Saiu, para variar no facebook, de amigos sérios, e eu não resisti à tentação de colocar aqui.
Diálogo:
- Você aprendeu na escola sobre respeitar os índios?
- Sim!
- Virou índio?
- Não.
- Então, por que diabos acha que ensinar seu filho a respeitar os homossexuais o fará se tornar um?
Pano rápido (para quem se sentiu incomodado, claro...)
Pois é.
****************************************
Dito isto, voltemos ao que nos interessa nesta séria série: o filme de hoje. E este filme, confesso, pode decepcioná-los, como me decepcionou um pouco.
O filme é Assunto de meninas (Lost and delirious - Canadá, 2002).
O motivo?
Transcrevo aqui trecho de crítica de Cleber Eduardo na época, publicada na revista eletrônica de cinema Contracampo:
Há filmes com homossexuais e há filmes sobre homossexuais. No primeiro caso, a homossexualidade, em geral, define os personagens. Eles não existem para além de suas opções na cama. Na segunda linhagem, a opção sexual, também em linha geral, é seu inferno. Eles não existem para além do sofrimento de serem diferentes. Assunto de Meninas é do segundo time, mas, ao contrário do redutor título em português, não faz a linha "resistência militante". Ao contrário do que imagina o distribuidor, e em linha oposta às conclusões de alguns resenhistas, que direcionam a história a um gueto de jovens lésbicas da classe média alinhadas à cena cultural de suas cidades, o resultado é dirigido a quem não bate cartão no MIX Brasil e não conhece a cartilha do planeta GLS.
E este é o problema deste filme. Justamente por esta ânsia de tentar dialogar com um público hetero e, digamos, desinformado sobre o povo LGBTS, acaba não dizendo o que interessa: o povo LGBTS é um povo que ama pessoas de seu próprio sexo; de resto, são pessoas como eu, você e a torcida de seu time favorito. (E se este for o seu caso - hetero e desinformado - por favor, esqueça que o povo LGBTS é só aquela caricatura afeminada que você vê na TV, em novelas e programas de humor.) Ao contrário, reforça diversos mitos errôneos sobre a relação amorosa entre pessoas do mesmo sexo - que é uma relação desequilibrada, emocionamente instável, que nunca dará certo.
Senão vejamos. A não-personagem Mary "Mouse" Bedford (Mischa Barton, das séries Once and again e O.C. - Um Estranho no Paraíso - onde, por acaso, suas personagens viveram romances lésbicos), mandada pelo pai e por sua nova esposa para este colégio interno onde se passa a trama - mais para se livrar de um incômodo (ela) do que para o seu próprio bem - vira uma testemunha quase muda, ou quase calada, do romance entre Pauline "Paulie" Oster (Piper Perabo) e Victoria "Tori" Moller (Jessica Paré) - mais especificamente, de seu auge e do seu fim abrupto, quando "Tori" resolve romper o romance com "Paulie" para que seus pais não saibam; já basta ser descoberta na cama com "Paulie" pela irmã caçula malinha, Allison (Emily VanCamp, da série Everwood). E "Paulie", simplesmente, enlouquece.
Como assim, enlouquece? Mais um trecho da crítica de Cleber Eduardo:
A postura da menor abandonada poderia ser transformada em um libelo em favor da liberdade de escolha. Não é. Ela não admite ceder às convenções apenas porque é do contra. Mergulha nas dores da rejeição apenas porque é deprimida. Cuida de um gavião ferido apenas porque é tantã. Desafia o namorado da amada apenas porque tem um lado macho. O mundo não se torna inabitável para ela por conta da mente curta das pessoas ao seu redor ou da falta de coragem de sua ex-parceira, mas porque ela tem problemas para aceitar as concessões necessárias em uma vida em grupo. A mocinha é tratada como uma louca clínica, como uma desequilibrada psicológica, como uma pedra no sapato da civilização, não como uma romântica alérgica à hipocrisia. Ela só age como age, segundo se constata, porque não teve mãe. Ah, tá!
Ou, pelo menos, a cineasta suíça Léa Pool deve achar que isso - o desequilíbrio emocional - sempre acontece com os (as) adolescentes. Mais um trecho da crítica de Cleber Eduardo:
Na edição de 2001 do Sundance, Assunto de Meninas, adaptado do romance The Wives of Bath, de Susan Swan, foi recebido com confetes. Talvez porque seu tema esteja na moda, embora, nessa onda, Amigas de Colégio, de Lukas Moodison, seja mais libertário e melhor. Talvez porque sua diretora, Léa Pool, suíça radicada no Canadá, esteja construindo uma grife, ainda a ser analisada, como cronista de tipos carentes. Seu título de maior projeção internacional, Emporte Moi (1999), prêmio ecumênico em Berlim, também tratava de efeitos do esfacelamento familiar. Era a história de uma adolescente dos anos 60, afetada pela ausência dos pais, que se identificava com Nana, a prostituta interpretada por Anna Karina em Viver a Vida, de Jean-Luc Godard. Presume-se que, para Lea Pool, adolescência é o cão. Um cão que ladre, morde e tem raiva. Sem dar chances de fazer suas personagens olhar para a frente.
Certo. Então, se eu acho que Assunto de meninas não é essa coca-cola toda, por que diabos eu o estou indicando nesta séria série?
Primeiro, porque mostra o que não se deve fazer para abordar o tema das relações amorosas entre pessoas do mesmo sexo, especialmente na adolescência. Segundo: apesar dos equívocos, o roteiro é razoavelmente bem amarrado, e seu elenco - especialmente o feminino - estava bem afiado.O elenco, aliás nos leva ao terceiro item. Na verdade, uma atriz do elenco: Piper Perabo - sim, a intérprete da "louca" Paulie. Legítimo produto da mistura de mãe norueguesa e pai português, Piper dá a sua personagem uma alma, complexidade e credibilidade mais forte, subvertendo o clichê.
Na verdade, Piper Perabo ainda será uma das grandes atrizes de sua geração, dado o seu enorme talento. Basta mudar de agente - de preferência, um que lhe consiga papéis melhores em filmes melhores. Do contrário, sua interpretação em Assunto de meninas continuará sendo o ponto alto de sua carreira no cinema.
Veja o trailer de Assunto de meninas, e tire suas conclusões.
Veja também dois trailers (1 e 2) do atual trabalho de Piper Perabo: ela é protagonista da série de TV Covert Affairs. Já imaginou a "louca" de Assunto de meninas como... agente da CIA? Pois é...
25 agosto, 2011
20 agosto, 2011
COMO DIRIA DIDI MOCÓ... (ou: NOVOS AUTORES NA TELEDRAMATURGIA BRASILEIRA - CADÊ?)
Sinceridade? Eu não entendo nada de TV. Menos ainda de gestão da TV brasileira.
Saiu no blog TV Mix (http://audienciadatvmix.wordpress.com/2011/08/17/rede-globo-contrata-escritor-de-novelas-de-portugal/):
A Rede Globo está investindo em novos autores e contratou Rui Vilhena para seu time de novelistas. O profissional é amigo de Aguinaldo Silva e se muda para o Brasil no mês de setembro para assumir um contrato de dois anos com a emissora.
Em Portugal, ele trata de temas polêmicos como homossexualidade e preconceito e até choca o público. Recentemente, escreveu para o canal TVI “Tempo de Viver”, “Olhos nos Olhos” e “Sedução”.
A vinda do autor português ao Brasil teve a ajuda de Aguinaldo, que intermediou as negociações com a Globo. “O Aguinaldo é um grande amigo e deu a maior força. Gosto muito dele e tenho a sorte de partilhar com ele a mesma paixão pela escrita”, contou Vilhena ao blog do colunista Daniel Castro.
Já que perguntar não ofende, vamos lá. Mas vamos pela ordem dos tratores, que não altera o viaduto.
Sobre a homossexualidade - temática do ilustre autor português - acho que já estou falando demais na nossa séria série de filmes que alguém a-do-ra-ri-a, pelo menos em cinema. Portanto, fico para falar sobre isso em outra ocasião.
Mas, como diria o grande filósofo cearense Didi Mocó Sonrisépio Novalgina Mufumo, estou cafuso, cafuso...
Se a ideia é buscar novos autores de teledramaturgia para a nossa ilustre TV brasileira, será que não temos gente aqui nesta Ilha de Vera Cruz capacitada e merecedora de uma chance? Ainda mais com a aprovação da PLC 116, que abre espaço para a produção independente na TV brasileira - inclusive teledramaturgia.
Ou, como comentou, com justa razão, um certo aspirante a roteirista, cujo nome não vou dizer:
Uso a analogia de um colega: se somos o país do futebol, por que buscar jogadores em outros países? Se somos o país das telenovelas, por que buscar autores fora? Não seria mais fácil e mais barato dar oportunidades aos que são daqui?
Quantos colaboradores passam décadas na Globo sem nunca ter a oportunidade de apresentar um projeto solo? E quando apresentam, são sempre preteridos em favor de alguém mais tarimbado? Não são poucos...
Quantos precisam sair de lá para ter oportunidade e reconhecimento em outros canais?
Gente, temos um enorme celeiro de talentos aqui em Terra Papagalli. E estes talentos são simplesmente ignorados e abandonados à própria sorte pelas emissoras de TV brasileiras. Pombas, o próprio Aguinaldo Silva não teria acesso à TV se, a certa altura dos anos 1980, a própria Globo não procurasse novos autores para a sua teledramaturgia (relembrando: Carga pesada, Malu mulher, Plantão de polícia).
Pior: a própria criatividade brasileira está sendo esnobada pela TV brasileira.
Pelo menos na TV aberta, é um tal de emissoras anunciarem de boca cheia que compraram esse ou aquele formato de programa de sucesso na TV americana, argentina, europeia etc. A Globo tem a sua associação com a holandesa Endemol, e dela compra formatos de programas, inclusive o famigerado Big Brother. A Band compra todos os tipos de formato da Eyeworks/Cuatro Cabezas, da Argentina (da Argentina! aqui do nosso lado...), inclusive o famigerado PQP... digo, CQC. A Record compra formatos de programas da Freemantle, inclusive Ídolos e A fazenda. Imagine na TV paga, se não fosse a aprovação do PLC 116...
Será que nós, roteiristas e produtores brasileiros, não somos capazes de criar novos programas para a nossa própria TV?
Decididamente, não entendo nada mesmo de gestão da TV brasileira. Vai ver porque eu não sou como a maioria dos executivos da TV - um Homer Simpson, que não só acha que eu, você e todos os telespectadores também são Homer Simpsons, como acha que devemos ser tratados como Homer Simpsons - isto é, como um bando de idiotas.
No mais, boa sorte ao sr. Rui Vilhena. Mas, schifazfavoire, respeite a criatividade brasileira, sim?
Saiu no blog TV Mix (http://audienciadatvmix.wordpress.com/2011/08/17/rede-globo-contrata-escritor-de-novelas-de-portugal/):
A Rede Globo está investindo em novos autores e contratou Rui Vilhena para seu time de novelistas. O profissional é amigo de Aguinaldo Silva e se muda para o Brasil no mês de setembro para assumir um contrato de dois anos com a emissora.
Em Portugal, ele trata de temas polêmicos como homossexualidade e preconceito e até choca o público. Recentemente, escreveu para o canal TVI “Tempo de Viver”, “Olhos nos Olhos” e “Sedução”.
A vinda do autor português ao Brasil teve a ajuda de Aguinaldo, que intermediou as negociações com a Globo. “O Aguinaldo é um grande amigo e deu a maior força. Gosto muito dele e tenho a sorte de partilhar com ele a mesma paixão pela escrita”, contou Vilhena ao blog do colunista Daniel Castro.
Já que perguntar não ofende, vamos lá. Mas vamos pela ordem dos tratores, que não altera o viaduto.
Sobre a homossexualidade - temática do ilustre autor português - acho que já estou falando demais na nossa séria série de filmes que alguém a-do-ra-ri-a, pelo menos em cinema. Portanto, fico para falar sobre isso em outra ocasião.
Mas, como diria o grande filósofo cearense Didi Mocó Sonrisépio Novalgina Mufumo, estou cafuso, cafuso...
Se a ideia é buscar novos autores de teledramaturgia para a nossa ilustre TV brasileira, será que não temos gente aqui nesta Ilha de Vera Cruz capacitada e merecedora de uma chance? Ainda mais com a aprovação da PLC 116, que abre espaço para a produção independente na TV brasileira - inclusive teledramaturgia.
Ou, como comentou, com justa razão, um certo aspirante a roteirista, cujo nome não vou dizer:
Uso a analogia de um colega: se somos o país do futebol, por que buscar jogadores em outros países? Se somos o país das telenovelas, por que buscar autores fora? Não seria mais fácil e mais barato dar oportunidades aos que são daqui?
Quantos colaboradores passam décadas na Globo sem nunca ter a oportunidade de apresentar um projeto solo? E quando apresentam, são sempre preteridos em favor de alguém mais tarimbado? Não são poucos...
Quantos precisam sair de lá para ter oportunidade e reconhecimento em outros canais?
Gente, temos um enorme celeiro de talentos aqui em Terra Papagalli. E estes talentos são simplesmente ignorados e abandonados à própria sorte pelas emissoras de TV brasileiras. Pombas, o próprio Aguinaldo Silva não teria acesso à TV se, a certa altura dos anos 1980, a própria Globo não procurasse novos autores para a sua teledramaturgia (relembrando: Carga pesada, Malu mulher, Plantão de polícia).
Pior: a própria criatividade brasileira está sendo esnobada pela TV brasileira.
Pelo menos na TV aberta, é um tal de emissoras anunciarem de boca cheia que compraram esse ou aquele formato de programa de sucesso na TV americana, argentina, europeia etc. A Globo tem a sua associação com a holandesa Endemol, e dela compra formatos de programas, inclusive o famigerado Big Brother. A Band compra todos os tipos de formato da Eyeworks/Cuatro Cabezas, da Argentina (da Argentina! aqui do nosso lado...), inclusive o famigerado PQP... digo, CQC. A Record compra formatos de programas da Freemantle, inclusive Ídolos e A fazenda. Imagine na TV paga, se não fosse a aprovação do PLC 116...
Será que nós, roteiristas e produtores brasileiros, não somos capazes de criar novos programas para a nossa própria TV?
Decididamente, não entendo nada mesmo de gestão da TV brasileira. Vai ver porque eu não sou como a maioria dos executivos da TV - um Homer Simpson, que não só acha que eu, você e todos os telespectadores também são Homer Simpsons, como acha que devemos ser tratados como Homer Simpsons - isto é, como um bando de idiotas.
No mais, boa sorte ao sr. Rui Vilhena. Mas, schifazfavoire, respeite a criatividade brasileira, sim?
COMBATER O BOM COMBATE - INTERLÚDIO
Exmos. Srs. senadores Demóstenes Torres (DEMO-GO) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP):
Se os srs. quiserem fazer um bem à televisão brasileira (e ainda - quem sabe - ganhar votos em futuras eleições...), esqueçam o PLC 116 e se movimentem a respeito do assunto abaixo, encaminhado à presidente da República:
Carta aberta à Presidenta Dilma Rousseff
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2011
Exma. Sra. Presidenta Dilma Rousseff
Nós, ex-funcionários da extinta Rede Manchete de Televisão, vimos pedir vossa ajuda na luta pelos direitos de nossos companheiros, que há mais de dez anos tentam na Justiça receber o que lhes é devido pela TV Ômega, sucessora da TV Manchete. Esclarecemos que, em maio de 1999, quando as concessões públicas da extinta TV Manchete foram transferidas, ou melhor - vendidas, para a TV Ômega, foi firmado um compromisso perante o Ministério das Comunicações e o Congresso Nacional, determinando que a TV Ômega assumia a obrigação de pagar todos os direitos dos funcionários da extinta TV Manchete. Essa cláusula do contrato não foi cumprida pela TV Ômega. Muitos dos antigos funcionários não receberam até hoje direitos básicos como salários atrasados, aviso prévio, férias, horas extras, 13º salário e FGTS. Para não pagar o que deve, a TV Ômega usa de artifícios jurídicos, ou recorrendo sempre a instâncias superiores ou questionando a validade do que foi acordado quando comprou as concessões. Isso deixou os funcionários em péssimas condições, sem dinheiro e sem trabalho. Alguns deles, sra. Presidenta, morreram sem receber o que lhes era devido, mesmo tendo os seus direitos reconhecidos pela Justiça do Trabalho. Outros foram obrigados a mudar de profissão, já que a RedeTV!, nome de fantasia da TV Ômega, também não aproveitou todos os funcionários. Os que haviam entrado na Justiça foram impedidos de trabalhar na nova empresa.
Demonstrando total desprezo pela lei, a TV Ômega transferiu a "cabeça de rede" para São Paulo e vende horários da programação para igrejas, reduzindo o mercado de trabalho dos profissionais de televisão. A RedeTV!, sra. Presidenta, vende 46 horas por semana, o que equivale a 27% de
sua programação total.
Como se não bastasse, agora surge uma nova ameaça: circulam nas redações do Rio de Janeiro insistentes rumores sobre uma possível venda da RedeTV!.
Conhecendo, como conhecemos, o desprezo dos donos da TV Ômega pela lei, não vemos outra saída a não ser apelar à senhora.
Lembramos, Presidenta, que a outorga da RedeTV! vence no 20 de agosto! E que, além das dívidas trabalhistas, a TV Ômega também tem dívidas milionárias com a União!
Sendo as televisões uma concessão do Governo Federal, acreditamos que apenas a senhora, Presidenta Dilma, pode fazer alguma coisa em nosso favor. E confiamos que a senhora não faltará com seu apoio ao cumprimento da lei.
Atenciosamente, Ex-funcionários da TV Manchete
Ah, em tempo. Exma. sra. presidenta Dilma Rousseff, não precisa esperar que os ínclitos senadores da oposição - estes mesmos que chamam a programação independente da TV brasileira de "lixo" - se movimentem. Até porque, por ter a caneta na mão, a sra. pode se mexer mais rápido.
