06 fevereiro, 2019

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (LXXXII)

Diário do Bolso – 3
Querido Diário,
Opa, Querido, não, que eu sou macho.
Caro Diário, hoje de manhã fiquei no espelho tentando fazer um topete que nem o do Trump. Mas não deu muito certo. Meu cabelo é liso demais. Caía sempre no meu olho. Só se eu pusesse um laquê. Mas aí os meninos iam tirar sarro de mim.
Pensando em topete, lembrei da conversa que eu tive com o Onyx. E lembrei porque o cabeça de ovo não tem um fio de cabelo, mas tem topete.
Uns dias atrás ele me perguntou se podia mandar embora os comissionados do Gabinete Civil para despetizar a pasta.
Eu respondi:
- Despetiza, dedetiza, faz o que quiser!
- Os jornalistas vão me encher o saco, porque eu acabei de falar que a gente precisa de um pacto a favor do Brasil.
- Que nada! Isso não vai te dar problema nenhum. Teve aquela história de Caixa 2 da JBS e ninguém mais te enche o saco, só porque você disse que se acertou com Deus e tatuou uma frase da bíblia no braço. Fica tranquilo que a tua careca é de tefal. Manda a gentalha embora!
Ele saiu feliz da vida e exonerou 320 de uma vez. E tem que ser assim mesmo. Vamos fazer uma limpa. Nos outros ministérios também. Não tem essa de anistia, de bancar o bonzinho. É botar todo mundo na rua. Tem que instalar um terror aí.
Os funcionários públicos tão até apagando os feicebuquis. Quer dizer, os foicebuquis, porque era tudo propaganda comunista.
E a gente não vai passar só funcionário público na peneira, não. Por exemplo, o Vélez está pensando em acabar com as bolsas de estudo para esquerdistas. Se o cara quer fazer pós-graduação no exterior, tem que ser da nossa turma. Não vamos dar dinheiro pra maconheiro comunista ficar falando francês.
A turma da iniciativa privada também já está se mexendo. Aquela bonitona que tem uma faculdade em São Paulo me garantiu que viu pessoalmente os feicebuquis dos professores e deu bilhete azul prum monte deles. Só não despediu mais gente porque não tinha dinheiro para pagar os direitos trabalhistas. Mas isso também vai acabar.
Até escolinha de criança já está proibindo o pessoal de falar no tal de Paulo Freire. Não sei o que esse velhinho fez, mas o Olavo disse que ele é uma praga ideológica. E se o Olavo disse é porque é.
Bom, por hoje chega de diário. Tenho coisa mais importante pra fazer.
PS: Será que o barbeiro do Neymar consegue me fazer um topete? E seu eu pintasse de loiro? Tenho que ver isso aí.

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Como disse antes no post anterior, não levem a sério nem a moderação do vice-presidente, general Mourão, nem a porralouquice de Damares Alves, ministra das Goiabeiras.
Já sobre o ministro da (falta de) Educação, Ricardo Vélez Rodriguez,... bem, precisamos pensar duas ou três vezes. Afinal, não dá para entender como é que alguém que é mestre e doutor em Filosofia por uma universidade pode ser seguidor de Olavo DOI-Codi de Carvalho, cuja escolaridade vai até a quarta série do ensino primário e ODEIA a academia e todas as pesquisas que ela realiza.
Pelo menos, dá para entender qual o tipo de "elite intelectual" para o qual ele quer reservar as universidades brasileiras.
É uma "elite intelectual" do tipo mainardiana – aquela que acha que "o Brasil não presta", que "o brasileiro não presta" (menos, é claro, o brasileiro-que-se-acha-de-outro-país-pelo-visto) e que "não há nada a fazer.
Pelo menos, é o que se depreende de declarações recentes do ministro, em entrevista concedida à revista (In)Veja no último fim de semana.
Eis a justificativa de uma de suas grandes ideias – a volta da Educação Moral e Cívica ao currículo escolar (o grifo é meu):

Rodríguez afirmou que, viajando, o brasileiro é um "canibal". "Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola", disse o ministro.

