Diário do Bolso – 3
Querido Diário,
Opa, Querido,
não, que eu sou macho.
Caro Diário,
hoje de manhã fiquei no espelho tentando fazer um topete que nem o do Trump.
Mas não deu muito certo. Meu cabelo é liso demais. Caía sempre no meu olho. Só
se eu pusesse um laquê. Mas aí os meninos iam tirar sarro de mim.
Pensando em
topete, lembrei da conversa que eu tive com o Onyx. E lembrei porque o cabeça
de ovo não tem um fio de cabelo, mas tem topete.
Uns dias atrás
ele me perguntou se podia mandar embora os comissionados do Gabinete Civil para
despetizar a pasta.
Eu respondi:
- Despetiza,
dedetiza, faz o que quiser!
- Os jornalistas
vão me encher o saco, porque eu acabei de falar que a gente precisa de um pacto
a favor do Brasil.
- Que nada! Isso
não vai te dar problema nenhum. Teve aquela história de Caixa 2 da JBS e
ninguém mais te enche o saco, só porque você disse que se acertou com Deus e
tatuou uma frase da bíblia no braço. Fica tranquilo que a tua careca é de
tefal. Manda a gentalha embora!
Ele saiu feliz
da vida e exonerou 320 de uma vez. E tem que ser assim mesmo. Vamos fazer uma
limpa. Nos outros ministérios também. Não tem essa de anistia, de bancar o
bonzinho. É botar todo mundo na rua. Tem que instalar um terror aí.
Os funcionários
públicos tão até apagando os feicebuquis. Quer dizer, os foicebuquis, porque
era tudo propaganda comunista.
E a gente não
vai passar só funcionário público na peneira, não. Por exemplo, o Vélez está
pensando em acabar com as bolsas de estudo para esquerdistas. Se o cara quer
fazer pós-graduação no exterior, tem que ser da nossa turma. Não vamos dar
dinheiro pra maconheiro comunista ficar falando francês.
A turma da
iniciativa privada também já está se mexendo. Aquela bonitona que tem uma
faculdade em São Paulo me garantiu que viu pessoalmente os feicebuquis dos
professores e deu bilhete azul prum monte deles. Só não despediu mais gente
porque não tinha dinheiro para pagar os direitos trabalhistas. Mas isso também
vai acabar.
Até escolinha de
criança já está proibindo o pessoal de falar no tal de Paulo Freire. Não sei o
que esse velhinho fez, mas o Olavo disse que ele é uma praga ideológica. E se o
Olavo disse é porque é.
Bom, por hoje
chega de diário. Tenho coisa mais importante pra fazer.
PS: Será que o
barbeiro do Neymar consegue me fazer um topete? E seu eu pintasse de loiro?
Tenho que ver isso aí.
*********
Como disse
antes no post anterior, não levem a sério nem a moderação do vice-presidente, general
Mourão, nem a porralouquice de Damares Alves, ministra das Goiabeiras.
Já sobre o
ministro da (falta de) Educação, Ricardo Vélez Rodriguez,... bem, precisamos
pensar duas ou três vezes. Afinal, não dá para entender como é que alguém que é
mestre e doutor em Filosofia por uma universidade pode ser seguidor de Olavo
DOI-Codi de Carvalho, cuja escolaridade vai até a quarta série do ensino primário
e ODEIA a academia e todas as pesquisas que ela realiza.
Pelo menos,
dá para entender qual o tipo de "elite intelectual" para o qual ele
quer reservar as universidades brasileiras.
É uma "elite
intelectual" do tipo mainardiana – aquela que acha que "o Brasil não
presta", que "o brasileiro não presta" (menos, é claro, o
brasileiro-que-se-acha-de-outro-país-pelo-visto) e que "não há nada a
fazer.
Pelo menos, é o que se
depreende de declarações recentes do ministro, em
entrevista concedida à revista (In)Veja
no último fim de semana.
Eis a
justificativa de uma de suas grandes ideias – a volta da Educação Moral e
Cívica ao currículo escolar (o grifo é meu):
Rodríguez afirmou que, viajando,
o brasileiro é um "canibal". "Rouba coisas dos hotéis, rouba o
assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo.
Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola", disse o
ministro.
