da época – Getúlio Vargas, Franklin Roosevelt, o general Mark Clark etc. – mas avacalha de modo massacrante justamente a parte mais fraca desta equação, os próprios pracinhas, quase todos de origem humilde, que lutaram debaixo de um frio de rachar e de outras condições duras. Um deboche de tom mainardiano, do tipo "Esse pais não presta, este povo não presta" etc.)

Brasil de 1955 a 1964

- OS ANOS JK: UMA TRAJETÓRIA POLÍTICA (1980)
Direção - Silvio Tendler
Documentário com narração de Othon Bastos, traça um panorama do Brasil de 1945 a 1964 tendo como personagem central Juscelino Kubitschek. Fazendo uso de cinejornais, filmes de pequenos produtores, fotografias e material pesquisado em estações de TV, entrevista nomes expressivos da política nacional como Tancredo Neves, marechal Henrique Lott, Magalhães Pinto, Juracy Magalhães, Dante Pellacani e um ex-dirigente da UNE, Marcos Heuzi. Aborda fatos marcantes da história como o suicídio de Getúlio, a construção de Brasília, os governos Jânio Quadros e João Goulart, o golpe de 1964.

- O HOMEM DA CAPA PRETA (1986)
Direção - Sérgio Rezende
A controvertida carreira do político Tenório Cavalcanti (José Wilker) nos anos 1940 a 1960. Tenório teve sua infância marcada pela violência ao presenciar o assassinato do pai. Vingado, foge para o Rio de Janeiro. Adulto, vestia a famosa capa preta que escondia uma metralhadora apelidada de "Lurdinha". Conquistou poder e fortuna na Baixada Fluminense. Homem do povo, político popular, tinha seu eleitorado entre o povo humilde e miserável que via nele um defensor e justiceiro. Seus comícios arrebatavam o povo e chocavam a classe média e a elite política. Cassado em 1964, manteve sua aura como um dos heróis do populismo.

- JÂNIO A 24 QUADROS (1981)
Direção- Luís Alberto Pereira
Balanço político e bem-humorado da década de 50 aos dias atuais tendo como grande personagem o ex-presidente Jânio Quadros. Dentro dessa proposta surgem outros elementos da vida política nacional. Adhemar de Barros, a UNE (União Nacional dos Estudantes), João Goulart, Juscelino Kubitschek, Figueiredo, Médici, Lula, guerrilheiros, meditadores transcendentais e imagens antológicas, como a visita de Juscelino à linha de montagem da Volkswagen, o comício de Jango na Central e o levante dos marinheiros em 64, entremeados com a ascensão e queda do polêmico ex-presidente. A carreira como governador de São Paulo, a campanha como candidato à presidência da República pela UDN, a esperança e a promessa de varrer o país - os slogans e as marchinhas, a eleição de 6 milhões de votos, a posse em uma Brasília recém-inaugurada, a meteórica e desastrada estada na presidência, o exílio e a volta são narrados por filmes de arquivo, músicas de época e por bem-humoradas cenas de ficção, como a condecoração de Che Guevara e o sequestro de Tio Sam.

- OS FUZIS (1963)
Direção - Ruy Guerra
Nordeste, 1963. Soldados chegam à cidade para evitar que a população miserável e faminta invada e saqueie um depósito de alimentos. O dono do armazém tem grande prejuízo, pois vende fiado e não recebe, situação agravada com a inadimplência do governo que não paga o bônus que deve. Os miseráveis são liderados por um beato místico que prega a adoração de um boi santo que fará chover. Ao final o boi é morto e toda população avança para pegar um pedaço de carne. Locações feitas nas cidades baianas de Milagres, Tartaruga e Nova Itarana.  

- JANGO (1984)
Direção - Silvio Tendler
Documentário com narração de José Wilker sobre a carreira de João Goulart desde sua eleição a deputado estadual em 1947 até seu sepultamento em 1976, na sua cidade natal de São Borja, RS. Realizado na época da campanha da Diretas-Já, o filme levanta a bandeira da democratização trazendo imagens da época da ditadura como a repressão às passeatas e o período de terror que marcaram o governo Médici. Entrevistas com Afonso Arinos de Melo Franco, Antônio Carlos Muricy, Francisco Julião, Gregório Bezerra, Celso Furtado, Magalhães Pinto, Frei Beto, Jânio Quadros entre outros contemporâneos.  

- DOSSIÊ JANGO (2013)
Direção - Paulo Henrique Fontenelle.
Documentário sobre as circunstâncias da morte de João Goulart, em 1976, levantando a suspeita de que o ex-presidente teria sido assassinado bem como Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda, falecidos na mesma época. Reúne documentos e depoimentos incluindo documentos da polícia uruguaia nunca revelados no Brasil. Traz ainda gravações em áudio do embaixador Lincoln Gordon e dos ex-presidentes americanos John F. Kennedy e Lyndon Johnson mostrando a preocupação do governo dos Estados Unidos com o momento político do país e a possibilidade de intervir no Brasil da mesma forma como foi feito no Panamá.

- CABRA MARCADO PARA MORRER (1964-1984)
Direção - Eduardo Coutinho
Documentário sobre João Pedro Teixeira, líder da liga camponesa de Sapé, Paraíba, assassinado em 1962. Um filme sobre sua vida começa a ser rodado em 1964, com a reconstituição ficcional da ação política que levou ao assassinato. As filmagens com a participação de camponeses do Engenho Galileia, em Pernambuco, foram interrompidas pelo golpe militar. Dezessete anos depois, em 1981, o diretor Eduardo Coutinho retoma o projeto, volta à região e reencontra a viúva do líder assassinado, Elisabeth Teixeira, até então vivendo na clandestinidade, e outros camponeses que haviam atuado no filme antes dele ser interrompido.

Brasil de 1964 a 1985 (ditadura militar)

- GOLPE DE 64: A PROCISSÃO ESTÁ NAS RUAS (2000)
Direção - Guilherme Fontes
Documentário com argumento e roteiro de Fernando Moraes, contextualiza os anos 1960 no panorama internacional e nacional utilizando fotos, filmes e áudios da época. Traz também os depoimentos de personalidades que viveram o fato: Leonel Brizola, Miguel Arraes, Armando Falcão, Paulo de Tarso Santos, Celso Furtado, general Antônio Carlos Muricy, Marcos Sá Correa, Almino Afonso, José Serra, João Pinheiro Neto, Gustavo Borges e Valdir Pires.

- O DIA QUE DUROU 21 ANOS (2012)
Direção - Camilo Tavares
Documentário sobre a participação do governo dos Estados Unidos no golpe de 1964, desde sua preparação dois anos antes. Apresenta entrevista de Lincoln Gordon, embaixador norte-americano no Brasil na época, e Peter Kornbluh, coordenador dos Arquivos de Segurança Nacional dos Estados Unidos, e gravação do presidente John Kennedy revelando sua preocupação com opção esquerdista de Goulart. Na parte final, várias pessoas que apoiaram o golpe mostram desencanto com os sucessivos "Atos Institucionais" e o historiador Carlos Fico, da UFRJ, afirma que a "Linha Dura" militar assumiu o governo em 1964. Não obstante, os Estados Unidos continuaram a apoiar o novo regime, o que resultou em um sentimento crescente de antiamericanismo.

- REIS E RATOS (2011)
Direção de Mauro Lima
Comédia policial que conta, por meio de uma narrativa quebrada em flashbacks, uma espécie de fábula suja da Guerra Fria. Em 1963, em uma pequena cidade no Rio de Janeiro, Amélia Castanho (Rafaela Mandelli), uma cantora de boate, é escolhida para a abertura da gincana de primavera. De repente, uma misteriosa bomba é lançada, mas Amélia, salva-se pois não estava no local. Dias depois, Amélia descobre que o locutor Hervé Gianini (Cauã Reymond) foi o responsável por sua salvação. Neste meio tempo, arma-se a conspiração para desestabilizar o regime planejada por Troy Sommerset (Selton Mello), agente da CIA no Brasil possui uma loja de sapatos em Copacabana como atividade de fachada, e o Major Esdras (Otávio Müller), auxiliados pelo vigarista Ronny Rato (Rodrigo Santoro).  

