E a Falha... digo, Folha de S. Paulo, hein? Começa todo este imbroglio político-falso-moralista em torno de A Serbian Film com uma reportagem sensacionalista sobre o filme, que originou uma ação do DEMO, do psicopata Cesar Maia et caterva para interditar o filme, que encontrou resposta numa juíza, numa desembargadora e num promotor federal, no mínimo, afoitos (ou, de acordo com o procurador Paulo Afonso Garrido de Paula, um dos criadores do Estatuto da Criança e Adolescência: "Sem ver o filme, é difícil saber se houve uma tentativa real de proteção da criança ou apenas um arroubo de poder" - e é claro que houve um arroubo... digo, abuso de poder, sim), e até agora, não moveu uma palha para tentar compensar este atentado à liberdade de expressão.
(Agora entendemos porque é que Otavinho Freitas Filho, o dono da Falha... ops, da Folha, disse que o modelo de jornalismo que ele almeja é a Veja. Só se for a Veja atual, muito bem definida por Paulo Henrique Amorim como "detrito de maré baixa".)
Aliás, já que supunhetamos no assunto: não seria o caso, já que, de vez em quando, se fala de reformar o ECA, que tal reescrevê-lo para que ele não se torne um instrumento disfarçado para alguns juízes praticarem o que a nossa Constituição proíbe - a censura a obras artísticas?
Será que este artigo publicado no UOL (empresa do grupo Falha... quer dizer, Folha) é o começo do conserto do imbroglio que ela mesma causou?
Leia com atenção (os grifos são meus):
01/08/2011 - 19h58
Veto a "Serbian Film" usa argumentos que não estão visíveis no filme
EDU FERNANDES
Colaboração para o UOL
Depois de mais de uma semana de polêmica, “A Serbian Film” continua impedido de ser exibido no Brasil. Até agora não há notícia de que as autoridades (legislativas ou judiciárias) envolvidas no veto tenham assistido ao filme, apesar de a única cópia em película ainda estar apreendida.
Segundo Cesar Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro, primeira cidade em que o filme foi proibido de ser projetado, não havia necessidade de assisti-lo para que a proibição se efetuasse.
No entando, depois de conferir exatamente do que se trata “A Serbian Film”, os argumentos encontrados nos textos da juíza Katerine Jatahy Nygaard (RJ) e da desembargadora Gilda Maria Dias Carrapatoso (MG) caem por terra.
O longa conta a história de um ex-ator pornô que aceita fazer mais um trabalho para conseguir o dinheiro que irá garantir o futuro de sua esposa e filho. Ele não sabe do que se trata o filme que irá fazer quando assina o contrato. Tarde demais, o protagonista percebe que está em uma produção que testa todos os limites da violência e da sexualidade.
Aviso: Para ser o mais eficiente possível, a comparação abaixo adianta alguns elementos importantes do enredo de “A Serbian Film”.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
[O filme é uma] “verdadeira apologia a crimes contra criança e é um incentivo para práticas de pedofilia” (RJ)
O QUE MOSTRA O FILME
Os únicos personagens que não se incomodam com práticas sexuais e violentas que envolvem criança são os vilões. Desde o começo do filme o protagonista se mostra totalmente contrário a ideia de ter uma menina de aparentemente 12 anos presente nos momentos em que ele grava cenas de sexo. Em nenhum momento a atriz-mirim é mostrada no mesmo quadro que atores nus, ela é colocada na mesma cena por truques de edição.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
“Não se pode admitir que (...) cenas de extrema violência física e moral, inclusive, utilizando recém-natos sejam levadas ao grande público”. (MG)
O QUE MOSTRA O FILME
O recém-nascido é claramente um boneco. Mesmo assim, não é mostrado o abuso sexual, é apenas sugerido.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
[As cenas] “podem provocar reações adversas, às vezes, em cadeia, em pessoas sem equilíbrio emocional e psíquico adequado para suportar tais evidências de desumanidade”. (MG)
O QUE MOSTRA O FILME
É para esse tipo de situação que existe no Brasil a classificação indicativa. Além de informar a idade do público que pode assistir a uma determinada produção, é explicado o tipo de assunto abordado (cenas de sexo, violência e uso de drogas, entre outros).
