Diário
do Bolso
(José Roberto
Torero)
Pô, Diário, hoje fui procurar uma palavra no dicionário e não achei. E
fui procurar porque eu sempre falo ela, mas não sei como se escreve. A palavra
é “talkei”.
Só que eu não sei se se é “taoquei”, “talkey”, “taokei”, “talkei”,
“taokey” ou “talquei”.
“Talquei” acho que não é, porque a palavra não tem nada a ver com talco.
Ela quer dizer uma coisa meio assim “me escutou, imbecil?” ou “entendeu, sua
besta?”. Eu sempre usava essa palavra com os meninos. Tipo assim: “Tudo
bem, leva o revólver do papai pra festa, mas não mata ninguém, talquei?”
Acho que também não pode ser “talkey” e “taokey”, porque essas palavras
têm “y”, e essa letra nem é da língua brasileira. Pô, se já tem o “i”, pra quê
essa letra enfrescalhada que parece uma pepeca pingando?
“Taoquei” também não deve ser, porque parece uma palavra chinesa. Tanto
que tinha até aquele líder deles lá, o Tao Tsé Tung, que foi quem inventou um
tipo de comunismo chamado taoísmo.
Bom, então só sobrou “talkei”. E deve ser assim mesmo que se escreve,
porque “talk” em inglês quer dizer “falar” (o Mourão andou me dando umas aulas
de inglês). Daí fica na cara que “talkei” significa “falei” ou “tá falado”.
Vou até fazer uma frase para dar o exemplo: “Não é porque uma pessoa
homenageia miliciano, emprega família de miliciano, tem cheque assinado por
irmã de miliciano que ele tem alguma coisa a ver com miliciano, talkei?”
É, acho que ficou bem claro.
Talkei, Diário?
*********
Não devia,
mas vou te dar uma ajudinha. Como você maltrata o português, não entende que o
que você fala mesmo é "Tá OK?"
OK vem do
inglês norteamericano, e equivale em português – idioma que você maltrata – a "Está
bem?"
A primeira
vez que apareceu o acrônimo O.K. foi
no dia 23 de Março de 1839, no jornal "Boston Morning Post", e a autoria é atribuída ao seu
editor Charles Gordon Greene.
Já a origem
é mais complicada de determinar. Uns dizem que vem de okeh, que quer dizer "sim" na língua dos índios americanos
Choctaw.
Já outros
acham que surgiu durante as eleições americanas de 1840 quando foi utilizado
pelo Partido Democrata como slogan para a campanha do candidato a presidente Martin
Van Buren, cuja alcunha era Old Kinderhook (Kinderhook era o seu local de
origem) e portanto os seus apoiantes eram o chamado OK Club.
E ainda há
quem ache (e talvez você e os generais de pijama que o cercam gostem...) que vem
dos quartéis militares norteamericanos durante a Guerra Civil (1861 a 1865). Quando as tropas voltavam para os alojamentos depois
de um dia de batalha sem a morte de nenhum militar, era exposto um grande
painel com os caracteres "0K", que significava "0 Killed",
("zero mortos") – isto é, após um dia inteiro não havia mortos, o que
era um bom sinal, e por esse motivo foi traduzido como "tudo bem".
Tá OK?
*********
Lembram-se
daquela velha máxima do repórter de O
homem que matou o facínora (The Man
Who Shot Liberty Valance – EUA, 1962), de John Ford: "Quando a lenda
se torna realidade, publica-se a lenda"?
Pois é. Tudo leva a crer
que a nossa indicação para esta séria série – The Death and Life of John F. Donovan (Canadá, 2018), de Xavier Dolan – tem a ver com esse velho vício da imprensa
em todo o mundo – para o bem e (no caso) para o mal.
O filme
começa uns vinte anos após a morte de um astro da TV americana, John F. Donovan (Kit Harrington – pra quem não se
lembra, ator de Game of thrones), quando
um jovem ator, Rupert Turner (Ben Schnetzer) relembra a correspondência
escrita que compartilhou com ele, bem como o impacto dessas cartas em suas
vidas.
Na época, Donovan
era um jovem ator americano de talento, que
buscava uma carreira bem sucedida na indústria
audiovisual americana. Mas seu sonho é interrompido quando descobrem – através de
uma revista chamada The Gossip – que ele se ele se corresponde com Rupert – na época,
um garoto britânico de onze anos (Jacob
Tremblay). Não teria nada de mais, se a
reportagem (ou "reporcagem", como diria Paulo Henrique Amorim?) de The
Gossip (A Fofoca – nome legal para uma "seríssima"
revista...) não desse a entender que... tinha algo de pedofilia no meio...
Já se pode imaginar o que pode acontecer depois, certo?
"Quando
a lenda se torna realidade, publica-se a lenda". Mesmo que seja para o
mal. Ou não?
Vejam o
trailer e tirem suas conclusões. Até lá.
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