- BARRA 68. SEM PERDER A TERNURA (2001)
Direção - Vladimir Carvalho
Documentário narrado por Othon Bastos narra a criação da Universidade de Brasília, a luta de Darcy Ribeiro para implantar as inovações que propunha e a perseguição sofrida com o golpe militar de 1964. Culmina com a invasão do compus pelo Exército, em 1968 quando cerca de 500 estudantes foram detidos em uma quadra de esportes. Traz depoimentos de Oscar Niemeyer, Roberto Salmeron, Jean-Claude Bernardet, Darcy Ribeiro, Ana Miranda, Marcos Santilli, Cacá Diegues, José Carlos de Almeida Azevedo entre outros

- O QUE É ISSO COMPANHEIRO? (1997)
Direção - Bruno Barreto
Com a decretação do AI-5, em dezembro de 1968, a ditadura chega ao auge. Amplia-se a censura à imprensa, a perda de mandatos e direitos civis, a prisão de militantes da esquerda e a tortura. Em meados de 1969, um grupo de jovens da classe média carioca opta pela clandestinidade e pela luta armada contra a ditadura integrando o MR-8 e Ação Libertadora Nacional. Tramam o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrik (Alan Arkin). Para libertá-lo, os sequestradores exigem a leitura de um manifesto em cadeia de televisão e a libertação de 15 companheiros presos. Com um grande elenco composto por Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Matheus Nachtergaele, Luis Fernando Guimarães, Cláudia Abreu, Nélson Dantas, Caio Junqueira, Marco Ricca, Selton Mello, Fernanda Montenegro entre outros. O filme foi lançado nos Estados Unidos em 1997 com o título Four Days in September e concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

- PRA FRENTE, BRASIL (1982)
Direção - Roberto Farias
Junho de 1970, primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo e o país em euforia pelo "milagre econômico". Paralelamente, ocorrem movimentos contra a ditadura: assaltos a bancos, sequestro de embaixadores e luta armada. Jofre Godói da Fonseca (Reginaldo Farias), um pacato cidadão de classe média casado com Marta (Natália do Valle), é confundido com um ativista político, sendo então preso e torturado. Marta e Miguel (Antônio Fagundes), seu irmão, tentam encontrá-lo. O título do filme é uma referência à canção de mesmo nome, escolhida pelo regime para representar o país no Mundial de 1970. O filme foi inicialmente censurado pelo regime apesar do país estar à época em plena redemocratização. O presidente da Embrafilme, Celso Amorim, em abril de 1982 foi obrigado a se demitir da presidência por ter aprovado o financiamento do filme. Liberado pela Justiça, o filme estreou sem cortes em 14 de fevereiro de 1983.  

- O BOM BURGUÊS (1983)
Direção de Oswaldo Caldeira
Inspirado livremente em personagem real, Jorge Medeiros do Vale, funcionário do Banco do Brasil preso em 1969 sob acusação de ter desviado cerca de 2 milhões de dólares com os quais, entre outras coisas, financiara grupos de esquerda que lutavam contra a ditadura militar no Brasil. Na época, Jorge Medeiros Vale ficou conhecido na imprensa, nos órgãos de repressão e entre os guerrilheiros como “o bom burguês”. O filme conta a história do bancário Lucas (José Wilker) que desvia dinheiro do banco para financiar dois grupos revolucionários. A mulher de Lucas, Neuza (Betty Faria), a princípio desconhece a atividade secreta do marido, assim como sua irmã, Joana (Christiane Torloni), guerrilheira que o considera um conformista. A situação se complica quando é sequestrado o embaixador suíço.  

- O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS (2006)
Direção - Cao Hamburguer e Cláudio Galperin
Em 1970, durante o rigor da ditadura e da euforia do milagre econômico, Mauro (Michel Joelsas), um garoto mineiro de classe média, de 12 anos, apaixonado por futebol e jogo de botão, se vê separado dos pais que "saem de férias". Mauro vai morar com o avô (Paulo Autran) que pouco conhece e é obrigado a se adaptar a uma estranha e divertida comunidade no bairro Bom Retiro, em São Paulo, que abriga judeus e italianos, entre outras culturas.

- MARIGUELLA: RETRATO FALADO DO GUERRILHEIRO (2001)
Direção - Sílvio Tendler
Documentário com narração de Othon Bastos sobre Carlos Marighella, parlamentar, líder comunista e autor do "Manual do Guerrilheiro Urbano", obra traduzida em diversos idiomas. Nascido em Salvador, Bahia, em 1911, Marighella atuou nos principais acontecimentos políticos do Brasil, desde sua adesão ao Partido Comunista em 1932, participação na Intentona de 1935 chegando à luta armada contra a ditadura. Em 1968, rompeu com o PCB e fundou o grupo armado Ação Libertadora Nacional. Participou, com o MR-8, do sequestro do embaixador americano, em 1969. No final desse ano, foi morto a tiros em uma emboscada coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. O filme destaca, também, as conexões internacionais de Mariguella nas lutas de independência na Ásia, África e América Latina nos anos 1950 e 1960. A importância de Mariguella na luta contra a ditadura (que o considerou inimigo número 1) pode ser inferida pelas numerosas citações de seu nome como personagem oculto, sempre clandestino, em outros filmes como O que é isso, companheiro? (Bruno Barreto, 1997), Batismo de Sangue (de Helvécio Ratton, 2006) e Lamarca (Sérgio Rezende, 1994),

- CARLOS MARIGHELLA: QUEM SAMBA FICA, QUEM NÃO SAMBA VAI EMBORA (2011)
Direção - Carlos Pronzato
Documentário realizado em homenagem ao centenário de nascimento de Carlos Mariguella. O diretor argentino, radicado em Salvador, é conhecido por sua produção que aborda manifestações populares, sindicais e estudantis. Neste documentário, ele apresenta um outro olhar sobre a luta armada contra a ditadura valorizando-a como ação de resistência que tornou possível o retorno da democracia. A tese do filme é mostrar Marighella como um herói nacional cuja importância para democracia brasileira precisa ser reconhecida

- MARIGHELLA (2011)
Direção - Isa Grinspum Ferraz
Documentário com narração de Lázaro Ramos que, feito em primeira pessoa, como sendo Marighela contando sua trajetória, dá um tom pessoal, intimista e subjetivo à obra. O retrato de Mariguella transita entre o familiar e o histórico, o que pode ser explicado pelo fato da diretora ser sobrinha do protagonista. Traz o depoimento de cerca de 30 pessoas, como o antropólogo Antônio Risério, o filho Carlos Augusto Marighella, o escritor Antônio Candido, ex-companheiros de luta armada e, sobretudo, a viúva de Marighella, Clara Charf.

- LAMARCA (1994)
Direção - Sergio Rezende
Baseado na vida do capitão do exército Carlos Lamarca, um dos mais importantes e perseguidos líderes da luta armada no Brasil, morto em 1971, aos 33 anos, pelos órgãos de segurança do regime militar. A história começa em dezembro de 1970, quando Lamarca (Paulo Betti) e seu grupo político rebelde negociam com a ditadura militar a soltura de presos políticos em troca da vida do sequestrado embaixador da Suiça mantido por eles em cativeiro. Alguns nomes de personagens reais foram trocados; assim, o delegado Sérgio Paranhos Fleury se transformou em delegado “Flores” (Ernani Moraes), e Iara Iavelberg, amante de Lamarca, em “Clara” (Carla Camurati).  

