14 fevereiro, 2019

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XCV)

Diário do Bolso
(José Roberto Torero)
31 de janeiro de 2019 – 06:56

Diário, que vida boa!
Aqui no hospital não entra jornalista, a cama tem uns botõezinhos que deixam ela do jeito que eu quero e a tevê tem uns duzentos canais, fora a Netflix (Opa! Vai aqui uma reclamação: a Netflix não tem nenhum filme do Charles Bronson. Tem que ver isso daí!).
Também passo o dia todo sem cueca (só no camisolão), a persiana abre e fecha por controle remoto e de vez em quando vem alguém fazer uma fisioterapiazinha em mim.
O melhor de tudo é que eu não tenho que participar daquelas reuniões cheias de ministros. Não nasci para isso. Nunca presidi um partido, nunca comandei um movimento social, nunca fui prefeito, governador ou síndico de prédio. O meu negócio não é reunião. Por mim a gente fazia um grupo de zap e resolvia tudo por ali.
Ainda bem que aqui no hospital não tem nada disso. Estou no paraíso. Devia mudar o gabinete para cá de uma vez.
A única hora estranha é quando eu durmo. É que ando tendo uns sonhos meio doidos. Devem ser esses remédios que tão me dando.
Por exemplo, hoje eu sonhei com uma partida de futebol. Era a final do campeonato. O campo estava meio enlameado e tinha um time de amarelo e outro de vermelho.
O juiz marcava tudo contra o time de vermelho. Invertia lateral, não via as faltas dos amarelos, só dava impedimento dos vermelhos e acabou até expulsando o 10 deles.
Quando o juiz apitou o fim do jogo, o time amarelo tinha vencido de 5 a 4. E aí, em vez do cara ir pro vestiário, ele tirou a camisa preta, colocou uma amarela e foi comemorar o título. Abraçou todo mundo, deu beijo na taça e até fez a volta olímpica com os campeões.

Pô, agora que eu me livrei dos ministros, será que cada noite eu vou sonhar com um deles?

*********

E agora, nossa indicação para esta séria série, que você pode encontrar na Netflix: Elisa y Marcela (Espanha, 2019), de Isabel Coixet.
A trama é simples, baseada em uma história real, contada no livro Elisa y Marcela. Más allá de los hombres, de Narciso de Gabriel (Espanha, Libros del Silencio, 2010 – aliás, alguma editora brasileira estaria disposta comprar o livro e editá-lo na última-flor-do-Lácio-inculta-e-bela para nós?)
No final do século XIX, Elisa Sánchez Loriga (Natalia de Molina) e Marcela Gracia Ibeas (Greta Fernández) se conheceram em La Coruña, tornaram-se amigas, apaixonaram-se... Até então, sua história poderia ser como tantas outras, contada ou silenciada. O que a torna excepcional é que Elisa e Marcela, ambas professoras, não se contentaram em viver em segredo e tramaram uma trama complicada para contornar os preconceitos morais e religiosos daqueles anos cinzentos da Restauração: Marcela assumiu a identidade de Mario Sánchez para casar com Elisa. O engano funcionou, pelo menos o suficiente para o pároco da igreja de São Jorge se casar com eles em 1901, mas logo foram descobertas e forçadas a fugir.
O livro fala de sua jornada, das dificuldades que enfrentaram e do julgamento a que foram submetidas pelas autoridades judiciais, acadêmicas e eclesiásticas e também pela imprensa da época.

O filme também. Assistam antes que desapareça da Netflix.


Nenhum comentário:

Postar um comentário