Como diria Jack, o Estripador, vamos por partes:

1- O fato de existir uma meia-dúzia-de-sete-ou-oito brasileiros realmente mal educados, que "acha que sai de casa e pode carregar tudo" (se bem que eu gostaria de saber como alguém pode roubar um assento salva vidas de um avião sem ser visto por aeromoças e comissários de bordo – se alguém souber qual o método, me avisem...) não dá ao ministro da (Falta de) Educação o direito de GENERALIZAR A ACUSAÇÃO, afirmando que todos os brasileiros são assim. Parece que o ministro da (Falta de) Educação estaria sugerindo que os funcionários da Imigração brasileira – que lhe deram um visto de permanência em 1979, quando o senhor fugiu da violência na sua terra natal, a Colômbia, e em 1997 lhe deram cidadania e passaporte brasileiros – também são um primor de falta de educação, não é?
2- Não sei se seria necessário trazer de volta a Educação Moral e Cívica para que os brasileiros voltem a saber o Hino Nacional na ponta da língua. Antes de 1964, salvo engano, já era obrigatório cantar o Hino nas escolas antes das aulas. Por isso, por increça que parível, esquerda e direita sabiam o Hino de cor e salteado. Só que, para formar patriotas de verdade não adianta saber o Hino de cor e salteado: é preciso que ele aprenda a defender seu país e seus interesses. Não adianta nada (como aconteceu em vários períodos de nossa história) um patri-opa (assim mesmo, sr. revisor, obrigado) assumir sabendo o nosso Hino de cor... e a partir do poder fazer negociações caracu com os EUA ou outra potência qualquer. (Se ninguém ainda sabe o que é isso, negociações caracu são aquelas em que a potência entra com a cara – de pau, de preferência... – e o Brasil, com a última sílaba... Ou seja, em que o Brasil fica no prejuízo...) Se esse detalhe não preocupa muito o nosso novo ministro da (Falta de) Educação, então tamofu.
3- Por que digo que não sei se seria necessário trazer de volta a Educação Moral e Cívica para o currículo escolar? Porque, com a reforma do ensino imposta pelo regime militar (após 1969 ou 1971), Educação Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política do Brasil) entraram no currículo escolar, no lugar de duas disciplinas importantes para o conhecimento da sociedade brasileira e de si mesmo: Sociologia e... Filosofia.
Não por acaso, Olavo DOI-Codi de Carvalho é radicalmente contra o ensino de filosofia no ensino médio. Medo de uma concorrência mais qualificada do que a do guru da quinta série?

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Ah, e antes que eu me esqueça: a frase "Liberdade é passar a mão na bunda do guarda" NÃO É E NUNCA FOI do cantor e compositor Cazuza (1958-1990), e sim criação do pessoal do Casseta & Planeta (no tempo em que faziam humor...)
Nunca repita isso diante de Lucinha Araújo, mãe do Cazuza e criadora do Instituto Viva Cazuza, que cuida de crianças portadoras do vírus da AIDS.
Do contrário, ela é capaz de... se me perdoem o termo... botar na SUA bunda – no sentido figurado-jurídico (processo por calúnia e difamação) do termo. Enquanto termino este post, o próprio ministro da (Falta de) Educação já se desculpou publicamente com Lucinha Araújo, antes de correr o risco de imitar Maria Schneider na cena da manteiga de O último tango em Paris... no sentido figurado-jurídico do termo... e sem manteiga...
Mil beijos, Lucinha Araújo.

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E agora, vamos à indicação de filme para a nossa séria série:
A historinha é simples: Tomo (Rinka Kakihara) é uma menina de 11 anos, criada somente pela mãe, Hiromi (Mimura). Um dia, inesperadamente, Hiromi some e deixa a filha sozinha. Então, Tomo vai morar com o tio, Makio (Kenta Kiritani), e a namorada dele, Rinko (Toma Ikuta), uma mulher transexual.
Como seria a convivência de Tomo com este casal... digamos... peculiar?
Bem, veja o trailer do filme – exibido no Mix Brasil 2018 – e tire suas conclusões.
Hasta la vista, baby.



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