- EM BUSCA DE IARA (2013)
Direção - Flávio Frederico
Documentário sobre a psicóloga e guerrilheira Iara Iavelberg, companheira de Lamarca e, como ele, integrante da luta armada contra a ditadura militar. Traçando a trajetória de Iara, destaca sua militância estudantil na USP e participação em diversa organizações de esquerda, sua estada no Vale da Ribeira, quando conhece Carlos Lamarca e, por fim, em Salvador onde é vítima de uma cilada dos militares. A nota oficial diz que ela se suicidou com um tiro no peito para não ser presa. Entrevistando vizinhos à época do fato e um perito, o filme procura demonstrar que foi, na verdade, um assassinato. Veja o site do filme aqui. http://embuscadeiara.com.br/filme.html  

- MANHÃ CINZENTA (1969)
Direção - Olney Alberto São Paulo
Em plena vigência do AI-5, o cineasta-militante Olney São Paulo dirigiu esse filme que conta um golpe de estado num país imaginário da América Latina, onde um casal que participa de uma passeata é preso, torturado e interrogado por um robô. O enredo antecipa o aconteceria com o próprio diretor que acabou preso e torturado, morrendo das sequelas da tortura em 1978. A ditadura tirou o filme de circulação, mas uma cópia sobreviveu. Foi a primeira produção brasileira a ganhar o prêmio Obernhausen, na Alemanha Oriental.

- HÉRCULES 56 (2006)
Direção - Silvio Da-Rin
A história do sequestro do embaixador americano no Brasil, Charles Burke Elbrick, em 1969 e sua posterior troca por 15 presos políticos, que são enviados ao México a bordo do avião da FAB, o Hércules 56. Inspirado na obra de Fernando Gabeira, traz o depoimento dos sobreviventes do grupo: Agonalto Pacheco, Flávio Tavares, José Dirceu, José Ibrahim, Maria Augusta Carneiro, Mário Zanconato, Ricardo Vilas Boas, Ricardo Zarattini e Vladimir Palmeira. Em entrevistas individuais, eles falam da situação da época, de sua atuação política, prisão, libertação e exílio. Os já falecidos aparecem em material de arquivo.

- CABRA CEGA (2003)
Direção - Toni Ventura
A história de Tiago (Leonardo Medeiros), Rosa (Débora Duboc) e Pedro (Michel Bercovitch), jovens engajados na luta armada e política contra a ditadura militar e que sonham com uma revolução social no Brasil. Tiago é o comandante de um "grupo de ação" de uma organização de esquerda que, no momento, está debilitada. Rosa é o contato de Tiago com o mundo. Ferido por um tiro, em uma emboscada feita pela polícia, Tiago se esconde na casa de Pedro, um arquiteto simpatizante da causa. Com o passar do tempo, Tiago passa a ficar preocupado com sua segurança e de Rosa, colocando dúvidas em Pedro se ele não seria um traidor.

- BATISMO DE SANGUE (2006)
Direção - Helvécio Ratton
Baseado na obra homônima de Frei Betto conta a resistência dos frades dominicanos Tito (Caio Blat), Betto (Daniel de Oliveira), Oswaldo (Ângelo Antônio), Fernando (Léo Quintão) e Ivo (Odilon Esteves) contra a ditadura militar e seu envolvimento com o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional comandada por Carlos Marighella (Marku Ribas). Sem encostar em armas, os freis organizavam encontros, levavam e traziam recados mas acabam presos e torturados por oficiais que os acusam de traidores da pátria e da igreja.

- NUNCA FOMOS TÃO FELIZES (1984)
Direção - Murilo Salles
Baseado no conto Alguma coisa urgentemente, de João Gilberto Noll. Um rapaz, Gabriel (Roberto Batalin) é retirado de um colégio interno por seu pai, Beto (Cláudio Marzo) e é acomodado num grande apartamento temporariamente. Ele pouco sabe sobre a vida do pai - militante político perseguido pela polícia do regime militar -, e começa a investigar o mistério que o cerca.

- EM TEU NOME (2009)
Direção - Paulo Nascimento
No início dos anos 1970, a América Latina vivia um período dominado pela ditadura militar contestada pela ação armada de grupos políticos de esquerda. No Brasil, Boni (Leonardo Machado), um estudante de engenharia de origem humilde, adere à luta armada. Contudo, carrega dúvidas e medos sobre se este seria realmente o melhor caminho, pois teme pela família, pela namorada e pelo futuro que parece incerto a cada dia. Acaba preso, torturado e banido do país. No exílio no Chile, ao lado da companheira Cecília (Fernanda Moro), passa a compreender a sociedade de outra maneira. Começa a trabalhar e a conviver com o povo chileno, percebendo que para mudar a realidade é preciso primeiro entende-la. Com a queda de Allende, a vida de Boni muda novamente. Veja site do filme aqui.

- ZUZU ANGEL (2006)
Direção - Sérgio Rezende
A história de Zuzu Angel (Patrícia Pillar), uma estilista de sucesso que divulgou a moda brasileira por todo mundo. Em abril de 1971, seu filho Stuart Jones (Daniel de Oliveira), estudante de economia e ativista filiado ao MR-8 foi preso, torturado e assassinado pelos agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (CISA). Zuzu não aceita a resposta das autoridades que consideram Stuart como "desaparecido" político. Move uma guerra pela recuperação do corpo do filho envolvendo os Estados Unidos, país de seu ex-marido e pai de Stuart. Em abril de 1976, ela também foi morta em um acidente de carro forjado pelos militares. Atores do filme “Lamarca” participaram das filmagens fazendo os mesmos personagens: Paulo Betti, como Lamarca, aparece num assalto a banco junto com Stuart. Em outra cena, Nelson Dantas, como pai de Lamarca, é procurado por Zuzu.  

- AÇÃO ENTRE AMIGOS (1998)
Direção - Beto Brant
Lutando contra o regime militar brasileiro, os amigos Miguel (Zécarlos Machado), Paulo (Carlos Meceni), Elói (Cacá Amaral) e Osvaldo (Genésio de Barros) são presos pelas forças de repressão da ditadura em 1971 e torturados durante meses por Correia (Leonardo Vilar), responsável pela morte de Lúcia (Melina Anthis), namorada de Miguel.
Vinte e cinco anos depois, os quatro amigos se reúnem ao tomar conhecimento de que o torturador, ao contrário da versão oficial, está vivo. Decidem então sequestrá-lo e matá-lo. Todavia, ao ser capturado, Correia faz uma revelação surpreendente que muda toda a história.

- QUE BOM TE VER VIVA (1989)
Direção - Lúcia Murat
Ex-presas políticas da ditadura militar brasileira analisam como puderam enfrentar as torturas e prisões, relatando as situações e como sobreviveram à esse período, onde delírios e fantasias são recorrentes. O filme intercala cenas documentais com um monólogo ficcional (interpretado por Irene Ravache), que é um amálgama dos relatos e das memórias dessas corajosas mulheres (inclusive a própria Lúcia Murat, presa e torturada durante este período).

- ARAGUAYA: CONSPIRAÇÃO DO SILENCIO (2004)
Direção - Ronaldo Duque
O exército brasileiro no auge da ideologia da segurança nacional, um partido de esquerda dissidente, militantes aguerridos (a maioria deles ainda jovens e inexperientes), inocentes camponeses e uma região onde a ambição e a miséria disputavam lugar palmo a palmo. É neste cenário que está o Padre Chico (Stephane Brodt), um religioso francês que chegou à região do Araguaia no início dos anos 60. A profunda identidade de Padre Chico com as pessoas da região, associada ao seu sentimento religioso e dúvidas existenciais, fazem com que o religioso presencie os eventos ligados à formação da Guerrilha do Araguaia.

