Excelentíssimo sr. prefeito da
cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes:
Antes de mais nada, gostaria de cumprimentar sua excelência pelo
lançamento de sua candidatura à reeleição para prefeito do Rio de Janeiro.
Claro, há outros candidatos - o deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL,
reúne os idealistas e inconformistas; e a chapa Rodrigo Maia (DEMO) - Clarissa
Garotinho (PR) dispensa comentários, pelo conjunto da, digamos, obra. Com
opositores assim, parece que sua reeleição está garantida.
Ainda assim, gostaria de
informar a Vossa Excelência que eu tenho uma condição para votar no senhor.
Para reelege-lo, Vossa Excelência
poderia mandar o seguinte ofício ao secretário municipal de Cultura, a qual a
Riofilme é subordinada, com o seguinte texto:
Ofício nº ... – 06/2012
De: EDUARDO PAES, Prefeito do Rio de Janeiro.
Para: EMÍLIO KALIL, Secretário Municipal de Cultura.
Assunto: SÉRGIO SÁ LEITÃO, presidente da Riofilme.
1) Demita-se esse imbecil boquirroto.
2) Substitua-se por alguém que realmente seja do ramo de cinema.
Tá, tá bom, esse é um texto que
eu estou sugerindo para o ofício, não precisa ser assim...
Mas o pedido que lhe faço é
simples: demita Sérgio Sá Leitão, mande-o para casa ou para uma major do cinema americano, onde este
deslumbrado deverá se sentir bem, e nomeie alguém que realmente conheça
produção, distribuição e exibição de cinema em seu lugar.
Não custa nada lembrar a
biografia do dr. Sérgio: jornalista, ex-aspone... ops, ex-assessor de imprensa da
Ancine e, mais tarde, diretor da mesma Ancine, sem ter feito sequer crítica de
cinema, quanto mais uma assistência de produção ou de direção em cinema, nem
que seja para dizer que conhece um pouco de cinema.
E um boquirroto
autoritário – sim, porque só os autoritários não aceitam críticas. Pior: tem a
mania de desqualificar quem o critica.
vamos começar com dois posts do dr. Sérgio Sá Leitão no Facebook
A crítica de cinema do Globo é um PSTU da cultura. Odeia o sucesso.
Detesta a diversão. E usa o jornal para fazer "resistência
cultural"...
Tá, dr.
Paes, com um pouco de Alka-Seltzer, isso até faz parte.
O que não
faz parte é o que ele escreve a seguir:
Diga não aos críticos malcomidos! Veja "E Aí... Comeu?" hoje e
tenha 100 minutos de prazer & reflexão! Isso sim é "resistência
cultural"...
CRÍTICOS MALCOMIDOS!...
Isso é que é resposta de alto nível, não é, dr. Paes?
Pior foram
as explicações, nos posts seguintes:
Detesto explicar
piada... Mas como teve gente que não entendeu... Ou que não quis entender... Ou
que fingiu não entender... Vamos lá:
O filme se chama E
Aí... Comeu?. Ao contrário de boa parte do público, alguns críticos não
gostaram. Por isso usei a expressão malcomidos.
É uma referência ao
título do filme...
(Muuuito "engraçado"!...
Há muito tempo que eu não "ria" tanto, sabe, dr. Paes?)
Lamento q a
carapuça tenha servido. A intenção não era ofender. Pensei q a referência era
óbvia. E q o tom era claramente de humor. Enfim...
De qualquer modo...
Alguns críticos precisam entender a velha máxima dos condomínios. Quem não sabe
brincar... Não desce para o play.
Sábio conselho, não
acha, dr. Eduardo Paes?
Então eu me pergunto:
POR QUE O DR. SÉRGIO SÁ LEITÃO NÃO SEGUE O PRÓPRIO CONSELHO?
Desde que
assumiu a presidência da Riofilme, ele se recusa a ter um bom relacionamento
com a crítica cinematográfica – e, embora não pareça, este relacionamento é
essencial para o seu trabalho (bem como para o trabalho dos dirigentes de uma
das majors estabelecidas no Brasil –
cargo que, no fundo, é almejado pelo dr. Sérgio Sá Leitão...).
E também se
recusa a entender duas coisas.
A primeira:
o compromisso da crítica de cinema não é com as planilhas de custo das
produtoras e distribuidoras: é com o cinema em si. E a tarefa da crítica de
cinema não é dizer mil e uma maravilhas de um filme para vendê-lo, pois isso é
tarefa das assessorias de comunicação e marketing (e se pegar um crítico
fazendo isso, podes crer: ele está na profissão errada – deveria ser assessor
de imprensa, redator de press-releases):
é analisar um filme em seus diferentes aspectos – roteiro, direção, atuação,
fotografia etc. – para ver se, independente do gosto do crítico, ele chega ao
que se propõe.
A segunda: uma vez pronto e lançado, um
filme é como um filho que completou dezoito anos - tem vida própria, e ele deve
se virar sozinho. Claro, os seus "pais" (produtor, diretor e roteirista),
se quiserem, podem defender seu "filho".
