04 julho, 2011

AO BRAVO GUERREIRO

Em todas as redes sociais onde se comentou a morte repentina de Gustavo Dahl (1938-2011), teve um que não aguentou e reclamou: por que diabos, toda vez que se falava de Gustavo Dahl, se referiam a ele como "bravo guerreiro"?

Deve ser por conta de seu mais famoso (e na minha opinião, o seu melhor) filme, O Bravo Guerreiro (1968). Basicamente, é a história de um deputado da oposição, defensor de questões sociais (Paulo Cesar Pereio) que, na percepção de que pode conseguir melhorias para o povo, passa-se para o partido da situação. O problema é que pelegos tentam tomar o sindicato tendo por motivo projeto de lei de sua autoria. Avisado por um cabo eleitoral, o deputado vai à Assembléia Geral do sindicato e faz um discurso narrando a sua história política, concluindo que não é mais indicado para defender os sindicalizados. De volta ao lar, encosta o cano de um revólver no céu da boca.
No fundo, no fundo, esta seria a história de Gustavo Dahl no cinema brasileiro daqui para diante: para defender o cinema brasileiro, negocia com o poder e até participa dele por algum tempo; no final, o próprio poder o fez ficar, por várias vezes, pendurado na brocha. É só lembrar: na década de 1970, foi superintendente de comercialização da Embrafilme, reformulando a área de distribuição da empresa.

Posteriormente, em 1985, tornou-se presidente do Concine. Tudo isso para ver a Embrafilme aprodecer nas mãos de gente menos competente.
No final da década de 1990, assessorou o programa cultural daquelle caçador de maracujás, recém-eleito presidente da República. Entre outras coisas, propôs a criação de uma Secretaria Nacional de Política Audiovisual, que fosse ligada à Presidência da República. A secretaria, ampliada (Secretaria Especial de Cultura da Presidência da República), saiu, e esperava-se que ele a ocupasse. Ao invés disso, Leopoldo Collor, irmão mais velho, impôs o nome de Ipojuca das Mortes Pontes (atual articulista de sites de extrema-direita), que se dedicou mais a uma vingança (sua e do próprio Collor) contra a cultura brasileira.
Em 2002, com a criação da Ancine, foi nomeado seu primeiro diretor-presidente, dedicando-se à sua implantação até o final do mandato, em dezembro de 2006. Isso porque, quando poderia finalmente colher os frutos de tanto trabalho e implementar a sua política, impuseram Manoel Rangel para o seu lugar.
O que o salva (e nos salvou várias vezes) é que, quando caía da brocha, levantava, sacudia a poeira e dava a volta por cima. Sempre justificando a identidade com o título de seu filme mais famoso, e com a elegância que lhe era peculiar.
Através dele, o Congresso Brasileiro de Cinema renasceu, agora como entidade, com toda a força possível para definir uma política para o audiovisual brasileiro. E atualmente, como gerente do CTAV (Centro Técnico Audiovisual do Ministério da Cultura), conseguiu reerguer a Filme Cultura como ela era em tempos idos e como esperamos de uma boa publicação sobre cinema - uma revista com inteligência.
Chato foi Alguém Lá de Cima decidir que o "bravo guerreiro" deveria descansar justo agora. Uma pena. Mas vamos ver se pegamos seu tacape e continuamos a combater o bom combate.
Bom descanso, Gustavo Dahl.

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