Não devia, mas acho que vou cutucar onça com vara curta. Pelo menos, tenho uma justificativa: alguém no YouTube cutucou primeiro.
Olha o vídeo que achei:
Quer apostar que, se alguém escarafunchar os nossos "fiscais de fiofó" (aka Frente Parlamentar Evangélica - gostei deste apelido para seus "ínclitos" integrantes), vai encontrar mais alguns?
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Enquanto eles não saem do armário, vamos à nossa nova indicação para esta séria série: Escape to Life: The Erika and Klaus Mann Story (Alemanha, 2000), de Wieland Speck e Andrea Weiss. Como o nome diz, o filme gira em torno de Erika (1905-1969) e Klaus Mann (1906-1949), os dois filhos mais velhos de Thomas Mann (1875-1955) – sim, ele mesmo, o autor de Os Buddenbrooks (1901), Morte em Veneza (1912 - origem de um dos mais belos filmes de Luchino Visconti), A montanha mágica (1924) e Doutor Fausto (1947 – não confundir com o Faustus, de Goethe, embora a origem – a história do alquimista alemão Johannes Faust – seja quase a mesma).
Na verdade, quase toda a família Mann era um pomar de talentos literários. A começar pelo irmão mais velho de Thomas, Heinrich Mann (1871-1950), autor de Professor Unrath (1905) – pra quem não sabe, o romance que deu origem ao filme O anjo azul (Der Blaue Engel - Alemanha, 1930), de Josef von Sternberg, que lançou Marlene Dietrich para a fama.
E, é claro, os irmãos "gêmeos" Erika e Klaus Mann. As aspas se explicam: embora houvessem nascido com um ano de diferença entre si, os dois eram constantemente apresentados como irmãos gêmeos. E o mais engraçado nesta história: eles se consideravam gêmeos, dividindo sua intimidade que os fortalecia em uma vida extraordinariamente criativa e intelectualmente produtiva - apesar da sombra de seu pai, Prêmio Nobel de Literatura.
Erika era jornalista e, sobretudo, uma mulher de teatro - atriz, produtora e dramaturga. Quem quiser ver como era a atriz Erika Mann, procure a cinemateca mais próxima: ela está no elenco do já clássico Senhoritas de uniforme (Mädchen in Uniform - Alemanha, 1931), de Leontine Sagan. Teve uma companhia de teatro, Die Pfeffermühle, sediada em Munique, especializada em esquetes que foi muito popular - especialmente porque muitos destes esquetes, para variar, ridicularizavam os nazistas.
Klaus também foi ator, integrante da Die Pfeffermühle. Mas ficou célebre (ainda que após sua morte) como escritor - especialmente pelo romance Mephisto (1936), que mais tarde virou filme, que lançou o cineasta húngaro Isztván Szabo e o ator austríaco Klaus Maria Brandauer para o mundo.
Ah, sim: ainda sobre Mephisto, breve seção "revista Muy Amiga". Mephisto baseava na história do ator e diretor Gustav Grundgens (1899-1963), com quem ambos trabalharam em teatro e se envolveram: Erika foi casada com ele por algum tempo; Klaus teve um caso com Gustav.
Ah, sim, de novo: ambos eram homossexuais - uma característica que não agradava muito ao papai Thomas Mann. Talvez porque, de acordo com vários estudiosos - e, de acordo com vários diários do escritor, que só seriam dados a público em 1975 - o próprio Thomas Mann vivia em luta interior com os seus próprios desejos homossexuais, que se tinham tornado evidentes em várias de suas obras.
Ainda assim, Erika e Klaus Mann lutaram a mesma batalha para afirmar sua criatividade, suas individualidades e seus ideais - especialmente o pacifismo - ainda que suas vidas tivessem contradições, agravadas pelo exílio.
Klaus se suicidaria em Cannes, em 1949, com uma overdose de soníferos. Erika morreria na Suíça, em 1969, de um tumor cerebral.
O filme de Wieland Speck e Andrea Weiss é brilhante em abordar as contradições, o brilho e as certezas destes "gêmeos". Veja o trailer.
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