Atenciosamente...
Se os srs. quiserem fazer um bem à televisão brasileira (e ainda - quem sabe - ganhar votos em futuras eleições...), esqueçam o PLC 116 e se movimentem a respeito do assunto abaixo, encaminhado à presidente da República:
Carta aberta à Presidenta Dilma Rousseff
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2011
Exma. Sra. Presidenta Dilma Rousseff
Nós, ex-funcionários da extinta Rede Manchete de Televisão, vimos pedir vossa ajuda na luta pelos direitos de nossos companheiros, que há mais de dez anos tentam na Justiça receber o que lhes é devido pela TV Ômega, sucessora da TV Manchete. Esclarecemos que, em maio de 1999, quando as concessões públicas da extinta TV Manchete foram transferidas, ou melhor - vendidas, para a TV Ômega, foi firmado um compromisso perante o Ministério das Comunicações e o Congresso Nacional, determinando que a TV Ômega assumia a obrigação de pagar todos os direitos dos funcionários da extinta TV Manchete. Essa cláusula do contrato não foi cumprida pela TV Ômega. Muitos dos antigos funcionários não receberam até hoje direitos básicos como salários atrasados, aviso prévio, férias, horas extras, 13º salário e FGTS. Para não pagar o que deve, a TV Ômega usa de artifícios jurídicos, ou recorrendo sempre a instâncias superiores ou questionando a validade do que foi acordado quando comprou as concessões. Isso deixou os funcionários em péssimas condições, sem dinheiro e sem trabalho. Alguns deles, sra. Presidenta, morreram sem receber o que lhes era devido, mesmo tendo os seus direitos reconhecidos pela Justiça do Trabalho. Outros foram obrigados a mudar de profissão, já que a RedeTV!, nome de fantasia da TV Ômega, também não aproveitou todos os funcionários. Os que haviam entrado na Justiça foram impedidos de trabalhar na nova empresa.
Demonstrando total desprezo pela lei, a TV Ômega transferiu a "cabeça de rede" para São Paulo e vende horários da programação para igrejas, reduzindo o mercado de trabalho dos profissionais de televisão. A RedeTV!, sra. Presidenta, vende 46 horas por semana, o que equivale a 27% de
sua programação total.
Como se não bastasse, agora surge uma nova ameaça: circulam nas redações do Rio de Janeiro insistentes rumores sobre uma possível venda da RedeTV!.
Conhecendo, como conhecemos, o desprezo dos donos da TV Ômega pela lei, não vemos outra saída a não ser apelar à senhora.
Lembramos, Presidenta, que a outorga da RedeTV! vence no 20 de agosto! E que, além das dívidas trabalhistas, a TV Ômega também tem dívidas milionárias com a União!
Sendo as televisões uma concessão do Governo Federal, acreditamos que apenas a senhora, Presidenta Dilma, pode fazer alguma coisa em nosso favor. E confiamos que a senhora não faltará com seu apoio ao cumprimento da lei.
Atenciosamente, Ex-funcionários da TV Manchete
Ah, em tempo. Exma. sra. presidenta Dilma Rousseff, não precisa esperar que os ínclitos senadores da oposição - estes mesmos que chamam a programação independente da TV brasileira de "lixo" - se movimentem. Até porque, por ter a caneta na mão, a sra. pode se mexer mais rápido.
Atenciosamente...
17 agosto, 2011
COMBATER O BOM COMBATE VII
Podemos rir? Então lá vai a piada (SIC) de hoje.
Pra quem não sabe: o PLC 116 foi aprovado ontem (16 de agosto) no Senado. Pra quem não conhece o PLC 116: entre outras coisas, ele estabelece cotas de programação nacional independente no horário nobre da programação das TVs. (Ver http://www.senado.gov.br/noticias/aprovado-projeto-de-lei-das-tvs-por-assinatura-com-cotas-de-programacao-nacional.aspx) As produtoras independentes brasileiras, penhoradas, agradecem.
Agora, a piada pra valer.
De um post no Facebook de um amigo, cujo nome não revelo (vai que a justiça queira processá-lo só por ter opinião...):
"o energúmeno Demóstenes Torres disse que o PLC 116 institui a censura prévia no Brasil. sim, vcs leram certo. Ele é do DEM, lembram aquele que achava melhor proibir o Serbian Film sem ver?" (Mais aqui em http://www.teletime.com.br/16/08/2011/demostenes-torres-diz-que-levara-o-plc-116-ao-stf-se-aprovado/tt/236838/news.aspx)
Pra quem voltou de Marte ontem, depois de vinte anos de residência no planeta vermelho: o DEM do Rio de Janeiro - com o psicopata Cesar Maia à frente -, sem ver A Serbian Film, entrou na justiça e conseguiu liminar proibindo a exibição do filme no estado. A atitude, como comentei em posts anteriores, gerou rebentos, com promotores e juízes em outros estados se tornando, ao mesmo tempo, críticos e censores de cinema - o lance mais recente foi um juiz federal de Minas Gerais, a pedido de um procurador federal, baixar liminar proibindo a exibição do filme em todo o Brasil.
E agora, vem um ínclito senador do mesmo DEM dizer que uma medida legítima de regulação do mercado televisivo brasileiro é censura. Logo o DEM, não é?
É ou não é para rir?
Para fechar, outro comentário deste amigo:
"É isso, (...): eles não aceitam concorrência no quesito filme de terror."
Pra quem não sabe: o PLC 116 foi aprovado ontem (16 de agosto) no Senado. Pra quem não conhece o PLC 116: entre outras coisas, ele estabelece cotas de programação nacional independente no horário nobre da programação das TVs. (Ver http://www.senado.gov.br/noticias/aprovado-projeto-de-lei-das-tvs-por-assinatura-com-cotas-de-programacao-nacional.aspx) As produtoras independentes brasileiras, penhoradas, agradecem.
Agora, a piada pra valer.
De um post no Facebook de um amigo, cujo nome não revelo (vai que a justiça queira processá-lo só por ter opinião...):
"o energúmeno Demóstenes Torres disse que o PLC 116 institui a censura prévia no Brasil. sim, vcs leram certo. Ele é do DEM, lembram aquele que achava melhor proibir o Serbian Film sem ver?" (Mais aqui em http://www.teletime.com.br/16/08/2011/demostenes-torres-diz-que-levara-o-plc-116-ao-stf-se-aprovado/tt/236838/news.aspx)
Pra quem voltou de Marte ontem, depois de vinte anos de residência no planeta vermelho: o DEM do Rio de Janeiro - com o psicopata Cesar Maia à frente -, sem ver A Serbian Film, entrou na justiça e conseguiu liminar proibindo a exibição do filme no estado. A atitude, como comentei em posts anteriores, gerou rebentos, com promotores e juízes em outros estados se tornando, ao mesmo tempo, críticos e censores de cinema - o lance mais recente foi um juiz federal de Minas Gerais, a pedido de um procurador federal, baixar liminar proibindo a exibição do filme em todo o Brasil.
E agora, vem um ínclito senador do mesmo DEM dizer que uma medida legítima de regulação do mercado televisivo brasileiro é censura. Logo o DEM, não é?
É ou não é para rir?
Para fechar, outro comentário deste amigo:
"É isso, (...): eles não aceitam concorrência no quesito filme de terror."
13 agosto, 2011
DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM... (XVII)
Não devia, mas acho que vou cutucar onça com vara curta. Pelo menos, tenho uma justificativa: alguém no YouTube cutucou primeiro.
Olha o vídeo que achei:
Quer apostar que, se alguém escarafunchar os nossos "fiscais de fiofó" (aka Frente Parlamentar Evangélica - gostei deste apelido para seus "ínclitos" integrantes), vai encontrar mais alguns?
*****************************************
Enquanto eles não saem do armário, vamos à nossa nova indicação para esta séria série: Escape to Life: The Erika and Klaus Mann Story (Alemanha, 2000), de Wieland Speck e Andrea Weiss. Como o nome diz, o filme gira em torno de Erika (1905-1969) e Klaus Mann (1906-1949), os dois filhos mais velhos de Thomas Mann (1875-1955) – sim, ele mesmo, o autor de Os Buddenbrooks (1901), Morte em Veneza (1912 - origem de um dos mais belos filmes de Luchino Visconti), A montanha mágica (1924) e Doutor Fausto (1947 – não confundir com o Faustus, de Goethe, embora a origem – a história do alquimista alemão Johannes Faust – seja quase a mesma).
Na verdade, quase toda a família Mann era um pomar de talentos literários. A começar pelo irmão mais velho de Thomas, Heinrich Mann (1871-1950), autor de Professor Unrath (1905) – pra quem não sabe, o romance que deu origem ao filme O anjo azul (Der Blaue Engel - Alemanha, 1930), de Josef von Sternberg, que lançou Marlene Dietrich para a fama.
E, é claro, os irmãos "gêmeos" Erika e Klaus Mann. As aspas se explicam: embora houvessem nascido com um ano de diferença entre si, os dois eram constantemente apresentados como irmãos gêmeos. E o mais engraçado nesta história: eles se consideravam gêmeos, dividindo sua intimidade que os fortalecia em uma vida extraordinariamente criativa e intelectualmente produtiva - apesar da sombra de seu pai, Prêmio Nobel de Literatura.
Erika era jornalista e, sobretudo, uma mulher de teatro - atriz, produtora e dramaturga. Quem quiser ver como era a atriz Erika Mann, procure a cinemateca mais próxima: ela está no elenco do já clássico Senhoritas de uniforme (Mädchen in Uniform - Alemanha, 1931), de Leontine Sagan. Teve uma companhia de teatro, Die Pfeffermühle, sediada em Munique, especializada em esquetes que foi muito popular - especialmente porque muitos destes esquetes, para variar, ridicularizavam os nazistas.
Klaus também foi ator, integrante da Die Pfeffermühle. Mas ficou célebre (ainda que após sua morte) como escritor - especialmente pelo romance Mephisto (1936), que mais tarde virou filme, que lançou o cineasta húngaro Isztván Szabo e o ator austríaco Klaus Maria Brandauer para o mundo.
Ah, sim: ainda sobre Mephisto, breve seção "revista Muy Amiga". Mephisto baseava na história do ator e diretor Gustav Grundgens (1899-1963), com quem ambos trabalharam em teatro e se envolveram: Erika foi casada com ele por algum tempo; Klaus teve um caso com Gustav.
Ah, sim, de novo: ambos eram homossexuais - uma característica que não agradava muito ao papai Thomas Mann. Talvez porque, de acordo com vários estudiosos - e, de acordo com vários diários do escritor, que só seriam dados a público em 1975 - o próprio Thomas Mann vivia em luta interior com os seus próprios desejos homossexuais, que se tinham tornado evidentes em várias de suas obras.
Ainda assim, Erika e Klaus Mann lutaram a mesma batalha para afirmar sua criatividade, suas individualidades e seus ideais - especialmente o pacifismo - ainda que suas vidas tivessem contradições, agravadas pelo exílio.
Klaus se suicidaria em Cannes, em 1949, com uma overdose de soníferos. Erika morreria na Suíça, em 1969, de um tumor cerebral.
O filme de Wieland Speck e Andrea Weiss é brilhante em abordar as contradições, o brilho e as certezas destes "gêmeos". Veja o trailer.
Olha o vídeo que achei:
Quer apostar que, se alguém escarafunchar os nossos "fiscais de fiofó" (aka Frente Parlamentar Evangélica - gostei deste apelido para seus "ínclitos" integrantes), vai encontrar mais alguns?
*****************************************
Enquanto eles não saem do armário, vamos à nossa nova indicação para esta séria série: Escape to Life: The Erika and Klaus Mann Story (Alemanha, 2000), de Wieland Speck e Andrea Weiss. Como o nome diz, o filme gira em torno de Erika (1905-1969) e Klaus Mann (1906-1949), os dois filhos mais velhos de Thomas Mann (1875-1955) – sim, ele mesmo, o autor de Os Buddenbrooks (1901), Morte em Veneza (1912 - origem de um dos mais belos filmes de Luchino Visconti), A montanha mágica (1924) e Doutor Fausto (1947 – não confundir com o Faustus, de Goethe, embora a origem – a história do alquimista alemão Johannes Faust – seja quase a mesma).
Na verdade, quase toda a família Mann era um pomar de talentos literários. A começar pelo irmão mais velho de Thomas, Heinrich Mann (1871-1950), autor de Professor Unrath (1905) – pra quem não sabe, o romance que deu origem ao filme O anjo azul (Der Blaue Engel - Alemanha, 1930), de Josef von Sternberg, que lançou Marlene Dietrich para a fama.
E, é claro, os irmãos "gêmeos" Erika e Klaus Mann. As aspas se explicam: embora houvessem nascido com um ano de diferença entre si, os dois eram constantemente apresentados como irmãos gêmeos. E o mais engraçado nesta história: eles se consideravam gêmeos, dividindo sua intimidade que os fortalecia em uma vida extraordinariamente criativa e intelectualmente produtiva - apesar da sombra de seu pai, Prêmio Nobel de Literatura.
Erika era jornalista e, sobretudo, uma mulher de teatro - atriz, produtora e dramaturga. Quem quiser ver como era a atriz Erika Mann, procure a cinemateca mais próxima: ela está no elenco do já clássico Senhoritas de uniforme (Mädchen in Uniform - Alemanha, 1931), de Leontine Sagan. Teve uma companhia de teatro, Die Pfeffermühle, sediada em Munique, especializada em esquetes que foi muito popular - especialmente porque muitos destes esquetes, para variar, ridicularizavam os nazistas.
Klaus também foi ator, integrante da Die Pfeffermühle. Mas ficou célebre (ainda que após sua morte) como escritor - especialmente pelo romance Mephisto (1936), que mais tarde virou filme, que lançou o cineasta húngaro Isztván Szabo e o ator austríaco Klaus Maria Brandauer para o mundo.
Ah, sim: ainda sobre Mephisto, breve seção "revista Muy Amiga". Mephisto baseava na história do ator e diretor Gustav Grundgens (1899-1963), com quem ambos trabalharam em teatro e se envolveram: Erika foi casada com ele por algum tempo; Klaus teve um caso com Gustav.
Ah, sim, de novo: ambos eram homossexuais - uma característica que não agradava muito ao papai Thomas Mann. Talvez porque, de acordo com vários estudiosos - e, de acordo com vários diários do escritor, que só seriam dados a público em 1975 - o próprio Thomas Mann vivia em luta interior com os seus próprios desejos homossexuais, que se tinham tornado evidentes em várias de suas obras.
Ainda assim, Erika e Klaus Mann lutaram a mesma batalha para afirmar sua criatividade, suas individualidades e seus ideais - especialmente o pacifismo - ainda que suas vidas tivessem contradições, agravadas pelo exílio.
Klaus se suicidaria em Cannes, em 1949, com uma overdose de soníferos. Erika morreria na Suíça, em 1969, de um tumor cerebral.
O filme de Wieland Speck e Andrea Weiss é brilhante em abordar as contradições, o brilho e as certezas destes "gêmeos". Veja o trailer.
DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM... (XVI)
Da séria subsérie "a falta do que fazer na política municipal é um caso sério 2", dois comentários.
Comentário 1 - Poderia ter posto este vídeo do Youtube e poupado minha incontinência verbal para o assunto de hoje.
O belo tipo faceiro neste vídeo chama-se Izaías Júnior (Twitter: @izaias_junior)
Como ele se apresenta: "Universitário . Hã... .Acho que só."
Se alguém souber mais coisas sobre Izaías Júnior, por favor mandem para este escriba. Gostaria muito de saber sobre este jovem lúcido e seus comentários idem.
Vejam o que ele disse sobre o assunto da semana passada: a aprovação, pela Gaiola de Ouro... ai, estes meus atos falhos... quer dizer, Câmara Municipal de São Paulo, da criação do Dia do Orgulho Hetero - projeto do vereador e evangélico Carlos Apolinário (que, com ideias de jerico destas, só poderia ser do DEMO).
Comentário 2- A falta do que fazer na política municipal é um caso sério. E desta vez é um caso grave.
Em São José dos Campos (SP): cidade-sede de pólos de tecnologia de aviação, como o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e a Embraer - ou seja, uma cidade que poderíamos considerar como moderna - um vereador chamado Cristóvão Gonçalves (PSDB) apresentou o projeto de lei 280/2011.
Diz o moderníssimo projeto:
"Dispõe sobre a proibição de divulgação de qualquer tipo de material, que possa induzir a criança ao homossexualismo (...). Multa de R$ 1000,00 pra quem descumprir a lei."
Ora, tal projeto é ampla, geral e irrestritamente inconstitucional. Não custa nada lembrar o Art. 5º da Constituição Federal e alguns de seus incisos mais importantes:
"Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
(...)
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
Além disso, há a lei estadual nº 10948/01, que proíbe qualquer forma de discriminação em razão de orientação sexual.
Logo, sendo ilegal e inconstitucional, nem sequer iria a plenário, muito menos aprovada, certo?
Errado. O projeto foi ao plenário da Câmara Municipal de São José dos Campos.
Atenção para a lista dos vereadores que votaram A FAVOR deste projeto: Alexandre Da Farmácia, Jairo Santos e Tampão (os três do PR), Cristiano Pinto (PV), Miranda Ueb e Robertinho Da Padaria (do PPS), Renata Paiva e Macedo Bastos (ambos - claro - do DEMO), Dilermando Dié e, é claro, Cristovão Gonçalves (ambos do PSDB)
Ou seja, 11 operosos edis (SIC) votaram a favor deste projeto absurdo. Só 9 vereadores com alguma vergonha na cara (que eu não sei quem são - se alguém aí de São José dos Campos puder me dizer quais foram, eu informarei seus nomes com o maior prazer) votaram contra este absurdo.
