13 fevereiro, 2019

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XCIV)

Diário do Bolso – 15
(José Roberto Torero)

Caro Diário, não morri.
A operação foi um sucesso. Meu intestino já está costurado. Só espero que a emenda não estoure, senão vou ficar que nem Brumadinho, rarrarrá!
Pô, esse desastre vai ser ótimo para o pessoal me esquecer um pouco. Nada como um mar de lama para encobrir outro. E ficar no hospital também vai ajudar. Por mim eu passava quatro anos aqui, sem dar entrevista nem fazer reunião. Mas vão ser só uns dez dias. Que pena...
O chato é que os militares me encheram o saco e eu tive que passar o cargo para o Mourão. Meu medo é que ele pegue gosto pela coisa.
Modéstia à parte, achei que foi uma boa sacada pedir ajuda do Benjamim Nataniel. Mas já tem pentelho dizendo que eu não quis médico cubano mas aceitei soldado israelense. É difícil agradar os esquerdopatas.
Eles estão escrevendo os maiores absurdos na internet. Dizem que eu devia prender o presidente da Vale e que eu devia reestatizar a empresa. Uns loucos! Todo mundo sabe que a Vale nem paga multa. Só no Espírito Santo são umas vinte. E como é que eu vou ser contra mineradora? A Flapa, por exemplo, praticamente obrigou que seus empregados votassem em mim, porque colocou no seu mural que se eu não fosse eleito a empresa fechava. São gente boa, pô.
A saída vai ser pegar um pato qualquer, tipo o auditor que disse que estava tudo ok. Ou então aquele secretário do meio ambiente de Minas Gerais, o tal do Germano Vieira. Se bem que ele deve ser amigo das mineradoras, porque entrou na gestão do petê e continuou com o Zema.
Bom, o que a gente tem que fazer é mostrar pros cidadões (eu falava cidadãos, mas o cara do Enem me explicou o certo) que estamos fazendo uma “colheita de provas” (essa foi o Moro que me ensinou) para apurar o que aconteceu com a bagagem de dejeitos.
Aí, quem sabe?, os vermelhos da internet se acalmam um pouco. Se bem que eles não tem dó de ninguém. Vi gente postando que a minha cirurgia era de alto risco porque separar gêmeos siameses é sempre perigoso.
Eu devia ter um saquinho de plástico só para esses chatos encherem. Em vez de bolsa de colostomia ia ser bolsa de comunistomia, rarrarrá!
Bom, Diário, agora eu vou ler um pouquinho. Eu não gosto muito de livro, que ler é coisa de viado, mas este parece bom. O nome é “Memórias de um sargento de milícias”. Deve ter um monte de tiroteio.
Até amanhã.

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Ainda sobre a morte trágica de Ricardo Boechat em acidente de helicóptero:

1- Juro que gostaria de saber, afinal de contas, para que realmente serve a Agência Nacional de Aviação Civil.
Oficialmente, a ANAC serve para

supervisionar a atividade de aviação civil no Brasil, tanto no que toca seus aspectos econômicos quanto no que diz respeito à segurança técnica do setor.

É isso mesmo?
Ou é, pura e simplesmente para confessar a sua própria incompetência no cumprimento de suas funções, quando ocorre uma (com o perdão do termo) merda fenomenal – tipo assim, um acidente aéreo de grande repercussão?
Eis que a ANAC nos informa em nota oficial:

"A empresa RQ Serviços Aéreos Ltda foi autuada, em 2011, por veicular propaganda oferecendo o serviço de voos panorâmicos em aeronave e por meio de empresa não certificada para a atividade. Essa atividade só pode ser executada por empresas e aeronaves certificadas na modalidade táxi aéreo. A autuação foi definida em R$ 8 mil reais e foi paga pela empresa."

Isto é: a empresa pagou a multa, continuou fazendo as atividades de transporte aéreo que não deveria fazer... e a ANAC ficou fazendo sua cara de paisagem habitual até o acidente fatal.
O mais irônico nesta história é que a própria morte de Boechat confirmou o que ele próprio comentou em seu último comentário no seu programa de rádio na BandNews – justamente sobre a impunidade após tragédias como a queda do vôo JJ 3054 da TAM, em Congonhas (2007), o incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (RS - 2013), o rompimento das barragens de Mariana (MG - 2015) e de Brumadinho (MG - 2019) e o incêndio no Ninho do Urubu (RJ - 2019)  – a partir de matéria do jornal O Globo.
É o chamado ciclo trágico brasileiro:

Negligência causa tragédia.
Tragédia é esquecida.
Esquecimento gera impunidade.
Impunidade estimula a negligência.
Nova negligência causa nova tragédia.
E por aí vai...

BOECHAT & O TRÁGICO CICLO BRASILEIRO
Canal Meteoro Brasil (YouTube)

Para quem prefere ler, tem uma matéria de outro jornal carioca – fica como último aviso:

- A síntese desse levantamento feito pelo Globo é que as consequências não deram em nada. Esse é o ponto que une todas essas tragédias – disse o jornalista. – A impunidade é o que rege, o que comanda as orquestras das tragédias nacionais.
Ao longo do comentário de 11 minutos, retransmitido no programa "Café com Jornal", da TV Band, Boechat cobra a responsabilização daqueles que considera envolvidos na tragédia de Brumadinho: a Vale, os órgãos de fiscalização e a Justiça, por não dar punições adequadas.
- É preciso que as ações sejam mais rápidas no campo policial no campo do Ministério Público para que não fique no oba-oba, depois apoiado pelo esquecimento, pela nossa velha tradição de deixar para lá e tocar adiante, não produzir manchetes como essa toda semana: negligência e impunidade.

