12 fevereiro, 2019

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XCIII)

Diário do Bolso – 14

Querido diário, com a imprensa eu não falo. Não falo, não falo, não falo! Mas para ti eu me abro feito uma rosa desabrochada. Opa! Digo, feito uma metralhadora desmontada.
Ah, como estar no avião voltando para casa. Odiei cada minuto naquela terra (que ainda não sei se chama Dávos, Davós, ou Davôs). O frio era de lascar. O xixi virava gelo antes de bater na naftalina. Tá, é exagero, mas por pouco.
O pior não era mijar. Era falar em público. Pô, como isso é difícil. O meu negócio é falar para a câmera do celular, falar lá em casa para o facebook. Com um monte de jornalista e político olhando não dá.
Aquele discurso de abertura parecia que não acabava mais. Me disseram que teve menos de sete minutos, mas para mim durou mais que uma partida de futebol. E daquelas que seu time leva goleada. Que inferno! Mas eu acho que fiz uma boa retrospectiva do nosso futuro. Ou será que o certo é dizer que eu fiz uma boa previsão do nosso passado? Tanto faz. De qualquer jeito a imprensa esquerdocomunista ia dar um jeito de me criticar.
Por isso que eu não falei lá na coletiva. Acho que foi a primeira coletiva com ausência coletiva da história. Eu até cheguei cedo e sentei lá com o Moro, o Araújo e o Guedes. Mas quando eu percebi que o pessoal ia começar a entrar, me meti debaixo da mesa e chamei os três. Eles acharam ótimo não ter que falar.
O Moro não quer nem ver a imprensa, porque iam perguntar: “O senhor não diz que persegue os corruptos? O que acha do caso Queiroz? Não vai ter coercitiva?”
O Guedes não quer que perguntem do plano econômico dele, porque o plano dele é só “Vamos privatizar tudo que der”. E isso aí é mais curto que o meu discurso.
E o Araújo não quer falar porque acha que todo mundo aqui é maluco: “Como é que podem falar em aquecimento global se no encontro global faz um frio desses?”
Bom, aí nós quatro ficamos ali embaixo da mesa, esperando os jornalistas irem embora. Pra gente se distrair, ficamos jogando jokempô. Eu ganhei todas as partidas, porque pros outros só valia pedra, papel e tesoura, mas pra mim valia revolvinho. O Moro até começou a reclamar, mas aí eu disse: “Eu sou o presidente, pô. Eu que mando na lei”. E aí ele ficou calado.
Aliás, foi ótimo o Mourão ter assinado aquela mudança na Lei de Acesso à informação. E o BC já está encaminhando aquela coisa de parar de investigar parente de político. É que nem eu sempre digo: “Tem que mudar isso daí!”.
Mas o melhor de tudo, Diário, é que, enquanto eu volto, o Jean Wyllys vai embora. O Brasil está ficando cada dia melhor.
Ah, e fica tranquilo: eu vou te levar para o hospital comigo. Com a imprensa eu não falo, mas pra você eu conto tudo.


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Digam o que disserem de Ricardo Boechat – que morreu ontem, 11 de fevereiro de 2019, num acidente de helicóptero, em São Paulo. Há quem gostasse do que ele dizia. Há quem não gostasse.
Talvez pela mesma liberdade de falar o que quisesse (o que, na maioria das vezes, era o que era preciso)
Mas esta mesma liberdade fez com que, certa vez, enfrentasse – e vencesse – uma figura que parecia ser um bicho papão, de tanto medo que tinham de sua "gentileza" (assim mesmo, sr. revisor, entre aspas, obrigado)
Sim, ele mesmo: Silas Mala-Sem Alça-Faia.
Inclusive contamos a história deste enfrentamento em um post desta séria série. Mas não custa nada lembrar.

1- junho de 2015, a menina Kailane Campos, então com 11 anos, e a sua avó caminhavam pela rua, devidamente trajadas para o candomblé – sim, elas são fieis da principal religião afro brasileira. Bastou isso para serem xingadas e apredejadas por um bando de (se me permitem o termo) babacas intolerantes. Uma das pedras atingiu a cabeça de Kailane.
A agressão motivou Boechat a comentar sobre a intolerância religiosa estimulada por certos pastores fundamentalistas na BandNews.

BOECHAT E A INTOLERANCIA RELIGIOSA
BandNews FM 17 jun. 2015

2- Nenhum nome foi citado, mas alguém resolveu botar a carapuça: Silas Mala-Sem Alça-Faia, com toda a sua "gentileza" habitual via Twitter:

Avisa ao jornalista Boechat, que está falando asneira, dizendo que pastores incitam os fiéis a praticarem a intolerância. Verdadeiro idiota.


Desafio Boechat para um debate ao vivo. falar asneira no programa de rádio sozinho, é mole, deixa de ser falastrão.Não incite o ódio .