(Breve humor, que ninguém é de ferro. Juro que se eu estiver em São José dos Campos, não comprarei pão na padaria de Robertinho da Padaria - o pão deve ser o que o Dito Cujo amassou. Se eu ficar doente, não comprarei remédios na farmácia de Alexandre da Farmácia - vai que misturam veneno ao remédio... Quanto a Tampão... bem, basta dizer que não deixarei nenhuma namorada minha chegar perto...)
Assim como o projeto de lei sobre o Dia do Orgulho Hetero espera a sanção de Gilberto "Camomila" Kassab, o projeto de Cristovão Gonçalves aguarda a sanção do prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB). E, em ambos os casos, todas as pessoas de bem e com vergonha na cara se mobilizam para que ambos vetem estas excrescências.
Por que este projeto 280/2011, de São José dos Campos, é grave?
Deixarei a palavra com os redatores de um blog que adota o singelo nome de (não vale rir, desta vez...) Fiscais de Fiofó S.A. (objetivo deste blog: informar a todos sobre "Projetos de Lei de relevante alcance social propostos pela Frente Parlamentar dos Fiscais do Fiofó Alheio, também conhecida pela singela alcunha de Frente Parlamentar Evangélica."
Dizem os redatores:
Perguntinhas simples:
1- Tá proibido passar Glee em São José dos Campos? Porque ele queria proibir a peça A Loba de Ray-Ban da Cristiane Torloni de se apresentar na cidade.
2- Em que artigo do código penal essa lei se enquadra?
3- Já que tá proibido induzir o homossexualismo (SIC) para ser justo, não deviamos proibir a propaganda do heterossexualismo? ABAIXO conto de fadas nas escolas!
4- A multa vale para ONGs? Escolas? Professores que abordarem o tema na escola serão multados?
5- E a Lei Estadual 10948/01 que garante a livre expressão sexual aos homossexuais, nos mesmos moldes dos heterossexuais? Ele vai ignorar?
Depois me chamam de apocalíptica quando digo que esse país caminha pra uma teocracia. Essa lei CRIMINALIZA a homossexualidade. Ao focar apenas no comportamento homossexual como algo a ser evitado, ela é discriminatória, abusiva e inconstitucional.
E mais adiante:
Estamos caminhando para a criminalização da homossexualidade no Brasil.
Os evangélicos fundamentalistas não querem que a homofobia seja criminalizada.
Querem que seja um direito, não querem que a escola implemente medidas pra evitar o bullying querem obrigar homossexuais à invisibilidade, ou que desapareçam, caso contrário viram alvo.
Não há mais que medirmos palavras quanto a isto há uma guerra "Santa", uma verdadeira perseguição com o intuito de amordaçar gays no Brasil.
Não por acaso, o blog Fiscais do Fiofó termina dizendo: "Este Tumblr é baseado em fatos reais, qualquer semelhança com um Estado Laico terá sido mera coincidência."
****************************************
Tá, o Izaías Júnior já falou em seu vídeo, mas não custa falar: quando se apresenta um projeto de lei criminalizando a homofobia, a ideia também é punir TODOS os tipos de crime. Inclusive o assassinato, e/ou sua incitação ao assassinato. É, isto mesmo, o projeto de lei criminalizando a homofobia, entre outras coisas, defende o 6º Mandamento de Deus: não matarás.
Ou será que o próximo passo destes "ínclitos defensores da moral e da fé" (SIC), será a apresentação de projetos de emenda aos Dez Mandamentos, incluindo o assassinato (ou incitação ao assassinato de homossexuais) como "exceção abençoada"?
Basta lembrar, só para citar um caso recente, o da adolescente Adriele Camacho de Almeida, em Itarumã (GO). Lembram-se? Adriele, 16 anos, namorava a filha de um fazendeiro da região, de 15 anos. Como sói acontecer, a família não aceitava este relacionamento, mas mesmo assim as duas continuaram a namorar às escondidas. O pai chegou a ameaçar Adriele de morte (coisa comum em lugares onde a justiça fica no bolso dos fazendeiros e no cano dos fuzis de jagunços), mas a adolescente nem deu bola. Devia ter levado a sério. No dia 13 de março, Adriele desapareceu. Seu corpo só foi encontrado por volta de 5 de abril. O fazendeiro está preso, e seus outros dois filhos - um de 15, outro de 13 - que participaram do crime (e juram que o pai não participou do crime - fato tão verdadeiro quanto a existência do saci pererê) estão em instituições para menores infratores. Até quando, não se sabe.
Será que é isso que os "ínclitos defensores da moral e da fé" (SIC) desejam - uma licença para matar gays, lésbicas e transexuais livremente - quando bloqueiam o projeto de criminalização da homofobia?
O que nos lembra outro caso, desta vez, dos EUA: Brandon Teena - ou, se preferir, Teena Brandon.
Este nome não lhe é estranho, certo. Sim. Tem a ver com a indicação desta séria série: Meninos não choram (Boys don't cry - EUA, 1999), de Kimberly Peirce - já lançado no Brasil, disponível em DVD, que deu ao par romântico Hillary Swank (Brandon Teena/Teena Brandon) e Chlöe Sevigny (Lana Tisdel) dois Oscars em 2000 - melhor atriz para Hillary, melhor atriz coadjuvante para Chlöe.
A história de Brandon ou Teena é simples.
Nascido em Lincoln (capital do estado do Nebraska), Brandon começou a se identificar do sexo masculino na escola. Sua mãe não aceitava sua identidade masculina e continuou se referindo a ele como "filha". Em 1993, depois de alguns problemas legais, Brandon mudou-se para Falls City, no Condado de Richardson, ainda em Nebraska, onde ele se identificou apenas como um homem. Brandon fez amizade com vários moradores locais - entre eles, os ex-presidiários John Lotter e "Tom" Nissen. Depois de se mudar para a casa de Lisa Lambert, Brandon começou a namorar uma das amigas de Lambert, Lana Tisdel. Tisdel e Lotter tinham sido amigos desde a infância e tinham namorado anos antes.
Os ingredientes para a tragédia estavam à disposição, e começaram a ser misturados em 15 de dezembro de 1993, quando Brandon foi preso por falsificação de cheques. Lana Tisdel pagou a sua fiança e viu que Brandon estava na ala feminina da prisão, quando soube que Brandon tinha genitais femininos. Quando foi questionado, Brandon disse que pretendia fazer uma operação para mudança de sexo.
Tarde demais para as explicações: a polícia divulgou a descoberta no jornalzinho local, o Falls City Journal. Quando a história se espalhou, os amigos Lotter e Nissen deixaram de ser amigos de Brandon: passaram a ser homófobos (e, como a ciência já provou, 90% dos homófobos, na verdade, são homens com tendências homossexuais latentes).
Pior que isso: homófobos que demonstram sua homofobia da maneira habitual - a violência.
No Natal de 1993, Nissen e Lotter agarraram Brandon e o obrigaram a remover as calças, mostrando a Lana que Brandon tinha genitais femininos. Lotter e Nissen, em seguida, atacaram Brandon, e o obrigaram a entrar em um carro. Eles dirigiram para uma área dentro de uma fábrica de embalagens de carne, espancaram e o estupraram. Em seguida, voltaram para a casa de Nissen. Brandon escapou da casa de Nissen escalando a janela e foi até a casa de Tisdel. Ele estava convencido a denunciá-los a polícia, apesar de Nissen e Lotter o terem ameaçado de morte. A polícia, para variar, não acusou ninguém, devido a uma alegada falta de provas.
Pronto, Tom Nissen e John Lotter sentiram-se livres para ir além.
Na noite de 31 de dezembro de 1993, Lotter e Nissen partiram para a casa de Lisa Lambert a procura de Brandon. Eles atiraram em Lisa Lambert e Brandon Teena e os mataram.
Mais tarde, descobriu-se que o xerife do condado, Charles B. Laux, não fez nada para prender Lotter e Nissen. Motivo: Laux era candidato à reeleição ao cargo de xerife (sim, amigos leitores, em diversos lugares dos EUA, diversos cargos do judiciário - juízes, promotores e mesmo chefes de polícia e xerifes - são eleitos pelo voto direto - com tudo o que há de bom e ruim neste processo de escolha) e queria evitar um escândalo na cidade que atrapalhasse a sua reeleição; para tal, abafou o caso e evitou prender os dois.
Laux conseguiu se reeleger xerife em novembro de 1995. Mas depois teve de enfrentar merecidas críticas - não dos habitantes do condado, mas do país inteiro, e pelo óbvio ululante: pela negligência de seu escritório, que não prendeu Lotter e Nissen de imediato. Se tivessem feito isto, Brandon/Teena ainda poderia estar viva.
Se o escritório do xerife Laux não fez nada, o clamor da opinião pública do país inteiro agiu por ele.
Em fevereiro de 1996, Lotter e Nissen foram finalmente julgados. Nissen testemunhou contra Lotter e foi condenado à prisão perpétua. John Lotter foi condenado a pena de morte e atualmente seu caso se encontra em revisão.
Mas Meninos não choram não aborda a batalha judicial e da opinião pública pela condenação dos assassinos. Ele se fixa num espaço de tempo entre a chegada de Brandon a Falls City e seu brutal assassinato. Mais especificamente, na própria figura de Brandon Teena - um amante arrebatador e um forasteiro preso numa armadilha, um "ninguém" empobrecido e um sonhador elaborado, um ladrão audacioso e a vítima trágica de um crime injusto - seu sonho de ser aceito como homem e seu confronto com a mediocridade, expressa em violência, de um lugar rural dos EUA.
Belíssimo filme, que merece ser revisto (o trailer que o diga). E, de preferência, exibido para os "fiscais do fiofó" alheios - quem sabe, eles se mancam.
Comentário 1 - Poderia ter posto este vídeo do Youtube e poupado minha incontinência verbal para o assunto de hoje.
O belo tipo faceiro neste vídeo chama-se Izaías Júnior (Twitter: @izaias_junior)
Como ele se apresenta: "Universitário . Hã... .Acho que só."
Se alguém souber mais coisas sobre Izaías Júnior, por favor mandem para este escriba. Gostaria muito de saber sobre este jovem lúcido e seus comentários idem.
Vejam o que ele disse sobre o assunto da semana passada: a aprovação, pela Gaiola de Ouro... ai, estes meus atos falhos... quer dizer, Câmara Municipal de São Paulo, da criação do Dia do Orgulho Hetero - projeto do vereador e evangélico Carlos Apolinário (que, com ideias de jerico destas, só poderia ser do DEMO).
Comentário 2- A falta do que fazer na política municipal é um caso sério. E desta vez é um caso grave.
Em São José dos Campos (SP): cidade-sede de pólos de tecnologia de aviação, como o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e a Embraer - ou seja, uma cidade que poderíamos considerar como moderna - um vereador chamado Cristóvão Gonçalves (PSDB) apresentou o projeto de lei 280/2011.
Diz o moderníssimo projeto:
"Dispõe sobre a proibição de divulgação de qualquer tipo de material, que possa induzir a criança ao homossexualismo (...). Multa de R$ 1000,00 pra quem descumprir a lei."
Ora, tal projeto é ampla, geral e irrestritamente inconstitucional. Não custa nada lembrar o Art. 5º da Constituição Federal e alguns de seus incisos mais importantes:
"Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
(...)
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
Além disso, há a lei estadual nº 10948/01, que proíbe qualquer forma de discriminação em razão de orientação sexual.
Logo, sendo ilegal e inconstitucional, nem sequer iria a plenário, muito menos aprovada, certo?
Errado. O projeto foi ao plenário da Câmara Municipal de São José dos Campos.
Atenção para a lista dos vereadores que votaram A FAVOR deste projeto: Alexandre Da Farmácia, Jairo Santos e Tampão (os três do PR), Cristiano Pinto (PV), Miranda Ueb e Robertinho Da Padaria (do PPS), Renata Paiva e Macedo Bastos (ambos - claro - do DEMO), Dilermando Dié e, é claro, Cristovão Gonçalves (ambos do PSDB)
Ou seja, 11 operosos edis (SIC) votaram a favor deste projeto absurdo. Só 9 vereadores com alguma vergonha na cara (que eu não sei quem são - se alguém aí de São José dos Campos puder me dizer quais foram, eu informarei seus nomes com o maior prazer) votaram contra este absurdo.
(Breve humor, que ninguém é de ferro. Juro que se eu estiver em São José dos Campos, não comprarei pão na padaria de Robertinho da Padaria - o pão deve ser o que o Dito Cujo amassou. Se eu ficar doente, não comprarei remédios na farmácia de Alexandre da Farmácia - vai que misturam veneno ao remédio... Quanto a Tampão... bem, basta dizer que não deixarei nenhuma namorada minha chegar perto...)
Assim como o projeto de lei sobre o Dia do Orgulho Hetero espera a sanção de Gilberto "Camomila" Kassab, o projeto de Cristovão Gonçalves aguarda a sanção do prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB). E, em ambos os casos, todas as pessoas de bem e com vergonha na cara se mobilizam para que ambos vetem estas excrescências.
Por que este projeto 280/2011, de São José dos Campos, é grave?
Deixarei a palavra com os redatores de um blog que adota o singelo nome de (não vale rir, desta vez...) Fiscais de Fiofó S.A. (objetivo deste blog: informar a todos sobre "Projetos de Lei de relevante alcance social propostos pela Frente Parlamentar dos Fiscais do Fiofó Alheio, também conhecida pela singela alcunha de Frente Parlamentar Evangélica."
Dizem os redatores:
Perguntinhas simples:
1- Tá proibido passar Glee em São José dos Campos? Porque ele queria proibir a peça A Loba de Ray-Ban da Cristiane Torloni de se apresentar na cidade.
2- Em que artigo do código penal essa lei se enquadra?
3- Já que tá proibido induzir o homossexualismo (SIC) para ser justo, não deviamos proibir a propaganda do heterossexualismo? ABAIXO conto de fadas nas escolas!
4- A multa vale para ONGs? Escolas? Professores que abordarem o tema na escola serão multados?
5- E a Lei Estadual 10948/01 que garante a livre expressão sexual aos homossexuais, nos mesmos moldes dos heterossexuais? Ele vai ignorar?
Depois me chamam de apocalíptica quando digo que esse país caminha pra uma teocracia. Essa lei CRIMINALIZA a homossexualidade. Ao focar apenas no comportamento homossexual como algo a ser evitado, ela é discriminatória, abusiva e inconstitucional.
E mais adiante:
Estamos caminhando para a criminalização da homossexualidade no Brasil.
Os evangélicos fundamentalistas não querem que a homofobia seja criminalizada.
Querem que seja um direito, não querem que a escola implemente medidas pra evitar o bullying querem obrigar homossexuais à invisibilidade, ou que desapareçam, caso contrário viram alvo.
Não há mais que medirmos palavras quanto a isto há uma guerra "Santa", uma verdadeira perseguição com o intuito de amordaçar gays no Brasil.
Não por acaso, o blog Fiscais do Fiofó termina dizendo: "Este Tumblr é baseado em fatos reais, qualquer semelhança com um Estado Laico terá sido mera coincidência."
****************************************
Tá, o Izaías Júnior já falou em seu vídeo, mas não custa falar: quando se apresenta um projeto de lei criminalizando a homofobia, a ideia também é punir TODOS os tipos de crime. Inclusive o assassinato, e/ou sua incitação ao assassinato. É, isto mesmo, o projeto de lei criminalizando a homofobia, entre outras coisas, defende o 6º Mandamento de Deus: não matarás.
Ou será que o próximo passo destes "ínclitos defensores da moral e da fé" (SIC), será a apresentação de projetos de emenda aos Dez Mandamentos, incluindo o assassinato (ou incitação ao assassinato de homossexuais) como "exceção abençoada"?
Basta lembrar, só para citar um caso recente, o da adolescente Adriele Camacho de Almeida, em Itarumã (GO). Lembram-se? Adriele, 16 anos, namorava a filha de um fazendeiro da região, de 15 anos. Como sói acontecer, a família não aceitava este relacionamento, mas mesmo assim as duas continuaram a namorar às escondidas. O pai chegou a ameaçar Adriele de morte (coisa comum em lugares onde a justiça fica no bolso dos fazendeiros e no cano dos fuzis de jagunços), mas a adolescente nem deu bola. Devia ter levado a sério. No dia 13 de março, Adriele desapareceu. Seu corpo só foi encontrado por volta de 5 de abril. O fazendeiro está preso, e seus outros dois filhos - um de 15, outro de 13 - que participaram do crime (e juram que o pai não participou do crime - fato tão verdadeiro quanto a existência do saci pererê) estão em instituições para menores infratores. Até quando, não se sabe.
Será que é isso que os "ínclitos defensores da moral e da fé" (SIC) desejam - uma licença para matar gays, lésbicas e transexuais livremente - quando bloqueiam o projeto de criminalização da homofobia?
O que nos lembra outro caso, desta vez, dos EUA: Brandon Teena - ou, se preferir, Teena Brandon.
Este nome não lhe é estranho, certo. Sim. Tem a ver com a indicação desta séria série: Meninos não choram (Boys don't cry - EUA, 1999), de Kimberly Peirce - já lançado no Brasil, disponível em DVD, que deu ao par romântico Hillary Swank (Brandon Teena/Teena Brandon) e Chlöe Sevigny (Lana Tisdel) dois Oscars em 2000 - melhor atriz para Hillary, melhor atriz coadjuvante para Chlöe.
A história de Brandon ou Teena é simples.
Nascido em Lincoln (capital do estado do Nebraska), Brandon começou a se identificar do sexo masculino na escola. Sua mãe não aceitava sua identidade masculina e continuou se referindo a ele como "filha". Em 1993, depois de alguns problemas legais, Brandon mudou-se para Falls City, no Condado de Richardson, ainda em Nebraska, onde ele se identificou apenas como um homem. Brandon fez amizade com vários moradores locais - entre eles, os ex-presidiários John Lotter e "Tom" Nissen. Depois de se mudar para a casa de Lisa Lambert, Brandon começou a namorar uma das amigas de Lambert, Lana Tisdel. Tisdel e Lotter tinham sido amigos desde a infância e tinham namorado anos antes.