- TATUAGEM (2013)
Direção - Hilton Lacerda
Nordeste, 1978, em plena ditadura militar, um grupo de artistas conhecido como Chão de Estrelas, dirigido por Clécio Wanderley (Irandhiur Santos) apresenta seus espetáculos com muita irreverência, deboche e anarquia. Clécio conhece Fininha, o soldado Arlindo Araújo (Jesuíta Barbosa), um garoto de 18 anos que vive no quartel. Clécio se apaixona pelo recruta e este fica encantado pelo modo de vida dos artistas. A partir daí, dois mundos se chocam: o militar com sua rigidez e atrocidades com o cabaré com sua alegria e homossexualidade. Com locações em Olinda, Recife e Cabo de Santo Agostinho, o filme ganhou vários prêmios em Gramado e Rio de Janeiro.  

- O SOL: CAMINHANDO CONTRA O VENTO (2006)
Direção - Tetê Moraes e Martha Alencar
Documentário sobre a geração-68 contado por meio da história do jornal O Sol, um dos primeiros veículos da imprensa alternativa brasileira, produzido diariamente durante seis meses, na década de 1960. O jornal falava de cultura, política e educação por meio de sátiras e por ele passaram figuras de destaque no cenário cultural da época. Cenas de arquivo e músicas da época procuram reconstituir o espírito da geração-68. O filme conta a participação de personalidades como Ziraldo, Zuenir Ventura, Arnaldo Jabor, Chico Buarque, Caetano Veloso, Carlos Heitor Cony, Fernando Gabeira, Betty Faria, Hugo Carvana entre outros.

- BEYOND CITIZEN KANE (MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE) (1993)
Direção - Simon Hartog
Documentário exibido pelo Channel 4 (emissora pública do Reino Unido) sobre as relações entre a mídia e o poder do Brasil, focando na análise da figura de Roberto Marinho. O título é inspirado no personagem Charles Foster Kane, do clássico Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) de Orson Welles. Segundo o documentário, a Globo empregaria a mesma manipulação grosseira de notícias para influenciar a  opinião pública, como fazia Kane no filme. É mostrado também que a emissora detinha um grande Market Share da propaganda no início dos anos 90, 75% da verba total no país. Embora o documentário tenha sido censurado pela Justiça (a pedido – justamente – de Roberto Marinho e das Organizações Globo), Muito Além do Cidadão Kane pode ser encontrado na internet – fora o fato de que a Rede Record comprou os direitos de transmissão exclusiva (quando a justiça liberar, claro...) por 20 mil dólares do produtor John Ellis.

- VLADO: TRINTA ANOS DEPOIS (2005)
Direção de João Batista de Andrade
Documentário sobre a trajetória do jornalista Vladimir Herzog morto nas dependências do DOI-CODI (órgão da repressão política do regime militar) em 1975. Revela a história do jornalista desde sua infância na Iugoslávia com sua família de origem judaica fugindo da perseguição nazista, sua militância política até os horrores dos porões da ditadura. Traz depoimentos de amigos e colegas: Mino Carta, João Bosco, Fernando Morais, Aldir Blanc e da viúva Clarice Herzog. 

Redemocratização E Atualidade

- AMARELO MANGA (2003)
Direção - Claudio Assis
Lígia (Leona Cavalli) é uma mulher desencantada que trabalha num bar, num subúrbio de Recife e, quando o dia termina, só lhe resta voltar ao seu quarto, em um anexo do bar. Ao mesmo tempo, Kika (Dira Paes), que é muito religiosa, está frequentando um culto enquanto seu marido Wellington (Chico Diaz), que é um açougueiro, elogia as virtudes da sua mulher enquanto usa uma machadinha para fazer seu serviço. Apesar de elogiar a mulher, Wellington tem uma amante (Milena de Queiroz Santos), que quer que ele tome uma decisão.
No Hotel Texas, que também fica na periferia da cidade, trabalha Dunga (Matheus Nachtergaele), um gay que é apaixonado por Wellington. Um hóspede do Hotel Texas, Isaac (Jonas Bloch), sente um grande prazer em atirar em cadáveres, que lhe são fornecidos por Rabecão (Everaldo Pontes), um funcionário do IML. Isaac conhece Lígia no bar e se interessa por ela.

- BICHO DE SETE CABEÇAS (2000)
Direção - Laís Bodanzky)
Uma viagem ao inferno manicomial. Esta é a odisséia vivida por Neto (Rodrigo Santoro), um adolescente de classe média, que vive em busca de emoções e liberdade, que tem suas pequenas rebeldias incompreendidas pelo pai (Othon Bastos). A falta de entendimento entre os dois leva ao emudecimento na relação dentro de casa e o medo de perder o controle do filho vira o amor do avesso. Um dia, o pai encontra um baseado no bolso de seu casaco. O cigarro de maconha é apenas a gota d’água que deflagra a tragédia da família: o pai interna Neto em um manicômio. Uma vez internado, Neto conhece uma realidade completamente absurda, desumana, em que as pessoas são devoradas por um sistema manicomial corrupto e cruel, e é forçado a amadurecer. As transformações por que ele passa transformam sua relação com o pai. A linguagem de documentário utilizada pela diretora empresta ao filme uma forte sensação de realidade, que aumenta ainda mais o impacto das emoções vividas por Neto.

- CARANDIRU (2000)
Direção - Hector Babenco
Baseado no livro Estação Carandiru, de Dráusio Varela, onde ele narra suas experiências com a dura realidade dos presídios brasileiros em um trabalho de prevenção à AIDS realizado na extinta Casa de Detenção de São Paulo, (mais conhecida por Carandiru por se localizar no bairro de mesmo nome na cidade de São Paulo). O cotidiano da Casa de Detenção, sob o olhar de um médico (Luis Carlos Vasconcellos), antes e durante o massacre ocorrido em 2 de outubro de 1992, em que 111 presos foram mortos pela polícia.

(Uma sugestão, dr. Dallagnol: quando for assistir o filme, convide o ilustre desembargador do Tribunal de Justiça de SP, que anulou a condenação de 74 policiais militares que massacraram 111 presos do Carandiru, dizendo que foi "legitima defesa"... Sei... os pobres policiais, mal armados com fuzis, escopetas e metralhadoras, acuados pelos presos fortemente armados de pedras e facões...)

- CENTRAL DO BRASIL (Brasil-França, 1998)
Direção - Walter Salles
Dora (Fernanda Montenegro) é uma mulher que trabalha na estação Central do Brasil escrevendo cartas para pessoas analfabetas; uma de suas clientes, Ana aparece com o filho Josué (Vinícius de Oliveira) pedindo que escrevesse uma carta para o seu marido dizendo que Josué quer visitá-lo um dia. Saindo da estação, Ana morre atropelada por um ônibus e Josué, de apenas 9 anos e sem ter para onde ir, se vê forçado a morar na estação. Com pena do garoto, Dora decide ajudá-lo e levá-lo até seu pai que mora no sertão nordestino. No meio desta viagem pelo Brasil eles encontram obstáculos e descobertas enquanto o filme revela como é a vida de pessoas que migram pelo país na tentativa de conseguir melhor qualidade de vida ou poder reaver seus parentes deixados para trás. (Indicado para o Oscar de 1999: melhor filme estrangeiro e melhor atriz – Fernanda Montenegro)

- CIDADE BAIXA (2005)
Direção - Sérgio Machado
Deco (Lázaro Ramos) e Naldinho (Wagner Moura) se conhecem desde garotos, sendo difícil até mesmo falar em um sem se lembrar do outro. Eles ganham a vida fazendo fretes e aplicando pequenos golpes a bordo do Dany Boy, um barco a vapor que compraram em parceria. Um dia surge Karinna (Alice Braga), uma stripper que deseja arranjar um gringo endinheirado no carnaval de Salvador a quem a dupla dá uma carona. Após descarregarem em Cachoeira, Deco e Naldinho vão até uma rinha de galos. Naldinho aposta o dinheiro ganho com o frete, mas se envolve em confusão e termina recebendo uma facada. Deco defende o amigo e ataca o agressor, mas os dois são obrigados a fugir no barco, pois Naldinho está ferido. Na fuga, Karinne ajuda a dupla e vai com eles rumo a Salvador. Enquanto Naldinho se recupera, Deco tenta conseguir dinheiro para ajudar o amigo. Aos poucos a atração entre eles cresce, criando a possibilidade de que levem uma vida a três.

