03 agosto, 2011

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM... (XV)

A falta do que fazer é um caso sério. Na política, mais ainda. Na política municipal, então...
A Gaiola de Ouro... digo, Câmara Municipal de São Paulo acaba de aprovar um projeto do vereador Carlos Apolinário, do DEMO (tinha de ser do mesmo DEMO, do psicopata Cesar Maia...) - ilustre político da escola Jair Besteiraro de falar e fazer m... - , instituindo o Dia do Orgulho... Hétero.
(Orgulho Hétero? P*#@ que p@$%*!)
A justificativa do operoso edil (não vale rir):
Autor do projeto, o vereador Carlos Apolinário afirmou que o projeto não é contra a comunidade gay. "Faço um apelo pelo respeito à figura humana dos gays", afirmou. Apolinário disse que o projeto foi apenas uma forma de se manifestar contra "excessos e privilégios" destinados à comunidade gay. Ele afirmou que um dos privilégios é a realização da Parada LGBT na Avenida Paulista enquanto a Marcha para Jesus foi deslocada para a Zona Norte da cidade.
Bonito. Agora São Paulo (por enquanto...) tem o Dia do Orgulho Hétero - um dia dedicado a uma "minoria".
Assim como o Dia do Índio, não é?
Reza o filósofo Jorge Ben Jor que todo o dia era dia de índio, até 22 de abril de 1500; daí em diante, a cada vez menor população indígena só tem, para ela, o dia 19 de abril. (E digo cada vez menor não apenas em tamanho - cortesia de matanças, epidemias etc. trazidas pelo "homem civilizado" - mas em termos de manutenção de sua própria - cortesia da aculturação promovida, especialmente, por missionários católicos e evangélicos, dispostos a "salvá-los do pecado" - SIC).
Diante disso, terei de contar, mais uma vez, uma piada que só tem sentido por seu valor histórico.
Vamos à piada.
Um cavalheiro inglês procura o Foreign Office (o Ministério do Exterior do Reino Unido) pede para renunciar à cidadania britânica.
- Mas por quê? – pergunta o funcionário que o atende.
- É muito simples. Na Idade Média, o homossexual era empalado. Sob a Inquisição, os homossexuais eram condenados à fogueira. Depois, passaram a ser enforcados ou decapitados. No século XIX, iam para a prisão com trabalhos forçados. Depois, passou a ser doença psiquiátrica, tratada em hospícios. Finalmente, o homossexualismo passou a não ser considerado crime ou doença. Há pouco tempo, legalizaram o casamento entre homossexuais...
- E daí?
- Daí que quero mudar de nacionalidade antes que a House of Commons torne o homossexualismo obrigatório...
Eu disse que era uma piada homófoba ruim de doer. Mas ela é útil por fazer um histórico da não-aceitação (ou melhor, perseguição) da homossexualidade por séculos d.C. a fio – ou seja, da secular “ditadura hetero”, seja por inspiração religiosa (afinal, se Deus criou o homem á sua imagem e semelhança, criou com ele a homossexualidade - e duvido que Ele tenha criado os homossexuais apenas para irem para o inferno sem apelação), seja pseudocientífica (aquela história de considerar a homossexualidade como doença. O que causaria tal doença? Dizer que é o “vírus de Bruços” não vale...)
Putz, desde quando hétero virou "minoria"? Todo dia continua sendo dos héteros. Só porque o Estado brasileiro - que, até onde sei, é laico - começa a reconhecer alguns direitos do povo LGBTS, os héteros viraram "minoria"? Minoria mesmo são os que se dizem heteros e que, para enfatizar isso, ainda por cima, são intolerantes. (Não enganam ninguém: está cientificamente provado que muito homófobo, no fundo, é um gay dentro do armário...)
E o que diabos o povo LGBTS tem a ver com a mudança da Marcha para Jesus para a Zona Leste, onde o povo evangélico tem mais espaço para se reunir e proclamar (ou melhor, berrar em altos decibéis...) seu amor para Jesus? (Pobre Jesus... se soubesse que muitos de seus futuros seguidores seriam pessoas com mentalidade de vendilhões do templo e de filisteus - isto é, hipócrita e intolerante - acho que desistiria de descer à terra, a pedido de seu Pai...)
Transcrevo do site AntiChrist um post muito esclarecedor a respeito:
Para quem não entende, o dia da Parada Gay é uma manifestação para ajudar a conscientizar a sociedade que ser gay não é problema, e na verdade, nos tempos de hoje, onde a igreja e outros grupos radicais abominam a homossexualidade, se torna necessário como cidadãos responsáveis por uma sociedade saudável, assegurar os direitos de todas as pessoas de ser o que quiserem (desde que não façam mal uns aos outros). Ser gay e assumir são motivo de orgulho para toda a comunidade gay e para a sociedade. São pessoas que vem lutando contra a descriminação. E eu até diria, que só pelo fato de estarem engajadas no trabalho de conscientização, são cidadãos muito mais patriotas do que pessoas como o Carlos Apolinário.
Carlos Apolinário está promovendo a sua religião. Ele pode até tentar disfarçar que não, mas, na boa, não está enganando ninguém.
Ser heterossexual não significa lutar contra descriminação alguma. Nenhum hetero é discriminado.
Não é necessário se ter um dia de conscientização. Quem quiser ser hetero não irá sofrer nenhum desconforto por causa da ignorância alheia. Afinal, o que uma pessoa faz com seu próprio corpo é de sua responsabilidade e direito inviolável.
Ninguém tem o direito de interferir com o que uma pessoa faz a si mesma ou com outras pessoas com consentimento.
O vereador Carlos Apolinário, invés de trabalhar com projetos que sirvam realmente para melhorar a sociedade, utiliza sua moral distorcida pela religião para usar o dinheiro do povo e desperdiçar tempo, ocupando todos da Câmara Municipal de São Paulo com projetos inúteis, apenas para ficar provocando os gays, uma comunidade que já está farta de ser provocada.
Infelizmente, são estes alguns dos incompetentes que governam o país. Usufruem do dinheiro das igrejas para se eleger e em troca, procuram utilizar a maquina do poder público para disseminar sua descriminação religiosa perversa e incoerente.
(Já notaram que o redator do AntiChrist está soltando fogo pelas ventas por causa deste desperdício de tempo e dinheiro público. Eu também.)
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Vamos mudar de assunto e partir para mais uma indicação desta séria série?
Então vamos lá.
O filme de hoje (só para que as meniunas que amam meninas possam empatar com os meninos que amam meninos, como prometi em post anterior) é But I'm a cheerleader (1999), de Jamie Babbitt. Tem um título em português muito estranho: Nunca fui santa. Mas este deve ser o título em Portugal, já que nunca foi lançado comercialmente aqui em Terra Papagalli. O problema é que podem confundi-lo com outro Nunca fui santa, que é o título em português de Bus stop (1956), de Joshua Logan, com Marilyn Monroe. Aqui foi exibido no 8º Mix Brasil (e só) com o título de Escolinha do babado.
A história é assim: uma adolescente ingênua, Megan (Natasha Lyonne), líder de torcida em seu colégio (daí o título original) é mandada por seus pais e amigos um tanto quanto puritanos para uma instituição chamada True Directions, dirigida pelo ex-gay (?) Mike, que possui um programa "infalível" de cinco passos para "reabilitar" pessoas com suspeita de ser homossexuais para a heterossexualidade. Puxa, tudo isso só porque Megan é vegetariana, abraça demais (segundo eles) suas amigas e é fã da cantora pop Melissa Etheridge (para quem não sabe quem é ela: cantora pop assumidamente lésbica)? Vamos combinar: é muita vontade de sua família em procurar chifre em cabeça de cavalo.
Ou não?
Vejam o trailer e tirem suas conclusões.
Ah, só mais dois detalhes irônicos:
1- O "ex-gay" Mike, diretor da True Directions, é ninguém mais do que o travesti RuPaul - claro que sem toda a produção feminina que a tornou famoso(a);
2- A assistente de Mike, Hillary (algo a ver com a sra. Bill Clinton?) é interpretada por Melanie Lynskey, atriz de outro filme, Almas gêmeas (Heavenly Creatures - 1994), de Peter Jackson, do qual falaremos futuramente. Aguardem.

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