Os ingredientes para a tragédia estavam à disposição, e começaram a ser misturados em 15 de dezembro de 1993, quando Brandon foi preso por falsificação de cheques. Lana Tisdel pagou a sua fiança e viu que Brandon estava na ala feminina da prisão, quando soube que Brandon tinha genitais femininos. Quando foi questionado, Brandon disse que pretendia fazer uma operação para mudança de sexo.
Tarde demais para as explicações: a polícia divulgou a descoberta no jornalzinho local, o Falls City Journal. Quando a história se espalhou, os amigos Lotter e Nissen deixaram de ser amigos de Brandon: passaram a ser homófobos (e, como a ciência já provou, 90% dos homófobos, na verdade, são homens com tendências homossexuais latentes).
Pior que isso: homófobos que demonstram sua homofobia da maneira habitual - a violência.
No Natal de 1993, Nissen e Lotter agarraram Brandon e o obrigaram a remover as calças, mostrando a Lana que Brandon tinha genitais femininos. Lotter e Nissen, em seguida, atacaram Brandon, e o obrigaram a entrar em um carro. Eles dirigiram para uma área dentro de uma fábrica de embalagens de carne, espancaram e o estupraram. Em seguida, voltaram para a casa de Nissen. Brandon escapou da casa de Nissen escalando a janela e foi até a casa de Tisdel. Ele estava convencido a denunciá-los a polícia, apesar de Nissen e Lotter o terem ameaçado de morte. A polícia, para variar, não acusou ninguém, devido a uma alegada falta de provas.
Pronto, Tom Nissen e John Lotter sentiram-se livres para ir além.
Na noite de 31 de dezembro de 1993, Lotter e Nissen partiram para a casa de Lisa Lambert a procura de Brandon. Eles atiraram em Lisa Lambert e Brandon Teena e os mataram.
Mais tarde, descobriu-se que o xerife do condado, Charles B. Laux, não fez nada para prender Lotter e Nissen. Motivo: Laux era candidato à reeleição ao cargo de xerife (sim, amigos leitores, em diversos lugares dos EUA, diversos cargos do judiciário - juízes, promotores e mesmo chefes de polícia e xerifes - são eleitos pelo voto direto - com tudo o que há de bom e ruim neste processo de escolha) e queria evitar um escândalo na cidade que atrapalhasse a sua reeleição; para tal, abafou o caso e evitou prender os dois.
Laux conseguiu se reeleger xerife em novembro de 1995. Mas depois teve de enfrentar merecidas críticas - não dos habitantes do condado, mas do país inteiro, e pelo óbvio ululante: pela negligência de seu escritório, que não prendeu Lotter e Nissen de imediato. Se tivessem feito isto, Brandon/Teena ainda poderia estar viva.
Se o escritório do xerife Laux não fez nada, o clamor da opinião pública do país inteiro agiu por ele.
Em fevereiro de 1996, Lotter e Nissen foram finalmente julgados. Nissen testemunhou contra Lotter e foi condenado à prisão perpétua. John Lotter foi condenado a pena de morte e atualmente seu caso se encontra em revisão.
Mas Meninos não choram não aborda a batalha judicial e da opinião pública pela condenação dos assassinos. Ele se fixa num espaço de tempo entre a chegada de Brandon a Falls City e seu brutal assassinato. Mais especificamente, na própria figura de Brandon Teena - um amante arrebatador e um forasteiro preso numa armadilha, um "ninguém" empobrecido e um sonhador elaborado, um ladrão audacioso e a vítima trágica de um crime injusto - seu sonho de ser aceito como homem e seu confronto com a mediocridade, expressa em violência, de um lugar rural dos EUA.
Belíssimo filme, que merece ser revisto (o trailer que o diga). E, de preferência, exibido para os "fiscais do fiofó" alheios - quem sabe, eles se mancam.
11 agosto, 2011
COMBATER O BOM COMBATE VI
Agosto continua abusando do desgosto, e os humanos - especialmente os que pertencem ao judiciário - abusando da burrice autoritária.
Não adiantou nada o Ministério da Justiça fixar, finalmente, a classificação indicativa de A serbian film - e, justamente, a classificação que ele merece: só para maiores de 18 anos. Ínclitos membros do judiciário continuam achando que os maiores de 18 anos devem ser tutelados com base no ECA - ou seja, num estatuto que é para a criança e para o adolescente.
Do Último Segundo (iG - http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/juiz+proibe+exibicao+de+a+serbian+film+em+todo+o+brasil/n1597127143592.html)
Juiz proíbe exibição de 'A Serbian Film' em todo o Brasil
Ação foi pedida pelo Ministério Público Federal de Minas Gerais; longa tinha estreia prevista para 26 de agosto
Denise Motta, iG Minas Gerais - 09/08/2011 19:08
O polêmico filme sérvio “A Serbian Film - Terror sem Limites” está proibido de ser exibido em todo o Brasil por determinação da Justiça Federal em Belo Horizonte. A medida foi anunciada pela assessoria do Ministério Público Federal (MPF) na capital mineira - o MPF mineiro havia proposto a proibição do filme em todo o território brasileiro à Justiça Federal.
Não adiantou nada o Ministério da Justiça fixar, finalmente, a classificação indicativa de A serbian film - e, justamente, a classificação que ele merece: só para maiores de 18 anos. Ínclitos membros do judiciário continuam achando que os maiores de 18 anos devem ser tutelados com base no ECA - ou seja, num estatuto que é para a criança e para o adolescente.
Do Último Segundo (iG - http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/juiz+proibe+exibicao+de+a+serbian+film+em+todo+o+brasil/n1597127143592.html)
Juiz proíbe exibição de 'A Serbian Film' em todo o Brasil
Ação foi pedida pelo Ministério Público Federal de Minas Gerais; longa tinha estreia prevista para 26 de agosto
Denise Motta, iG Minas Gerais - 09/08/2011 19:08
O polêmico filme sérvio “A Serbian Film - Terror sem Limites” está proibido de ser exibido em todo o Brasil por determinação da Justiça Federal em Belo Horizonte. A medida foi anunciada pela assessoria do Ministério Público Federal (MPF) na capital mineira - o MPF mineiro havia proposto a proibição do filme em todo o território brasileiro à Justiça Federal.
(...)
Para o juiz Ricardo Machado Rabelo, da 3ª Vara Federal de Belo Horizonte, a exibição do filme constitui prática, em tese, do crime tipificado no artigo 241-C do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90).
O artigo enquadra como crime passível de detenção de um a quatro anos quem "simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual".
O magistrado alega:
"Tratando-se de um filme que traz consigo a marca da polêmica, já deflagrada inclusive em outros países, sobretudo em razão da alegada cena na qual um recém-nascido é violentado sexualmente, como afirmado na inicial, creio que a decisão da Administração (Ministério da Justiça) de classificar e liberar a exibição do filme, ainda que elegendo um prazo de 30 (trinta) dias para que os órgãos competentes verifiquem a possível ocorrência de crime, subverte a ordem natural e lógica do que é razoável".
Recurso
O distribuidor de "A Serbian Film" no Brasil, Rafaele Petrini, disse ao iG que até a noite desta terça ainda não havia sido comunicado da decisão judicial.
"Com certeza vou entrar com um recurso. Gostaria de saber se o juiz já viu o filme. Geralmente quem está atacando o filme é quem não o viu."
Petrini afirma que negociava a exibição do longa em circuito nacional: “Estava em conversa com 25 salas, em São Paulo, Belo Horizonte, Maceió, Salvador. A partir da próxima semana, iriam começar as pré-estreias”.
Sobre a proibição de "A Serbian Film" em outros países, ele disse: "Não é verdade que foi proibido. Ainda vai ser lançado na França, e na Itália e na Grécia ainda estão em negociação".
Integrante da Associação Mineira de Críticos de Cinema, o jornalista Marcelo Miranda lamentou a proibição da exibição do filme no país. "O vilão nessa história é a Justiça, não o filme."
Marcelo participou de uma exibição do "A Serbian" em Belo Horizonte, no último dia 5, seguido de um debate com outros críticos de Minas Gerais. "Esse assustador resquício de autoritarismo da Justiça brasileira, que me parece uma questão muito mais política do que judicial, é um perigo iminente e presente de que as criações artísticas podem estar sofrendo sério risco no Brasil."
Puxa, meritíssimo, isso é injusto... o senhor, que já viu o filme e chegou a esta conclusão, não pode impedir todos os maiores de 18 anos de assisti-lo e, talvez, chegar á mesma conclusão, certo?
Ah... vossa excelência não viu o filme? Ah, sei... mais um membro da turma do "não vi e não gostei" - ou melhor, um juiz que NÃO VIU A Serbian film, mas DECIDIU PROIBI-LO.
E o Ministério Público Federal, hein? Que decepção...
Quando se trata de investigar possíveis falcatruas, especialmente em projetos culturais, simplesmente encaminha as coisas de modo bu(r)rocrático: recebe os documentos, olha eles de soslaio e pronto, nada de errado e assunto encerrado (não é, dra. Gisele Porto, Procuradora da República no Rio de Janeiro?). E la nave (della corruzione, del furto del denaro pubblico) va.
Agora, para procurar chifre (a "imoralidade", a "incitação à pedofilia" - SIC) em cabeça de cavalo (o cavalo, no caso, é um filme)... nossa, quanta atividade!!! Quanto furor!!!!
Neste furor falso moralista, ainda existem vozes com algum discernimento - especialmente as que foram responsáveis pelo mesmo ECA utilizado para esta tamanha atividade censória.
Do mesmo Último Segundo (iG - http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/proibicao+de+a+serbian+film+e+censura+diz+relatora+do+estatuto+da+crianca/n1597129139782.html):
Proibição de "A Serbian Film" é censura, diz relatora do Estatuto da Criança
Fred Raposo, iG Brasília; Augusto Gomes, iG São Paulo - 10/08/2011 19:00
A ex-deputada Rita Camata (PSDB-ES), relatora do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso classificaram como "censura" a decisão da Justiça mineira de proibir no Brasil a exibição do filme "A Serbian Film – Terror Sem Limites", que tinha estreia prevista para 26 de agosto.
(...)
"A preocupação do estatuto é proteger as crianças. Em nenhum momento prevê censura", afirma a relatora do ECA, cuja aprovação no Congresso completou 21 anos no último dia 13 de julho. Rita Camata ainda afirmou ver abuso de "conveniências" na decisão da Justiça que se baseou no ECA.
Rita Camata exemplifica que o estatuto deve ser aplicado em casos contra crianças em montagens e na internet. "Isso não é para cinema. Nos filmes a intenção é outra", afirma. "Além disso, o filme foi feito fora do Brasil. Não sei nem qual é o poder legal para cercear a criação de outro país".
Questionada se assistiria a "A Serbian Film", a ex-parlamentar respondeu de imediato: "Eu veria. A banalização da vida anda muito séria. Mas deveríamos nos preocupar mais com jogos de videogame, que são só de violência. Isto tem na casa do rico, do pobre e nas lan houses e a sociedade incorpora como normal".
Para o ex-ministro do STF Carlos Velloso, o caso "não deixa de ser censura". "O filme é uma manifestação artística, assiste quem quer assistir", diz. "Pessoalmente, acho que não há crime. O Ministério da Justiça já classificou o filme por idade, então criança não pode entrar. Não tem esse negócio de o estado querer controlar pensamento de adulto”.
(...)
O ex-ministro do STF Carlos Velloso assinala, contudo, que o ECA é uma norma infraconstitucional. "O juiz que decretou essa decisão é sério, muito respeitado. Mas não se pode interpretar a Constituição Federal por uma norma que está abaixo dela. E a Constituição não admite qualquer tipo de censura prévia", reforça Velloso.
(...)
Ele cita o artigo 5º, inciso nono, da Constituição Federal, que diz que "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença". Segundo o ex-ministro, a decisão da Justiça mineira "não prosperaria em instância superior".
Ponto.
A propósito, queria fazer uma pergunta para qualquer ínclito advogado que porventura esteja lendo este humilde escriba:
Desde quando sentenças de juízes regionais - federais ou estaduais (como o ilustre desembargador do TJ do Maranhão, que proibiu o jornal O Estado de S. Paulo de abordar materia a respeito do filho de José Sarney) - podem valer para TODO O PAÍS? Não deviam valer apenas PARA O ESTADO DA JURISDIÇÃO DO JUIZ?
COMO DIRIA BORIS (CRIA)CASOY...
A gente não acredita que isso não pode acontecer. Mas aconteceu.
Transcrevo aqui mensagem do professor e crítico de cinema André Setaro, da Faculdade de Comunicação da UFBA (http://www.facebook.com/note.php?note_id=132021403555477):
Caros amigos,
Ontem, protestei aqui a respeito de dois perfis falsos com meu nome cadastrados no Facebook. Na verdade, sem que soubesse, minha esposa, Irene Ralda Setaro, foi a autora dos 'fakes' na tentativa de me ajudar a sair do estado de falência no qual me encontro. Por questão de orgulho, cheguei a bloquear tais perfis, mas a minha situação beira a tal calamidade que, cheguei hoje à conclusão, devo deixar o orgulho de lado e dizer a verdade. Toda a verdade. Servidor público federal, professor da Universidade Federal da Bahia, lotado na Faculdade de Comunicação, há 32 anos, desde 1994 o governo não dá um aumento real ao funcionalismo e, entre este ano e 2011, a inflação já beirou a quase 800%, enquanto o reajuste ficou em torno de 10%. Perdi quase todo meu poder aquisitivo, apesar do tempo de serviço e de ser um professor adjunto. Para pagar meu plano de saúde, fazia consignações na folha no Banco do Brasil há cinco anos, mas o sistema não mais permitiu uma renovação. Resultado: perdi meu plano de saúde e, então, para poder sobreviver, pedi emprestado a um outro banco. Não consegui pagar, estou na Serasa e no SPC. Por causa disso, o Banco do Brasil, mês passado, tirou meu cheque ouro, resgatando o limite que tinha. Assim, tive todos os meus proventos 'chupados' pelo sistema bancário, assim como os proventos do mês em curso. Safenado, hipertenso, diabético, estou sem tomar certos remédios, que são caros. O condomínio tem cinco meses de atraso. Há ameaça de corte de luz. E, para não me alongar, estou quase passando fome, assim como minha esposa e minha filha.
Solicitaria que cada amigo que tenho aqui no Facebook depositasse 10,00 (dez reais) em minha conta. Banco do Brasil. Agência: 3457-6. Conta POUPANÇA: 648.427-1 (Variante 01 - poupança)Em nome de ANDRÉ OLIVIERI SETARO. O referido é verdade e dou fé. Qualquer dúvida podem me telefonar: 71 88067572. O telefone fixo (3247.2290) está cortado por falta de pagamento. Sinto o que vai acima.
Breve comentário 1: Ô Dilma, não foi para restaurar a política tucana (made in Paulo Né-Rato de Souza - que Deus o tenha e o Dito-Cujo o carregue...) em relação às universidades federais (isto é, pão e água e elas que se danem) que nós elegemos a senhora, certo?
Breve comentário 2: como diria Boris (Cria) Casoy (desta vez, com justíssima razão): ISTO É UMA VERGONHA!!!!!
Transcrevo aqui mensagem do professor e crítico de cinema André Setaro, da Faculdade de Comunicação da UFBA (http://www.facebook.com/note.php?note_id=132021403555477):
Caros amigos,
Ontem, protestei aqui a respeito de dois perfis falsos com meu nome cadastrados no Facebook. Na verdade, sem que soubesse, minha esposa, Irene Ralda Setaro, foi a autora dos 'fakes' na tentativa de me ajudar a sair do estado de falência no qual me encontro. Por questão de orgulho, cheguei a bloquear tais perfis, mas a minha situação beira a tal calamidade que, cheguei hoje à conclusão, devo deixar o orgulho de lado e dizer a verdade. Toda a verdade. Servidor público federal, professor da Universidade Federal da Bahia, lotado na Faculdade de Comunicação, há 32 anos, desde 1994 o governo não dá um aumento real ao funcionalismo e, entre este ano e 2011, a inflação já beirou a quase 800%, enquanto o reajuste ficou em torno de 10%. Perdi quase todo meu poder aquisitivo, apesar do tempo de serviço e de ser um professor adjunto. Para pagar meu plano de saúde, fazia consignações na folha no Banco do Brasil há cinco anos, mas o sistema não mais permitiu uma renovação. Resultado: perdi meu plano de saúde e, então, para poder sobreviver, pedi emprestado a um outro banco. Não consegui pagar, estou na Serasa e no SPC. Por causa disso, o Banco do Brasil, mês passado, tirou meu cheque ouro, resgatando o limite que tinha. Assim, tive todos os meus proventos 'chupados' pelo sistema bancário, assim como os proventos do mês em curso. Safenado, hipertenso, diabético, estou sem tomar certos remédios, que são caros. O condomínio tem cinco meses de atraso. Há ameaça de corte de luz. E, para não me alongar, estou quase passando fome, assim como minha esposa e minha filha.
Solicitaria que cada amigo que tenho aqui no Facebook depositasse 10,00 (dez reais) em minha conta. Banco do Brasil. Agência: 3457-6. Conta POUPANÇA: 648.427-1 (Variante 01 - poupança)Em nome de ANDRÉ OLIVIERI SETARO. O referido é verdade e dou fé. Qualquer dúvida podem me telefonar: 71 88067572. O telefone fixo (3247.2290) está cortado por falta de pagamento. Sinto o que vai acima.