- CRONICAMENTE INVIÁVEL (2000)
Direção - Sérgio Bianchi
O filme narra trechos das histórias de vida de seis personagens (Alfredo, Amanda, Adam, Carlos, Luis e Maria Alice), mostrando a dificuldade de sobrevivência mental e física em meio ao caos da sociedade brasileira, que atinge a todos independentemente da posição social ou da postura assumida. Estas situações têm como fio condutor um restaurante num bairro rico de São Paulo, que é de propriedade de Luis (Cecil Thiré). Ele é um homem de meia idade, refinado, acostumado com as boas maneiras, mas ao mesmo tempo irônico e pungente. Alfredo (Umberto Magnani) é um escritor que está realizando um estranho passeio pelo país, buscando compreender, a partir de uma visão ácida da realidade, os problemas de dominação e opressão social. Adam (Dan Stulbach), recém chegado do Paraná, é o mais novo garçom do restaurante de Luis, e se destaca dos demais empregados por sua descendência européia, tanto por seu aspecto físico, quanto por sua boa instrução e insubordinação. Maria Alice (Betty Gofman) é uma carioca classe média-alta que está sempre preocupada em manter o mínimo de humanidade na relação com as pessoas de classe mais baixa. É casada com Carlos (Daniel Dantas), um homem com uma visão pragmática da vida, que acredita na racionalidade como forma de tirar proveito da bagunça típica do Brasil. Amanda (Dira Paes), gerente do restaurante de Luis, é uma pessoa cativante, com um passado incerto, encoberto pelas várias histórias que costuma contar para os amigos e os refinados clientes do restaurante.

- PRO DIA NASCER FELIZ (2006
Direção - João Jardim
Filmado em três estados brasileiros, abordando classes sociais distintas, o documentário de longa-metragem de João Jardim é um diário de observação do adolescente brasileiro, com suas angústias e inquietações, e, em especial, a maneira como ele se relaciona com um ambiente fundamental em sua formação (a escola) e onde os professores também expõem seu cotidiano profissional, ajudando a pintar um quadro complexo das desigualdades e da violência no país a partir da realidade escolar.

- QUANTO VALE OU É POR QUILO? (2006)
Direção - Sérgio Bianchi
No século XVII, um capitão do mato captura uma escrava fugitiva, que está grávida e, Após entregá-la ao seu dono, a escrava aborta o filho que espera.
Nos dias atuais, uma ONG implanta o projeto Informática na Periferia em uma comunidade carente. Arminda (Ana Carbatti), que trabalha no projeto, descobre que os computadores comprados foram superfaturados e, por causa disto, precisa agora ser eliminada e Candinho, um jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se matador de aluguel e um dos mais competentes, para conseguir dinheiro para sobreviver.

- ESTAMIRA (2005)
Direção - Marcos Prado
Estamira Gomes de Sousa (Estamira), conhecida por protagonizar documentário homônimo, foi uma senhora que apresentava distúrbios mentais, vivia e trabalhava (à época da produção do filme) no aterro sanitário de Jardim Gramacho, local que recebe os resíduos produzidos na cidade do Rio de Janeiro. Tornou-se famosa pelo seu discurso filosófico, uma mistura de extrema lucidez e loucura, que abrangia temas como: a vida, Deus, o trabalho e reflexões existenciais acerca de si mesma e da sociedade dos homens. "Ela acreditava ter a missão de trazer os princípios éticos básicos para as pessoas que viviam fora do lixo onde ela viveu por 22 anos. Para ela, o verdadeiro lixo são os valores falidos em que vive a sociedade", comentou Marcos Prado, diretor do filme. 

01 outubro, 2016

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (LII)

A carreira e a morte trágica de Domingos Montagner (1962-2016) no rio São Francisco, durante a reta final das gravações de Velho Chico, merecem um post em separado. Ainda vamos falar sobre ele.
Mas hoje, nesta séria série, entre outras coisas, gostaria de convocar os pesquisadores – especialmente psicólogos, psicanalistas e, quem sabe, os mesmos cientistas que descobriram em experiências de laboratório que grande parte dos homofóbicos, na verdade, tem tendências homossexuais reprimidas – para uma pesquisa que deve ser realizada urgentemente, para descobrir por que é que, pouco a pouco, certas pessoas sofrem uma grave deficiência de empatia – a capacidade psicológica de sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela; tentar compreender sentimentos e emoções de outro indivíduo, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo – com o outro ao seu lado.
Não sou cientista, mas já deixo uma sugestão de um nome para esta síndrome ou deficiência grave de empatia: felicianismo, em homenagem a um dos mais ilustres casos clínicos – o sereno e tolerante (só que não) pastor deputado Marco Feliciânus. Qualquer dúvida, basta espiar alguns exemplos de seus surtos de felicianismo (falta de empatia) relatados em sua página na Wikipedia:
Em abril de 2013 foi divulgada na internet uma filmagem de um culto religioso de 2005, mostrando o pastor dizendo que o cantor britânico John Lennon foi castigado e morto por Deus por ter dito em certa ocasião que "Os Beatles são mais populares do que Jesus Cristo". Sobre a morte do cantor, assassinado em 1980 por Mark Chapman, Feliciano disse que se tratou de uma "vingança divina" e que "ninguém afronta Deus e sobrevive para debochar". No mesmo vídeo e ainda sobre o assunto, o pastor diz: "Eu queria estar lá no dia em que descobriram o corpo dele. Ia tirar o pano de cima e dizer: 'me perdoe John, mas esse primeiro tiro é em nome do Pai, esse é em nome do Filho e esse é em nome do Espírito Santo'."

(Nem sempre. Feliciano é um exemplo: toda vez que ele diz "bem feito" a pessoas que morrem, dizendo que é "castigo de Deus", ele debocha claramente do amor aos outros, pregado por este mesmo Jesus Cristo que ele diz representar. E, no entanto, ele está aí, sem nenhuma punição: nem da terra – da justiça – nem dos céus.)

Em outro vídeo, mas no mesmo culto em que menciona John Lennon, o religioso fala sobre o grupo Mamonas Assassinas, dizendo que o vocalista da banda, o cantor Dinho, se "vendeu ao Diabo" por dinheiro. Sobre o acidente aéreo que matou todos os integrantes do grupo em 1996, Feliciano diz: "O avião estava no céu, região do ministro do juízo de Deus, lá na serra da Cantareira. Ao invés de virar para um lado, o manche tocou para o outro. O anjo pôs o dedo no manche, e Deus fulminou aqueles que tentaram colocar palavras torpes na boca das nossas crianças." Hildebrando Alves, o pai de Dinho, disse que iria processar judicialmente o pastor e afirmou: "Ele (Marco Feliciano) é louco. Deus não mata ninguém, Deus é amor. O acidente que aconteceu foi uma fatalidade, eles viajavam muito de avião." Cristiane Parreira Martins, a viúva do piloto do avião, que também é mencionado por Feliciano no vídeo, classificou o discurso do pastor como uma "pregação infeliz e inútil". "Neste momento, eu consigo sentir dó, pena de um comentário que chegou a me perturbar, como perturbou às minhas filhas. Mas a gente tem de ser superior nessa hora. [...] Se Deus, o Deus do Marco, queria tirar esse grupo que cantava músicas ‘inconsequentes’ - sei lá como ele chamou -, o que o meu marido tinha a ver com isso? Ele não cantava, era o piloto, estava trabalhando, com uma filha de 1 ano e uma de 3 anos em casa. A gente tem de acreditar que o mesmo Deus dele não é meu Deus", afirmou a viúva.

