Diário do Bolso
(José Roberto
Torero)
31 de janeiro de
2019 – 06:56
Diário, que vida boa!
Aqui no hospital não entra jornalista, a cama
tem uns botõezinhos que deixam ela do jeito que eu quero e a tevê tem uns
duzentos canais, fora a Netflix (Opa! Vai aqui uma reclamação: a Netflix não
tem nenhum filme do Charles Bronson. Tem que ver isso daí!).
Também passo o dia todo sem cueca (só no
camisolão), a persiana abre e fecha por controle remoto e de vez em quando vem
alguém fazer uma fisioterapiazinha em mim.
O melhor de tudo é que eu não tenho que
participar daquelas reuniões cheias de ministros. Não nasci para isso. Nunca
presidi um partido, nunca comandei um movimento social, nunca fui prefeito,
governador ou síndico de prédio. O meu negócio não é reunião. Por mim a gente
fazia um grupo de zap e resolvia tudo por ali.
Ainda bem que aqui no hospital não tem nada
disso. Estou no paraíso. Devia mudar o gabinete para cá de uma vez.
A única hora estranha é quando eu durmo. É
que ando tendo uns sonhos meio doidos. Devem ser esses remédios que tão me
dando.
Por exemplo, hoje eu sonhei com uma partida
de futebol. Era a final do campeonato. O campo estava meio enlameado e tinha um
time de amarelo e outro de vermelho.
O juiz marcava tudo contra o time de
vermelho. Invertia lateral, não via as faltas dos amarelos, só dava impedimento
dos vermelhos e acabou até expulsando o 10 deles.
Quando o juiz apitou o fim do jogo, o time
amarelo tinha vencido de 5 a 4. E aí, em vez do cara ir pro vestiário, ele
tirou a camisa preta, colocou uma amarela e foi comemorar o título. Abraçou
todo mundo, deu beijo na taça e até fez a volta olímpica com os campeões.
Pô, agora que eu me livrei dos ministros,
será que cada noite eu vou sonhar com um deles?
*********
A trama é
simples, baseada em uma história real, contada no livro Elisa y Marcela. Más allá de los hombres, de Narciso de Gabriel (Espanha,
Libros del Silencio, 2010 – aliás, alguma editora brasileira estaria disposta
comprar o livro e editá-lo na última-flor-do-Lácio-inculta-e-bela para nós?)
No final do século XIX, Elisa Sánchez Loriga (Natalia
de Molina) e Marcela Gracia Ibeas (Greta
Fernández) se conheceram em La Coruña, tornaram-se amigas,
apaixonaram-se... Até então, sua história poderia ser como tantas outras,
contada ou silenciada. O que a torna excepcional é que Elisa e Marcela, ambas
professoras, não se contentaram em viver em segredo e tramaram uma trama
complicada para contornar os preconceitos morais e religiosos daqueles anos
cinzentos da Restauração: Marcela assumiu a
identidade de Mario Sánchez para casar com Elisa. O engano funcionou, pelo menos o
suficiente para o pároco da igreja de São Jorge se casar com eles em 1901, mas
logo foram descobertas e forçadas a fugir.
O livro fala de sua jornada, das dificuldades que enfrentaram e do
julgamento a que foram submetidas pelas autoridades judiciais, acadêmicas e
eclesiásticas e também pela imprensa da época.
O filme
também. Assistam antes que desapareça da Netflix.
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