Diário do
Bolso - 6
(José Roberto Torero)
Diário, que sonho maluco que eu tive hoje!
Sonhei que meu nariz acordou comprido que nem o do Pinóquio!
Fui dar um beijo na Michelle e ela teve que ir pro oculista. Na reunião
com os ministros, quando eu virara para a direita, acertava o Paulo Guedes,
quando eu virava para a esquerda, derrubava a Damares da cadeira. Foi horrível!
O pior foi é que no sonho eu estava resfriado. Cada atchim que eu dava deixava
todo mundo verde.
Quando acordei, eu fiquei me perguntando: “Por que que é que eu sonhei
isso?”
E eu me respondi: "Acho que é porque os caras estão mentindo muito.
E mal."
Pra mentir direito tem que combinar antes, tem que ensaiar, tem que
fazer bem feito.
Por exemplo, o Onyx bobeou. Usou umas notas fiscais de um amigo para
receber verba de gabinete. Até aí tudo bem, quem é que não faz isso? Mas 29
notas com numeração seguida? Aí ficou na cara que a empresa do amigo dele era
de fachada. O pior é que o Onyx pegou essa de mania de fazer tatuagem cada vez
que é pego na mentira e agora vai ter que fazer outra. Até o final do mandato
vai parecer o Aquaman.
E o Mourão? Dar emprego pro filho está certo. Acho que todo pai decente
tem que fazer isso. Eu mesmo coloquei os meus na política e tá todo mundo bem
de vida. Mas o Mourão não podia dizer que o garoto dele foi perseguido no
governo do petê. Abriu a retaguarda, pô. Foi só os jornalistas irem atrás para
ver que o menino tinha sido promovido oito vezes. Não é assim! Se quer inventar
história, tem que inventar direito. Senão é melhor se fingir de morto. É o que
eu sempre falo.
O Flávio até me entendeu errado e uma vez desmaiou num debate depois de
uma pergunta difícil. Aí eu expliquei que não era para se fingir de morto de
verdade, era só para ficar calado, não responder, essas coisas. Agora, no caso
do Queiroz, ele aprendeu. Não vai falar nada. O Queiroz que se vire.
Bom, mudando de assunto, saiu a minha foto oficial. Mas eu não gostei
muito, não. Parece que eu estou fazendo aquele forcinha final para soltar o
pum. É que é muito difícil dar risada. Quase tive uma câimbra na boca. O meu
consolo é que meu nariz saiu pequeno.
*********
Bom, quem
sabe uma indicação para esta séria série vinda de Bollywood (isso mesmo, um
filme da Índia) chame muito a atenção de vocês: Ek Ladki Ko Dekha Toh Aisa Laga (How I felt when I saw that girl / Como eu me senti quando vi aquela garota - Índia, 2019), de Shelly Chopra Dhar.
Talvez
porque a história de amor de Ek Ladki Ko
Dekha Toh Aisa Laga não seja tão simples. Como a história da moça Sweety Chaudhary (Sonam Kapoor; Sara Arjun, quando
criança). Sweety é uma jovem Punjabi que tem que lidar com sua família
tradicional, que quer casá-la com Sahil
Mirza (Rajkummar Rao), um jovem escritor
que é completamente apaixonado por ela. (Lembrando: casamentos arranjados por
suas famílias ainda são mais do que comuns na sociedade indiana.) O problema é
que Sweety é lésbica, e está apaixonada
por outra mulher, Chatro (Juhi Chawla).
Sim, eu sei que, em setembro de 2018, a Suprema Corte da Índia descriminalizou a homossexualidade (em inglês, no The Guardian)), acabando com uma proibição oriunda do período colonial britânico. Mas,
assim como os casamentos arranjados, a homofobia é um troço difícil de acabar
na sociedade tradicional indiana.
Quem sabe,
o trailer nos dá uma pista do que pode acontecer com Sweety nesta história.
(Ah,
a propósito: nos últimos tempos, filmes com temática LGBT não são tão raros em
Bollywood. Ao contrário: estão chamando muito a atenção por serem filmes que tentam
quebrar tabus na índia. Mas isso é assunto para outro dia.)
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