A quem interessar possa: hoje, 11 de julho, o Senado brasileiro cassou o mandato do senador pelo estado de Goiás, Demóstenes Torres (Ex-DEM).
Agora, o ínclito ex-senador tem duas opções profissionais.
A primeira, voltar a trabalhar como procurador de justiça do estado de Goiás, função da qual estava licienciado desde 2001. Mas, neste caso, tem uma investigação do Conselho Nacional do Ministério Público pela frente. Afinal, ninguém é amigo de Carlinhos Cachoeira impunemente. (A Veja que o diga...)
Resta-lhe uma segunda opção: ser produtor de audiovisual.
Mas não de qualquer produto audiovisual. Demóstenes Torres deve ser produtor de filmes pronográficos.
Afinal, ele tem notório saber no ramo, como prova este artigo seu para Falha... digo, Folha de S. Paulo, em agosto de 2011 (os grifos são meus):
GOVERNO NO CONTROLE REMOTO
O governo aprovou, com seu habitual excesso de forças, o projeto de lei nº 116, com a intenção aparente de abrir o mercado de TVs por assinatura. Mas o que começou como um agrado às teles terminou com um "Frankenstein" jurídico e doutrinário que, se a presidente Dilma sancionar, o Supremo Tribunal Federal vai ter de impedir.
Constitucionalistas enfileiram agressões, de tolher a liberdade de expressão a invadir a propriedade privada. Ao instituir cotas na programação fechada, o Planalto demonstra o desejo de ter todos os controles, inclusive o remoto.
Reserva, por semana, três horas e meia no horário nobre à produção nacional, metade delas feita pelos considerados independentes, além de canais obrigatórios, mesmo fora do pacote pretendido. No tempo imposto para o "canal de espaço qualificado", a lei diz que não é qualificado o espaço ocupado por política, esportes, jornalismo, religiosos e shows de auditório.
Filmes, só os nacionais não realizados por emissoras. Veta o Brasileirão, aprova as Brasileirinhas. Obriga quem comprar um canal de notícias a seu gosto a levar outro que não pretendeu. Paga pelo que quer, assiste ao que não quer.
Se a emissora infringir as normas, recebe sanções próximas ao chavismo. Quem vai decidir tudo é a Agência Nacional de Cinema, que passa a exercer os três Poderes: Legislativo (vai escrever as regras que os envolvidos terão de cumprir), Judiciário (punir e executar quem desrespeitar suas normas) e Executivo (fiscalizar e administrar, inclusive dinheiro). Para isso, sai do projeto inchada, como se sinecura formasse herói não macunaímico.
Superpoderosa, a Ancine é onipotente na regulação e no fomento, ambos desnecessários -o bom não precisa de reserva de mercado nem de afago de ministério, o ruim deve ficar longe dos dois; sempre há investidor para o que presta, só o erário crê no que não presta. Amplia os comerciais nos canais pagos para 15 minutos por hora, mas somente os anúncios de agências de publicidade brasileiras.
Escândalo à vista: a última vez em que o governo se misturou com empresas do ramo deu no mensalão. Responsável pela doutrinação audiovisual do país, a Ancine chefia um esquema que começa na arrecadação para um fundo que vai financiar produção de fundo de quintal dos colegas.
Numa ponta recolhe, na outra entrega o numerário para espécies de ONGs e Oscips aliadas, o que resultará em filmagens de baixíssimo nível e abrirá a porta para a corrupção, e completa o triângulo empurrando o lixo para a casa do cliente. A desculpa é proteger a cultura nacional, mas o texto se preocupa com capital, não com conteúdo.
Feito por inscritos na Ancine, qualquer produto dispõe de verba e de horário. Mas se a americana MGM oferecer longa 100% nacional, será considerado estrangeiro.
Se o consumidor adquirir a obra da MGM para ver seus astros favoritos, brasileiros, tem de guardar o estômago para as produções aprovadas pelos comissários da Ancine.
Embutido nos carnês da vítima, o dirigismo cultural presente em cada detalhe. Xenofobia e uniformidade cultural compõem a doutrinação que persegue o estudante das aulas à telinha: as cotas valem também para atrações infantojuvenis.
À noite, em vez do seriado hollywoodiano que, repita-se, escolheu e comprou, lhe será oferecido algo bancado pelos filhos do Brasil.
O telespectador é desrespeitado em suas diversas formas de liberdade. Vai pagar em dobro, como cliente da TV e como vítima dos tributos, por atrações que não valem a metade. Se estiver mesmo promovendo faxina ética, a presidente tem o dever de vetar esse conjunto de absurdos.
Artigo publicado na seção Tendências/Debates da Folha de São Paulo.
Vá em paz, Demagogóstenes Torres.
P.S.: Esta sugestão de uma nova atividade profissional ao ínclito ex-senador da República não significa nenhum demérito (nem mesmo moralista) à indústria audiovisual pornô brasileira, a qual não somos contra nem à favor, muito pelo contrário. Se ela existe, é porque há demanda e mercado de trabalho para tal, que é tão merecedor de existir quanto os outros tipos de audiovisual. Até porque não podemos e nem queremos ser fiscais da moralidade, nem no audiovisual, nem no restante da sociedade brasileira (como um ex-colega de partido, o psicopata Cesar Maia, no Rio de Janeiro, no caso A serbian film). Apenas houve o fato de um tartufo citar a indústria audiovisual pornô brasileira como sendo a única indústria audiovisual no Brasil. Enão somos obrigados a engolir falsos moralismos de aprendizes de tartufos dando ordens em nossa vida. Já chega o exemplo de dois "campeões da moralidade" que chegaram à presidência daRepública - um renunciou depois de sete meses de exercício do mandato (e de um porre, segundo desafetos); o outro foi aquelle caçador de maracujás... Lembram-se?
11 julho, 2012
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