Breve comentário 1: Ô Dilma, não foi para restaurar a política tucana (made in Paulo Né-Rato de Souza - que Deus o tenha e o Dito-Cujo o carregue...) em relação às universidades federais (isto é, pão e água e elas que se danem) que nós elegemos a senhora, certo?
Breve comentário 2: como diria Boris (Cria) Casoy (desta vez, com justíssima razão): ISTO É UMA VERGONHA!!!!!
06 agosto, 2011
ÍTALO ROSSI (1931-2011)
Agora sim, agosto chegou como ele gosta: abusando do desgosto.
Ninguém esperava mesmo que Ítalo Balbo Di Fratti Coppola Rossi - ou melhor, Ítalo Rossi - pedisse demissão do planeta. A idade (80 anos) não era justificativa, porque ele parecia firme e forte - que o diga o "seu Ladir", o seu último papel na TV, na sitcom Toma lá, da cá ("É mara!"). Mas a saúde lhe fez uma falseta. No último dia 31 de julho, baixou no hospital Copa D'Or, onde morreu dois dias depois, de complicações respiratórias.
Uma pena. Com sua morte, quem desejava um ator completo e brilhante para sua peça de teatro, seu filme ou sua produção para a TV ficou órfão.
E, é claro, uma boa parte da história do teatro brasileiro parte com ele. Do bom e velho Teatro Brasileiro de Comédia - onde começou em 1950 - passando pelo Teatro dos Sete - que fundou em 1959 com Sérgio Britto, Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Gianni Ratto, Luciana Petruccelli e Alfredo Souto de Almeida, e responsável, entre outras montagens célebres, por O mambembe (1959), de Arthur Azevedo.
Aliás, Arthur Azevedo e O mambembe - mais especificamente, um de seus personagens, Frazão - me ajudam a definir quem foi o ator Ítalo Rossi:
FRAZÃO (Só.) — E levo esta vida há trinta anos! pedindo hoje... pagando amanhã... tornando a pedir... tomando a pagar... sacando sobre o futuro... contando com o incerto... com a hipótese do ganho... com as alternativas da fortuna... sempre de boa-fé, e sempre receoso de que duvidem de mim, porque sou cômico, e ser cômico, vem condenado de longe... Mas por que persisto?... por que não fujo à tentação de andar com o meu mambembe às costas, afrontando o fado?... Perguntem às mariposas por que se queimam na luz... perguntem aos cães por que não fogem quando avistam ao longe a carrocinha da prefeitura, mas não perguntem a um empresário de teatro por que não é outra coisa senão empresário de teatro... Isto é uma fatalidade a que nos condena o nosso próprio temperamento. O jogador [é] infeliz porque joga? O fraco bebedor, por que bebe?... Também isto é um vício, e um vício terrível porque ninguém como tal o considera, e, portanto, é confessável, não é uma vergonha, é uma profissão... uma profissão... uma profissão que absorve toda a atividade... toda a energia... todas as forças, e para quê?... Qual o resultado de todo este afã? Chegar desamparado e paupérrimo a uma velhice cansada! Aí está o que é ser empresário no Brasil! Mas este conto de réis que não chega!
É isso. Quem quiser rever Ítalo Rossi, que torça para a Grobo reprise novelas e outras obras de teledramaturgia, onde seu talento somou mais. Ou que vá ao cinema ou às cinematecas.
A seguir, uma filmografia de Ítalo Rossi:
Uma Vida para Dois (1953)
Direção: Armando de Miranda
Roteiro: Sérgio Britto
Elenco: Jaime Barcellos, Sergio Britto, Ítalo Rossi, Rafael de Oliveira, Liana Duval, Luigi Picchi.
Esquina da Ilusão (1953)
Produção: Cia. Cinematográfica Vera Cruz
Direção: Ruggero Jacobbi
Roteiro: Ruggero Jacobbi, Gustavo Nonnenberg
Elenco: Norma Ardanui, Francisco Arisa, Tito Livio Baccarin, Adoniran Barbosa, Sérgio Britto, Nicete Bruno, Ítalo Rossi, Renato Consorte, Rubens de Falco, Alberto Ruschel, Ilka Soares, Waldemar Wey.
O Homem Dos Papagaios (1953)
Produção: Mário Civelli, para a Multifilmes
Direção: Armando Couto
Roteiro: Armando Couto, Sérgio Britto, Glauco Mirko Laurelli, Procópio Ferreira
Elenco: Procópio Ferreira, Ludy Velloso, Hélio Souto, Eva Wilma, Arrelia, Herval Rossano, Mário Benvenutti, Sérgio Britto, Ítalo Rossi.
Destino em Apuros (1954)
Produção: Mário Civelli, para a Multifilmes
Direção: Ernesto Remani
Roteiro: Sérgio Britto, Mário Civelli, Jacques Maret, José Mauro de Vasconcellos.
Elenco: João Alberto, Arrelia, Paulo Autran, Tito Lívio Baccarin, Jaime Barcellos, Inezita Barroso, Sérgio Britto, Aracy Cardoso, Paulo Goulart, Graça Mello, Ítalo Rossi, Hélio Souto
A Sogra (1954)
Produção: Mário Civelli, para a Multifilmes
Direção: Armando Couto
Roteiro: Armando Couto, Alberto Dines, Glauco Mirko Laurelli, José Renato, Renato Tignoni.
Elenco: Prócópio Ferreira, Maria Vidal, Ludy Velloso, Eva Wilma, Arrelia, Jaime Barcellos, Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Sérgio de Oliveira, Alberto Dines, Riva Nimitz, Herval Rossano.
O Pão Que o Diabo Amassou (1957)
Produção: Marcello Albani
Direção: Maria Basaglia
Roteiro: Maria Basaglia
Elenco: Paula Armani, Pola Astri, Raul Cortez, Jaime Costa (Álvaro), Rubens de Falco, Liana Duval, Elizabeth Henreid (Ana), Wanda Kosmo, Ítalo Rossi (Borboleta), Carlos Zara.
E O Espetáculo Continua (1958)
Produção: Carlos Manga e Guido Martinelli
Direção e roteiro: José Cajado Filho
Elenco: Cyll Farney (Luís), Eliana (Celinha), Doris Monteiro (Lília), John Herbert (Renato), Augusto Cesar Vanucci (Biriba), Zezé Macedo (Prudência), Ítalo Rossi (Quincas).
Society em Baby-Doll (1965)
Direção: Waldemar Lima e Luiz Carlos Maciel
Roteiro: Waldemar Lima e Luiz Carlos Maciel, a partir de peça teatral de Henrique Pongetti.
Elenco: Sérgio Britto, Maria Della Costa, Olga Danitch, Yoná Magalhães, Prcópio Mariano, Gianni Ratto, Ítalo Rossi, Zilka Salaberry, Marieta Severo, Cecil Thiré, Nathalia Timberg, André Villon.
Paraíba, Vida e Morte de um Bandido (1966)
Direção e roteiro: Victor Lima
Elenco: Jece Valadão, Sadi Cabral, Yolanda Cardoso, Jorge Dória, Jardel Filho, Fregolente, Rossana Ghessa, Darlene Glória, Milton Gonçalves, Wilson Grey, Antonio Patiño, Ítalo Rossi, Vera Vianna.
Cara a Cara (1967)
Direção e roteiro: Julio Bressane
Elenco: Helena Ignez (Luciana), Antero de Oliveira (Raul), Paulo Gracindo (Hugo Castro), Paulo Padilha (Nestor Padilha), Maria Lúcia Dahl (amiga), Vanda Lacerda (mãe de Raul), Rosita Thomaz Lopes (mãe de Luciana), Ítalo Rossi (político).
A Derrota (1967)
Direção e roteiro: Mario Fiorani
Elenco: Luiz Linhares (prisioneiro), Glauce Rocha, Ítalo Rossi (executor), Eugenio Kusnet (executor), Oduvaldo Vianna Filho.
Desesperato (1968)
Direção: Sérgio Bernardes Filho
Roteiro: Sérgio Bernardes Filho, Leopoldo Serran
Elenco: Norma Bengell, Fernando Campos, Raul Cortez, Ferreira Gullar, Mário Lago, Ítalo Rossi, Marisa Urban, Nelson Xavier.
O Engano (1968)
Direção e roteiro: Mario Fiorani
Elenco: Marisa Urban (Cora), Cláudio Marzo (médico), Hugo Carvana (marido de Cora), Zózimo Bulbul (amante), Ítalo Rossi (primeiro marido de Cora), Helena Ignez (esposa do médico)
O Bravo Guerreiro (1969)
Direção: Gustavo Dahl
Roteiro: Gustavo Dahl, Roberto Marinho de Azevedo Neto
Elenco: Paulo Cesar Pereio (Miguel Horta), Mário Lago (Augusto), Ítalo Rossi (Conrado Frota), Maria Lúcia Dahl (Clara Frota), Cesar Ladeira (Virgílio), Paulo Gracindo (Péricles), Isabella (Linda), David Drew Zingg (senador O’Finney), Hugo Carvana (pelego), Carlos Vereza (Rodrigues), Cecil Thiré, Paulo Porto, Abel Pera, Milton Gonçalves, Sérgio Sanz, Flávio São Thiago.
Noite Sem Homem (1976)
Direção: Renato Neumann
Roteiro: Renato Neumann e Roberto Kahane, a partir de novela de Orígenes Lessa.
Elenco: Ítalo Rossi (Salô), Rodolfo Arena, Otávio Augusto, Sônia Beluomini, Vera Costa, Ítala Nandi, Zanoni Ferrite
República dos Assassinos (1979)
Direção: Miguel Faria Jr.
Roteiro: Miguel Faria Jr., Leopoldo Serran e Aguinaldo Silva, a partir de romance de Aguinaldo Silva.
Elenco: Tarcísio Meira, Sandra Bréa, Anselmo Vasconcelos, Sílvia Bandeira, José Lewgoy, Tonico Pereira, Ítalo Rossi, Paulo Villaça, Milton Moraes, José Dumont, Elba Ramalho, Wilson Grey, Paschoal Villaboin, Lígia Diniz.
Estranhas Relações (1983)
Direção: Milton Alencar
Roteiro: Milton Alencar e José Louzeiro.
Elenco: Newton Couto, Ivan de Almeida, Gracinda Freire, Rossa Ghessa, Wilson Grey, Fernando José, Paulão, Ítalo Rossi, Paschoal Villaboin.
Doida Demais (1989)
Direção: Sérgio Rezende
Roteiro: Jorge Durán, Sérgio Rezende
Elenco: Paulo Betti (Gabriel), Vera Fischer (Letícia), Álvaro Freire, Carlos Gregório, Ítalo Rossi, José Wilker.
A Grande Noitada (1997)
Direção e roteiro: Denoy de Oliveira
Elenco: Othon Bastos (Tristão Roque Brasil), Graça Berman (Lurdes Coxão), Renato Borghi (bêbado), José Rubens Chachá (Massa), Luciano Chirolli (Carlito/Charlotte), Ruthinéa de Moraes (funcionária), Ester Goes (Nedda), Augusto Pompeo (Cavernoso), Ítalo Rossi (Butuca), Maria Alice Vergueiro (Brunilde)
Maria, Mãe do Filho de Deus (2003)
Direção: Moacyr Goes
Roteiro: Moacyr Goes, Thiego Balteiro, Marta Borges, Marco Ribas de Farias, Maria de Souza.
Elenco: Padre Marcelo Rossi (ele mesmo), Giovanna Antonelli (Maria), Luigi Baricelli (Jesus Cristo), José Wilker (Pilatos), José Dumont (Diabo), Ítalo Rossi (Caifás), Ewerton de Castro (Joaquim), Guti Fraga (Manassés), Malu Galli (Maria Madalena), Clarice Niskier (Ana), Tonico Pereira (Herodes), Fábio Sabag (Anás)
Sexo com Amor? (2008)
Direção: Wolf Maia
Roteiro: René Belmonte
Elenco: Erom Cordeiro (Fernando), Carolina Dieckmann (Luísa), Marília Gabriela (Monica), Reynaldo Gianecchini (Rafael), Guilhermina Guinle (Patrícia), Eri Johnson (Pedro), Malu Mader (Paula), Mara Manzan (Dirce), Ítalo Rossi (Padre Ancelmo), José Wilker (Alice), Danielle Winnits (Alice).
Ninguém esperava mesmo que Ítalo Balbo Di Fratti Coppola Rossi - ou melhor, Ítalo Rossi - pedisse demissão do planeta. A idade (80 anos) não era justificativa, porque ele parecia firme e forte - que o diga o "seu Ladir", o seu último papel na TV, na sitcom Toma lá, da cá ("É mara!"). Mas a saúde lhe fez uma falseta. No último dia 31 de julho, baixou no hospital Copa D'Or, onde morreu dois dias depois, de complicações respiratórias.
Uma pena. Com sua morte, quem desejava um ator completo e brilhante para sua peça de teatro, seu filme ou sua produção para a TV ficou órfão.
E, é claro, uma boa parte da história do teatro brasileiro parte com ele. Do bom e velho Teatro Brasileiro de Comédia - onde começou em 1950 - passando pelo Teatro dos Sete - que fundou em 1959 com Sérgio Britto, Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Gianni Ratto, Luciana Petruccelli e Alfredo Souto de Almeida, e responsável, entre outras montagens célebres, por O mambembe (1959), de Arthur Azevedo.
Aliás, Arthur Azevedo e O mambembe - mais especificamente, um de seus personagens, Frazão - me ajudam a definir quem foi o ator Ítalo Rossi:
FRAZÃO (Só.) — E levo esta vida há trinta anos! pedindo hoje... pagando amanhã... tornando a pedir... tomando a pagar... sacando sobre o futuro... contando com o incerto... com a hipótese do ganho... com as alternativas da fortuna... sempre de boa-fé, e sempre receoso de que duvidem de mim, porque sou cômico, e ser cômico, vem condenado de longe... Mas por que persisto?... por que não fujo à tentação de andar com o meu mambembe às costas, afrontando o fado?... Perguntem às mariposas por que se queimam na luz... perguntem aos cães por que não fogem quando avistam ao longe a carrocinha da prefeitura, mas não perguntem a um empresário de teatro por que não é outra coisa senão empresário de teatro... Isto é uma fatalidade a que nos condena o nosso próprio temperamento. O jogador [é] infeliz porque joga? O fraco bebedor, por que bebe?... Também isto é um vício, e um vício terrível porque ninguém como tal o considera, e, portanto, é confessável, não é uma vergonha, é uma profissão... uma profissão... uma profissão que absorve toda a atividade... toda a energia... todas as forças, e para quê?... Qual o resultado de todo este afã? Chegar desamparado e paupérrimo a uma velhice cansada! Aí está o que é ser empresário no Brasil! Mas este conto de réis que não chega!
É isso. Quem quiser rever Ítalo Rossi, que torça para a Grobo reprise novelas e outras obras de teledramaturgia, onde seu talento somou mais. Ou que vá ao cinema ou às cinematecas.
A seguir, uma filmografia de Ítalo Rossi:
Uma Vida para Dois (1953)
Direção: Armando de Miranda
Roteiro: Sérgio Britto
Elenco: Jaime Barcellos, Sergio Britto, Ítalo Rossi, Rafael de Oliveira, Liana Duval, Luigi Picchi.
Esquina da Ilusão (1953)
Produção: Cia. Cinematográfica Vera Cruz
Direção: Ruggero Jacobbi
Roteiro: Ruggero Jacobbi, Gustavo Nonnenberg
Elenco: Norma Ardanui, Francisco Arisa, Tito Livio Baccarin, Adoniran Barbosa, Sérgio Britto, Nicete Bruno, Ítalo Rossi, Renato Consorte, Rubens de Falco, Alberto Ruschel, Ilka Soares, Waldemar Wey.
O Homem Dos Papagaios (1953)
Produção: Mário Civelli, para a Multifilmes
Direção: Armando Couto
Roteiro: Armando Couto, Sérgio Britto, Glauco Mirko Laurelli, Procópio Ferreira
Elenco: Procópio Ferreira, Ludy Velloso, Hélio Souto, Eva Wilma, Arrelia, Herval Rossano, Mário Benvenutti, Sérgio Britto, Ítalo Rossi.
Destino em Apuros (1954)
Produção: Mário Civelli, para a Multifilmes
Direção: Ernesto Remani
Roteiro: Sérgio Britto, Mário Civelli, Jacques Maret, José Mauro de Vasconcellos.
Elenco: João Alberto, Arrelia, Paulo Autran, Tito Lívio Baccarin, Jaime Barcellos, Inezita Barroso, Sérgio Britto, Aracy Cardoso, Paulo Goulart, Graça Mello, Ítalo Rossi, Hélio Souto
A Sogra (1954)
Produção: Mário Civelli, para a Multifilmes
Direção: Armando Couto
Roteiro: Armando Couto, Alberto Dines, Glauco Mirko Laurelli, José Renato, Renato Tignoni.
Elenco: Prócópio Ferreira, Maria Vidal, Ludy Velloso, Eva Wilma, Arrelia, Jaime Barcellos, Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Sérgio de Oliveira, Alberto Dines, Riva Nimitz, Herval Rossano.
O Pão Que o Diabo Amassou (1957)
Produção: Marcello Albani
Direção: Maria Basaglia
Roteiro: Maria Basaglia
Elenco: Paula Armani, Pola Astri, Raul Cortez, Jaime Costa (Álvaro), Rubens de Falco, Liana Duval, Elizabeth Henreid (Ana), Wanda Kosmo, Ítalo Rossi (Borboleta), Carlos Zara.
E O Espetáculo Continua (1958)
Produção: Carlos Manga e Guido Martinelli
Direção e roteiro: José Cajado Filho
Elenco: Cyll Farney (Luís), Eliana (Celinha), Doris Monteiro (Lília), John Herbert (Renato), Augusto Cesar Vanucci (Biriba), Zezé Macedo (Prudência), Ítalo Rossi (Quincas).