Até a trágica morte de Domingos Montagner, afogado no rio São Francisco – cortesia de redemoinhos e fortes correntezas ao qual ele não resistiu, mais descaso da prefeitura de Canindé do São Francisco, que retirou boias, avisos e salva vidas para uma obra e não os recolocou (só fazendo isso após a tragédia) – pensava-se que Marco Feliciânus era o único expoente deste caso clinico. Agora, não mais: outros casos surgiram.
Começou com uma piada muito da sem graça, escrota mesmo, que apareceu (para variar...) no Facebook (e que os leitores estejam livres para vomitar, se assim o desejarem):

Se você acha ruim manga com leite, experimente comer pitanga no rio...

Custei a perceber que a pitanga, no caso, não é a fruta, mas a atriz: Camila Pitanga, par romântico de Montagner em Velho Chico.
Depois apareceram surtos de teoria de conspiração e vingança.
Primeiro, o surto conspiratório:


Pra quem não entendeu o surto conspiratório: Camila Pitanga é filha do ator Antônio Pitanga, casado com a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), e os dois (pai e filha) fizeram parte do grande grupo de artistas contra o golpe travestido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Únicas falhas da teoria conspiratória:

1ª- A troco de quê Camila Pitanga "assassinaria" seu par romântico em Velho Chico - com quem, aliás, se dava muito bem? (Aliás, todos os atores que trabalharam com Domingos Montagner são unânimes em achá-lo de uma simplicidade e simpatia para com os colegas.) Só para sacanear a Globo? Isso não esclareceram.
2ª- De onde surgiu a "informação" de que Camila é "ateia"? Será que ela não é agnóstica, o que é bem diferente? E ainda que fosse ateia: desde quando falta de religião implica em falta de caráter? (Está aí Marco Feliciânus para provar que religião não dá vergonha na cara a ninguém...)

Depois, o surto de vingança:



Por conta disso, o idiota acima recebeu várias mensagens lhe dando broncas e esporros (inclusive deste escriba). Encurralado, respondeu que não tinha a intenção de desejar a morte de ninguém, que só queria "provocar" seus amigos etc., etc. Depois seu perfil sumiu.

Até que (e aí é que evangelicuzinhos como Marco Feliciânus entram na jogada), uma amiga (que não vou identificar, para que doentes não a aporrinhem) postou isso em seu facebook:

Evangélicos dizem que Domingos Montaigner morreu porque não aceitou Jesus.
Indígenas da tribo Fulni-õ dizem que a alma de Domingos está livre e que agora ele é um protetor do rio.
Estou interessadíssima nas mensagens de luz e conforto que estes últimos têm a me oferecer.
Já os outros, na boa, acho que nem Cristo guenta...

Isso mesmo: a teoria do castigo da mente suja de Marco Feliciânus entrou em cena: Montagner morreu porque Deus assim o quis, para castiga-lo.
O problema desta teoria é: qual foi o pecado que Domingos Montagner cometeu para que o "deus dos evangelicuzinhos felicianistas" o castigasse?
Ter um grande talento?
Ter começado sua carreira no circo – arte que alguns puritanos fanáticos, em tempos idos, achavam pecado?
Sério, essa eu ainda não entendi.
O que só dá razão ao sábio pichador que escreveu numa parede:



Ou seja: "cristão" que quer que os outros se f... e ainda bate palmas e pede bis não é cristão nem aqui nem no Monte Calvário: é DOENTE, é um SOCIOPATA SEM EMPATIA COM O SER HUMANO A SEU LADO.
E me dá mais razão ao pedir, exigir, implorar até, que os cientistas entrem em ação para pesquisar uma terapia eficaz para curar o felicianismo. Sem uma terapia, pacientes acometidos desta doença podem não só fazer mal a si mesmos, mas a toda a sociedade – especialmente se se envolverem na atividade política. Está aí a história da Europa entre 1918 e 1945 – especialmente a dos regimes nazifascistas – que não nos deixa mentir.

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Para demonstrar como o sábio pichador tinha razão, olha só a foto abaixo:



Não sei quem foi o "pastor" evangelicuuuzinho que te ensinou isso, menina. Mas você precisa entender uma coisa:

- A Bíblia não constrói pontes e edifícios: quem os planeja e coordena sua construção são arquitetos e engenheiros civis - formados no ensino superior.
- A Bíblia pode até ajudar a curar quem tem muita fé, mas não cura por si só: para isso, são necessários médicos e enfermeiros – formados no ensino superior.
- A Bíblia não ajuda médicos e enfermeiros a curar: para isso, são necessários medicamentos, elaborados por químicos e farmacêuticos – formados no ensino superior.
- A Bíblia pode educar (ou não) pessoas para que sejam mais cristãs, mas não as prepara para cursar engenharia, medicina, enfermagem, química ou farmácia: para isso, precisa de professores com licenciatura – formados no ensino superior.

Por isso, minha filha, pegue este cartaz, enrole bem e o introduza no subilatório do "pastor" evangelicuzinho que lhe ensinou esta besteira.
Se quiser, pode usar para isso o bom e velho KY – produto elaborado por químicos formados no ensino superior.
Ou então, se seu "pastor" assim o quiser, pode sugerir a ele para imitar Marlon Brando e Maria Schneider em O último tango em Paris (1972) e utilizar manteiga ou margarina – alimentos preparado a partir do trabalho e cuidado de agrônomos, veterinários e engenheiros de produção de alimentos – igualmente formados no ensino superior.

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Mas voltando á vaca fria.
Sugiro que, a estes novos pesquisadores desta doença chamada felicianismo, poderiam se juntar psicanalistas especializados em tratar as chamadas parafilias e especialistas em chans.
Tio, que trem é esse de parafilia? E que troço é esse de chan?
Calma, amigos leitores, uma coisa de cada vez.
Primeiro, parafilia. Como bem define a Wikipedia (e, no tocante ao assunto desta séria série, há um grifo que é meu):
Parafilia (do grego παρά, para, "fora de",e φιλία, philia, "amor") é um padrão de comportamento sexual no qual, em geral, a fonte predominante de prazer não se encontra na cópula, mas em alguma outra atividade. São considerados também parafilias os padrões de comportamento em que o desvio se dá não no ato, mas no objeto do desejo sexual, ou seja, no tipo de parceiro, como, por exemplo, a efebofilia.
Em determinadas situações, o comportamento sexual parafílico pode ser considerado perversão ou anormalidade.
As parafilias podem ser consideradas inofensivas e, de acordo com algumas teorias psicológicas, são parte integral da psique normal — salvo quando estão dirigidas a um objeto potencialmente perigoso, danoso para o sujeito ou para outros (trazendo prejuízos para a saúde ou segurança, por exemplo), ou quando impedem o funcionamento sexual normal, sendo classificadas como distorções da preferência sexual na CID-10 na classe F65.
As considerações com respeito ao comportamento considerado parafílico dependem em um grau muito elevado das convenções sociais reinantes em um momento e lugar determinados; certas práticas, como a homossexualidade ou até mesmo o sexo oral, o sexo anal e a masturbação foram consideradas parafílicas em seu momento, embora agora sejam consideradas variações normais e aceitáveis do comportamento sexual.
Entretanto, há quem considere que o excesso na masturbação após a adolescência ou o fato de alguém preferir sempre esta prática do que o contato com outro indivíduo venha configurar-se uma parafilia.
Por outro lado, o próprio conceito de parafilia tende a ser revisto já que na atualidade a ciência tem ampliado cada vez mais as variações aceitáveis do comportamento sexual, mas sem que os valores novos tenham aprovado algumas condutas ainda que acompanhadas da cópula vaginal, como é o caso das relações sexuais com crianças.
Sendo assim, é impossível elaborar um catálogo definitivo das parafilias; as definições mais usuais listam comportamentos como o sadismo, o masoquismo, o exibicionismo, o voyeurismo ou o fetichismo.