2- Até agora, não chegou até nós mensagem sobre a morte de Ricardo Boechat de Silas Mala-sem-Alça-Faia – sim, ele mesmo, o pastor que irritou tanto Ricardo Boechat com sua "gentileza" característica que o mandou procurar uma rola...
Mas já apareceram comentários de alguns de seus fiéis – aparentemente, tão escrotos como seu pastor – comemorando com palmas e pedindo bis a morte de Boechat.
A seguir, alguns destes comentários no Twitter – com os nomes, para ver se envergonham de se dizer cristãos depois disso:

Davi Elaine
"Ninguém se levanta contra os ungidos do Senhor dos Exercitos" (SIC)

Michel da Costa Oliveira
"Ai daquele que mexer com um ungido meu. Está escrito na santa palavra de DEUS."

Camila Amorim
"Segundo notícias acabou de falecer o jornalista Ricardo Boechat, num acidente de avião (SIC). Eu sempre digo: NÃO TOQUE NAS PESSOAS UNGIDAS POR DEUS. Eu não esqueço o que ele falou pro pastor Silas Malafaia na reportagem..."

Nossa... como são "cristões" e "piedosos", não é mesmo?
"Cristões"?
É, assim mesmo, sr. revisor, obrigado, para diferenciar dos cristãos de verdade que reagiram a tamanha escrotidão. Vão aí dois comentários criatãos de verdade (e só lamento não saber de quem são, para divulgar aqui):

PERFIL 1
"Cristãos, não passem vergonha comemorando a morte do Boechat porque ele era ateu e mandou o Malafaia procurar uma rola. Façam seus papéis como cristãos, se são isso mesmo, e orem pela família do cara. Vocês são a vergonha do Cristianismo Brasileiro".

PERFIL 2
"Existe uma problema sério entre os evangélicos brasileiros. Gente que acha que o pastor é intocável e não pode ser criticado. Gente estúpida a ponto de dizer que foi "Deus pesou a mão" no Boechat por críticas ao Malafaia. Mas por favor não tomem essa galera como se fosse o todo".

Agora...
Sabe esta história de neguinho se declarando "ungido do Senhor", intocável aqui na Terra?
Lembra de um trecho da letra do Samba da bênção, de Vinicius de Moraes (o grifo é meu):

Cuidado, companheiro
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo
Deus, e com firma reconhecida

Samba da Bênção – Vinícius de Moraes

Pois então... Só acreditarei que este ou aquele pastor é "ungido" por Deus quando alguém me trouxer um "diploma de ungido do Senhor" assinado por Ele próprio, com carimbo, firma reconhecida, selo oficial etc.
Ah, sim: junto com o "diploma de ungido do Senhor", quero que alguém me traga alguma instrução normativa Dele, explicando a nós, meros mortais, como alguém pode ser "ungido pelo Senhor"? Quais os critérios Dele para selecionar quem pode ou não pode ser "ungido" por ele? Por que um "ungido do Senhor" é imune a críticas e punições aqui na Terra? Por que não se pode apontar seus erros, quando ele errar ou cometer crimes – tipo assim, lavar dinheiro criminoso, como o próprio Silas Mala-Sem-Alça-Faia?
Aliás, quais os critérios do próprio Silas Mala-sem-Alça-Faia para se achar "ungido do Senhor" e se achar imune a qualquer julgamento?

pastor silas malafaia intimida fiéis para não denunciarem pastores ladrões
(YouTube)


Até lá, um breve recado ao bando de fiéis de Silas Mala-Sem-Alça-Faia que seja tão babaca e escroto quanto ele: VAI PROCURAR UMA ROLA, vai!

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Lembram quando indicamos um filme de Bollywood – Ek Ladki Ko Dekha Toh Aisa Laga (How I felt when I saw that girl / Como eu me senti quando vi aquela garota - Índia, 2019), de Shelly Chopra Dhar – em um post recente desta séria série? Pois é. Acho que vocês lembram o que dissemos: quando a Suprema Corte da Índia descriminalizou a homossexualidade em setembro de 2018, (em inglês, no The Guardian), acabou com uma proibição que vinha desde o domínio britânico. Infelizmente, também lembram que a homofobia é um troço difícil de acabar na sociedade tradicional indiana – assim como os casamentos arranjados. Adivinhem qual a solução homofóbica básica para "curar" esta "doença" (assim mesmo, sr. revisor, porque homossexualidade nunca foi doença nem nas clínicas picaretas de Silas Mala-Sem-Alça-Faia – obrigado)? Isso mesmo: o "estupro corretivo".
É disto que se trata a sinopse de Satyavati (Índia, 2016), de Deepthi Tadnaki.

A historinha é a seguinte:
Três moças – Manvi (Shwetha Gupta), Satya (Sira Ushapp) e Iti (Iti Acharya) – moram juntas. Mas só duas delas mantém uma relação amorosa. A terceira não deve estar nem aí para o romance de suas colegas de casa.
Mas os pais da terceira moça, sim – e suspeitam que sua filha também seja lésbica.
Adivinhem qual a "brilhante" ideia que os pais da jovem tem? Um "estupro corretivo" e coletivo – fazer com que o tio e amigos dela estuprem as três moças, para que (não vale rir, nem xingá-los de burros, porque eles não vão se retratar mesmo) elas percebam o seu "erro", se "curem" do lesbianismo e comecem a pensar de um modo "normal".
A história de Satyavati, claro, é ficção, mas se baseia em diversos casos de "estupro corretivo" – não só (mas principalmente) na Índia, mas em todo o mundo, e pela mesma razão.
A partir daí, o filme mostra as consequências devastadoras dessa ação e como as personagens chegam a um acordo com a vida após o trauma.
Fiquem com o trailer, e até a próxima.


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