Society em Baby-Doll (1965)
Direção: Waldemar Lima e Luiz Carlos Maciel
Roteiro: Waldemar Lima e Luiz Carlos Maciel, a partir de peça teatral de Henrique Pongetti.
Elenco: Sérgio Britto, Maria Della Costa, Olga Danitch, Yoná Magalhães, Prcópio Mariano, Gianni Ratto, Ítalo Rossi, Zilka Salaberry, Marieta Severo, Cecil Thiré, Nathalia Timberg, André Villon.
Paraíba, Vida e Morte de um Bandido (1966)
Direção e roteiro: Victor Lima
Elenco: Jece Valadão, Sadi Cabral, Yolanda Cardoso, Jorge Dória, Jardel Filho, Fregolente, Rossana Ghessa, Darlene Glória, Milton Gonçalves, Wilson Grey, Antonio Patiño, Ítalo Rossi, Vera Vianna.
Cara a Cara (1967)
Direção e roteiro: Julio Bressane
Elenco: Helena Ignez (Luciana), Antero de Oliveira (Raul), Paulo Gracindo (Hugo Castro), Paulo Padilha (Nestor Padilha), Maria Lúcia Dahl (amiga), Vanda Lacerda (mãe de Raul), Rosita Thomaz Lopes (mãe de Luciana), Ítalo Rossi (político).
A Derrota (1967)
Direção e roteiro: Mario Fiorani
Elenco: Luiz Linhares (prisioneiro), Glauce Rocha, Ítalo Rossi (executor), Eugenio Kusnet (executor), Oduvaldo Vianna Filho.
Desesperato (1968)
Direção: Sérgio Bernardes Filho
Roteiro: Sérgio Bernardes Filho, Leopoldo Serran
Elenco: Norma Bengell, Fernando Campos, Raul Cortez, Ferreira Gullar, Mário Lago, Ítalo Rossi, Marisa Urban, Nelson Xavier.
O Engano (1968)
Direção e roteiro: Mario Fiorani
Elenco: Marisa Urban (Cora), Cláudio Marzo (médico), Hugo Carvana (marido de Cora), Zózimo Bulbul (amante), Ítalo Rossi (primeiro marido de Cora), Helena Ignez (esposa do médico)
O Bravo Guerreiro (1969)
Direção: Gustavo Dahl
Roteiro: Gustavo Dahl, Roberto Marinho de Azevedo Neto
Elenco: Paulo Cesar Pereio (Miguel Horta), Mário Lago (Augusto), Ítalo Rossi (Conrado Frota), Maria Lúcia Dahl (Clara Frota), Cesar Ladeira (Virgílio), Paulo Gracindo (Péricles), Isabella (Linda), David Drew Zingg (senador O’Finney), Hugo Carvana (pelego), Carlos Vereza (Rodrigues), Cecil Thiré, Paulo Porto, Abel Pera, Milton Gonçalves, Sérgio Sanz, Flávio São Thiago.
Noite Sem Homem (1976)
Direção: Renato Neumann
Roteiro: Renato Neumann e Roberto Kahane, a partir de novela de Orígenes Lessa.
Elenco: Ítalo Rossi (Salô), Rodolfo Arena, Otávio Augusto, Sônia Beluomini, Vera Costa, Ítala Nandi, Zanoni Ferrite
República dos Assassinos (1979)
Direção: Miguel Faria Jr.
Roteiro: Miguel Faria Jr., Leopoldo Serran e Aguinaldo Silva, a partir de romance de Aguinaldo Silva.
Elenco: Tarcísio Meira, Sandra Bréa, Anselmo Vasconcelos, Sílvia Bandeira, José Lewgoy, Tonico Pereira, Ítalo Rossi, Paulo Villaça, Milton Moraes, José Dumont, Elba Ramalho, Wilson Grey, Paschoal Villaboin, Lígia Diniz.
Estranhas Relações (1983)
Direção: Milton Alencar
Roteiro: Milton Alencar e José Louzeiro.
Elenco: Newton Couto, Ivan de Almeida, Gracinda Freire, Rossa Ghessa, Wilson Grey, Fernando José, Paulão, Ítalo Rossi, Paschoal Villaboin.
Doida Demais (1989)
Direção: Sérgio Rezende
Roteiro: Jorge Durán, Sérgio Rezende
Elenco: Paulo Betti (Gabriel), Vera Fischer (Letícia), Álvaro Freire, Carlos Gregório, Ítalo Rossi, José Wilker.
A Grande Noitada (1997)
Direção e roteiro: Denoy de Oliveira
Elenco: Othon Bastos (Tristão Roque Brasil), Graça Berman (Lurdes Coxão), Renato Borghi (bêbado), José Rubens Chachá (Massa), Luciano Chirolli (Carlito/Charlotte), Ruthinéa de Moraes (funcionária), Ester Goes (Nedda), Augusto Pompeo (Cavernoso), Ítalo Rossi (Butuca), Maria Alice Vergueiro (Brunilde)
Maria, Mãe do Filho de Deus (2003)
Direção: Moacyr Goes
Roteiro: Moacyr Goes, Thiego Balteiro, Marta Borges, Marco Ribas de Farias, Maria de Souza.
Elenco: Padre Marcelo Rossi (ele mesmo), Giovanna Antonelli (Maria), Luigi Baricelli (Jesus Cristo), José Wilker (Pilatos), José Dumont (Diabo), Ítalo Rossi (Caifás), Ewerton de Castro (Joaquim), Guti Fraga (Manassés), Malu Galli (Maria Madalena), Clarice Niskier (Ana), Tonico Pereira (Herodes), Fábio Sabag (Anás)
Sexo com Amor? (2008)
Direção: Wolf Maia
Roteiro: René Belmonte
Elenco: Erom Cordeiro (Fernando), Carolina Dieckmann (Luísa), Marília Gabriela (Monica), Reynaldo Gianecchini (Rafael), Guilhermina Guinle (Patrícia), Eri Johnson (Pedro), Malu Mader (Paula), Mara Manzan (Dirce), Ítalo Rossi (Padre Ancelmo), José Wilker (Alice), Danielle Winnits (Alice).
COMBATER O BOM COMBATE V
Não estive na Cinemateca do MAM, no dia em que Nelson Pereira dos Santos iria reapresentar seu primeiro - e censurado - filme, Rio 40 graus. (Que droga!...)
Nelson também não foi: tinha compromissos anteriores inadiáveis.
Mas mandou uma carta, que transcrevo aqui com muito prazer:
Carta de Nelson Pereira dos Santos
Posted: 05/08/2011 by censuranao in QUEM NOS APOIA
Nelson Pereira dos Santos não pôde comparecer ontem à sessão de Rio 40 Graus no MAM por questão de compromissos profissionais. Mas ele fez a gentileza de nos enviar uma carta muito bonita, que foi lida ao fim da sessão. Dividimos a carta aqui, pra quem não estava lá.
Caros amigos do cinema,
Mil desculpas.
Minha ausência se deve a compromissos profissionais inadiáveis, mas não posso deixar de participar desta reunião, mesmo de longe através desta mensagem, porque quero associar-me ao alerta levantado por vocês contra nova forma de censura a ameaçar o cinema e, se permitirmos, qualquer espetáculo público.
Como todo cineasta brasileiro, enfrento a censura desde o meu primeiro filme. Vivi embates diferentes, por filme, época e regime político vigente, mas sempre sob a mesma ameaça de violação parcial ou total da obra.
"Rio 40 Graus".
Era o ano de 1955. O filme, devidamente censurado com o carimbo de proibido para menores de dez anos, estava pronto para lançamento comercial, distribuído pela Columbia Pictures do Brasil.
Mas no dia 23 de setembro, o Chefe de Policia do Distrito Federal assinou portaria determinando a cassação do certificado de censura, a garantia legal da livre exibição do filme durante cinco anos. Baseou-se em artigo da lei que permitia essa extrema medida se a exibição do filme em sala de cinema provocasse "perturbação da ordem pública". Ora, como poderia o coronel saber de antemão qual seria a reação do público diante desse ou de qualquer outro filme? Queria proibir, proibir… e por isso não se deteve em violar o direito adquirido legalmente pelo produtor. Além do mais, proibiu sem assistir ao filme, procedimento igual ao dos que estão proibindo hoje.
- Não viu e não gostou! – estampou um vespertino carioca da época.
Mas o ano de 1955 era também – e graças a Deus! – o ano da campanha eleitoral para a Presidência da República. Os candidatos: de um lado, Juscelino Kubitschek, e, do outro, Juarez Távora, candidato governista e representante das forças golpistas que derrubaram Getúlio Vargas em 1954, portanto candidato daqueles que haviam proibido arbitrariamente a exibição de "Rio 40 Graus".
Em defesa do filme, manifestaram-se alguns jornais, principalmente os que apoiavam Juscelino, notadamente o "Diário Carioca", dirigido por Pompeu de Souza, o jornalista libertário que, no final dos anos 40, defendeu bravamente a obra da Nelson Rodrigues contra pesadíssima censura religiosa e política, e foi vitorioso.
Em defesa do filme, Pompeu liderou uma campanha que rapidamente se tornou nacional, conseguindo apoios na Bahia, no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e até em Niterói, nas barbas do Chefe de Policia. Houve tentativa de golpe para impedir a posse de Juscelino, o eleito, logo eliminada pelo contragolpe acionado pelo General Lott, que salvou a democracia e, com efeito remoto, a integridade do negativo original de "Rio 40 Graus", ameaçado de destruição pela polícia.
Em havendo democracia, direitos respeitados. O tribunal de Justiça da União, por unanimidade, restituiu ao produtor o direito de exibir Rio 40 Graus em todo território nacional. O que aconteceu com algum sucesso.
Li no Facebook algumas mensagens lembrando com muita razão outros títulos de filmes, nacionais e estrangeiros, que foram vitimas da censura brasileira. Acho ótima a ideia – viu Pedro Butcher? – de estender a mostra para incluir todos os títulos lembrados até o momento.
Gostaria de acrescentar outros, como o filme de Olney São Paulo, "Manhã Cinzenta". Esse, além de proibido foi recolhido pela polícia política junto com o seu diretor. Olney São Paulo, arrancado do seu trabalho e do seio da família, ficou preso sem processo e submetido à tortura. Eram, infelizmente, os tempos mais que cinzentos, impossível qualquer defesa dos direitos humanos.
De volta às lembranças dos sempre ameaçadores contatos com a censura, visto que não acabaram com o primeiro, na defesa de "Rio 40 Graus".
Em seguida:
1962 – Regime democrático, sob a presidência de João Goulart. "Boca de Ouro", primeiro filme baseado em obra de Nelson Rodrigues. Grandes e demoradas negociações com a censura para liberar o filme sem cortes, mesmo proibido para menores de 18 anos. (Os censores queriam eliminar a cena do concurso de seios entre as grã-finas em visita ao poderoso bicheiro, entre outras.)
1963 – Vésperas do golpe militar. "Vidas Secas". Produtor obrigado pela censura a colocar antes do filme um texto para "explicar" que a situação do Nordeste era…etc. e tal.
1966 – Período autoritário pré-AI5. "El Justicero", baseado na novela de João Bethancourt, o rei do "besteirol". Lançado com muitos cortes nos diálogos, foi, após a promulgação do AI5, apreendido pela censura, por ordem do Exército. Foram destruídos o negativo original e todas as copias existentes. Quem conta bem essa história, graças a uma dedicada e minuciosa pesquisa, é a professora Leonor Souza Pinto no livro "Censura na Ditadura." Mas o filme não desapareceu: foi restaurado a partir de uma copia 16mm depositada no Festival de Cinema de Pesaro, Itália, pelo saudoso colega David Neves.
1968 – A ditadura avança, revolta-se a juventude. "Fome de Amor", livre criação cinematográfica de escrever (roteiro pra quê?) com a câmara. Proibido, depois liberado, graças à habilidade política de Paulo Porto, produtor e ator, com a condição de não traduzir os textos de Che Guevara declamados em Espanhol pela personagem principal enlouquecida. "Fome de Amor" participou em competição do Festival Internacional de Berlim e foi distribuído nos Estados Unidos pela Contemporary Filmes, ramo da editora MacGraw-Hill.
1970 – Tempos negros da ditadura. "Como Era Gostoso o Meu Francês". Proibido no Brasil, mas com permissão para viajar. Passou pelos festivais de Cannes e Berlim, lançado comercialmente nos Estados Unidos e na Europa, mas proibido no Brasil até 1972, quando foi liberado com mais de 10 minutos de cortes.
1984 – Estertores da ditadura. "Memórias do Cárcere", metáfora de Graciliano Ramos da sociedade brasileira, sempre prisioneira de sua origem ibérica. Difícil filmagem, sob permanente vigilância oficial, embora amena, mas controladora. Proibição de incluir o hino nacional, depois superada, graças ao sucesso do filme no Festival de Cannes.
Seja qual for a época, ou o regime vigente na ocasião, a manifestação oficial da censura resulta de arcaísmos ainda entranhados nos donos do poder. Essa força autoritária encontra sempre um caminho legal para se impor, como no caso atual do filme sérvio. Um partido político denuncia, uma juíza aceita, o Ministério da Justiça imobiliza-se, tudo para desrespeitar princípio constitucional. Por quê? Por receio de um fato que não aconteceu mas "acham" que poderá acontecer. É com essa "visão", e sem assistir ao filme, proíbem a sua exibição.
Para encerrar, com a palavra o sociólogo e historiador Florestan Fernandes:
"O que poderia ser ou aparecer um presente extinto, converte-se, afinal em presente vivo e vivido com sofrimento, vergonha, desespero e revolta. Em suma, ele se evidencia como um presente colonial, que não desaparecerá por si só ou por uma impossível ação redentora dos que tecem a continuidade do despotismo. Sair das prisões não é vencer as ditaduras. Para acabar com elas, no solo histórico da América Latina, seria preciso destruir o arcabouço colonial no qual elas se assentam e lhes dão a maligna capacidade de sobreviver aos que elas aprisionam e libertam."
Muito obrigado
Rio de Janeiro, 3 de agosto de 2011
Nelson Pereira dos Santos
Ponto.
Nelson também não foi: tinha compromissos anteriores inadiáveis.
Mas mandou uma carta, que transcrevo aqui com muito prazer:
Carta de Nelson Pereira dos Santos
Posted: 05/08/2011 by censuranao in QUEM NOS APOIA
Nelson Pereira dos Santos não pôde comparecer ontem à sessão de Rio 40 Graus no MAM por questão de compromissos profissionais. Mas ele fez a gentileza de nos enviar uma carta muito bonita, que foi lida ao fim da sessão. Dividimos a carta aqui, pra quem não estava lá.
Caros amigos do cinema,
Mil desculpas.
Minha ausência se deve a compromissos profissionais inadiáveis, mas não posso deixar de participar desta reunião, mesmo de longe através desta mensagem, porque quero associar-me ao alerta levantado por vocês contra nova forma de censura a ameaçar o cinema e, se permitirmos, qualquer espetáculo público.
Como todo cineasta brasileiro, enfrento a censura desde o meu primeiro filme. Vivi embates diferentes, por filme, época e regime político vigente, mas sempre sob a mesma ameaça de violação parcial ou total da obra.
"Rio 40 Graus".
Era o ano de 1955. O filme, devidamente censurado com o carimbo de proibido para menores de dez anos, estava pronto para lançamento comercial, distribuído pela Columbia Pictures do Brasil.
Mas no dia 23 de setembro, o Chefe de Policia do Distrito Federal assinou portaria determinando a cassação do certificado de censura, a garantia legal da livre exibição do filme durante cinco anos. Baseou-se em artigo da lei que permitia essa extrema medida se a exibição do filme em sala de cinema provocasse "perturbação da ordem pública". Ora, como poderia o coronel saber de antemão qual seria a reação do público diante desse ou de qualquer outro filme? Queria proibir, proibir… e por isso não se deteve em violar o direito adquirido legalmente pelo produtor. Além do mais, proibiu sem assistir ao filme, procedimento igual ao dos que estão proibindo hoje.
- Não viu e não gostou! – estampou um vespertino carioca da época.
Mas o ano de 1955 era também – e graças a Deus! – o ano da campanha eleitoral para a Presidência da República. Os candidatos: de um lado, Juscelino Kubitschek, e, do outro, Juarez Távora, candidato governista e representante das forças golpistas que derrubaram Getúlio Vargas em 1954, portanto candidato daqueles que haviam proibido arbitrariamente a exibição de "Rio 40 Graus".
Em defesa do filme, manifestaram-se alguns jornais, principalmente os que apoiavam Juscelino, notadamente o "Diário Carioca", dirigido por Pompeu de Souza, o jornalista libertário que, no final dos anos 40, defendeu bravamente a obra da Nelson Rodrigues contra pesadíssima censura religiosa e política, e foi vitorioso.
Em defesa do filme, Pompeu liderou uma campanha que rapidamente se tornou nacional, conseguindo apoios na Bahia, no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e até em Niterói, nas barbas do Chefe de Policia. Houve tentativa de golpe para impedir a posse de Juscelino, o eleito, logo eliminada pelo contragolpe acionado pelo General Lott, que salvou a democracia e, com efeito remoto, a integridade do negativo original de "Rio 40 Graus", ameaçado de destruição pela polícia.
Em havendo democracia, direitos respeitados. O tribunal de Justiça da União, por unanimidade, restituiu ao produtor o direito de exibir Rio 40 Graus em todo território nacional. O que aconteceu com algum sucesso.
Li no Facebook algumas mensagens lembrando com muita razão outros títulos de filmes, nacionais e estrangeiros, que foram vitimas da censura brasileira. Acho ótima a ideia – viu Pedro Butcher? – de estender a mostra para incluir todos os títulos lembrados até o momento.