A lista de parafilias é enorme. Inclui, obviamente, a mais citada pelos pastores evangelicuzinhos fundamentalistas para tentar desmoralizar e criminalizar o povo LGBT: a pedofilia, que até minha sobrinha de dez anos sabe (de ouvir dizer por aí, claro...) que é a atração sexual primária ou exclusiva por crianças de cinco aos 11 anos de idade, mais ou menos.
Tenho de explicar isso porque, os "çábios" (assim mesmo, sr. revisor, obrigado) evangelicuzinhos, do alto de sua "çabedoria" (assim mesmo, sr. revisor, novamente obrigado) misturam a pedofilia com a pederastia (do grego clássico παιδεραστής, composto de πας, "criança", e ράω, "amar") – o relacionamento erótico entre o um homem e um menino – e com a efebofilia (do grego "ephebos" - pessoa jovem pós-pubescente  + "philia" - amor ou amizade) , também chamada de hebefilia (do grego "hebe" - juventude + "philia" - amor ou amizade) – que é a atração sexual de adultos por adolescentes entre 13 a 17 anos. (Aliás, os evangelicuzinhos ainda usam o termo pederasta para designar o homossexual – afinal, a ideia é acusa-los de querer comer meninos. O estranho é que não incluem os adultos que atacam meninas – inclusive adultos que se dizem "pastores evangélicos"... Por que será?)
Mas voltando à pedofilia propriamente dita. Se realmente pesquisassem com honestidade, os evangelicuzinhos descobririam que o verdadeiro de pedófilos e defensores da pedofilia não está entre grupos ou entidades LGBT, mas nos chans.
O que nos leva à sua segunda pergunta: tio, que que é chan?
Wikipedia de novo:
Um imageboard (também conhecido como chan, abreviatura do inglês channel) é um tipo de fórum de discussão que se baseia na postagem de imagens e texto, geralmente de forma anônima, do qual o representante mais conhecido é o americano 4chan. O primeiro imageboard conhecido é o Futaba Channel (2chan), criado em 2001, que foi baseado no textboard 2channel.
A interface dos imageboards é bastante simples, não exigindo cadastro nem mantendo o histórico das discussões por muito tempo. Qualquer pessoa pode fixar uma mensagem, iniciando um tópico de discussão em determinado canal temático. O formato e a dinâmica dos chans favoreceu o surgimento de vários memes da Internet, como é o caso do trollface e do pedobear, bem como a criação do movimento de ativistas hackers "Anonymous", que ficou conhecido por protestar contra a Cientologia em 2008, espalhando-se por diversos países e tendo suas ações originalmente orquestradas através do imageboard 4chan

Resumindo a p... toda: o chan é um fórum da internet anônimo – as pessoas participantes são anônimas.
O problema é que, aqui em Terra Papagalli (certo, não só aqui, mas estamos falando da terrinha), os chans se tornaram um antro de losers.
Do you speak english? No? That's traduction para a inculta e bela: losers = vencidos, derrotados, perdedores.
Se os dois primeiros termos (vencidos, derrotados) realmente representassem o que são os losers , poderíamos pensar que estes seriam os que foram à luta para alguma coisa (assim como o povo do Anonymous, que quase sempre prestam algum serviço à humanidade – tipo aporrinhar o Estado Islâmico e fazer cair as suas páginas onde eles recrutam cretinos...), e perderam uma batalha. Fosse assim, estes losers mereceriam respeito, porque pelos menos tentaram.
Mas os losers a que nos referimos (e que atulham os chans) são os que bem podem ser descritos no último termo: perdedores – no sentido de serem sujeitos solitários, perturbados, sem vida social ou afetiva, quase sempre sem família (ou cuja família não dá a mínima ou não aguenta mais...) que, uma vez nos chans, propagam ideias de ódio (contra negros, mulheres, LGBTs) – ou seja, além de losers, são haters (Donkeys' father, isto é, pai dos burros inglês-português: odiadores, os que odeiam tudo – e todos – o que puderem odiar) – e ideias de jerico – como defender a pedofilia como algo normal e aceitável.
Se minha explicação escrita ficou chata, pula esta explicação e vai direto para um vídeo do canal de Felipe Neto no YouTube – aposto que ele explica melhor do que eu. E, certamente, ele também vai lhe explicar porque cretinos como Mallone Morais existem e só poderiam nascer em chans.

A esta altura, você já entendeu por que o Felipe Neto declarou guerra a tais chans, que geraram o tal do Mallone Morais. Se prefere uma explicação por escrito, senta que lá vem história... ou melhor, lá vem matéria do Blasting News:

Mallonne Morais, que já foi preso por pedofilia, postou um vídeo muito polêmico neste sábado. Ele, que tem um canal no Youtube com dicas sobre games, também usa o local para opinar sobre temas polêmicos. Desta vez, o homem sugere que pais tenham relação sexual com a própria filha.
Na publicação, ele diz que os pais devem estuprar as filhas quando elas voltarem da escola, pois seria deles o direito de iniciar a menina na vida sexual. Em outra publicação, Malonne Morais diz que as autoridades devem entender que o consumo de pornografia infantil não causa mal a ninguém, sugerindo que não seria crime.
Os absurdos postados pelo homem, que saiu da prisão após pagar fiança, não pararam por ai. No site da Revista Forum foi abordado outro vídeo postado por ele. De acordo com a publicação, o pedófilo fez também uma homenagem a um professor norte-americano que abusou das alunas e filmou tudo o que fez. James Bartholomew Huskey foi preso e condenado a 70 anos de cadeira.
Para Mallonne, o pedófilo ter sido preso foi uma injustiça e mais uma vez diz que pais devem estuprar as filhas. Para ele, o estupro realizado pelo pai evitaria que a filha venha a dar para qualquer maconheiro” ou que se torne uma feminista.
Mallonne chega a dizer que homens que se sentem atraídos por crianças são vítimas de preconceito e diz que “infelizmente” a pornografia infantil é ilegal. O homem também conta como descobriu que se sente atraído por crianças sem roupa. Ele contou que percebeu isso ao acompanhar a carreira de MC Melody.
A menina é uma criança, que começou a fazer sucesso após o pai postar vídeos dela na internet com a música “Falem de Mim”. Após divulgar as imagens, MC Belinho foi muito criticado e acabou retirando as postagens.
Mallonne de Morais foi preso por pedofilia no início de 2016. Além de compartilhar, ele tinha pornografia infantil em casa. Ele pagou fiança e segue solto na sociedade, fazendo apologia ao estupro e à pedofilia na internet. Internautas pedem ajuda para que o homem seja denunciado para a polícia.

A convocação de Felipe Neto ganhou um reforço de peso: Maestro Bogs.