Isto, claro, se quiser(em) mesmo defender seu "pimpolho", porque se eu estivesse no lugar do dr. Sérgio Sá Leitão,
não perderia a chance de permanecer calado. Porque, nesse caso, a melhor
defesa é afirmar as qualidades de seu "pimpolho",
não DESQUALIFICAR quem o critica. Porque não adianta nada.
Até porque, quando a crítica
analisou E aí... Comeu?, limitou-se a
falar do filme. Ninguém criticou pessoalmente o diretor Felipe Joffily, nem o dr.
Sérgio Sá Leitão – nem as suas progenitoras.
Essa é a brincadeira da atividade
cinematográfica – brincadeira que o dr. Sérgio Sá Leitão se recusa a saber. E,
mesmo assim, insiste em ficar no playground, como o garoto chato e babaca do
condomínio Cinema Brasileiro Gardens.
A seguir, mais posts "inteligentes"
do dr. Sérgio Sá Leitão:
Curioso. Há gente
que faz da critica o seu ofício... Mas não aceita críticas ao que faz! E o
pior... Não aceita criticas feitas com humor.
E desde
quando chamar os críticos de "malcomidos" é "humor"? Nem o Zorra total, campeão do humor de mau gosto, se atreveria a isso.
Antes que a
corporação faça uma tempestade em copo d'água... 1) Tenho o direito de comentar
críticas que envolvem o meu trabalho.
Claro que
sim. O que não tem direito é de desqualificar quem criticou o seu trabalho como coprodutor - entrando com dinheiro dos meus,
dos seus, dos nossos impostos - e distribuidor do filme.
E... 2) Não tive a
intenção d desrespeitar pessoas específicas. Ou a corporação de críticos. Fiz
apenas um trocadilho com o título do filme.
Mais uma
vez: desde quando chamar os críticos de "malcomidos" é "humor"? Só se for no botequim – aliás,
o mesmo botequim onde se passa o filme. Perto
desta "piada",
a resposta de um amigo meu, famoso pela, digamos, franqueza – a quem mostrei
estes posts do dr. Sérgio Sá Leitão – é um primor de sofisticação: "Alguém
sabe se o dr. Sérgio Sá Leitão é casado? Porque, enquanto ele esculhamba os
críticos, um deles pode estar com a gentil esposa dele..."
(É, eu avisei que ele era de uma franqueza rude...)
Posto isso... A
questão essencial permanece: Pq parte da crítica de cinema sistematicamente
rejeita o cinema brasileiro que busca o sucesso?
Certo, hoje E
aí... Comeu? teve, até agora, um público de 60 mil espectadores (se
levarmos a sério o dr. Sérgio Sá Leitão, pois são informações dele; "graaaaaaande"
público, comparado com os milhões de espectadores de Dona Flor, nos anos 1970, e de Tropa
de elite 2, recentemente).
Mas, e daqui a algum tempo? (Não, não falo em daqui a
alguns anos, e sim em meses.) Se alguém perguntar qual a cena mais engraçada de
E aí... Comeu? a um espectador comum?
Será que ele vai sequer se lembrar do filme? Duvido muito. E isto é chato até
mesmo comercialmente: se um dia quiser relançar o filme daqui a algum tempo,
quem vai se lembrar dele?
Só para lembrar outro filme cujo cenário é um bar, com
temática de costumes: Bar Esperança – O
último que fecha (1983), de Hugo Carvana. Também se passa em torno de um
bar, também fala das confusões amorosas de seus personagens. Mas o roteiro de Hugo Carvana, Denise Bandeira, Marta Alencar, Armando Costa e Euclydes
Marinho é muito melhor do que o de E
aí... Comeu?, posto que não foi escrito nas
coxas.
A RioFilme é um órgão
da prefeitura do Rio. "E aí, comeu?" tem coprodução e codistribuição
da RioFilme. É um filme feito, portanto, com investimentos públicos, o que é
perfeitamente normal. No Brasil, e em praticamente todos os países mundo afora,
o cinema é feito com investimentos públicos. O projeto de "E aí,
comeu?" passou por comissões, apresentou méritos dentro de seu gênero e
por isso foi contemplado pela RioFilme (e também pelo Fundo Setorial do Audiovisual,
cuja gestão é federal).
Mas não é normal
alguém escrever "diga não aos críticos malcomidos". Não é aceitável,
sobretudo para o presidente de um órgão público que lida com cinema. (...)
É muito mais fácil
para quem discorda de uma crítica negativa atacar o autor do texto do que
argumentar. Sempre foi assim, não apenas com críticas de cinema. Quando não se
tem o que dizer, resta desqualificar o interlocutor. Só que, quando o
presidente da RioFilme escreve "diga não aos críticos malcomidos",
ele não está desrespeitando apenas o autor do texto. Também não está fazendo
uma piada com o título do filme como pode parecer.
Ele está desrespeitando seu cargo.
(E, por
tabela, os cargos dos seus superiores diretos, o secretário municipal de Cultura e, acima
deste, o prefeito do Rio de Janeiro – é, é o sr. mesmo, dr. Paes.)
Esperando
pronta resposta, subscrevo-me,
Atenciosamente,
Revista SOMBRAS ELÉTRICAS.
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