Gostaria de acrescentar outros, como o filme de Olney São Paulo, "Manhã Cinzenta". Esse, além de proibido foi recolhido pela polícia política junto com o seu diretor. Olney São Paulo, arrancado do seu trabalho e do seio da família, ficou preso sem processo e submetido à tortura. Eram, infelizmente, os tempos mais que cinzentos, impossível qualquer defesa dos direitos humanos.
De volta às lembranças dos sempre ameaçadores contatos com a censura, visto que não acabaram com o primeiro, na defesa de "Rio 40 Graus".
Em seguida:
1962 – Regime democrático, sob a presidência de João Goulart. "Boca de Ouro", primeiro filme baseado em obra de Nelson Rodrigues. Grandes e demoradas negociações com a censura para liberar o filme sem cortes, mesmo proibido para menores de 18 anos. (Os censores queriam eliminar a cena do concurso de seios entre as grã-finas em visita ao poderoso bicheiro, entre outras.)
1963 – Vésperas do golpe militar. "Vidas Secas". Produtor obrigado pela censura a colocar antes do filme um texto para "explicar" que a situação do Nordeste era…etc. e tal.
1966 – Período autoritário pré-AI5. "El Justicero", baseado na novela de João Bethancourt, o rei do "besteirol". Lançado com muitos cortes nos diálogos, foi, após a promulgação do AI5, apreendido pela censura, por ordem do Exército. Foram destruídos o negativo original e todas as copias existentes. Quem conta bem essa história, graças a uma dedicada e minuciosa pesquisa, é a professora Leonor Souza Pinto no livro "Censura na Ditadura." Mas o filme não desapareceu: foi restaurado a partir de uma copia 16mm depositada no Festival de Cinema de Pesaro, Itália, pelo saudoso colega David Neves.
1968 – A ditadura avança, revolta-se a juventude. "Fome de Amor", livre criação cinematográfica de escrever (roteiro pra quê?) com a câmara. Proibido, depois liberado, graças à habilidade política de Paulo Porto, produtor e ator, com a condição de não traduzir os textos de Che Guevara declamados em Espanhol pela personagem principal enlouquecida. "Fome de Amor" participou em competição do Festival Internacional de Berlim e foi distribuído nos Estados Unidos pela Contemporary Filmes, ramo da editora MacGraw-Hill.
1970 – Tempos negros da ditadura. "Como Era Gostoso o Meu Francês". Proibido no Brasil, mas com permissão para viajar. Passou pelos festivais de Cannes e Berlim, lançado comercialmente nos Estados Unidos e na Europa, mas proibido no Brasil até 1972, quando foi liberado com mais de 10 minutos de cortes.
1984 – Estertores da ditadura. "Memórias do Cárcere", metáfora de Graciliano Ramos da sociedade brasileira, sempre prisioneira de sua origem ibérica. Difícil filmagem, sob permanente vigilância oficial, embora amena, mas controladora. Proibição de incluir o hino nacional, depois superada, graças ao sucesso do filme no Festival de Cannes.
Seja qual for a época, ou o regime vigente na ocasião, a manifestação oficial da censura resulta de arcaísmos ainda entranhados nos donos do poder. Essa força autoritária encontra sempre um caminho legal para se impor, como no caso atual do filme sérvio. Um partido político denuncia, uma juíza aceita, o Ministério da Justiça imobiliza-se, tudo para desrespeitar princípio constitucional. Por quê? Por receio de um fato que não aconteceu mas "acham" que poderá acontecer. É com essa "visão", e sem assistir ao filme, proíbem a sua exibição.
Para encerrar, com a palavra o sociólogo e historiador Florestan Fernandes:
"O que poderia ser ou aparecer um presente extinto, converte-se, afinal em presente vivo e vivido com sofrimento, vergonha, desespero e revolta. Em suma, ele se evidencia como um presente colonial, que não desaparecerá por si só ou por uma impossível ação redentora dos que tecem a continuidade do despotismo. Sair das prisões não é vencer as ditaduras. Para acabar com elas, no solo histórico da América Latina, seria preciso destruir o arcabouço colonial no qual elas se assentam e lhes dão a maligna capacidade de sobreviver aos que elas aprisionam e libertam."
Muito obrigado
Rio de Janeiro, 3 de agosto de 2011
Nelson Pereira dos Santos
Ponto.
03 agosto, 2011
DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM... (XV)
A falta do que fazer é um caso sério. Na política, mais ainda. Na política municipal, então...
A Gaiola de Ouro... digo, Câmara Municipal de São Paulo acaba de aprovar um projeto do vereador Carlos Apolinário, do DEMO (tinha de ser do mesmo DEMO, do psicopata Cesar Maia...) - ilustre político da escola Jair Besteiraro de falar e fazer m... - , instituindo o Dia do Orgulho... Hétero.
(Orgulho Hétero? P*#@ que p@$%*!)
A justificativa do operoso edil (não vale rir):
Autor do projeto, o vereador Carlos Apolinário afirmou que o projeto não é contra a comunidade gay. "Faço um apelo pelo respeito à figura humana dos gays", afirmou. Apolinário disse que o projeto foi apenas uma forma de se manifestar contra "excessos e privilégios" destinados à comunidade gay. Ele afirmou que um dos privilégios é a realização da Parada LGBT na Avenida Paulista enquanto a Marcha para Jesus foi deslocada para a Zona Norte da cidade.
Bonito. Agora São Paulo (por enquanto...) tem o Dia do Orgulho Hétero - um dia dedicado a uma "minoria".
Assim como o Dia do Índio, não é?
Reza o filósofo Jorge Ben Jor que todo o dia era dia de índio, até 22 de abril de 1500; daí em diante, a cada vez menor população indígena só tem, para ela, o dia 19 de abril. (E digo cada vez menor não apenas em tamanho - cortesia de matanças, epidemias etc. trazidas pelo "homem civilizado" - mas em termos de manutenção de sua própria - cortesia da aculturação promovida, especialmente, por missionários católicos e evangélicos, dispostos a "salvá-los do pecado" - SIC).
Diante disso, terei de contar, mais uma vez, uma piada que só tem sentido por seu valor histórico.
Vamos à piada.
Um cavalheiro inglês procura o Foreign Office (o Ministério do Exterior do Reino Unido) pede para renunciar à cidadania britânica.
- Mas por quê? – pergunta o funcionário que o atende.
- É muito simples. Na Idade Média, o homossexual era empalado. Sob a Inquisição, os homossexuais eram condenados à fogueira. Depois, passaram a ser enforcados ou decapitados. No século XIX, iam para a prisão com trabalhos forçados. Depois, passou a ser doença psiquiátrica, tratada em hospícios. Finalmente, o homossexualismo passou a não ser considerado crime ou doença. Há pouco tempo, legalizaram o casamento entre homossexuais...
- E daí?
- Daí que quero mudar de nacionalidade antes que a House of Commons torne o homossexualismo obrigatório...
Eu disse que era uma piada homófoba ruim de doer. Mas ela é útil por fazer um histórico da não-aceitação (ou melhor, perseguição) da homossexualidade por séculos d.C. a fio – ou seja, da secular “ditadura hetero”, seja por inspiração religiosa (afinal, se Deus criou o homem á sua imagem e semelhança, criou com ele a homossexualidade - e duvido que Ele tenha criado os homossexuais apenas para irem para o inferno sem apelação), seja pseudocientífica (aquela história de considerar a homossexualidade como doença. O que causaria tal doença? Dizer que é o “vírus de Bruços” não vale...)
Putz, desde quando hétero virou "minoria"? Todo dia continua sendo dos héteros. Só porque o Estado brasileiro - que, até onde sei, é laico - começa a reconhecer alguns direitos do povo LGBTS, os héteros viraram "minoria"? Minoria mesmo são os que se dizem heteros e que, para enfatizar isso, ainda por cima, são intolerantes. (Não enganam ninguém: está cientificamente provado que muito homófobo, no fundo, é um gay dentro do armário...)
E o que diabos o povo LGBTS tem a ver com a mudança da Marcha para Jesus para a Zona Leste, onde o povo evangélico tem mais espaço para se reunir e proclamar (ou melhor, berrar em altos decibéis...) seu amor para Jesus? (Pobre Jesus... se soubesse que muitos de seus futuros seguidores seriam pessoas com mentalidade de vendilhões do templo e de filisteus - isto é, hipócrita e intolerante - acho que desistiria de descer à terra, a pedido de seu Pai...)
Transcrevo do site AntiChrist um post muito esclarecedor a respeito:
Para quem não entende, o dia da Parada Gay é uma manifestação para ajudar a conscientizar a sociedade que ser gay não é problema, e na verdade, nos tempos de hoje, onde a igreja e outros grupos radicais abominam a homossexualidade, se torna necessário como cidadãos responsáveis por uma sociedade saudável, assegurar os direitos de todas as pessoas de ser o que quiserem (desde que não façam mal uns aos outros). Ser gay e assumir são motivo de orgulho para toda a comunidade gay e para a sociedade. São pessoas que vem lutando contra a descriminação. E eu até diria, que só pelo fato de estarem engajadas no trabalho de conscientização, são cidadãos muito mais patriotas do que pessoas como o Carlos Apolinário.
Carlos Apolinário está promovendo a sua religião. Ele pode até tentar disfarçar que não, mas, na boa, não está enganando ninguém.
Ser heterossexual não significa lutar contra descriminação alguma. Nenhum hetero é discriminado.
Não é necessário se ter um dia de conscientização. Quem quiser ser hetero não irá sofrer nenhum desconforto por causa da ignorância alheia. Afinal, o que uma pessoa faz com seu próprio corpo é de sua responsabilidade e direito inviolável.
Ninguém tem o direito de interferir com o que uma pessoa faz a si mesma ou com outras pessoas com consentimento.
O vereador Carlos Apolinário, invés de trabalhar com projetos que sirvam realmente para melhorar a sociedade, utiliza sua moral distorcida pela religião para usar o dinheiro do povo e desperdiçar tempo, ocupando todos da Câmara Municipal de São Paulo com projetos inúteis, apenas para ficar provocando os gays, uma comunidade que já está farta de ser provocada.
Infelizmente, são estes alguns dos incompetentes que governam o país. Usufruem do dinheiro das igrejas para se eleger e em troca, procuram utilizar a maquina do poder público para disseminar sua descriminação religiosa perversa e incoerente.
(Já notaram que o redator do AntiChrist está soltando fogo pelas ventas por causa deste desperdício de tempo e dinheiro público. Eu também.)
***************************************************
Vamos mudar de assunto e partir para mais uma indicação desta séria série?
Então vamos lá.
O filme de hoje (só para que as meniunas que amam meninas possam empatar com os meninos que amam meninos, como prometi em post anterior) é But I'm a cheerleader (1999), de Jamie Babbitt. Tem um título em português muito estranho: Nunca fui santa. Mas este deve ser o título em Portugal, já que nunca foi lançado comercialmente aqui em Terra Papagalli. O problema é que podem confundi-lo com outro Nunca fui santa, que é o título em português de Bus stop (1956), de Joshua Logan, com Marilyn Monroe. Aqui foi exibido no 8º Mix Brasil (e só) com o título de Escolinha do babado.
A história é assim: uma adolescente ingênua, Megan (Natasha Lyonne), líder de torcida em seu colégio (daí o título original) é mandada por seus pais e amigos um tanto quanto puritanos para uma instituição chamada True Directions, dirigida pelo ex-gay (?) Mike, que possui um programa "infalível" de cinco passos para "reabilitar" pessoas com suspeita de ser homossexuais para a heterossexualidade. Puxa, tudo isso só porque Megan é vegetariana, abraça demais (segundo eles) suas amigas e é fã da cantora pop Melissa Etheridge (para quem não sabe quem é ela: cantora pop assumidamente lésbica)? Vamos combinar: é muita vontade de sua família em procurar chifre em cabeça de cavalo.
Ou não?
Vejam o trailer e tirem suas conclusões.
Ah, só mais dois detalhes irônicos:
1- O "ex-gay" Mike, diretor da True Directions, é ninguém mais do que o travesti RuPaul - claro que sem toda a produção feminina que a tornou famoso(a);
2- A assistente de Mike, Hillary (algo a ver com a sra. Bill Clinton?) é interpretada por Melanie Lynskey, atriz de outro filme, Almas gêmeas (Heavenly Creatures - 1994), de Peter Jackson, do qual falaremos futuramente. Aguardem.
A Gaiola de Ouro... digo, Câmara Municipal de São Paulo acaba de aprovar um projeto do vereador Carlos Apolinário, do DEMO (tinha de ser do mesmo DEMO, do psicopata Cesar Maia...) - ilustre político da escola Jair Besteiraro de falar e fazer m... - , instituindo o Dia do Orgulho... Hétero.
(Orgulho Hétero? P*#@ que p@$%*!)
A justificativa do operoso edil (não vale rir):
Autor do projeto, o vereador Carlos Apolinário afirmou que o projeto não é contra a comunidade gay. "Faço um apelo pelo respeito à figura humana dos gays", afirmou. Apolinário disse que o projeto foi apenas uma forma de se manifestar contra "excessos e privilégios" destinados à comunidade gay. Ele afirmou que um dos privilégios é a realização da Parada LGBT na Avenida Paulista enquanto a Marcha para Jesus foi deslocada para a Zona Norte da cidade.
Bonito. Agora São Paulo (por enquanto...) tem o Dia do Orgulho Hétero - um dia dedicado a uma "minoria".
Assim como o Dia do Índio, não é?
Reza o filósofo Jorge Ben Jor que todo o dia era dia de índio, até 22 de abril de 1500; daí em diante, a cada vez menor população indígena só tem, para ela, o dia 19 de abril. (E digo cada vez menor não apenas em tamanho - cortesia de matanças, epidemias etc. trazidas pelo "homem civilizado" - mas em termos de manutenção de sua própria - cortesia da aculturação promovida, especialmente, por missionários católicos e evangélicos, dispostos a "salvá-los do pecado" - SIC).
Diante disso, terei de contar, mais uma vez, uma piada que só tem sentido por seu valor histórico.
Vamos à piada.
Um cavalheiro inglês procura o Foreign Office (o Ministério do Exterior do Reino Unido) pede para renunciar à cidadania britânica.
- Mas por quê? – pergunta o funcionário que o atende.
- É muito simples. Na Idade Média, o homossexual era empalado. Sob a Inquisição, os homossexuais eram condenados à fogueira. Depois, passaram a ser enforcados ou decapitados. No século XIX, iam para a prisão com trabalhos forçados. Depois, passou a ser doença psiquiátrica, tratada em hospícios. Finalmente, o homossexualismo passou a não ser considerado crime ou doença. Há pouco tempo, legalizaram o casamento entre homossexuais...
- E daí?
- Daí que quero mudar de nacionalidade antes que a House of Commons torne o homossexualismo obrigatório...
Eu disse que era uma piada homófoba ruim de doer. Mas ela é útil por fazer um histórico da não-aceitação (ou melhor, perseguição) da homossexualidade por séculos d.C. a fio – ou seja, da secular “ditadura hetero”, seja por inspiração religiosa (afinal, se Deus criou o homem á sua imagem e semelhança, criou com ele a homossexualidade - e duvido que Ele tenha criado os homossexuais apenas para irem para o inferno sem apelação), seja pseudocientífica (aquela história de considerar a homossexualidade como doença. O que causaria tal doença? Dizer que é o “vírus de Bruços” não vale...)
Putz, desde quando hétero virou "minoria"? Todo dia continua sendo dos héteros. Só porque o Estado brasileiro - que, até onde sei, é laico - começa a reconhecer alguns direitos do povo LGBTS, os héteros viraram "minoria"? Minoria mesmo são os que se dizem heteros e que, para enfatizar isso, ainda por cima, são intolerantes. (Não enganam ninguém: está cientificamente provado que muito homófobo, no fundo, é um gay dentro do armário...)
E o que diabos o povo LGBTS tem a ver com a mudança da Marcha para Jesus para a Zona Leste, onde o povo evangélico tem mais espaço para se reunir e proclamar (ou melhor, berrar em altos decibéis...) seu amor para Jesus? (Pobre Jesus... se soubesse que muitos de seus futuros seguidores seriam pessoas com mentalidade de vendilhões do templo e de filisteus - isto é, hipócrita e intolerante - acho que desistiria de descer à terra, a pedido de seu Pai...)
Transcrevo do site AntiChrist um post muito esclarecedor a respeito:
Para quem não entende, o dia da Parada Gay é uma manifestação para ajudar a conscientizar a sociedade que ser gay não é problema, e na verdade, nos tempos de hoje, onde a igreja e outros grupos radicais abominam a homossexualidade, se torna necessário como cidadãos responsáveis por uma sociedade saudável, assegurar os direitos de todas as pessoas de ser o que quiserem (desde que não façam mal uns aos outros). Ser gay e assumir são motivo de orgulho para toda a comunidade gay e para a sociedade. São pessoas que vem lutando contra a descriminação. E eu até diria, que só pelo fato de estarem engajadas no trabalho de conscientização, são cidadãos muito mais patriotas do que pessoas como o Carlos Apolinário.
Carlos Apolinário está promovendo a sua religião. Ele pode até tentar disfarçar que não, mas, na boa, não está enganando ninguém.
Ser heterossexual não significa lutar contra descriminação alguma. Nenhum hetero é discriminado.
Não é necessário se ter um dia de conscientização. Quem quiser ser hetero não irá sofrer nenhum desconforto por causa da ignorância alheia. Afinal, o que uma pessoa faz com seu próprio corpo é de sua responsabilidade e direito inviolável.
Ninguém tem o direito de interferir com o que uma pessoa faz a si mesma ou com outras pessoas com consentimento.
O vereador Carlos Apolinário, invés de trabalhar com projetos que sirvam realmente para melhorar a sociedade, utiliza sua moral distorcida pela religião para usar o dinheiro do povo e desperdiçar tempo, ocupando todos da Câmara Municipal de São Paulo com projetos inúteis, apenas para ficar provocando os gays, uma comunidade que já está farta de ser provocada.