(Aliás, se levarmos a sério o argumento apresentado pelos ínclitos (SIC membros do judiciário, a grande maioria da população maior de 18 anos não é emocionalmente e psiquicamente equilibrada - ou seja, somos um bando de débeis mentais. Mas, se os ínclitos membros do judiciário também são bem maiores de 18 anos, será que eles também não são emocional e psiquicamente equilibrados? Ou será que só eles é que possuem equilíbrio emocional e psiquico para decidir por nós?)
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
[O Estatuto da Criança e do Adolescente] "veda expressamente a filmagem, reprodução, divulgação por qualquer meio de cenas de sexo explícito ou pornográfico envolvendo crianças ou adolescentes". (RJ)
O QUE MOSTRA O FILME
Não há sequer cenas de sexo explícito entre adultos em “A Serbian Film”. Todas as cenas de sexo que, na história, envolvem personagens menores de idade foram feitas com o uso de robôs ou próteses. As crianças só são vistas nas cenas por truques de edição.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
"Não se pode admitir que (...) um pretenso manifesto político exponha de tal forma a degradação do ser humano." (RJ)
O QUE MOSTRA O FILME
A juíza só poderia fazer qualquer juízo de valor do filme depois de assisti-lo. Não se pode dizer se o manifesto é válido ou não em uma obra cujo conteúdo se desconhece.
Ponto.
Apenas para lembrar um detalhe: nenhum dos envolvidos efetivamente viu o filme - nem Cesar Maia (mas para que ele vai ver filmes, se ele odeia cinema - vide o que ele quase fez com a Riofilme em sua gestão (SIC) como alcaide do Rio), nem os ínclitos (SIC) integrantes do judiciário, nem o afoito repórter da Falha... ah, maldito ato falho meu... da Folha.
Ah, em tempo: o neocensor Cesar Maia anuncia que vai concorrer a vereador nas eleições do ano que vem. Pelo visto, este psicopata só conseguirá votos entre as pessoas sem equilíbrio emocional e psíquico. As que tem equilíbrio emocional e psíquico, e não querem ser tuteladas por ninguém, não devem votar nele - e, se tiverem vergonha, farão o possível para mandar Cesar Maia para a sua casa de vez. Ou para a cadeia, por conta da Cidade da Música e de sua omissão pelas mortes no Rio de Janeiro pela epidemia dengue - que, segundo ele, não houve.
Ah, em tempo 2: Ou, se a justiça falhar, pelo menos mandemos Cesar Maia de volta para a sua cadeira de professor na Faculdade de Economia da UFF, para dar aulas - se é que alguma vez ele deu aula na faculdade. (Aliás, se algum ex-aluno de Economia da UFF efetivamente teve aulas com o professor Cesar Maia, por favor, entre em contato comigo. Quero saber que tipo de professor ele era.)
Ah, em tempo 3: sobre este assunto, leiam artigo de Ricardo Noblat em seu blog, em O Globo OnLine.
Ah, em tempo 4: a sociedade começa a se mobilizar, aqui no Rio de Janeiro, contra a censura disfarçada de "tutela":
- Hoje, 2 de agosto (mês do desgosto) de 2011, 19:30 - ato de protesto contra a censura, na Sala de Vídeo da Fundição Progresso, na Lapa.
- Quarta, Dia 3 de agosto de 2011, 18:30 - Exibição de Rio, quarenta graus (Brasil; 1955. Dir: Nelson Pereira dos Santos), seguida de debate com o diretor Nelson Pereira dos Santos e o advogado Gustavo Martins - Cinemateca do MAM.
- Quinta, Dia 4 de agosto de 2011, 18:30 - Exibição de O encouraçado Potemkim (Bronenosets Potyomkim - URSS, 1925 - Dir: Serguei M. Eisenstein), seguida de debate com o curador Gilberto Santeiro e o conservador chefe Hernani Heffner - Cinemateca do MAM.
(Não por acaso, filmes que sofreram com a censura no Brasil em suas épocas.)
Para todos estes eventos, a entrada é franca.
E tomara que seja só o começo.
02 agosto, 2011
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