Claro, depois dessas os chans citados sumiram da internet por algum tempo (cortesia dos ataques de internautas que atenderam á convocação de Felipe Neto... que agora corre o risco de ameaças e de ser acusado, justamente, de estar envolvido com pedofilia, drogas etc...
Ou de vazar dados do Felipe Neto, sua empresa, seus sócios e familiares... e dos fãs que mais acessaram o site, para em tese, elaborar fraudes fiscais contra o Felipe Neto e seus fãs. Fora as ameaças de morte regulamentares de sempre...)
O aviso foi dado pelo canal do YouTube Deep Web. Talvez isso não dê em nada. Mas não sabemos quem está por trás das telas de computador.
Por isso, hay que vigilar, y siempre. (e mis escusas por mi portunhol...)
Porque, ainda que não se entenda, sempre vão aparecer losers pela internet destilando seu ódio e suas neuroses pela web.
Pior: fica a impressão que a nossa ínclita Polícia Federal, por mais que mantenha um canal para denúncias de crimes na internet, parece que não está nem aí...

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Agora, me desculpem o incômodo, mas (apesar do atraso) precisamos falar sobre a palhaçada da comissão do Ministério da Cultura – é, este MinC do ministro histérico de um governo golpista – encarregada de selecionar o candidato brasileiro para Oscar de melhor filme estrangeiro de 2017.
Ou melhor, quem vai falar MESMO é Celso Sabadin, em texto do seu site Planeta Tela (os grifos e as notas são meus):
Baixada (pelo menos um pouco) a poeira da polêmica sobre a escolha do filme brasileiro que irá nos representar no Oscar 2017, creio ser importante deixar claro que, em toda esta história, o Oscar em si é o que menos importa. Se um dia o Brasil ganhar um Oscar de Filme Estrangeiro, beleza, maravilha, palmas para o vencedor. E se jamais ganhar, não há a menor importância, pois o nosso cinema e a nossa cultura são muito mais importantes para nós que a estatueta daquele homem pelado com uma espada na frente. [1]
A questão não é o prêmio, mas a cadeia de ilegitimidades que ele sinaliza. A partir de um governo ilegítimo empossado por um golpe de estado, um ministro da cultura igualmente ilegítimo, com nenhuma identificação com os meios culturais do país, [2] escolheu um Secretário do Audiovisual, claro, consequentemente ilegítimo, que pode até ser “gente boa”. Mas, que diabos, minha vó também era gente boa, mas jamais teria condições de comandar a Secretaria do Audiovisual. O Secretário, que já foi Secretário do Turismo, Presidente do Sport Club Recife, e cuja atuação na área da cinematografia se restringe a comandar um evento anual na área [3], começou a compor uma comissão de escolha do filme brasileiro concorrente ao Oscar de maneira, igualmente, ilegítima (pelo menos há coerência: é tudo ilegítimo) [4]. Alguns membros escolhidos para esta comissão, ao perceberem o tamanho da encrenca em que estavam começando a se meter, sabiamente se retiraram. Outros, talvez não atentando à gravidade da situação, optaram por permanecer. Alguns filmes previamente concorrentes também notaram o imbróglio e retiraram suas candidaturas.
O resultado não poderia ser diferente: ilegítimo. Não é o caso de defender este ou aquele filme, de atacar outros, nada disso. A grande questão é que estamos enviando para uma premiação internacional um produto audiovisual sem a menor legitimidade do nosso povo, da nossa democracia, da nossa cultura, posto que foi escolhido por uma comissão ilegítima, formada por uma Secretaria ilegítima vinda de um Ministério ilegítimo formado por indicação de um presidente golpista. [5]
Nós, que sempre lutamos contra o filme pirata, temos agora uma Secretaria do Audiovisual pirata, escolhida por um ministério pirata de um governo pirata. Pirata no sentido de ilegal, mesmo. Bucaneiro.
Tudo bem, é só o Oscar. Verdade. Mas é só o Oscar, hoje. Toda este rede de ilegitimidades, com Oscar ou sem, continua comandando diariamente os rumos e as políticas da cultura brasileira, fazendo opções que não têm o aval do voto. [6] Tudo isso é muito grave, com consequências inimagináveis para o futuro do país.
É importante lembrar que a ilegitimidade do golpe de 1964 durou 21 anos, mas atrasou nossa cultura e nossa educação em séculos. Esta é uma característica muito forte da ilegitimidade: o tempo da terra arrasada é muitas vezes maior que o tempo da praga em si. [7]
Se continuarmos apenas a ser indignados virtuais, protegidos pelo conforto dos nossos computadores, sem lutas mais efetivas, teremos de nos esconder envergonhados dos nossos filhos e netos quando, no futuro, eles nos perguntarem o que fizemos para combater tudo isso.

Algumas notas deste que vos fala:
[1] Um amigo meu, cineasta, num ataque de homofobia involuntária explícita, chegou a chamar o Oscar de "bonequinho viado" (SIC)...
[2] E que, pelo visto, faz toda a questão de continuar não representando: em entrevista, Marcelo Calero – diplomata nada diplomático, como mostra a sua histérica reação a pessoas do público que gritaram "Fora Temer" na abertura do Festival de Cinemade Petrópolis – disse que "(...) há um ministro da Cultura que está disposto a dialogar com quem quer que seja para a construção de políticas públicas consistentes. Mas só dialogo com quem quer dialogar.). Ou seja, quaisquer conversa deste MinC ficará restrita a quem quiser puxar o saco do governo golpista...


O faniquito do doutor Calero em Petrópolis.

[4] Entre outras ilegitimidades, a escolha de um crítico chamado Marcos Petrucelli para a comissão de seleção do filme brasileiro para o OscarNada de mais – mesmo o tal Petrucelli sendo um crítico tão profundo como um pires – se ele já não houvesse se manifestado de maneira rude contra Aquarius, por causa do protesto da equipe e elenco em Cannes contra o golpe – o que deixou o processo de seleção do filme para o Oscar com gostinho de "jogo de cartas marcadas.
[5] Nada contra O pequeno segredo (2016), de David Schürmann. Não o vi (até porque até agora, outubro de 2016, ainda não foi lançado nos cinemas brasileiros), e ele pode até ser um bom filme. Mas toda esta lambança da comissão do filme para o Oscar deixa sobre o filme uma aura de desconfiança da legitimidade de sua indicação.
[6] Precisa dizer mais?
[7] E parece que a intenção deste governo golpista é continuar arrasando a terra da cultura e educação. Estão aí a medida provisória do ensino médio – é, aquela mesma que a gente não sabe se vai ou não tirar a obrigatoriedade do ensino de Filosofia, Sociologia, Educação Física e... Artes do ensino médio – e a CPI da Lei Rouanet – é, aquela mesma que convocou até os mortos como Tomie Ohtake para depor  – convocada por aliados de extrema-direita do governo golpista (inclusive Jair Besteiraro, muso desta séria série) não para efetivamente desvendar falhas da legislação, mas para retaliar todos e quaisquer artistas que ousaram se colocar contra o golpe – que não nos deixam mentir.
Precisa mais? Acho que não.

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E agora, a nossa indicação de filme para esta séria série: About Ray (Meu nome é Ray - EUA,2015), de Gaby Delial.Meu nome é Ray gira em torno de três gerações de mulheres de uma família que vive sob um mesmo teto em Nova York... e como elas precisam lidar com uma grande transformação de uma delas que vai afetar a todas. Ray (Elle Fanning) é uma adolescente que decidiu mudar de sexo. Sua mãe solteira, Maggie (Naomi Watts) precisa encontrar o pai biológico de Ray (Tate Donovan) para obter seu consentimento legal para a mudança. Dolly (Susan Sarandon), avó lésbica de Ray, está com dificuldade em aceitar que agora tem um neto. Cada um deles precisa confrontar sua própria identidade, aprender a aceitar a mudança e sua força como família para finalmente encontrar compreensão e harmonia.
Maiores detalhes, assista o filme. Por enquanto, veja o trailer.