3- Pra quê? Silas Mala-Sem Alça-Faia descobriu que tentou intimidar a pessoa errada. Vale a pena colocar a resposta já clássica de Ricardo Boechat a mais um tigre de papel. (Abaixo, a transcrição – os grifos são meus.)


BOECHAT - "[O pastor Silas Malafaia], figura que dispensa maiores apresentações...
LOCUTORA - Acabou de colocar no Twitter...
BOECHAT - ...acabou de colocar no Twitter dele um desafio pra debater comigo ao vivo, pra eu 'parar de falar asneira no programa de rádio sozinho, que é mole... deixa de ser falastrão... não incite o ódio'. 'Avisa ao jornalista Boechat que está falando asneira, dizendo que pastores incitam os fiéis a praticar intolerância... Verdadeiro idiota'... Ô Malafaia, vai procurar uma rola, vai. Não me enche o saco. Você é um idiota, um paspalhão, um pilantra, tomador de grana de fiel, explorador da fé alheia. E agora vai querer me processar pelo que eu acabei de falar, que é o que você faz. Você gosta muito é de palanque. Eu não vou te dar palanque porque tu é um otário, tu é um paspalhão. O que eu falei e repito, e não vou partir pra debate com você porque não vou te dar confiança, é o seguinte. Que é no âmbito de igrejas neopentecostais que estão acontecendo atos de incitação à intolerância religiosa, mais do que em outros ambientes. Em nenhum momento, é pegar minhas falas que estão gravadas, eu disse qualquer coisa que generalizasse esse comentário, qualquer coisa. Até porque, diferente de você, não sou um idiota. Então você é um homofóbico, você é uma figura execrável, horrorosa, e que toma dinheiro das pessoas a partir da fé. Você é rico. Eu não sou rico porque tomei dinheiro das pessoas pregando salvação depois da morte. O meu salário, os meus bens, o meu patrimônio, veio do meu suor, não veio do suor alheio. Você é um charlatão cara, que usa o nome de Deus, de Cristo, para tomar dinheiro dos fiéis. Você é tomador de grana. Você e muitos outros. Tenho medo de você não, seu otário. Vai procurar uma rola, repetindo em português bem claro. Bom...”
LOCUTOR - Posso chamar aqui...
BOECHAT - Só um minutinho... O pastor João Melo, da Igreja Batista Vila da Penha... onde tem três mil membros... e ali na Vila da Penha onde foi o ataque...
LOCUTOR - Foi em São João de Meriti...
LOCUTORA - ...da menina Kailane...
BOECHAT - ...Kailane... Kailane Campos e a avó dela, recentemente... o ataque de... que não se sabe ainda de quem foi... mas de intolerância religiosa, jogaram uma pedra na menina, levou três pontos na cabeça... o pastor João Melo me mandou uma mensagem pelo SMS... dizendo o seguinte... "Sou pastor da Primeira Igreja Batista em Vila da Penha, onde temos três mil membros, que fica no Largo do Bicão... e ontem"... portanto, antes mesmo do café da manhã do cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, esta manhã... o pastor João Melo já tinha ontem recebido a menina Kailane, e a família da Kailane... "num gesto pra repudiar o ato de pessoas intolerantes que NÃO representam"... ele enfatiza aqui... " NÃO representam os evangélicos e muito menos o Cristo...Neste domingo, em vez de realizarmos o culto pela manhã, normalmente, como acontece sempre, estaremos participando da movimentação em favor da liberdade e da tolerância religiosa. Abraço, padre (SIC) João Mello." Esse é o tipo de pastor que nós respeitamos e doa quais precisamos pra conduzir os rebanhos de fiéis... é deste tipo de gente que estou falando quando falo que a igreja tem que tomar uma posição... assim como acho que as igrejas evangélicas também tem que tomar uma posição... atitudes como essa, dos pastor João Mello, e não de outros que tentam... criar uma confusãozinha pra crescer na área deles... vai crescer sozinho, malandro... em cima de mim não vai não."

Como disse antes: Há quem gostasse do que Ricardo Boechat dizia. Há quem não gostasse. Mas só isso, para nós, já foi suficiente para que ele ganhasse o nosso respeito.
Agora, que Ricardo Boechat vai fazer falta, ah, isso vai.

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E agora, nossa indicação de filme para esta séria série: Los días más oscuros de nosotras (México, 2017), de Astrid Rondero.
Eis a sinopse:
Tudo o que Ana (Sophie Alexander-Katz) lembra do dia em que sua irmã morreu é uma imagem fragmentada e nebulosa que a tem perseguido desde a infância. Agora, Ana retornou a Tijuana, sua cidade natal, onde terá que enfrentar a dor e a escuridão de sua memória.
Ana desce a rua de sua casa de infância e começa a espionar sua nova inquilina, Silvia (Florencia Ríos), que tem sua própria obsessão pela casa e quer comprá-la.
Vejam o trailer, e até a próxima.



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