Como diria
Jack, o Estripador, vamos por partes:
1- O fato
de existir uma meia-dúzia-de-sete-ou-oito brasileiros realmente mal educados,
que "acha que sai de casa e pode carregar tudo" (se
bem que eu gostaria de saber como alguém pode roubar um assento salva vidas de
um avião sem ser visto por aeromoças e comissários de bordo – se alguém souber
qual o método, me avisem...) não dá ao ministro
da (Falta de) Educação o direito de GENERALIZAR A ACUSAÇÃO, afirmando que todos
os brasileiros são assim. Parece que o ministro da (Falta de) Educação estaria sugerindo
que os funcionários da Imigração brasileira – que lhe deram um visto de
permanência em 1979, quando o senhor fugiu da violência na sua terra natal, a
Colômbia, e em 1997 lhe deram cidadania e passaporte brasileiros – também são
um primor de falta de educação, não é?
2- Não sei
se seria necessário trazer de volta a Educação Moral e Cívica para que os brasileiros
voltem a saber o Hino Nacional na ponta da língua. Antes de 1964, salvo engano,
já era obrigatório cantar o Hino nas escolas antes das aulas. Por isso, por
increça que parível, esquerda e direita sabiam o Hino de cor e salteado. Só que,
para formar patriotas de verdade não adianta saber o Hino de cor e salteado: é
preciso que ele aprenda a defender seu país e seus interesses. Não adianta nada
(como aconteceu em vários períodos de nossa história) um patri-opa (assim mesmo, sr. revisor, obrigado) assumir sabendo o nosso
Hino de cor... e a partir do poder fazer negociações caracu com os EUA ou outra potência qualquer. (Se ninguém ainda
sabe o que é isso, negociações caracu
são aquelas em que a potência entra com a cara – de pau, de preferência... – e o
Brasil, com a última sílaba... Ou seja, em que o Brasil fica no prejuízo...) Se
esse detalhe não preocupa muito o nosso novo ministro da (Falta de) Educação,
então tamofu.
3- Por que
digo que não sei se seria necessário trazer de volta a Educação Moral e Cívica
para o currículo escolar? Porque, com a reforma do ensino imposta pelo regime
militar (após 1969 ou 1971), Educação Moral e Cívica e OSPB (Organização Social
e Política do Brasil) entraram no currículo escolar, no lugar de duas
disciplinas importantes para o conhecimento da sociedade brasileira e de si
mesmo: Sociologia e... Filosofia.
Não por
acaso, Olavo DOI-Codi de Carvalho é radicalmente contra o ensino de filosofia
no ensino médio. Medo de uma concorrência mais qualificada do que a do guru da
quinta série?
*********
Ah, e antes
que eu me esqueça: a frase "Liberdade é passar a mão na bunda do guarda"
NÃO É E NUNCA FOI do cantor e compositor Cazuza (1958-1990), e sim criação do
pessoal do Casseta & Planeta (no
tempo em que faziam humor...)
Nunca
repita isso diante de Lucinha Araújo, mãe do Cazuza e criadora do Instituto
Viva Cazuza, que cuida de crianças portadoras do vírus da AIDS.
Do
contrário, ela é capaz de... se me perdoem o termo... botar na SUA bunda – no sentido
figurado-jurídico (processo por calúnia e difamação) do termo. Enquanto termino
este post, o próprio ministro da (Falta de) Educação já se desculpou
publicamente com Lucinha Araújo, antes de correr o risco de imitar Maria
Schneider na cena da manteiga de O último tango em Paris... no sentido
figurado-jurídico do termo... e sem manteiga...
Mil beijos,
Lucinha Araújo.
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E agora,
vamos à indicação de filme para a nossa séria série:
A
historinha é simples: Tomo (Rinka Kakihara) é
uma menina de 11 anos, criada somente pela mãe, Hiromi (Mimura). Um dia,
inesperadamente, Hiromi some e deixa a filha sozinha. Então, Tomo vai morar com
o tio, Makio (Kenta Kiritani), e a namorada dele, Rinko (Toma Ikuta), uma
mulher transexual.
Como seria
a convivência de Tomo com este casal... digamos... peculiar?
Bem, veja o
trailer do filme – exibido no Mix Brasil 2018 – e tire suas conclusões.
Hasta la vista, baby.
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