Diário do Bolso
(José Roberto Torero)
11 de abril de
2019
Diário, que sonho eu tive hoje! Acho que foi por causa dos cem dias de
governo.
Eu tinha olhos vermelhos, usava a faixa presidencial e estava em cima de
um monte muito alto. Tão alto que eu podia ver todo o Brasil.
Aí, lá de cima eu gritei:
"Foram cem dias de vitória, ha, ha, ha! Cem dias! Logo nos
primeiros liberei as armas. Agora irmão já pode matar irmão, vizinho já pode
matar vizinho, marido já pode matar esposa. E um miliciano pode comprar 4 armas
legalmente."
Então segurei uma das caveiras que estavam ao meu pé, levantei-a e
disse: "Amar. Armar. Armar a alma. Amar a arma!"
Poxa, eu sou poeta quando sonho.
Na sequência o Moro, todo de preto, chegou do meu lado. Ele estava
fumando um cigarro. Botei a mão em sua cabeça e disse: "Graças ao teu
pacote anticrime, doravante bastará um policial dizer que estava sob violenta
emoção e já poderá matar à vontade."
"Bam! Bam! Bam!", ele respondeu fazendo arminhas com as mãos,
antes de se transformar em fumaça.
Depois, olhando para o Brasil, que estava embaixo do monte, eu disse
para mim:
"A morte se espalha pelo país. Em São Paulo a polícia matou 64
pessoas só em março. No Rio meteram 80 tiros num músico. Mas não é só Rio e São
Paulo. A crueldade se alastra como fogo em mato seco. Parabéns a Ponta Grossa,
Curitiba, Recife, Arapiraca, Santo André, Três Lagoas e Águas Lindas de Goiás.
Nestas cidades botaram fogo em mendigos. É o meu jeito de acabar com a pobreza,
ha, ha, ha!"
Aí meus três garotos, montados em cavalos voadores, pousaram ao meu
lado. Um cavalo vazio se aproximou de mim e eu subi nele. Lá de cima, eu disse:
"Começamos bem, meninos. Já conseguimos guerra e morte. Nos
próximos 1360 dias temos mais o que fazer. Temos que causar a fome e a peste."
O Paulo Guedes se aproximou, usando terno e um broche em forma de
tridente, e disse:
"Conte com a minha Reforma da Previdência, mestre".
"Conte com a minha Reforma da Previdência, mestre".
Então eu e os meninos saímos voando. Nossos cavalos galopavam pelo ar e
nossas sombras cobriam o país inteiro. As ruas estavam vazias, sem ninguém
protestando. Todos sentiam medo e olhavam apenas pelas frestas da janela.
Meu Deus, que sonho lindo, Diarinho!
*********
A penúltima do Coiso:
vetou um comercial do Banco do Brasil que exaltava jovens e minorias. E o diretor de Comunicação e
Marketing do BB, Delano Valentim, responsável pela peça, perdeu o cargo.
Qual filme foi proibido?
O filme chamado Selfie, onde os modelos protagonistas são jovens de todos os tipos
e minorias, chamando à diversidade.
Esse filme abaixo:
Ué... Por que o BB fez um filmete de
propaganda assim?
Com a palavra, Gustavo Gindre, em seu Facebook:
O curioso é que a campanha censurada do BB fazia parte não
de uma estratégia de "marxismo cultural" (sic), mas de marketing.
O Banco do Brasil, como todos os bancos grandes, está
preocupado com o crescimento das fintechs entre o público mais jovem.
Então, essa peça publicitária fazia parte de uma estratégia
de rejuvenescimento da marca do BB.
Bolsonaro viu ideologia onde tinha mercado.
Mais uma vez, Bolsonaro remou
contra o discurso liberal e interferiu em decisões das estatais brasileiras ao
vetar uma propaganda do banco que trazia imagens de jovens negros, descolados,
com cabelos longos e utilizando piercings. O texto do anúncio trazia expressões
como “faz carão” e “cara de diva irritada”, que não agradaram ao presidente.
Com a palavra, o Coiso:
"A linha mudou. A massa quer o quê? Respeito à família,
ninguém quer perseguir minoria nenhuma. Nós não queremos que dinheiro público
seja usado dessa maneira."
Peraí... qual família se sentiu desrespeitada pela
propaganda do BB?
Simples: a família do Coiso – por racista, misógina
e homofóbica, não suportou ver justamente as pessoas que odeiam representadas numa
publicidade simples. Ah, sim: e possivelmente, as de seus fanáticos (e
descerebrados) seguidores.
("Ninguém quer perseguir minoria nenhuma"? Imagine se quisesse...)
A partir de agora (segundo os memes que não
perdoam...), propaganda das estatais "para as famílias", de acordo
com o Coiso, tem de ser assim:
*********
Paris, verão de 1979. Anne Parèze (Vanessa Paradis) produz filmes pornôs gays de segunda categoria (não por acaso, os favoritos do Coiso para tuitadas mentirosas – remember aquele vídeo de uma suposta cena de rua do carnaval de 2019 – que na verdade era um vídeo pornô – que já comentei nesta séria série). Depois de ser abandonada por Lois (Kate Moran), sua montadora e amante, ela tenta reconquistá-la filmando sua produção mais ambiciosa, ao lado de seu ardente parceiro Archibald. Mas um de seus atores é assassinado e Anne se vê tomada por uma estranha investigação que irá colocar sua vida de cabeça para baixo. Selecionado para a Competição Oficial do Festival de Cannes 2018.
Vejam o trailer e até lá.
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