Infelizmente, são estes alguns dos incompetentes que governam o país. Usufruem do dinheiro das igrejas para se eleger e em troca, procuram utilizar a maquina do poder público para disseminar sua descriminação religiosa perversa e incoerente.
(Já notaram que o redator do AntiChrist está soltando fogo pelas ventas por causa deste desperdício de tempo e dinheiro público. Eu também.)
***************************************************
Vamos mudar de assunto e partir para mais uma indicação desta séria série?
Então vamos lá.
O filme de hoje (só para que as meniunas que amam meninas possam empatar com os meninos que amam meninos, como prometi em post anterior) é But I'm a cheerleader (1999), de Jamie Babbitt. Tem um título em português muito estranho: Nunca fui santa. Mas este deve ser o título em Portugal, já que nunca foi lançado comercialmente aqui em Terra Papagalli. O problema é que podem confundi-lo com outro Nunca fui santa, que é o título em português de Bus stop (1956), de Joshua Logan, com Marilyn Monroe. Aqui foi exibido no 8º Mix Brasil (e só) com o título de Escolinha do babado.
A história é assim: uma adolescente ingênua, Megan (Natasha Lyonne), líder de torcida em seu colégio (daí o título original) é mandada por seus pais e amigos um tanto quanto puritanos para uma instituição chamada True Directions, dirigida pelo ex-gay (?) Mike, que possui um programa "infalível" de cinco passos para "reabilitar" pessoas com suspeita de ser homossexuais para a heterossexualidade. Puxa, tudo isso só porque Megan é vegetariana, abraça demais (segundo eles) suas amigas e é fã da cantora pop Melissa Etheridge (para quem não sabe quem é ela: cantora pop assumidamente lésbica)? Vamos combinar: é muita vontade de sua família em procurar chifre em cabeça de cavalo.
Ou não?
Vejam o trailer e tirem suas conclusões.
Ah, só mais dois detalhes irônicos:
1- O "ex-gay" Mike, diretor da True Directions, é ninguém mais do que o travesti RuPaul - claro que sem toda a produção feminina que a tornou famoso(a);
2- A assistente de Mike, Hillary (algo a ver com a sra. Bill Clinton?) é interpretada por Melanie Lynskey, atriz de outro filme, Almas gêmeas (Heavenly Creatures - 1994), de Peter Jackson, do qual falaremos futuramente. Aguardem.
02 agosto, 2011
COMBATER O BOM COMBATE IV
E a Falha... digo, Folha de S. Paulo, hein? Começa todo este imbroglio político-falso-moralista em torno de A Serbian Film com uma reportagem sensacionalista sobre o filme, que originou uma ação do DEMO, do psicopata Cesar Maia et caterva para interditar o filme, que encontrou resposta numa juíza, numa desembargadora e num promotor federal, no mínimo, afoitos (ou, de acordo com o procurador Paulo Afonso Garrido de Paula, um dos criadores do Estatuto da Criança e Adolescência: "Sem ver o filme, é difícil saber se houve uma tentativa real de proteção da criança ou apenas um arroubo de poder" - e é claro que houve um arroubo... digo, abuso de poder, sim), e até agora, não moveu uma palha para tentar compensar este atentado à liberdade de expressão.
(Agora entendemos porque é que Otavinho Freitas Filho, o dono da Falha... ops, da Folha, disse que o modelo de jornalismo que ele almeja é a Veja. Só se for a Veja atual, muito bem definida por Paulo Henrique Amorim como "detrito de maré baixa".)
Aliás, já que supunhetamos no assunto: não seria o caso, já que, de vez em quando, se fala de reformar o ECA, que tal reescrevê-lo para que ele não se torne um instrumento disfarçado para alguns juízes praticarem o que a nossa Constituição proíbe - a censura a obras artísticas?
Será que este artigo publicado no UOL (empresa do grupo Falha... quer dizer, Folha) é o começo do conserto do imbroglio que ela mesma causou?
Leia com atenção (os grifos são meus):
01/08/2011 - 19h58
Veto a "Serbian Film" usa argumentos que não estão visíveis no filme
EDU FERNANDES
Colaboração para o UOL
Depois de mais de uma semana de polêmica, “A Serbian Film” continua impedido de ser exibido no Brasil. Até agora não há notícia de que as autoridades (legislativas ou judiciárias) envolvidas no veto tenham assistido ao filme, apesar de a única cópia em película ainda estar apreendida.
Segundo Cesar Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro, primeira cidade em que o filme foi proibido de ser projetado, não havia necessidade de assisti-lo para que a proibição se efetuasse.
No entando, depois de conferir exatamente do que se trata “A Serbian Film”, os argumentos encontrados nos textos da juíza Katerine Jatahy Nygaard (RJ) e da desembargadora Gilda Maria Dias Carrapatoso (MG) caem por terra.
O longa conta a história de um ex-ator pornô que aceita fazer mais um trabalho para conseguir o dinheiro que irá garantir o futuro de sua esposa e filho. Ele não sabe do que se trata o filme que irá fazer quando assina o contrato. Tarde demais, o protagonista percebe que está em uma produção que testa todos os limites da violência e da sexualidade.
Aviso: Para ser o mais eficiente possível, a comparação abaixo adianta alguns elementos importantes do enredo de “A Serbian Film”.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
[O filme é uma] “verdadeira apologia a crimes contra criança e é um incentivo para práticas de pedofilia” (RJ)
O QUE MOSTRA O FILME
Os únicos personagens que não se incomodam com práticas sexuais e violentas que envolvem criança são os vilões. Desde o começo do filme o protagonista se mostra totalmente contrário a ideia de ter uma menina de aparentemente 12 anos presente nos momentos em que ele grava cenas de sexo. Em nenhum momento a atriz-mirim é mostrada no mesmo quadro que atores nus, ela é colocada na mesma cena por truques de edição.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
“Não se pode admitir que (...) cenas de extrema violência física e moral, inclusive, utilizando recém-natos sejam levadas ao grande público”. (MG)
O QUE MOSTRA O FILME
O recém-nascido é claramente um boneco. Mesmo assim, não é mostrado o abuso sexual, é apenas sugerido.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
[As cenas] “podem provocar reações adversas, às vezes, em cadeia, em pessoas sem equilíbrio emocional e psíquico adequado para suportar tais evidências de desumanidade”. (MG)
O QUE MOSTRA O FILME
É para esse tipo de situação que existe no Brasil a classificação indicativa. Além de informar a idade do público que pode assistir a uma determinada produção, é explicado o tipo de assunto abordado (cenas de sexo, violência e uso de drogas, entre outros).
(Aliás, se levarmos a sério o argumento apresentado pelos ínclitos (SIC membros do judiciário, a grande maioria da população maior de 18 anos não é emocionalmente e psiquicamente equilibrada - ou seja, somos um bando de débeis mentais. Mas, se os ínclitos membros do judiciário também são bem maiores de 18 anos, será que eles também não são emocional e psiquicamente equilibrados? Ou será que só eles é que possuem equilíbrio emocional e psiquico para decidir por nós?)
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
[O Estatuto da Criança e do Adolescente] "veda expressamente a filmagem, reprodução, divulgação por qualquer meio de cenas de sexo explícito ou pornográfico envolvendo crianças ou adolescentes". (RJ)
O QUE MOSTRA O FILME
Não há sequer cenas de sexo explícito entre adultos em “A Serbian Film”. Todas as cenas de sexo que, na história, envolvem personagens menores de idade foram feitas com o uso de robôs ou próteses. As crianças só são vistas nas cenas por truques de edição.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
"Não se pode admitir que (...) um pretenso manifesto político exponha de tal forma a degradação do ser humano." (RJ)
O QUE MOSTRA O FILME
A juíza só poderia fazer qualquer juízo de valor do filme depois de assisti-lo. Não se pode dizer se o manifesto é válido ou não em uma obra cujo conteúdo se desconhece.
Ponto.
Apenas para lembrar um detalhe: nenhum dos envolvidos efetivamente viu o filme - nem Cesar Maia (mas para que ele vai ver filmes, se ele odeia cinema - vide o que ele quase fez com a Riofilme em sua gestão (SIC) como alcaide do Rio), nem os ínclitos (SIC) integrantes do judiciário, nem o afoito repórter da Falha... ah, maldito ato falho meu... da Folha.
Ah, em tempo: o neocensor Cesar Maia anuncia que vai concorrer a vereador nas eleições do ano que vem. Pelo visto, este psicopata só conseguirá votos entre as pessoas sem equilíbrio emocional e psíquico. As que tem equilíbrio emocional e psíquico, e não querem ser tuteladas por ninguém, não devem votar nele - e, se tiverem vergonha, farão o possível para mandar Cesar Maia para a sua casa de vez. Ou para a cadeia, por conta da Cidade da Música e de sua omissão pelas mortes no Rio de Janeiro pela epidemia dengue - que, segundo ele, não houve.
Ah, em tempo 2: Ou, se a justiça falhar, pelo menos mandemos Cesar Maia de volta para a sua cadeira de professor na Faculdade de Economia da UFF, para dar aulas - se é que alguma vez ele deu aula na faculdade. (Aliás, se algum ex-aluno de Economia da UFF efetivamente teve aulas com o professor Cesar Maia, por favor, entre em contato comigo. Quero saber que tipo de professor ele era.)
Ah, em tempo 3: sobre este assunto, leiam artigo de Ricardo Noblat em seu blog, em O Globo OnLine.
Ah, em tempo 4: a sociedade começa a se mobilizar, aqui no Rio de Janeiro, contra a censura disfarçada de "tutela":
- Hoje, 2 de agosto (mês do desgosto) de 2011, 19:30 - ato de protesto contra a censura, na Sala de Vídeo da Fundição Progresso, na Lapa.
- Quarta, Dia 3 de agosto de 2011, 18:30 - Exibição de Rio, quarenta graus (Brasil; 1955. Dir: Nelson Pereira dos Santos), seguida de debate com o diretor Nelson Pereira dos Santos e o advogado Gustavo Martins - Cinemateca do MAM.
- Quinta, Dia 4 de agosto de 2011, 18:30 - Exibição de O encouraçado Potemkim (Bronenosets Potyomkim - URSS, 1925 - Dir: Serguei M. Eisenstein), seguida de debate com o curador Gilberto Santeiro e o conservador chefe Hernani Heffner - Cinemateca do MAM.
(Não por acaso, filmes que sofreram com a censura no Brasil em suas épocas.)
Para todos estes eventos, a entrada é franca.
E tomara que seja só o começo.
(Agora entendemos porque é que Otavinho Freitas Filho, o dono da Falha... ops, da Folha, disse que o modelo de jornalismo que ele almeja é a Veja. Só se for a Veja atual, muito bem definida por Paulo Henrique Amorim como "detrito de maré baixa".)
Aliás, já que supunhetamos no assunto: não seria o caso, já que, de vez em quando, se fala de reformar o ECA, que tal reescrevê-lo para que ele não se torne um instrumento disfarçado para alguns juízes praticarem o que a nossa Constituição proíbe - a censura a obras artísticas?
Será que este artigo publicado no UOL (empresa do grupo Falha... quer dizer, Folha) é o começo do conserto do imbroglio que ela mesma causou?
Leia com atenção (os grifos são meus):
01/08/2011 - 19h58
Veto a "Serbian Film" usa argumentos que não estão visíveis no filme
EDU FERNANDES
Colaboração para o UOL
Depois de mais de uma semana de polêmica, “A Serbian Film” continua impedido de ser exibido no Brasil. Até agora não há notícia de que as autoridades (legislativas ou judiciárias) envolvidas no veto tenham assistido ao filme, apesar de a única cópia em película ainda estar apreendida.
Segundo Cesar Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro, primeira cidade em que o filme foi proibido de ser projetado, não havia necessidade de assisti-lo para que a proibição se efetuasse.
No entando, depois de conferir exatamente do que se trata “A Serbian Film”, os argumentos encontrados nos textos da juíza Katerine Jatahy Nygaard (RJ) e da desembargadora Gilda Maria Dias Carrapatoso (MG) caem por terra.
O longa conta a história de um ex-ator pornô que aceita fazer mais um trabalho para conseguir o dinheiro que irá garantir o futuro de sua esposa e filho. Ele não sabe do que se trata o filme que irá fazer quando assina o contrato. Tarde demais, o protagonista percebe que está em uma produção que testa todos os limites da violência e da sexualidade.
Aviso: Para ser o mais eficiente possível, a comparação abaixo adianta alguns elementos importantes do enredo de “A Serbian Film”.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
[O filme é uma] “verdadeira apologia a crimes contra criança e é um incentivo para práticas de pedofilia” (RJ)
O QUE MOSTRA O FILME
Os únicos personagens que não se incomodam com práticas sexuais e violentas que envolvem criança são os vilões. Desde o começo do filme o protagonista se mostra totalmente contrário a ideia de ter uma menina de aparentemente 12 anos presente nos momentos em que ele grava cenas de sexo. Em nenhum momento a atriz-mirim é mostrada no mesmo quadro que atores nus, ela é colocada na mesma cena por truques de edição.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
“Não se pode admitir que (...) cenas de extrema violência física e moral, inclusive, utilizando recém-natos sejam levadas ao grande público”. (MG)
O QUE MOSTRA O FILME
O recém-nascido é claramente um boneco. Mesmo assim, não é mostrado o abuso sexual, é apenas sugerido.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
[As cenas] “podem provocar reações adversas, às vezes, em cadeia, em pessoas sem equilíbrio emocional e psíquico adequado para suportar tais evidências de desumanidade”. (MG)
O QUE MOSTRA O FILME
É para esse tipo de situação que existe no Brasil a classificação indicativa. Além de informar a idade do público que pode assistir a uma determinada produção, é explicado o tipo de assunto abordado (cenas de sexo, violência e uso de drogas, entre outros).
(Aliás, se levarmos a sério o argumento apresentado pelos ínclitos (SIC membros do judiciário, a grande maioria da população maior de 18 anos não é emocionalmente e psiquicamente equilibrada - ou seja, somos um bando de débeis mentais. Mas, se os ínclitos membros do judiciário também são bem maiores de 18 anos, será que eles também não são emocional e psiquicamente equilibrados? Ou será que só eles é que possuem equilíbrio emocional e psiquico para decidir por nós?)
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
[O Estatuto da Criança e do Adolescente] "veda expressamente a filmagem, reprodução, divulgação por qualquer meio de cenas de sexo explícito ou pornográfico envolvendo crianças ou adolescentes". (RJ)
O QUE MOSTRA O FILME
Não há sequer cenas de sexo explícito entre adultos em “A Serbian Film”. Todas as cenas de sexo que, na história, envolvem personagens menores de idade foram feitas com o uso de robôs ou próteses. As crianças só são vistas nas cenas por truques de edição.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
"Não se pode admitir que (...) um pretenso manifesto político exponha de tal forma a degradação do ser humano." (RJ)
O QUE MOSTRA O FILME
A juíza só poderia fazer qualquer juízo de valor do filme depois de assisti-lo. Não se pode dizer se o manifesto é válido ou não em uma obra cujo conteúdo se desconhece.
Ponto.
Apenas para lembrar um detalhe: nenhum dos envolvidos efetivamente viu o filme - nem Cesar Maia (mas para que ele vai ver filmes, se ele odeia cinema - vide o que ele quase fez com a Riofilme em sua gestão (SIC) como alcaide do Rio), nem os ínclitos (SIC) integrantes do judiciário, nem o afoito repórter da Falha... ah, maldito ato falho meu... da Folha.
Ah, em tempo: o neocensor Cesar Maia anuncia que vai concorrer a vereador nas eleições do ano que vem. Pelo visto, este psicopata só conseguirá votos entre as pessoas sem equilíbrio emocional e psíquico. As que tem equilíbrio emocional e psíquico, e não querem ser tuteladas por ninguém, não devem votar nele - e, se tiverem vergonha, farão o possível para mandar Cesar Maia para a sua casa de vez. Ou para a cadeia, por conta da Cidade da Música e de sua omissão pelas mortes no Rio de Janeiro pela epidemia dengue - que, segundo ele, não houve.
Ah, em tempo 2: Ou, se a justiça falhar, pelo menos mandemos Cesar Maia de volta para a sua cadeira de professor na Faculdade de Economia da UFF, para dar aulas - se é que alguma vez ele deu aula na faculdade. (Aliás, se algum ex-aluno de Economia da UFF efetivamente teve aulas com o professor Cesar Maia, por favor, entre em contato comigo. Quero saber que tipo de professor ele era.)
Ah, em tempo 3: sobre este assunto, leiam artigo de Ricardo Noblat em seu blog, em O Globo OnLine.
Ah, em tempo 4: a sociedade começa a se mobilizar, aqui no Rio de Janeiro, contra a censura disfarçada de "tutela":
- Hoje, 2 de agosto (mês do desgosto) de 2011, 19:30 - ato de protesto contra a censura, na Sala de Vídeo da Fundição Progresso, na Lapa.
- Quarta, Dia 3 de agosto de 2011, 18:30 - Exibição de Rio, quarenta graus (Brasil; 1955. Dir: Nelson Pereira dos Santos), seguida de debate com o diretor Nelson Pereira dos Santos e o advogado Gustavo Martins - Cinemateca do MAM.
- Quinta, Dia 4 de agosto de 2011, 18:30 - Exibição de O encouraçado Potemkim (Bronenosets Potyomkim - URSS, 1925 - Dir: Serguei M. Eisenstein), seguida de debate com o curador Gilberto Santeiro e o conservador chefe Hernani Heffner - Cinemateca do MAM.
(Não por acaso, filmes que sofreram com a censura no Brasil em suas épocas.)
Para todos estes eventos, a entrada é franca.
E tomara que seja só o começo.
Assinar:
Postagens (Atom)